29 de junho de 2009

Equipe da Telesur é detina por golpistas em Honduras

Equipe da Telesur é detina por golpistas em Honduras

Desde que se ejecutó el golpe de Estado, el gobierno de facto ha cerrado canales de televisión, emisoras de radio, ha perseguido periodistas y bloqueado las conexiones por internet. Sólo teleSUR ha transmitido como cadena internacional minuto a minuto los hechos que rodean este golpe de Estado, ahora amenazan con detener al equipo de teleSUR.TeleSUR 29/06/09Militares golpistas en Honduras detuvieron el equipo de teleSUR desplegado para la cobertura del golpe de Estado contra Manuel Zelaya, incautaron además todo el material de trabajo de esta cadena por transmitir los hechos que ocurren en el país.”Esto es un atentado a la libertad de prensa, ustedes nos están reprimiendo”, senuncia la correponsal Adriana Sívori mientras era detenida.La enviada especial de teleSUR, Adriana Sívori, denunció que el equipo de esta televisora junto con los periodistas de la agencia internacional AP están siendo detenidos por militares armados “y esto quiero denunciarlo al mundo”.A la enviada especial de teleSUR, los militares intentaron quitarle su teléfono celular, para impedir que se comunicara con la sede principal de esta planta televisiva ubicada en Caracas, Venezuela, y poder así informar las acciones represivas contra periodistas y la población en general.“En vez de defendernos nos están haciendo esto. Nos llevan presos a punta de armas, no nos dan explicaciones. No sabemos a dónde vamos, nos llevan a un lugar desconocido”, alerta vía telefónica la corresponsal de teleSUR.Las razones que alegaron los militares para detener a este grupo de periodistas fue “por razones de seguridad”. “Esto es un atentado a la libertad de prensa, ustedes nos están reprimiendo”, exclamaba Sívori.Los miembros del Estado Mayor del gobierno de facto también amedrentaron vía telefónica a la enviada de teleSUR Madelein García, adviertiéndole que de no cortar las transmisiones serían detenidos. teleSUR es el único canal internacional que ha transmitido en vivo, y minuto a minuto las incidencias del golpe de Estado contra el gobierno legítimo de Zelaya. Los medios de comunicación locales privados se han plegado a las acciones subversivas y están transmitiendo programación regular.Los pocos medios independientes que estaban reportando, fueron clausurados. En la madrugada del domingo, un comando militar ingresó en la casa presidencial, secuestró al presidente elegido por votación popular y lo sacó del país para llevarlo a Costa Rica. El Ejército hondureño revivió así los tiempos más oscuros de la guerra fría, cuando cumplía fielmente con el papel de sesgar cualquier iniciativa o movimiento social que pudiera pretender un mínimo avance de los sectores más empobrecidos del país. Zelaya había decretado un importante incremento al salario mínimo y estrechado relaciones con los sectores populares. En política internacional se sumó a la oleada de gobiernos progresistas que renegaban de las políticas neoliberales que dominaron los años noventa, se integró en la Alianza Bolivariana de las Américas (ALBA), y restauró las relaciones diplomáticas con Cuba. Para este domingo cometió el delito imperdonable de “preguntar al pueblo”. Convocadas elecciones legislativas y municipales ideó la propuesta de instalar una urna más donde los ciudadanos se pudieran pronunciar sobre una posible convocatoria de una Asamblea Constituyente para el próximo año. La iniciativa fue apoyada por la firma de 400 mil ciudadanos hondureños, las tres centrales obreras, el Bloque Popular de Honduras y toda una serie de organizaciones sociales, pero no por los sectores empresariales que temen cambios en sus privilegios fiscales y en la política de expolio de los recursos naturales del país, como ha ocurrido en países como Ecuador, Bolivia y Venezuela.
teleSUR/YRFONTE:
http://www.telesurtv.net/solotexto/nota/index.php?ckl=53094

REFORÇAR A SOLIDARIEDADE MUNDIAL FRENTE AO GOLPE DA DIREITA EM HONDURAS(Nota Política do PCB)



A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) vem a público manifestar seu repúdio ao golpe militar em Honduras, expressar sua irrestrita solidariedade ao povo hondurenho, exigir que o presidente constitucional, Manoel Zelaya, seja imediatamente reconduzido ao cargo para o qual foi eleito e conclamar o povo hondurenho a resistir aos golpistas de todas as formas até derrotar essa tentativa fascista de mudar o curso político na região. Trata-se de uma atitude desesperada de uma oligarquia brutal que domina o País e que visa com este golpe brecar as aspirações da população por mudanças, de forma a manter seus privilégios seculares. Honduras vinha vivenciando um processo de democratização desde a eleição do presidente Zelaya, com suas ações no sentido de restringir os privilégios das elites, favorecer os camponeses e incorporar-se à ALBA. Esse processo iria se intensificar com uma consulta popular, que abriria espaço para a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Inconformada com os avanços e com a participação popular na política, as oligarquias recorreram à sua velha fórmula para continuar saqueando o País: implementaram o golpe de Estado, seqüestraram o presidente legitimamente eleito e o exilaram na Costa Rica, num enredo típico que relembra os velhos tempos das ditaduras sanguinárias latino-americanas, de triste memória para os povos da região. Apesar das declarações dúbias de Barack Obama a respeito - diante do repúdio da opinião pública mundial e da grande maioria dos governos nacionais, inclusive europeus - há fortes evidências da participação da embaixada norte-americana, de multinacionais, da USAID e da CIA na preparação e execução do golpe. Afinal, o imperialismo ianque é o maior interessado em frear as mudanças na América Latina. O PCB também destaca que na articulação deste golpe tiveram um papel importante os meios de comunicações conservadores da América Latina que, com desinformação e manipulação, criaram um ambiente propício para que a oligarquia e os militares rompessem o processo constitucional em Honduras. Esses meios de comunicação têm sido o principal instrumento ideológico de resistência às mudanças que vem ocorrendo na América Latina, o que torna urgente a luta pela democratização dos meios de comunicação na região. Queremos ressaltar que este golpe é uma afronta a todos os povos da América Latina. Por isso, nenhum governo deve reconhecer os golpistas. O PCB conclama o povo hondurenho a resistir de todas as formas possíveis para derrotar o golpe. Além disso, as forças progressistas da América Latina devem ir imediatamente para as ruas, manifestar na prática sua solidariedade ao povo hondurenho e ao governo constitucional do presidente Zelaya.

Rio de Janeiro 28 de junho de 2009 Comissão Política Nacional do PCB

Honduras: Prepara-se Golpe de Estado

Honduras: Prepara-se Golpe de Estado

Diante da comunidade nacional e internacional, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras, COPINH, denuncia a intenção golpista perpetrada na noite de 24 de junho 2009 contra o governo constitucional de Manuel Zelaya Rosales e o povo hondