31 de maio de 2009

45º ANIVERSÁRIO DAS FARC-EP - MANUEL VIVE! - Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP - Montanhas da Colômbia


As circunstâncias políticas são propícias para o acionar do movimento armado e pelo Movimento Bolivariano Manuel Marulanda Vélez. Veja em:
Neste pensamento de Manuel Marulanda está pintada a alma das FARC como bandeira ao vento. Há 45 anos surgimos nas alturas de Marquetalia, a montanha da resistência dos povos, buscando a paz para a Colômbia, justiça e dignidade. Desde então somos a resposta armada dos despossuídos e dos justos contra as múltiplas violências do Estado.
A paz é nossa estratégia e o acionar do Movimento armado empunhando a bandeira da alternativa política, a tática para chegar a ela. O mesmo dizemos também com a palavra de fogo de Bolívar: “a insurreição se anuncia com o espírito de paz. Resiste ao despotismo porque este destrói a paz e não pega em armas senão para obrigar seus inimigos a fazer a paz”. Por ela entregaram a vida Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Raúl Reyes, Ivan Rios e toda essa invencível legião de comandantes e combatentes que hoje recordamos com veneração. Para todos eles, honra e glória neste aniversário das FARC-Exército do Povo.

“Aquele que assegura sua honra – dizia o Libertador – dedicando sua vida a serviço da humanidade, à defesa da justiça e do extermínio da tirania, adquire uma vida de imortalidade ao deixar a dimensão da matéria que o homem recebe da natureza. Uma morte gloriosa vence o tempo e prolonga a sublime existência até a mais remota posterioridade”... É o que ocorre com todos eles que, mesmo tendo partido continuam vivos nos fuzis e no projeto político das FARC, com Simon Bolívar, combatendo pela Nova Colômbia, pela Pátria Grande e pelo Socialismo, ombro a ombro com o povo e seus guerrilheiros.

Queremos construir o país descrito pelo Manifesto das FARC e pela Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia. E o queremos a partir de um Grande Acordo Nacional rumo à paz, firmado por todas as forças dispostas a mudar as injustas e anacrônicas estruturas, sem exclusões. País emanado de um pacto social com base no povo, pacto que instrumentalize a articulação de uma alternativa política visando à formação de um Novo Governo Nacional de caráter patriótico, democrático e bolivariano rumo ao socialismo. Sim, rumo ao socialismo, que não é outra coisa que a justiça e libertação dos povos, a única salvação da humanidade diante do apodrecimento do sistema capitalista mundial.

A dignidade da Colômbia e o resgate do sentimento de pátria exigem uma nova liderança que privilegie a unidade e o socialismo para avançar para rumo ao futuro. Um novo grito de independência nos convoca ao nos mostrar o campo de batalha de Ayacucho (em que Bolívar decidiu a independência do Império Espanhol) do século XXI em que tremula a certeza da vitória da revolução continental, a de Bolívar e de nossos Próceres.

É chegada a hora de superar a vergonha nacional representada por um governo ilegítimo e ilegal que gera morte e pobreza. Um governo apoiado pelo de Washington, que só atua para perpetuar a guerra e a discórdia enquanto garante a sangue e fogo o investimento das multinacionais que saqueiam nossos recursos. Um regime apátrida que, mesmo com o elevado número de militares norte-americanos que intervém no conflito interno da Colômbia, permite que o nosso solo sagrado seja pisoteado por mais tropas estrangeiras expulsas da base de Manta, no Equador, permitindo aos EUA colocar em operação nesta terra uma base de ataque para assaltar os povos irmãos do continente.

Um governo vergonhosamente narco-paramilitar, que já não se ruboriza diante das contundentes confissões de capos paramilitares que asseguram, como o vulgo “Dom Berna”, ter financiado com os dólares da cocaína as campanhas presidenciais de Álvaro Uribe Vélez. Veja em:

Um governo e um Presidente que transformaram o Palácio de Nariño (sede da Presidência da República) em um obscuro antro de conspiração entre mafiosos para desestabilizar a Suprema Corte de Justiça, obstruir a justiça e deixar sem efeito a independência dos poderes do Estado.

Um governo que extraditou para os EUA os chefes paramilitares quantos estes começaram a vincular o entorno de Uribe, dos generais, dos empresários e dos pecuaristas na estratégia paramilitar do Estado que continua dessangrando a Colômbia.

A opinião pública não sai do espanto diante do autismo do Ministério Público, que prefere enterrar a cabeça na areia para não atribuir nenhuma ação de responsabilidade penal contra as empresas Chiquita Brand – a mesma do massacre das bananeiras, em 1928 – a Drummond, Postobón, Brasília, Carvões do Caribe..., denunciadas pelo chefe paramilitar Salvatore Mancuso (preso nos EUA) como financiadores do paramilitarismo. O próprio capo revelou que o massacre de La Gabarra (atribuído à guerrilha para desprestigiá-la), quando foram assassinados 40 camponeses, foi realmente executado pelos paramilitares, exército oficial e polícia. Veja em:

CAIU A MÁSCARA
O fantasma de Fujimori, condenado no Peru a 25 anos por crimes de lesa-humanidade, ronda em torno de Uribe. Ele prevê que os covardes assassinatos de civis não combatentes, estimulados pela loucura de mostrar a qualquer custo resultados com sangue de sua política fascista de “segurança”, não ficarão impunes. Veja em:


Clama aos céus por justiça o êxodo forçado de mais de quatro milhões de camponeses, o despojo de suas terras, as milhares de fossas comuns e a vinculação do presidente com massacres de indefesos cidadãos. O chefe paramilitar que denunciou a responsabilidade direta de Uribe no horripilante massacre de El Aro, estado de Antioquia, acaba de ser assassinado para satisfação do tirano do Palácio de Nariño. Ele sabe que mais cedo ou mais tarde terá que responder por seus crimes.

Deve ser revogado o mandato de um presidente que impôs o desonroso recorde de ter mais de 90% de sua bancada parlamentar vinculada ao processo da narco-parapolítica; que mantém como ministros de Estado delinqüentes que subornam; que utiliza o poder para tornar ricos seus filhos, que transforma o serviço diplomático em refúgio de assassinos como o general Montoya tantas vezes denunciado e que promove referendos inconstitucionais para se perpetuar no poder como mecanismo para escapar da justiça. Veja em:


URIBE VÉLEZ É UM VERDADEIRO BANDIDO AMPARADO DETRÁS DA FAIXA PRESIDENCIAL
Quantos problemas internacionais gerou sua absurda pretensão de internacionalizar sua política fascista de “segurança” com a qual se acha no direito de agir fora de suas fronteiras para por em prática sua visão particular e sua estratégia contra-insurgente, acima dos povos e de seus governantes, pisoteando a soberania das nações e desestabilizando a região, sempre apoiado pela Casa Branca. Veja em:
O que quer é incendiar o país indefinidamente com o fogo da guerra e com a violação dos direitos humanos, aferrado na quimera da vitória militar sobre a guerrilha comunista, procurando negar, de forma inconseqüente, a existência do conflito político e social, mas coloca sua mórbida ilusão no chamado “Plano Patriota” do Comando Sul do Exército dos EUA, acreditando inutilmente que a desconformidade social poder ser eliminada a tiros e com tecnologia militar de última geração.
Aumentar o efetivo militar para mais de 450 mil soldados devido à maior ajuda militar dos ianques no hemisfério não o manterá no poder porque assim mostra a experiência história e a sensatez.
“Os povos que lutaram por sua liberdade exterminaram finalmente seus tiranos” (Simón Bolívar).

Mas, além de ser um governo desprestigiado, apegado à ilegitimidade e acossado pela crise do capitalismo mundial, é também um governo condenado ao fracasso.

A Colômbia de hoje não quer o guerreirismo além montanha do governo. Quer soluções para o crescente desemprego e para a pobreza e exige o investimento social, sacrificado graças à guerra. Pede educação, moradia, saúde, água potável, direitos trabalhistas, terra, estradas, eletricidade, telefonia e comunicações, mercado para seus produtos agrícolas, renacionalização das empresas que foram privatizadas, punição para a corrupção, soberania para o povo, proteção do meio ambiente, verdadeira democracia, liberdade de opinião, libertação de presos políticos, fim da irracional extradição de colombianos, que mantém submissa a soberania jurídica, quer informação verdadeira, relações internacionais de respeito recíproco entre as nações, integração entre os povos com a construção da Pátria Grande com justiça social e paz.

Uribe Vélez teme, como o diabo tema a água benta, o clamor crescente dos que pedem paz, punição para os crimes perpetrados pelo Estado e um novo governo. Por isso exige angustiado que o tema da paz seja proscrito do debate eleitoral que se aproxima. É a loucura e o absurdo encarnados em um mandatário que quer submeter o país a seus ódios e ressentimentos.

Ningúem poderá desconsiderar um projeto de nova sociedade e de novo governo, a paz sonhada pelas maiorias nacionais. Ela é a bandeira que unirá os colombianos contra a tirania, a guerra e a injustiça.

Devemos todos estar alertas para impedir a manobra uribista de mudar o atual Presidente do Tribunal Eleitoral por um de seus serviçais. A única esperança do guerreirismo exasperado diante do desejo das maiorias é a fraude. E é o que devemos impedir agora, já que este foi amo e senhor das eleições de 2002 e 2006.

A reeleição de Uribe é um asqueroso monumento ao dolo e ao roubo praticados pelo ex-diretor da polícia política (DAS – Departamento Administrativo de Segurança), Jorge Noguera e pelo chefe narco-paramilitar, Jorge 40. Nas quatro milhões de assinaturas coletadas pelos uribistas a favor do referendo com apoio financeiro da DMG. Veja em:

(http://www.youtube.com/watch?v=QUlMMWfg53Y), estão estampadas as assinaturas de um milhão e meio de mortos.

Isto é fraude e roubo! Fraude contra a opinião pública é também a insistente fábula da derrota militar da guerrilha, argumento falacioso tal qual o dos “falsos positivos” (o caso de jovens assassinados e apresentados fardados como guerrilheiros mortos em combate). Veja em:

http://www.youtube.com/watch?v=zcayaxHKLDg, utilizado na verdade para justificar os terríveis desaforos do Estado contra a população civil.

Como sempre quiseram fazer com Manuel Marulanda Vélez, quiseram matar as FARC com os fuzis do desejo e com o ensurdecedor toque das máquinas de escrever. Nenhuma guerrilha pode ser exterminada com disparos de tinta. Não existe era de pós-conflito senão no sonho delirante do guerreirismo sem futuro de um regime decadente.

Das montanhas da resistência, como vimos fazendo há 45 anos convocamos os colombianos a nos mobilizar resolutamente pela paz, negada pelos seguidores de Santander e pelo imperialismo ianque quando mataram Simon Bolívar e a Colômbia da unidade de povos em 1830.

O passado é levado em conta na construção da sociedade futura. Ninguém pode nos desviar do destino apontado pelo Libertador nas origens da República. A incitação do senador Álvaro Gómez Hurtado no começo da década de 60 de submeter a sangue e fogo o que considerou como “República Independente de Marquetalia”, não foi suficiente para entender que os problemas nacionais não são solucionados pela violência do Estado.

É PRECISO CONSTRUIR UMA NOVA COLÔMBIA SOBRE A SÓLIDA BASE DA PAZ NEGOCIADA!

O Grande Acordo Nacional para a Paz deve ter como norte estratégico a formação de um novo governo que garanta ao povo “a maior soma de felicidade possível, a maior soma de garantias sociais e a maior soma de estabilidade política”, como exigia o Libertador. Um governo patriótico, democrático, bolivariano, rumo ao socialismo, como consignado na Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia.

Como garantia para a paz e para a soberania nacional devemos erigir umas novas Forças Armadas compenetradas com a doutrina militar bolivariana que inculca o amor ao povo e o ódio à tirania. Não devemos esquecer que o exército patriota foi o criador da Colômbia e da República nas fulgurantes vitórias de Boyacá e de Carabobo, e que seu comandante, Bolívar, o definiu como “defensor da liberdade”, acrescentando que “suas glórias devem se fundir com as da república e sua ambição deve ficar satisfeita ao fazer a felicidade de seu país”. Assim devem ser as novas Forças Armadas e estamos seguros de que muitos dos atuais oficiais sonham em desempenhar esse papel.

Solidarizamo-nos com a justa luta das famílias dos soldados regulares que exigem o direito de não serem obrigados a entrar em combate mortal com a guerrilha. A guerra negada pelo governo para não reconhecer o caráter política da insurreição que luta pelo poder (só no mês de março ocasionou 297 baixas mortais e 340 feridos nas forças armadas oficiais).

Fazemos um chamamento aos soldados a não se deixarem utilizar mais como carne de canhão, defendendo interesses que não são os seus e sim os de uma oligarquia podre e criminosa, antisolidária, que faz muito pouco por eles quando caem prisioneiros ou ficam mutilados. Temos segurança de que seus familiares também querem gritar com o governo, com o professor Moncayo, que seus filhos não nascessem para irem à guerra da oligarquia. Veja em:


Para conseguir o propósito da Nova Colômbia é necessário reorganizar o Estado com base na soberania do povo, tal como concebeu o Libertador em Angostura. Aos três ramos do poder do Estado devemos acrescentar os poderes moral e eleitoral, instituindo a revogação do mandato em todas as instâncias de eleição popular. Nunca mais cópias de leis estrangeiras para resolver nossos assuntos internos. Nunca mais sistema penal acusatório.

Requeremos um novo governo que puna exemplarmente a corrupção e acabe com a impunidade; que anule a política neoliberal responsável por nossas desgraças econômicas e sociais. O país e o governo com que sonhamos devem assegurar o controle dos ramos estratégicos da economia, estimular a produção em suas diversas modalidades, fazer respeitar nossa soberania sobre os recursos naturais. Tornar realidade a educação gratuita em todos os níveis, levar justiça ao campo com uma verdadeira reforma agrária que gere emprego e soberania alimentar, e construir a infra-estrutura para o progresso nacional.

Os contratos com as multinacionais que sejam lesivos para a Colômbia devem ser revisados, assim como os pactos militares, os tratados e convênios que manchem nossa soberania, anulados. Neste sentido o país não tem porque pagar a dívida externa contraída naqueles empréstimos viciados de fraude em qualquer de suas fases.

Solução não militar nem repressiva para o problema social da narco-produção. Veja em:


Nossa política internacional deve ser reorientada para a integração solidária dos povos da Nossa América na Pátria Grande bolivariana e para o socialismo.

A etapa definitiva da luta pela paz começou. O povo colombiano não pode esmorecer até que veja concretizado este direito.

Com Bolívar, com Manuel, com o povo no poder!

Manuel vive na luta do povo colombiano!

Juramos vencer e venceremos!



Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, maio de 2009.

28 de maio de 2009

Mais diferenças entre PCB e PCdoB


AS DIFERENÇAS ENTRE O PCB E O PCdoB:

No texto abaixo, Mário Maestri comenta um artigo de Aldo Rebelo (deputado e dirigente do PCdoB, ex-presidente da Câmara dos Deputados), publicado no jornal conservador O Estado de São Paulo, sobre a Guerra do Paraguai e nossa relação com este país irmão.

Para se ter uma idéia das diferenças entre o PCB e o PCdoB, publicamos ao final do texto de Mário Maestri o manifesto sobre o mesmo tema que o PCB divulgou, no Brasil e no Paraguai, por ocasião da posse de Fernando Lugo, em maio de 2008.
Aldo Rebelo em verde, amarelo, branco, azul anil…
Os crimes cometidos contra a população e a nação paraguaias são de exclusiva responsabilidade das classes dominantes brasileiras, como um todo, e das facções liberais argentinas e uruguaias de então.

Por Mário Maestri (*).
Aldo Rebelo serviu-se de simples proposta de deputados paraguaios ao Parlamento Mercosul para publicar, no poderoso Estado de São Paulo, de 1º de maio, dia internacional dos trabalhadores, desbragada defesa da ação criminal do Império, quando da destruição do Paraguai como nação independente, em 1864-1870. A diatribe foi publicada dias antes da chegada de Fernando Lugo, na procura de rediscussão do acordo imposto pela ditadura brasileira, nos anos 1970, quando reinava no Paraguai Alfredo Strossner, o sinistro ditador morto há alguns anos, em Brasília, em exílio dourado, concedido sem qualquer ranger de dentes.
Rebelo não se opõe a “Memorial da Guerra da Tríplice Aliança” a ser organizado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Indigna-se, porém, com a possibilidade de que tenha como objetivo rememorar o “genocídio levado a cabo contra o povo paraguaio”, que define como “ignomínia contra o Brasil”. Para apoiar sua defesa incondicional da ação do Império contra a pequenina nação, desenvolve desbragada manipulação nacional-patriótica da verdade e do método históricos, ao estilo “verde, amarelo, branco, azul anil….”, dos anos 1970. Nada estranho nos atuais tempos bicudos, se o deputado não se assinasse comunista.
Abraçando o irracionalismo e o relativismo histórico, Rebelo propõe ser impossível escrever história isenta da guerra, pois as análises sobre ela variariam segundo os “autores e as conjunturas”. Fulmina as leituras do “passado com as lentes do presente”, talvez sugerindo que deva ser analisado com os olhos do passado ou do futuro! Defende que, para se ter “conclusões irrefutáveis” sobre “aspectos controversos da guerra”, faltariam sobretudo “muitos documentos a apresentar”. Proposta paradoxal para apoiador de governo que rejeita caninamente a exigência dos historiadores ao direito de consulta de documentos sobre o conflito classificados como secretos pelo atual governo!
O Mal Uso da História
Rebelo empreende igualmente passeio sumário na historiografia do conflito. Sempre apoiado na atual historiografia nacional-patriótica restauracionista, esclarece que as “primeiras interpretações tecidas nos panteões oficiais” – em geral por oficiais das forças armadas – teriam sido sucedidas por “criticismo exarcebado”, que define como “revisionismo infantil”. Fulmina, assim, sem ter a coragem de citar, o estudo Genocídio americano: uma história da Guerra do Paraguai, do jornalista Júlio Chiavenatto, que, apesar de seus indiscutíveis limites, contribuiu corajosamente, durante a ditadura, ao esclarecimento da ação – esta sim ignominiosa – do governo imperial no Paraguai.
Promove paradoxal defesa do imperialismo inglês no Prata, ao propor que o Império Britânico, além de não ter responsabilidades no conflito, teria tentado “pôr panos quentes na desavença”! Destaque-se que, em Cartas dos campos de batalha do Paraguai, o diplomata britânico sir Richard F. Burton [1821-1890] registrou, sem papas na língua, a visão geral das classes dominantes da grande potência imperialista: “Minhas simpatias vão para o Brasil, pelo menos enquanto sua ‘missão’ for desaferrolhar [...] o grande Mississipi do Sul.”
Na sua empolgação nacional-patriótica, desatento à própria linguagem – surpreendente para autor de proposta de lei supostamente destinada a proteger a língua portuguesa da ingerência externa –, afirma nada menos do que o “nosso [sic] Império escravista” seria “pacifista”, escamoteando com sua apologia as múltiplas intervenções imperialistas do Segundo Reinado no Prata, entre 1851-1876! Registre-se a paradoxal apresentação do exército imperial como vanguarda da Abolição! [...] o Segundo Reinado era pacifista [...], e foi a guerra que conferiu a esta força militar fôlego e consciência para se reorganizar e se consolidar como instituição decisiva, a ponto de ser protagonista das rupturas históricas representadas pela Abolição [...].”
Para inocentar os crimes realizados na guerra, apoiado em “pesquisadora americana [sic]” – estadunidense, prezado deputado! –, impugna a estimativa de 1,1 milhões de habitantes para o Paraguai, que reduz para 320 mil, dos quais “60 mil” teriam morrido “durante a guerra”. O paradoxal no raciocínio é que, se esses números forem corretos, o Paraguai teria perdido em torno de 20% de sua população! Um verdadeiro e indiscutível genocídio! A minoração apologética extremada da população paraguaia deixa também em péssimos panos o Império que, com mais de nove milhões de habitantes, necessitou de seis anos, dezenas de milhares de mortos e recursos impressionantes para se impor a país, segundo proposto, na época, com uma população menor do que a da província do Rio Grande do Sul – 430 mil habitantes, em 1872!
Guerra entre nós, paz com os senhores!
A avaliação histórica de Rebelo do grande conflito é de relativismo patriótico paradoxal. No conflito, o Paraguai teve suas razões e seus heróis, ao igual que o Brasil. “Cabe-nos”, apenas, “perfilar os heróis de cada lado”, cantando, cada um, paraguaio e brasileiro, loas aos seus feitos patriótico-militares. Os combatentes paraguaios merecem a honra eterna de seus compatriotas”, como “os mais de 50 mil brasileiros mortos merecem e aguardam o reconhecimento plena da Pátria, pois foi por ela e em nome dela que pereceram [...]” – propõe o deputado.
Visão que liquida qualquer possibilidade de construção de interpretação geral da história, desde o ponto de vista dos povos e dos oprimidos, ao reduzi-la a realidade de valores e parâmetros essencialmente nacionais-patrióticos, que irmana oprimido e opressores. No frigir dos ovos, Rebelo substitui o grito sintética sobre a falta de contradição entre os oprimidos de todo o mundo, lançado há 161 anos, com a velha proposta nacional-patriótica de que os “proletários e povos de todo o mundo devem unir-se …. sob o mando das suas respectivas classes dominantes!”
Sem dúvidas a “historiografia ainda tem um longo caminho a percorrer” para elucidar todos os
aspectos daquela guerra fratricida. Porém, ao contrário do que propõe Rebelo, não há hoje dúvidas, entre os especialistas não dogmáticos, sobre o caráter socialmente avançado do Paraguai, nascido das suas singularidades históricas que deprimiram o surgimento de classes proprietárias e comerciais, ensejando o desenvolvimento de poderosa classe de pequenos camponeses proprietários ou arrendatários, sobretudo das grandes fazendas públicas do país. Principal base social dos governos nacional-jacobinos paraguaios do dr. Francia e de Lopez pai e filho.
Contra-Revolução Liberal
O sentido da Guerra contra o Paraguai explicita-se plenamente após o conflito, quando o país, sob governos fantoches e liberais, foi obrigado a endividar-se para pagar, por décadas, indenizações draconianas ao Brasil e à Argentina e perdeu boa parte de seus territórios em favor desses países. A Guerra constituiu sobretudo espécie de implantação sob as forças das armas, com o apoio indiscutido da Inglaterra, de ordem liberal-mercantil no país. A partir dos anos de ocupação militar pelos exércitos do Império brasileiro, privatizaram-se aceleradamente as fazendas públicas, os ervais, as reservas florestais e constituíram-se grandes latifúndios, em geral propriedades de estrangeiros – argentinos, ingleses, brasileiros, paraguais colaboracionistasetc.
Desde a independência, em 1810, até o fim do sangrento conflito, em 1870, o Paraguai fora caso único de estabilidade política e social na América do Sul. Ao desorganizar para todo o sempre o poderoso campesinato de origem guarani, derrotado e profundamente dizimado durante a guerra, o conflito lançou aquela nação em uma situação de instabilidade e ditaduras militares, permanentes cortejadas e manipuladas pelos grandes interesses econômicos sobretudo do Brasil e da Argentina.
Alfredo Strossner manteve, de 1954-1989, uma das mais longevas, corruptas e desapiedadas ditaduras latino-americanas, ao dar as costas à Argentina e obter o apadrinhamento permanente dos sucessivos governos brasileiros. Foi durante o seu governo que os ditadores em turno no Brasil ditaram as condições draconianas que permitiram a construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu Bi-nacional. Fernando Lugo elegeu-se defendendo precisamente uma rediscussão desses acordos espúrios e a devolução parcial das terras arrancadas ao campesinato paraguaio, hoje em boa parte nas mãos de grandes sojicultores brasileiros.
Por uma História e Política dos Povos
Os crimes cometidos contra a população e a nação paraguaias são de exclusiva responsabilidade das classes dominantes brasileiras, como um todo, e das facções liberais argentinas e uruguaias de então. No Brasil, na Argentina, no Uruguai, a população pobre partia, não raro, manietada e tratada como gado, para ir lutar em conflito que literalmente abominava, pois tudo tinha a perder e nada a ganhar na luta contra os irmãos paraguaios.
Na Argentina, os gauchos desertaram e levantaram-se em armas aos milhares contra os governos liberais de Mitre e Sarmiento que agrediam sua autonomia provincial e os direitos nacionais paraguaios. No Brasil, a negativa do homem livre em partir para o Prata obrigou a compra e libertação de cativos destinados a morrer sob bandeira negreira que manteria nos grilhões, por ainda quase vinte anos, seus irmãos. Durante a guerra, os quilombos brasileiros regurgitaram de desertores, que compreendiam que, se “deus é grande, o mato é maior!”
Ao contrário do que afirmam os proprietários das riquezas e do poder e seus intelectuais arrendados, não houve, ontem, como não há hoje, contradições entre os trabalhadores e trabalhadoras, entre os homens e as mulheres de bem das nações latino-americanas. O “Memorial da Guerra da Tríplice Aliança” que devemos construir deverá cimentar a aliança dos trabalhadores, pobres e oprimidos latino-americanos e celebrar o martírio dos populares e combatentes guaranis, brasileiros, argentinos e uruguaios, ceifados no altar dos mesquinhos interesses das suas classes dominantes nacionais.
(*) Mário Maestri, 60, é doutor em História pela UCL, Louvain, Bélgica. Foi preso e refugiado durante a Ditadura Militar brasileira. É atualmente comunista sem partido.

27 de maio de 2009

Comunistas precisam denunciar GDK no Brasil todo!

Comunistas precisam denunciar GDK no Brasil todo!

Uma empresa do Rio de Janeiro, a GDK, está assassinando líderes sindicais um atrás do outro. É óbvio que se ela não for punida exemplarmente, os assassinatos de sindicalistas vão crescer, não só no Rio, mas em todo o Brasil.De longe, onde estamos, a única maneira de combater esse atrevimento fascista é denunciando ao ponto de despertar parte da opinião pública, tornando a situação da GDK insustentável por meio de movimentações políticas.

Clique aqui para ler a reportagem do Brasil de Fato sobre o assunto.

Ameaçado de morte, pescador é executado seis horas após protesto

por Michelle Amaral da Silva
última modificação 25/05/2009 11:12

O pescador que havia denunciado ameaças de morte foi espancado e executado com cinco tiros, no rosto e na nuca. Há forte indícios de que morte esteja ligada a protestos e denúncias contra empresa GDK

25/05/2009
Leandro Uchoas, de Magé (RJ)

Às 10h30 desse domingo, foi enterrado o pescador assassinado na madrugada de sexta-feira, em Magé-RJ, sob clima de forte emoção e presença maciça de moradores e representantes de movimentos sociais. O crime que surpreendeu e chocou a cidade aconteceu em condições misteriosas. Paulo César Santos, de 45 anos, foi morto apenas seis horas depois da interdição das obras da empresa GDK, que ocorreu por denúncias da Associação dos Homens do Mar (Ahomar) da qual Paulo era tesoureiro.
Ainda não há provas claras da relação entre o assassinato e a interdição da obra. Entretanto, os indícios são incontáveis. Os pescadores da Ahomar vinham relatando ameaças de morte e atentados há meses. Denunciando violações de leis ambientais e trabalhistas, organizaram uma manifestação de 38 dias no mar, dificultando a continuidade das obras da GDK – que junto à Oceânica toca o projeto GLP da Petrobrás, uma das intervenções do PAC na Baía da Guanabara. A manifestação só parou após violenta ação repressiva do Grupo Aéreo Marítimo (GAM) e o Batalhão local (intervenção considerada arbitrária e ilegal pela juíza da Vara Cível de Magé, Suzana Cypriano).
O assassinato de Paulo ocorreu em condições estranhas. Às 11h30 da sexta-feira, três homens brancos entraram na casa do pescador, e o retiraram. Sua esposa e filhos permaneceram no interior, ouvindo as agressões e gritos. O pescador levou pancadas durante meia hora. A esposa alegou que só ouviu dos invasores perguntas sobre documentos, e sobre o presidente da Ahomar, Alexandre Anderson. Paulo foi assassinado com cinco tiros, sendo três no rosto e dois na nuca. Os matadores fugiram, da casa, levando alguns papéis. Estavam em um golf branco, com a placa vedada. Paulo estava afastado do movimento da Ahomar por questões de saúde.
Segundo Alexandre Anderson, o pescador estava muito tenso nos últimos tempos, e teria lhe pedido de forma muito enfática, na segunda-feira que antecedeu o crime, para que fosse embora de Magé. Alexandre já foi ameaçado de morte inúmeras vezes, e sofreu um sério atentado no último 1° de maio.
O projeto tem inviabilizado a atividade de pesca artesanal, e impactado seriamente o meio-ambiente da região, onde vivem cerca de 3 mil pescadores. A interdição da obra ocorreu por volta das 17h40 da sexta-feira, numa auditoria conjunta das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e da Fazenda, e o Conselho Municipal de Meio-ambiente. Foram encontradas, pelo menos, 42 irregularidades no projeto, inclusive no processo de licenciamento do projeto.
Segundo os pescadores, a Petrobrás não se reuniu em nenhum momento para negociar alternativas. Na próxima quarta-feira, está previsto um ato de protesto em frente à empresa, no Centro do Rio. Também se planeja para junho uma audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Fora as supostas violações ambientais, trabalhistas, e ao patrimônio histórico local, a Ahomar acusa a empresa de boicotar participantes e familiares de manifestantes dos empregos na empresa. A pesca teria sido reduzida em até 70% na região.

24 de maio de 2009

O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO (A PETROBRÁS NO CENTRO DA DISPUTA POLÍTICA) - Nota Política do PCB


As possibilidades que se abrem para o Brasil com as descobertas na camada do pré-sal acirram a luta de classes em nosso país, colocando a Petrobrás no centro de uma disputa política que, para além da preocupação das elites com o calendário eleitoral de 2010, envolve a definição do papel do Estado brasileiro e de a quem ele deve servir: aos trabalhadores ou à burguesia?

Lamentavelmente, o governo Lula manteve, no fundamental, o marco regulatório da exploração do petróleo herdado do governo FHC: a famigerada ANP e seus leilões abertos às multinacionais; 62% das ações da empresa vendidas em bolsas de valores, inclusive na de Nova Iorque.

Na sua opção pela governabilidade conservadora, em detrimento da mobilização popular, capitulou frente aos interesses do grande capital e tornou-se refém do jogo parlamentar burguês, sobretudo do PMDB, de que depende para tudo, até para a vitória de sua candidata à própria sucessão. Com sua cumplicidade, vemos hoje José Sarney e Michel Temer comandando o Congresso Nacional!

Só com mais de seis anos de mandato, quando surgem as possibilidades do pré-sal - no contexto de uma crise global do capitalismo -, é que Lula parece acordar para a necessidade de preservar o que ainda pode restar do mais valioso patrimônio nacional, que são nossas reservas de petróleo.

Ao invés de usar o respaldo que lhe daria o povo brasileiro para adotar atitudes firmes no caminho da reestatização da Petrobrás, nosso Presidente certamente optará pela criação de uma nova estatal para gerir apenas o pré-sal, num formato em que o Estado brasileiro cobra um percentual sobre a exploração do petróleo e a parte do leão fica para as concessionárias: a Petrobrás 38% estatal e empresas privadas, entre multinacionais e algumas de origem nacional, que certamente também se locupletarão neste jogo de cartas marcadas.

É neste quadro que surge esta cínica CPI convocada pela oposição de direita, formada exatamente por aqueles que implantaram este modelo antinacional e corrupto por sua natureza, mantido por Lula.

A oposição de esquerda ao governo não pode se iludir com esta CPI da direita, muito menos se aproveitar dela, por oportunismo político. Seus objetivos, para além do aspecto eleitoral, são claros. Trata-se de fragilizar a Petrobrás para tentar barrar a luta pela reestatização do petróleo, abrindo espaço para mais privatização e internacionalização do setor.

A esquerda como um todo também não pode se iludir com a movimentação de Lula, por mais que possa ser ou parecer bem intencionada. Ainda mais agora com a jogada política da CPI da direita, que o bota na defensiva e o encurrala no único campo institucional pantanoso em que se movimenta.

Com um governo de centro e uma CPI da oposição de direita, a única possibilidade de prosperar a campanha pela reestatização da Petrobrás é a mobilização do povo brasileiro. E as condições estão dadas. Numa Plenária Nacional na semana passada, com a presença das mais variadas organizações políticas e sociais do campo da esquerda - em que o PCB e o MST jogaram papel importante -, conseguimos unificar o título da campanha (O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO), as bandeiras políticas e as formas de luta, dentre as quais se destacam um abaixo assinado dirigido ao Congresso Nacional e à Presidência da República e jornadas nacionais de luta.
Não há mais tempo a perder. Conclamamos todas as organizações e todos os militantes antiimperialistas a organizarmos de imediato Comitês Estaduais O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO, amplos e unitários, em todo o Brasil.

REESTATIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DA PETROBRÁS;

RESTABELECIMENTO DO MONOPÓLIO ESTATAL DO PETRÓLEO;

FIM DOS LEILÕES ENTREGUISTAS DA ANP;

DESTINAÇÃO SOCIAL DOS LUCROS DO PETRÓLEO.

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2009
Comissão Política Nacional PCB - PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

Ato em defesa de nova lei do petróleo e da Petrobrás reúne 5 mil no Rio


Cerca de 5 mil pessoas, entre integrantes de movimentos populares, centrais sindicais, organizações de estudantes e cidadãos, participaram da manifestação em defesa de uma nova lei do petróleo e da soberania nacional, realizada na manhã desta quinta-feira (21/5), no centro da cidade do Rio de Janeiro.
O ato foi uma importante demonstração de unidade da esquerda, que defende a retomada do monopólio estatal das jazidas de petróleo e a criação de um fundo social soberano para garantir o investimento dos recursos do pré-sal nas áreas sociais, como educação, saúde, habitação e reforma agrária.
"Precisamos organizar uma campanha de massa nacional para garantir que os recursos do petróleo sejam destinados para resolver os problemas do povo brasileiro", afirmou o integrante da coordenação nacional do MST, João Paulo Rodrigues.
Segundo ele, os desafios dos trabalhadores na defesa do petróleo são muito maiores do que os obstáculos impostos na atual conjuntura pela CPI da Petrobrás, que foi instalada na semana passada depois de manobra do PSDB. "Defender o petróleo e a Petrobrás é organizar o povo, porque só será possível defendê-los se estivermos nas ruas", disse João Paulo.
A mobilização foi encerrada por volta das 13h30, diante do edifício sede da Petrobrás, na avenida Chile, depois de uma passeata que fechou as seis pistas da avenida Rio Branco e de um abraço simbólico em torno da sede da empresa.
O ato faz parte da articulação da campanha "O Petróleo tem que ser nosso!", que pretende fazer um grande mutirão nacional para debater a necessidade do controle público do petróleo e gás, para melhorar a vida do povo brasileiro e garantir a soberania nacional.
Também participaram do ato parlamentes e representantes dos partidos à esquerda, como PCB, PCdoB, PSB, PT, PSOL e PSTU. O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azedo, esteve presente e declarou apoio à campanha.
"Estamos na campanha em defesa do petróleo, na defesa do Brasil e em defesa de um fundo soberano, para garantir que os recursos sejam destinados ao povo brasileiro", afirmou a presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Lucia Stumpf.
"É prioritária a luta pela reestatização da Petrobras, porque uma empresa estatal, apesar das suas limitações, pode estar a serviço da resolução de algumas questões sociais", defende o Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Ivan Pinheiro.
"A campanha cria uma base unitária na defesa do petróleo e é hora de ocupar as ruas porque o futuro do Brasil passa pelo pré-sal", afirmou Renato Simões, secretário nacional de Movimentos Populares do PT.
"Temos que ocupar as ruas de todo o país na defesa do nosso petróleo, que tem que garantir melhores condições de vida para o povo e o futuro nas próximas gerações", acredita Emanuel Cancella, o coordenador do Sindicado dos Petroleiros do Rio de Janeiro e integrante da FNP (Frente Nacional dos Petroleiros).
"Queremos o controle sobre o pré-sal nas mãos do povo brasileiro. É uma riqueza gigante que deve ser destinada para fortalecer e consolidar políticas de Estado que garantam distribuição de renda e diminuição das desigualdades", afirmou o coordenador da FUP, João Antonio de Moraes.
"Os bons brasileiros serrarão fileiras na campanha 'O petróleo tem que ser nosso!' e a nossa proposta é a retomada do monopólio estatal do petróleo sob controle das forças populares", completou.

Afegãos relatam a devastação causada por bombardeios americanosPor: Carlotta Gall e Taimoor Shah Em Farah (Afeganistão)


O número de civis mortos pelos ataques aéreos norte-americanos na província de Farah na semana passada talvez nunca seja totalmente conhecido. Mas moradores do local, incluindo duas meninas que ainda se contorciam de dor por causa de queimaduras, descreveram uma devastação que as autoridades e trabalhadores de ajuda humanitária consideram o pior episódio em oito anos de guerra no Afeganistão.
Saiba mais sobre o Afeganistão
"Estávamos muito nervosas e com medo, e minha mãe falou: 'Venha, rápido; vamos sair daqui e ficar a salvo'", disse Tillah, 12, deitada na cama do hospital enquanto contava como as mulheres e crianças fugiram do bombardeio, escondendo-se num condomínio que depois foi atingido.
As bombas foram tão poderosas que desmembraram as pessoas atingidas. Sobreviventes dizem que só conseguiram reunir pedaços de corpos. Vários moradores disseram que não conseguiam distinguir os mortos e foram incapazes de encontrar alguns parentes.
Autoridades do governo acataram as listas manuscritas compiladas pelos moradores, que dão conta de 147 civis mor tos. Um grupo afegão independente de defesa dos direitos humanos estima o número de mortos em 117. Oficiais americanos dizem que os números são exagerados, mas ainda não divulgaram sua própria contagem.
A calamidade no vilarejo de Granai, a cerca de 30 quilômetros daqui, ilustra da forma mais terrível o teste do governo Obama, que enviou mais de 20 mil tropas adicionais para cá e apontou um novo comandante, o tenente general Stanley A. McChrystal, em busca de uma nova estratégia para combater a tenaz insurgência Taleban.
Bombardeios como este fizeram com que os afegãos se voltassem contra o governo apoiado pelos EUA e contra a presença militar estrangeira. Os acontecimentos em Granai levantaram mais uma vez questionamentos quanto à necessidade e eficácia dos bombardeios aéreos numa guerra de guerrilha, na qual os insurgentes deliberadamente se misturam à população civil para lutar e se esconder.
Os insurgentes do Taleban co nhecem bem essas fraquezas e estão se aproveitando ao máximo delas, dizem autoridades americanas e afegãs. Farah, uma vasta província no oeste do país, conta com apenas um pequeno número de forças especiais estrangeiras e oficiais responsáveis por treinar a polícia afegã e unidades do Exército. Explorando essa escassez de forças, os insurgentes tentaram tomar o controle de Granai e desencadearam uma batalha violenta sobre as cabeças da população civil, dizem oficiais afegãos e americanos.
Depois de horas de luta e algumas mortes, as forças norte-americanas usaram sua arma mais poderosa, os ataques aéreos, em pelo menos três alvos no vilarejo.
O rápido enterro coletivo das vítimas e a presença contínua de insurgentes na área obstruíram as investigações. Os jornalistas foram aconselhados a não visitarem Granai. Moradores foram entrevistados pela reportagem em Farah, capital da província, onde vieram receber indenizações, e n a província vizinha de Herat, onde alguns foram levados para hospitais.
A maioria das descrições dos moradores corresponde aos relatos do porta-voz militar dos EUA, coronel Greg Julian, e ao depoimento do chefe de polícia provincial, coronel Watandar. Mas diferem num ponto importante: se o Taleban já havia ou não deixado Granai antes do começo do bombardeio.
Os moradores ficaram especialmente enraivecidos com o fato de que o bombardeio aconteceu depois que o Taleban já havia deixado a área ao entardecer e a batalha já havia terminado, dizem, tanto que os homens haviam saído para fazer suas orações noturnas às 19h e voltado, e estavam jantando com suas famílias.
O chefe de polícia disse que o combate esporádico continuou durante a noite e que o Taleban ficou no vilarejo provavelmente até a 1h da manhã.
Qualquer que seja o caso, os aviões americanos bombardearam o vilarejo várias vezes depois das 20h, quando a maioria dos moradores achava que o combate já havia terminado, e qualquer que seja o número real de mortos, está claro a partir dos relatos dos moradores que dezenas de mulheres e crianças morreram depois de se esconderem.
Um grupo foi para a ampla residência de um homem chamado Said Naeem, no lado norte do vilarejo, onde as duas meninas foram feridas. Apenas uma mulher e seis crianças que estavam no local sobreviveram, disse um dos pais.
Outro grupo se reuniu na casa do imã [líder religioso] do vilarejo, Mullah Manan. O local também foi bombardeado, resultando num número de mortos equivalente, dizem os moradores. As enormes explosões deixaram uma devastação tão grande que os moradores tiveram dificuldades de descrever. "Havia pernas, ombros, mãos", disse Said Jamal, um homem de barbas brancas e olhos úmidos, que perdeu dois filhos e uma filha. "Foram muitos mortos."
Uma delegação conjunta do governo afegão e milita res americanos visitou Granai na semana passada, mas voltou bastante dividida quanto às suas conclusões. O governo afegão disse que 147 civis morreram e 25 ficaram feridos, e que 12 casas foram destruídas.
Os militares americanos disseram que os números afegãos eram altos demais. Esta semana, um investigador sênior do Exército, o brigadeiro general Ray Thomas, chegou ao local para conduzir uma investigação profunda para o comandante militar geral da região, o general David. H. Petraeus.
A organização afegã independente Afghanistan Rights Monitor disse na quarta-feira que pelo menos 117 civis morreram - incluindo 26 mulheres e 61 crianças - a partir de entrevistas com 21 moradores e parentes dos mortos. O grupo criticou tanto o Taleban, por lutar entre os civis, quanto o exército dos EUA, por usar uma força excessiva.
O chefe de polícia, Watandar, confirmou a maior parte dos relatos dos moradores sobre o combate. Um gran de grupo de guerrilheiros do Taleban, estimado em cerca de 400 homens, entrou no vilarejo e tomou posições na manhã de 4 de maio. Na metade da manhã, o Taleban começou a atacar os postos de polícia na rua principal, a poucos metros do vilarejo, dizem.
O combate durou o dia todo. A polícia pediu reforço a unidades do exército afegão e a uma força de reação rápida americana da cidade de Farah.
No meio da tarde, a troca de fogo aumentou drasticamente e deslocou-se para dentro do vilarejo. Os guerrilheiros do Taleban atiravam de dentro das casas, e em determinado momento uma unidade americana pediu ataques aéreos, para que os soldados pudessem avançar e resgatar um soldado afegão ferido, disse Julian, porta-voz militar dos EUA. Depois disso, o ataque do Taleban ficou bastante reduzido, disse.
Um morador chamado Multan disse que uma casa no extremo sul do vilarejo foi atingida por uma bomba e que um guerrilheiro Taleban morreu lá . Mas os moradores não relataram nenhuma morte de civis até o bombardeio americano à noite.
A menina Tillah, de 12 anos, cujo rosto carrega as cicatrizes da explosão, ainda reclama da queimadura em sua perna no hospital provincial de Herat, para onde ela e outros sobreviventes foram levados a uma ala especial de queimados. Suas duas irmãs, Freshta, 5, e Nuria, 7, mal podiam ser vistas sob as bandagens enroladas em suas cabeças e membros.
As três meninas visitavam a casa da tia com a mãe, quando um avião bombardeou uma mesquita próxima, por volta das 20h, disse Tillah. Foi então que elas fugiram para a casa de sete cômodos de Said Naeem.
"Quando chegamos lá, nos sentimos a salvo, e eu dormi", disse Tillah. Ela disse que ouviu o zumbido do avião, mas depois só se lembra de quando a retiraram dos escombros na manhã seguinte.
Outra menina, Nazo, 9, ao lado dela, em outra cama do hospital, disse que viu dois flashes vermelhos no quintal que fizeram a poeira levantar logo antes da explosão.
"Eu ouvi uma explosão barulhenta, e o prédio começou a queimar e o teto caiu", disse. Sete integrantes da família que estava com ela morreram, e quatro ficaram feridos, disse o pai dela, Said Malham.
"Por que eles atacam o Taleban dentro do vilarejo?", perguntou ele com raiva. "Por que não os bombardeiam quando estão fora do vilarejo?"
"Os estrangeiros são culpados", continuou. "Por que não bombardeiam seus próprios alvos, em vez de vir aqui bombardear nossas casas?"

20 de maio de 2009

Polícia de Aécio Neves ataca seis acampamentos Sem Terra

Na segunda-feira (18/5), a Polícia Militar (PM) de Minas Gerais, após vários dias de pressão e ameaças contra os Sem Terra, despejou 98 famílias de quatro acampamentos localizados no município de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. Foram despejados os Sem Terra dos acampamentos Sidney Dias, Irmã Dorothy, Tiradentes e Rosa Luxemburgo.


Parte das famílias se refugiaram em outros acampamentos do MST, também instalados no latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis. Cerca de 40 famílias foram acolhidas no assentamento 1º do Sul, na ex-fazenda Jatobá - local que hoje não só representa direito de acesso à terra e à dignidade, mas também o quanto a Reforma Agrária é produtiva: por ano, são 1.600 sacas de café, 1.200 litros de leite por dia, proteção às matas e nascentes de água e geração de 180 empregos diretos.

Segundo uma nota da PM, a tropa que efetuou o despejo compreendia 210 soldados fortemente armados com revólveres, metralhadoras, helicóptero, cachorros, cavalaria, três UTIs móveis, carro do corpo de bombeiro, atirador de elite, além de policiais de Operações Especiais da Tropa de Choque. A cidade de Campo do Meio está sitiada pela polícia. "Nunca se viu tamanho aparato policial na região aterrorizando o povo. Ninguém circula sem ser vistoriado. As lideranças do MST estão sendo perseguidas. Os policiais chegaram de forma truculenta", denuncia Frei Gilvander, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A arbitrariedade da polícia é chocante. A polícia destruiu muitas plantações utilizando patrola, trator e incendiando lavouras. Mataram cães das famílias Sem Terra com tiros. Um Sem Terra, o Sr. José Inocêncio, foi preso porque insistiu em recolher um saco de mandioca para levar antes que o trator da polícia destruísse o mandiocal.

Um vereador de Campo do Meio, Camilo Lelis Fernandes, tentou entrar em um dos acampamentos para acompanhar de perto o despejo, mas foi impedido pela polícia.

Nem mesmo as crianças impediram a truculência da polícia. Elas entregaram flores aos soldados e mostraram cartazes pedindo um pedacinho de terra e paz. Para elas restou o choro, embalado pelo desespero de mães e avós.

"O povo Sem Terra está em estado de choque. Nós da Comissão Pastoral da Terá hipotecamos nossa irrestrita solidariedade aos Sem Terra do MST e, com indignação, repudiamos mais esta covarde ação contra a dignidade de centenas de camponeses empobrecidos. Lamentamos com veemência a truculência da Polícia e condenamos o Presidente Lula como o grande irresponsável pela não realização da Reforma agrária no nosso País. Lula dá bilhões para o agronegócio, enquanto asfixia cada vez mais a migalha de Reforma Agrária que acontecia na era do governo FHC", pontua o Frei da CPT.

Laudo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas atesta que só na área do acampamento Tiradentes, entre tantas outras plantações que foram destruídas, os Sem Terra estavam na iminência de colher cerca de 1.800 sacos de feijão.

Muitos dos acampados habitavam o local, vivendo sob uma lona preta, há 11 anos. Este é o sexto despejo que enfrentam e, mesmo assim, garantem que não desistirão da terra.

Fonte: Canal Itumbiara Livre.

Nota: A foto é da pequena cidade de Campo do Meio.

19 de maio de 2009

A GESTAPO colombiana



Colombiana desmembrada com motoserra, arma da "segurança democrática" de Uribe Vélez.

Está provado que durante os últimos 10 anos, mais de 60% dos sindicalistas assassinados em todo o mundo são colombianos, que existe uma grande violência antisindical que se soma à de defensores de direitos humanos. Vários funcionários do DAS reconhecem que sindicalistas e defensores de direitos humanos foram objeto de “trabalhos de inteligência” para incluir essa informação em suas bases de dados e dali foram colocados em listas que Noguera entregou aos paramilitares (como Jorge 40) e logo, efetivamente, foram objeto de ameaças, deslocamentos, assassinatos e desaparecimentos forçados.

O “bom garoto” Jorge Noguera, ex-diretor do DAS , amigo íntimo e mão direita de Uribe Vélez, é chamado a julgamento pelos homicídios de sindicalistas, defensores de direitos humanos e políticos, que denunciaram o pacto entre o paramilitarismo e a casta política colombiana.

ANNCOLO procurador (engavetador) geral da Colômbia Alejandro Ordóñez, membro superior da Opus Dei no país, e assessor jurídico pessoal de Uribe Vélez (segundo reconheceu publicamente a própria AUV), iniciou a manobra jurídica para ocultar a verdade dos acontecimentos que estão vindo à tona sobre a terrível ação da Polícia Política colombiana, ou melhor, a GESTAPO Uribista, e muito provavelmente absolvê-los, com a mesma mentira repetida mil vezes, de que vai fazer uma investigação exaustiva até chegar às últimas conseqüências, mas investigando pessoas do segundo nível da maquinária infernal e deixando intencionalmente de fora o “Mortesino” colombiano José Obdulio e seu chefe “Urimori”, verdadeiros responsáveis por toda esta podridão.

Ao mesmo tempo, inicia-se a manobra midiática da propaganda do governo com o drama de que cruzaram (interceptaram) às sagradas instituições da democracia, com a qual se rasgam hipocritamente as vestimentas, mas com o fim obscuro de desviar a atenção do verdadeiro problema DO TERRORISMO DE ESTADO e os FUZILAMENTOS oficiais de sindicalistas, defensores de direitos humanos e opositores ao regime; realizadas pelos militares do exército colombiano e seus paramilitares oficiais, além dos que foram assassinados a partir de listas com nomes e endereços precisos elaborados pelo DAS, a GESTAPO Uribista, para serem entregues aos criminosos de Guerra.

E é precisamente esse duplo papel Nazista; de espionagem ilegal de toda a sociedade (sem exceções) e os assassinatos baseados em listas elaboradas pela Polícia Política Uribista, o DAS tal qual Hitler fez; é o que deve ser investigado e esclarecido para o mundo que olha horrorizado para o que está acontecendo na Colômbia. Isto é o que deve garantir o escritório das Nações Unidas que foi chamada em auxílio pela Corte Suprema de Justiça da Colômbia.

A corporação Colectivo de Abogados.Org – José Alvear Restrepo- da Colômbia elaborou um informe jurídico que nos permite saber, para o esclarecimento de nossos leitores, onde acontece a comprovada relação de Jorge Noguera, ex-diretor do DAS e amigo político de Uribe Vélez, em toda esta tragédia colombiana.…”

Jorge Noguera, o ex-diretor do DAS e mão direita do Presidente, foi chamado a julgamento pelos homicídios de sindicalistas, defensores de direitos humanos, e políticos que denunciaram o pacto entre o paramilitarismo e a classe política colombiana.

O Fiscal Geral da Nação, Dr. Mario Iguarán Arana, acaba de reconhecer a responsabilidade penal de Noguera nos homicídios de sindicalistas, defensores de direitos humanos e políticos que denunciaram o pacto entre o paramilitarismo e a classe política colombiana; assim o DAS, que, durante a sua administração, foi colocado a serviço do paramilitarismo na Colômbia, tal como havia sido expressamente solicitado pelos representantes da Parte Civil, advogados da Corporación Colectivo de Abogados “José Alvear Restrepo”.

Lamentavelmente, o representante da Procuradoria Geral da Nação pediu a preclusão da investigação relacionada com os homicídios, ou seja, não examinou as abundantes provas existentes contra Noguera, em relação com sua responsabilidade pelos homicídios de sindicalistas, defensores de direitos humanos e políticos, que denunciaram o pacto entre o paramilitarismo e a classe política colombiana.

Portanto, Noguera Cotes deverá responder pelos crimes de Formação de Quadrilha Agravado enquanto fomentou, promoveu, financiou e desenvolveu atividades conjuntas com o paramilitarismo; de Homicídio Qualificado contra os defensores de direitos humanos Alfredo Correa D´Andreis, os sindicalistas Zully Esther Condina e Adán Pacheco, assim como do político e sociólogo Fernando Pisciotti Van Strahlen, uma vez que essas pessoas foram assassinadas em razão de seu trabalho de denúncia sobre a associação do paramilitarismo com diversos setores do Estado colombiano.

Jorge Noguera ainda foi acusado de Utilização de assuntos confidenciais, ao entregar informação de inteligência ao paramilitarismo, de Destruição, Supressão ou Ocultamento de Documento Público, ao apagar antecedentes e outras informações com relação aos paramilitares “e” narcotraficantes; de Abuso de autoridade por cometer atos arbitrário e coagir os funcionários do DAS que desenvolviam atividades de perseguição ao paramilitarismo; além de ter recebido e cobrado porcentagens em relação a somas de dinheiro que eram remetidas ao paramilitarismo, ilícitas comissões que eram cobradas pela contratação do DAS.

Jorge Noguera Cotes foi diretor do DAS entre setembro de 2002 e outubro de 2005, depois foi nomeado cônsul em Milão, em seguida teve que regressar ao país para ser processado por graves crimes. Assim, foi detido inicialmente no dia 22 de fevereiro de 2007, mas recuperou sua liberdade mediante um habeas corpus outorgado pelo Conselho Superior de Justiça em 23 de março de 2007. No dia 6 de julho de 2007 Noguera foi capturado pela segunda vez e chamado a julgamento em 1º de fevereiro de 2008 pelos delitos de Formação de Quadrilha, Utilização de Informação Confidencial, Abuso de Autoridade, entre outros, enquanto continuava a investigação pelos Homicídios.

Mas durante a etapa de julgamento, a Sala Penal da Corte Suprema no dia 12 de junho de 2008 considerou que a atuação processual era nula na medida em que o Fiscal Geral da Nação Mario Iguarán não a executou diretamente, portanto, ordenou novamente sua liberdade imediata.

Posteriormente, o Fiscal Geral, acatando a decisão da Corte Suprema, reabre o processo contra Noguera Cotes, o chama ao depoimento, reúne dezenas de provas que seguem demonstrando sua responsabilidade penal, motivo que impõe medida de encarceramento, sendo novamente detido no dia 12 de dezembro de 2008, momento desde o qual está privado da liberdade na Penitenciária Central da Colômbia “La Picota” em Bogotá. E finalmente, diante da evidência irrefutável de sua intervenção nos homicídios citados, é proferida uma resolução de acusação contra ele em decisão fechada no dia 6 de maio de 2009, ao julgá-lo co-autor das condutas imputadas.

Está provado que o DAS, desde seu nível central, com a chegada de Jorge Aurelio Noguera Cotes, integrou-se em uma estrutura criminosa assentada sobre o aparato legal e que, através da utilização dos privilégios que lhes eram entregues, prestava a contribuição necessária para o desenvolvimento paramilitar, sob o título de “guerra contrainsurgente” que, na realidade, tem sido a perseguição da população civil, como em relação com a tomada definitiva do poder, em virtude das derrotas que se evidenciaram com o denominado “Pacto de Ralito”.

Está provado que durante os últimos 10 anos, mais de 60% dos sindicalistas assassinados em todo o mundo são colombianos, que existe uma grande violência antisindical que se soma à de defensores de direitos humanos. Vários funcionários do DAS reconhecem que sindicalistas e defensores de direitos humanos foram objeto de “trabalhos de inteligência” para incluir essa informação em suas bases de dados e dali foram colocados em listas que Noguera entregou aos paramilitares (como Jorge 40) e logo, efetivamente, foram objeto de ameaças, deslocamentos, assassinatos e desaparecimentos forçados.

O assassinato de sindicalistas na Colômbia, segundo a OIT, tem a taxa mais alta do mundo, portanto o chamado a Jorge Noguera para que responda na justiça pelos graves e dolorosos crimes que cometeu, como um dos máximos responsáveis por estes crimes, é apenas um primeiro passo para romper a impunidade.

É fundamental que se siga avançando na determinação de responsabilizar os demais membros do aparato organizado de poder DAS-paramilitarismo. Além disso, é importante que as vítimas possam participar ativamente no julgamento e que isso não prejudique sua possibilidade de intervir como testemunha no mesmo. Por último, é relevante que a posição da Fiscalía no julgamento siga sendo congruente com a assumida na resolução de acusação, porque é lógica, legítima e justa, em relação com o que foi provado no processo.

Ainda nos aguarda uma decisão histórica definitiva que permita mostrar se existe ou não na Colômbia a possibilidade de avançar em superar a impunidade, e de julgar a nível nacional os máximos responsáveis pelos graves crimes cometidos contra sindicalistas na Colômbia, e desta forma dignificar as vítimas e a sociedade colombiana.

O original encontra-se em:

Anncol.eu.

FONTE:

http://anncol-brasil.blogspot.com/2009/05/gestapo-colombiana.html

17 de maio de 2009

O primeiro massacre do governo Obama - Por: Emir Sader


Pode-se ter maior ou menor simpatia pelo novo presidente norte-americano, acreditar-se um pouco mais ou um pouco menos nas suas palavras, valorizar mais ou menos a mudança de tom do governo dos EUA ao tratar suas diferenças com outros governos. Mas há um limite para julgar o caráter de um presidente e de um governo. Esse limite chegou agora, com o massacre de pelo menos 150 civis no Afeganistão.
Já tinha havido mortes, na semana anterior, de algumas centenas de supostos militantes pelo Exército do Paquistão, cuja credibilidade é nenhuma e permite supor que se tratava, na sua grande maioria de população civil, exibida como talibãs, para tentar recuperar minimamente a imagem do exército daquele país. O governo norte-americano pode fingir que acreditava nessa versão.
Mas agora as versões vêm das próprias autoridades do Afeganistão, país ocupado por tropas ocidentais, comandadas pelos EUA. Pelo menos 150 pessoas - na sua grande maioria mulheres e crianças, sintoma claro de que se trata de população civil - foram vitimas de bombardeios de tropas ocidentais. Nada a esconder, nem a duvidar.
Que atitude tomará o novo presidente dos EUA? Considerará essas mortes "efeitos colaterais não desejados"? Ou como "riscos de todo conflito bélico"? Ou como "civis que acobertavam a terroristas"? Ou "abrirá uma rigorosa investigação para apurar responsabilidades"? Ou pedirá "desculpas aos afegãos por esse erro imperdoável"? Ou "mandará auxilio às vitimas involuntárias da guerra"?
Nada servirá como pretexto para Obama. Os massacres são e serão componente inevitável da continuidade da guerra de ocupação do Afeganistão. Vitorioso dentro do Partido Democrata com uma plataforma em geral progressista, Obama passou a enfrentar o opositor republicano, que o acusava de "brando" e despreparado para assumir o que considerava os interesses dos EUA no mundo - sinônimo das "guerras infinitas" desatadas pelo governo Bush contra toda legalidade internacional. Para tentar se livrar dessa acusação, mantendo sua promessa de saída das tropas do Iraque, Obama montou a equação, segundo a qual os EUA deveriam tirar suas tropas do Iraque e transferi-las para o Afeganistão.
Estranho raciocínio. Que diferença pode ser feita entre os dois epicentros das "guerras infinitas", salvo que no caso afegão, ainda sob o impacto dos atentados que sofreram, os EUA conseguiram o aval do Conselho de Segurança da ONU para a invasão. Mas trata-se de algo diferente, nos dois casos, de invasão e submissão de dois povos a tropas de países estrangeiros? Trata-se de governantes escolhidos livremente pelos povos dos dois países ou de autoridades de ocupação impostas, em ambos casos, pela força das armas? Se faltasse algum elemento de semelhança, este primeiro massacre do governo Obama veio para confirmar a absoluta similaridade dos dois casos.
O caráter de uma pessoa ou de um governo está dado sobretudo pelo seus atos. Conhecemos tantos casos de pessoas materialmente comprometidas com a tortura, que seguiram sendo bons pais de família. Pode-se considerá-los pessoas de bom caráter? As eventuais virtudes privadas podem perdoar os vícios públicos?
Para os que se deixam levar pelo sorriso cativante de Obama e pela elegância de Michelle, este primeiro massacre deve servir de teste do seu caráter, privado e público. O governo Obama não será o mesmo depois de não poder deixar de encarar a brutalidade do que as tropas do seu país, sob seu comando, estão fazendo, no Afeganistão e no Iraque. Nenhum governo é o mesmo, se passa a conviver com massacres como esse, pelo qual é diretamente responsável. Os parentes afegãos mortos, - mulheres, crianças, idosos, seus familiares, o povo afegão, - aguardam e merecem uma palavra de Obama, cujas mortes não remetem a quando era criança, mas a seu governo e à sua decisão de intensificar, em lugar, de terminar, com a brutal ocupação do Afeganistão.

15 de maio de 2009

CHÁVEZ LANÇA PLANO REVOLUCIONÁRIO DE LEITURA NA VENEZUELA - Por: Jacob David Blinder

CHÁVEZ LANÇA PLANO REVOLUCIONÁRIO DE LEITURA NA VENEZUELA - Por: Jacob David Blinder

Chávez, presidente da Venezuela mostra o caminho a trilhar para todos os governos latino americanos que se auto-definem como sendo progressistas e democráticos. Sim, é possível, mesmo dentro do marco institucional burguês, realizar ações arrojadas para que as massas proletárias obtenham consciência de sua força revolucionária. E nesse sentido citamos a erradicação do analfabetismo no país; o apoio institucional para que todas as pessoas obtenham no mínimo formação de primeiro grau completo (8 anos de escolaridade básica, o que representa a luta contra o analfabetismo funcional); apoio institucional para a disseminação da leitura de livros, revistas e artigos relacionados ao socialismo e ao marxismo e que sejam acessíveis as grandes massas proletárias; alterações curriculares em todas as escolas públicas e privadas do pais com o objetivo de que sejam de fato transformadoras e libertadoras, criando as condições para o surgimento de um novo homem e uma nova mulher mais solidários com seus semelhantes e respeitosos com a natureza. Tudo isso será realizado sem vetar, censurar ou restringir a propaganda ideológica disseminada pela mídia burguesa que opera em todos os rincões do país e atinge todas as classes sociais. Na Venezuela há liberdade plena de debater todos os assuntos de interesse, inclusive aqueles que transformam e revolucionam! A Venezuela é um país livre, democrático e em processo de transformação! Os artigos abaixo transcritos dão outras informações sobre o tema! Jacob David Blinder

14/05/2009 - 16h49

CHÁVEZ LANÇA PLANO REVOLUCIONÁRIO DE LEITURA NA VENEZUELA
CARACAS, 14 MAI (ANSA)


O governo da Venezuela lançou o Plano Revolucionário de Leitura
(PRL), mediante o qual distribuirá milhares de livros com o objetivo de "construir o socialismo bolivariano do século XXI".

Para a iniciativa foram selecionadas 100 obras consideradas instrutivas, entre elas "As veias abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano, livro com o qual o presidente Hugo Chávez presenteou o norte-americano Barack Obama durante a Cúpula das Américas, realizada no mês passado em Trinidad e Tobago.
"Vamos pedir uma autorização a Galeano para publicar na Venezuela uma edição de massa do livro", afirmou Chávez, acrescentando que o material historiográfico atualmente disponível não informa de maneira satisfatória, por exemplo, sobre a resistência indígena à colonização europeia.
Outra obra selecionada foi "O desafio e o fardo do tempo histórico", do húngaro István Meszaros, que segundo Chávez demonstra "como o capitalismo decapita a existência humana".
Também fazem parte do acervo clássicos como o "Manifesto do Partido Comunista", de Marx e Engels, e livros escritos por membros do governo, como "O socialismo venezuelano", do ministro das Finanças, Ali Rodríguez.
Há ainda uma coletânea de trechos de discursos do próprio presidente, chamada "Ideias cristãs e outros aportes ao debate socialista", na qual ele faz referência ao caráter socialista das palavras de Jesus Cristo.
Os livros da denominada "biblioteca popular comunitária" serão discutidos e analisados por "equipes revolucionárias de leitura, cada uma integrada por dez membros", destacou Chávez.
Em sua primeira etapa, o PRL será dirigido a adultos agrupados em organizações comunitárias, operárias e estudantis -- os chamados "conselhos comunais", criados pelo governo e que agora contribuirão para "a troca de saber por meio da leitura" e para "desmascarar a guerra psicológica feita por meios da oligarquia", afirmou o mandatário.
"Ler, ler, ler. É uma tarefa de todos os dias. A leitura faz bem à consciência. Devemos injetar todos os dias uma dose de libertação por meio da leitura", disse Chávez.
Em outubro de 2005, o governo da Venezuela declarou o país "território livre do analfabetismo", com base em resultados da Missão Robinson, programa de alfabetização implementado em 2003.
Até 2001, a média nacional de analfabetismo era de 9% entre os venezuelanos com mais de 15 anos. Entre 2003 e 2005, esta porcentagem diminuiu para 6%, segundo dados oficiais.

Reflexões do companheiro Fidel - A luta que recém começa


Os governos podem mudar, mas os instrumentos com os quais nos converteram em colônia continuam a ser os mesmos.

Por um Presidente com sentido ético nos Estados Unidos, tivemos durante os 28 anos precedentes, três que cometeram genocídios, e um quarto que internacionalizou o bloqueio.

A OEA foi instrumento desses crimes. O seu custoso aparelho burocrático toma a sério unicamente os acordos do seu CIDH. A nossa nação foi a última das colônias espanholas após quatro séculos de ocupação e a primeira em se libertar do domínio dos Estados Unidos depois de seis décadas.

“A liberdade custa muito caro, e é preciso, ou resignar-se a viver sem ela, ou decidir-se a comprá-la por seu preço”, ensinou-nos o Apóstolo da Nossa Independência.

Cuba respeita os critérios dos governos dos irmãos países da América Latina e das Caraíbas que pensam de outra maneira, mas não deseja fazer parte dessa instituição.

Daniel Ortega, que proferiu um valente e histórico discurso em Porto Espanha, explicou ao povo de Cuba que as antigas potências coloniais da Europa não foram convidadas pelos países independentes da África a fazer parte da Unidade Africana. É uma posição digna de ser tomada em consideração.

A OEA não pôde impedir que Reagan desatasse a guerra suja contra seu povo, minasse seus portos, acudisse ao tráfico de drogas para adquirir armas de guerra, com as quais financiou a morte, a invalidez, ou as lesões graves provocadas a dezenas de milhares de jovens num país tão pequeno como a Nicarágua.

O que é que fez a OEA para protegê-lo? O que é que ela fez para impedir a invasão em Santo Domingo, as centenas de milhares de pessoas assassinadas ou desaparecidas na Guatemala, os ataques da aviação, os assassinatos de proeminentes figuras eclesiásticas, as repressões maciças contra o povo, as invasões da Granada e do Panamá, o golpe de Estado no Chile, os torturados e desaparecidos nesse país, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e noutros lugares? Alguma vez acusou os Estados Unidos? Qual a sua valoração histórica desses fatos?

Ontem, sábado, o jornal Granma publicou o que escrevi sobre o acordo da CIDH contra Cuba. Depois senti curiosidade por conhecer aquele a adotou contra a Venezuela. Era mais ou menos a mesma porcaria.

O acesso ao poder da Revolução Bolivariana foi diferente ao de Cuba. Em nosso país o processo político foi interrompido abruptamente por um arteiro golpe militar que foi promovido pelo governo dos Estados Unidos em 10 de Março de 1952, a poucas semanas das eleições gerais que deviam ser realizadas no dia 1 de Junho desse mesmo ano. Em Cuba, mais uma vez, o povo não tinha alternativa que se resignar. Os cubanos lutaram novamente, nesta oportunidade o desenlace foi muito diferente. Quase sete anos mais tarde a Revolução emergiu vitoriosa pela primeira vez na história.

Os combatentes revolucionários com um mínimo de recursos bélicos, mais de 90% dos quais foram arrebatados ao inimigo após 25 meses de guerra apoiados pelo povo, e na ofensiva final uma greve geral revolucionaria, venceram a tirania e assumiram o controle de todas suas armas e centros de poder. A Revolução vitoriosa converteu-se em fonte de direito como em qualquer outra época da história.

Na Venezuela não aconteceu da mesma maneira. Chávez, militar revolucionário mesmo como o foram outros em nosso hemisfério, chegou à Presidência através das normas da Constituição burguesa estabelecida, como líder do Movimento V República, aliado a outras forças da esquerda. A Revolução e seus instrumentos ainda não tinham sido criados. Se tivesse triunfado o levantamento militar dirigido por ele, a revolução na Venezuela possivelmente teria tomado outro rumo. Contudo, foi fiel às normas legais estabelecidas, que estavam já a seu alcance como via principal de luta. Desenvolveu o costume da consulta popular quantas vezes for necessário.

Levou a nova Constituição a plebiscito popular. Não demorou em conhecer os métodos do imperialismo e seus aliados da oligarquia para recuperar e conservar o poder.

O golpe de Estado de 11 de Abril de 2002 foi a resposta contra-revolucionária.

O povo reage e leva-o novamente ao poder quando, isolado e privado de comunicação, estava perto de ser eliminado pela direita, que o instava a assinar a renúncia.

Não cedeu, resistiu até que seus próprios fuzileiros venezuelanos libertaram-no e helicópteros da Força Aérea levaram-no novamente para o Palácio de Miraflores, que já tinha sido ocupado pelo povo e os soldados do exército no Forte Tiuna, que se revoltaram contra os altos oficiais golpistas.

Naqueles dias pensei que sua política viraria radical; contudo, preocupado pela unidade e a paz, no momento de maior força e apoio foi generoso e conversou com seus adversários na procura de cooperação.

A réplica do imperialismo e de seus cúmplices a essa atitude foi o golpe petroleiro. Talvez uma das mais brilhantes batalhas que livrou nesse período foi a que levou a cabo para fornecer combustível ao povo da Venezuela.

Tínhamos conversado muitas vezes desde sua visita a Cuba em 1994 e falou na Universidade de Havana.

Era um homem verdadeiramente revolucionário, porém na medida em que tomava consciência da injustiça que reinava na sociedade venezuelana seu pensamento foi se aprofundando, até chegar à convicção de que para a Venezuela não havia outra alternativa que uma mudança radical e total.

Conhece até em seus mais mínimos detalhes as idéias do Libertador, a quem admira profundamente.

Seus adversários compreendem que não é fácil vencer perante a tenacidade de um lutador que não descansa um minuto. Podem optar por privá-lo da vida física, porém os inimigos internos e externos sabem o que isso significaria para seus interesses. Podem existir doidos e fanáticos irracionais, no entanto de tais perigos não estão isentos os líderes, os povos, nem a própria humanidade.

Pensando friamente, Chávez hoje é um adversário formidável do sistema capitalista de produção e do imperialismo. Converteu-se num verdadeiro especialista sobre muitos problemas fundamentais da sociedade humana. Vi-o nestes dias, quando inaugurava dezenas de serviços de saúde. É impressionante. Critica com força o que acontecia com serviços vitais como os da hemodiálise que estavam nas mãos de centros privados e eram pagos pelo Estado. Os pobres estavam condenados à morte se não tinham dinheiro. O mesmo acontecia com muitos outros serviços com os quais contam hoje as novas instalações em centros intra-hospitalares, apoiados pelos equipamentos mais modernos.

Dirige com habilidade até os mais mínimos detalhes da produção nacional e os serviços sociais. Domina a teoria e a prática do socialismo da qual precisa seu país, e esforça-se pelas suas mais profundas convicções. Define o capitalismo tal como é; não faz caricaturas, mostra radiografias e imagens do sistema.

Trata-se de um peculiar e odioso conjunto de formas de exploração do trabalho humano, injusto, desigual, arbitrário. Não fala simplesmente do trabalhador, mostra-o pela televisão produzindo com suas mãos, mostrando sua energia, seus conhecimentos, sua inteligência, criando bens ou serviços imprescindíveis para os seres humanos; interessa-se por seus filhos, sua família, esposa ou esposo, familiares mais próximos, onde moram, que estudam, o que é fazem para aumentar seus conhecimentos, a idade, o vencimento, a futura aposentadoria, as grotescas mentira sobre a propriedade que divulgam os imperialistas e capitalistas. Mostra hospitais, escolas, fábricas, crianças, oferece dados sobre as fábricas que são construídas na Venezuela, maquinarias, cifras de crescimento do emprego, recursos naturais, desenhos, mapas e oferece notícias sobre o último achado de gás. A medida mais recente adotada pelo Congresso: a Lei de nacionalização das 60 principais empresas que prestam serviço todos os anos a PDVSA, a empresa estatal de petróleo, por valor de mais de US$ 8 bilhões. Não eram de propriedade privada, foram criadas pelos governos neoliberais da Venezuela com recursos que pertenciam a PDVSA.

Não tinha visto uma idéia tão claramente transformada em imagens e transmitida pela televisão. Chávez não só possui especial talento para captar e transmitir a essência dos processos; acompanha-o uma memória privilegiada; é difícil que esqueça uma palavra, uma frase, um verso, uma entoação musical, combina palavras que expressam conceitos novos. Fala de um socialismo que procura a justiça e a igualdade; “enquanto o colonialismo cultural continue vivo nas mentes, o velho não morre e o novo não nasce”. Mistura versos e frases eloqüentes em artigos e cartas. Sobretudo demonstra ser o líder político na Venezuela capaz de criar um partido, transmitir constantemente idéias revolucionárias a seus militantes e educá-los politicamente.

Observei, sobretudo os rostos dos capitães e tripulantes dos navios das empresas nacionalizadas; em suas palavras reflete-se o orgulho interior, a gratidão pelo reconhecimento, a segurança no futuro; os rostos de jubilosos jovens estudantes de economia que nomearam-no padrinho de sua graduação, os quais estão bem próximos de concluírem sua carreira, quando lhes diz que é necessário que mais de 400 deles viajem para a Argentina, e que devem estar prontos para trabalhar na manipulação das 200 novas fábricas do programa acordado com esse país, aonde serão enviados quando acabar o ano letivo para que se preparem nos processos de produção.

Junto dele estava Ramonet, admirado com o trabalho de Chávez. Quando há por volta de oito anos iniciamos nossa cooperação revolucionária com a Venezuela ele estava no Palácio da Revolução fazendo-me inúmeras perguntas. O escritor conhece sobre o tema e espreme seus miolos tentando adivinhar que será o que substituirá o sistema capitalista de produção. A experiência venezuelana, certamente enche-o de admiração. Fui testemunha de um singular esforço nesse rumo.

É uma batalha de idéias perdida de antemão pelo adversário, que não tem nada que oferecer à humanidade.

Não em vão a OEA trata hipocritamente de apresentá-lo como inimigo da liberdade de expressão e da democracia. Já quase transcorreu meio século de que essas desprezíveis e hipócritas armas que fracassam perante a firmeza do povo cubano. Hoje a Venezuela não está isolada, e conta com a experiência de 200 anos de excepcional historia patriótica.

É uma luta que recém começa em nosso hemisfério.


Fidel Castro Ruz
Maio 10 de 2009
13h36

13 de maio de 2009

Por que o socialismo? Albert Einstein


Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos econômicos e sociais exprimir opiniões sobre a questão do socialismo? Eu penso que sim, por uma série de razões.


Consideremos antes de mais a questão sob o ponto de vista do conhecimento científico. Poderá parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas em ambos os campos tentam descobrir leis de aceitação geral para um grupo circunscrito de fenômenos de forma a tornar a interligação destes fenômenos tão claramente compreensível quanto possível. Mas, na realidade, estas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da economia torna-se difícil pela circunstância de que os fenômenos econômicos observados são freqüentemente afetados por muitos fatores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o início do chamado período civilizado da história humana tem sido – como é bem conhecido – largamente influenciada e limitada por causas que não são, de forma alguma, exclusivamente econômicas por natureza. Por exemplo, a maior parte dos principais Estados da história ficou devendo sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram-se, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Monopolizaram as terras e nomearam um clero de entre as suas próprias fileiras. Os sacerdotes, que controlavam a educação, tornaram a divisão de classes da sociedade numa instituição permanente e criaram um sistema de valores segundo o qual as pessoas se têm guiado desde então, até grande medida de forma inconsciente, no seu comportamento social.


Mas a tradição histórica é, por assim dizer, coisa do passado; em lado nenhum ultrapassamos de fato o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos observáveis pertencem a essa fase e mesmo as leis que podemos deduzir a partir deles não são aplicáveis a outras fases. Uma vez que o verdadeiro objetivo do socialismo é precisamente ultrapassar e ir além da fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência econômica no seu atual estado não consegue dar grandes esclarecimentos sobre a sociedade socialista do futuro.


Segundo, o socialismo é dirigido para um fim sócio-ético. A ciência, contudo, não pode criar fins e, muito menos, incuti-los nos seres humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir determinados fins. Mas os próprios fins são concebidos por personalidades com ideais éticos elevados e – se estes ideais não nascerem já votados ao insucesso, mas forem vitais e vigorosos – adotados e transportados por aqueles muitos seres humanos que, semi-inconscientemente, determinam a evolução lenta da sociedade.


Por estas razões, devemos precaver-nos para não sobreestimarmos a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos; e não devemos assumir que os peritos são os únicos que têm o direito a expressarem-se sobre questões que afetam a organização da sociedade.


Inúmeras vozes afirmam desde há algum tempo que a sociedade humana está passando por uma crise, que a sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico desta situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou mesmo hostis em relação ao grupo, pequeno ou grande, a que pertencem. Para ilustrar o meu pensamento, permitam-me que exponha aqui uma experiência pessoal. Falei recentemente com um homem inteligente e cordial sobre a ameaça de outra guerra, que, na minha opinião, colocaria em sério risco a existência da humanidade, e comentei que só uma organização supranacional ofereceria proteção contra esse perigo. Imediatamente o meu visitante, muito calma e friamente, disse-me: “Por que se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”


Tenho a certeza de que há tão pouco tempo como um século atrás ninguém teria feito uma afirmação deste tipo de forma tão leve. É a afirmação de um homem que tentou em vão atingir um equilíbrio interior e que perdeu mais ou menos a esperança de ser bem-sucedido. É a expressão de uma solidão e isolamento dolorosos de que sofre tanta gente hoje em dia. Qual é a causa? Haverá uma saída?


É fácil levantar estas questões, mas é difícil responder-lhes com um certo grau de segurança. No entanto, devo tentar o melhor que posso, embora esteja consciente do fato de que os nossos sentimentos e esforços são muitas vezes contraditórios e obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas fáceis e simples.


O homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência destes esforços diversos e freqüentemente conflituosos respondem pelo caráter especial de um ser humano, e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade. É perfeitamente possível que a força relativa destes dois impulsos seja, no essencial, fixada por herança. Mas a personalidade que finalmente emerge é largamente formada pelo ambiente em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição dessa sociedade, e pelo apreço por determinados tipos de comportamento. O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”.


É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e abelhas é reduzido ao mais pequeno pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as inter-relações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar a sua vida através da sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade conscientes podem desempenhar um papel.


O homem adquire ao nascer, através da hereditariedade, uma constituição biológica que devemos considerar fixa ou inalterável, incluindo os desejos naturais que são característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire uma constituição cultural que adota da sociedade através da comunicação e através de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, com a passagem do tempo, está sujeita à mudança e que determina, em larga medida, a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna ensina-nos, através da investigação comparativa das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode divergir grandemente, dependendo dos padrões culturais dominantes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que aqueles que lutam por melhorar a sorte do homem podem fundamentar as suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, devido à sua constituição biológica, a exterminarem-se uns aos outros ou a ficarem à mercê de um destino cruel e auto-infligido.


Se nos interrogarmos sobre como deveria mudar a estrutura da sociedade e a atitude cultural do homem para tornar a vida humana o mais satisfatória possível, devemos estar permanentemente conscientes do fato de que há determinadas condições que não podemos alterar. Como mencionado anteriormente, a natureza biológica do homem, para todos os objetivos práticos, não está sujeita à mudança. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que vieram para ficar. Em populações com fixação relativamente densa e com bens indispensáveis à sua existência continuada, é absolutamente necessário haver uma extrema divisão do trabalho e um aparelho produtivo altamente centralizado. Já lá vai o tempo – que, olhando para trás, parece ser idílico – em que os indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes. É apenas um pequeno exagero dizer-se que a humanidade constitui, mesmo atualmente, uma comunidade planetária de produção e consumo.


Cheguei agora ao ponto em que vou indicar sucintamente o que para mim constitui a essência da crise do nosso tempo. Diz respeito à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo tornou-se mais consciente do que nunca da sua dependência relativamente à sociedade. Mas ele não sente esta dependência como um bem positivo, como um laço orgânico, como uma força protetora, mas mesmo como uma ameaça aos seus direitos naturais, ou ainda à sua existência econômica. Além disso, a sua posição na sociedade é tal que os impulsos egotistas da sua composição estão constantemente sendo acentuados, enquanto os seus impulsos sociais, que são por natureza mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, seja qual for a sua posição na sociedade, sofrem este processo de deterioração. Inconscientemente prisioneiros do seu próprio egotismo, sentem-se inseguros, sós, e privados do gozo livre, simples e não-sofisticado da vida. O homem pode encontrar sentido na vida, curta e perigosa como é, apenas dedicando-se à sociedade.


A anarquia econômica da sociedade capitalista como existe atualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos do seu trabalho coletivo – não pela força, mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade produtiva que é necessária para produzir bens de consumo bem como bens de equipamento adicionais – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de indivíduos.


Para simplificar, no debate que se segue, chamo “trabalhadores” a todos aqueles que não partilham a posse dos meios de produção – embora isto não corresponda exatamente à utilização habitual do termo. O detentor dos meios de produção está em posição de comprar a mão-de-obra. Ao utilizar os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. A questão essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que recebe, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que o contrato de trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe é determinado não pelo valor real dos bens que produz, mas pelas suas necessidades mínimas e pelas exigências dos capitalistas para a mão-de-obra em relação ao número de trabalhadores que concorrem aos empregos. É importante compreender que, mesmo em teoria, o pagamento do trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto.


O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras menores. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A conseqüência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das seções subprivilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e, mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objetivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos.


Assim, a situação predominante numa economia baseada na propriedade privada do capital caracteriza-se por dois principais princípios: primeiro, os meios de produção (capital) são privados e os detentores utilizam-nos como acham adequado; segundo, o contrato de trabalho é livre. Claro que não há tal coisa como uma sociedade capitalista “pura” neste sentido. É de notar, em particular, que os trabalhadores, através de longas e duras lutas políticas, conseguiram garantir uma forma algo melhorada do “contrato de trabalho livre” para determinadas categorias de trabalhadores. Mas tomada no seu conjunto, a economia atual não difere muito do capitalismo “puro”.


A produção é feita para o lucro e não para o uso. Não há nenhuma disposição em que todos os que possam e queiram trabalhar estejam sempre em posição de encontrar emprego; existe quase sempre um “exército” de desempregados. O trabalhador está constantemente com medo de perder o seu emprego. Uma vez que os desempregados e os trabalhadores mal pagos não fornecem um mercado rentável, a produção de bens de consumo é restrita e tem como conseqüência a miséria. O progresso tecnológico resulta freqüentemente em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos. O motivo lucro, em conjunto com a concorrência entre capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais graves. A concorrência sem limites conduz a um enorme desperdício do trabalho e a esse enfraquecimento da consciência social dos indivíduos que mencionei anteriormente.


Considero este enfraquecimento dos indivíduos como o pior mal do capitalismo. Todo o nosso sistema educativo sofre deste mal. É incutida uma atitude exageradamente competitiva no aluno, que é formado para venerar o sucesso de aquisição como preparação para a sua futura carreira.


Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males, nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objetivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planejada. Uma economia planejada, que adaptasse a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa atual sociedade.


No entanto, é necessário lembrar que uma economia planejada não é ainda o socialismo. Uma tal economia planejada pode ser acompanhada pela completa opressão do indivíduo. A concretização do socialismo exige a solução de problemas sócio-políticos extremamente difíceis; como é possível, perante a centralização de longo alcance do poder econômico e político, evitar que a burocracia se torne todo-poderosa e vangloriosa? Como podem ser protegidos os direitos do indivíduo e com isso assegurar-se um contrapeso democrático ao poder da burocracia?


A clareza sobre os objetivos e problemas do socialismo é da maior importância na nossa época de transição. Visto que, nas atuais circunstâncias, a discussão livre e sem entraves destes problemas surge sob um tabu poderoso, considero a fundação desta revista como um serviço público importante.


(Albert Einstein escreveu este trabalho para o primeiro número da Monthly Review, maior revista marxista norte americana, publicada em maio de 1949.) http://www.monthlyreview.org/598einst.htm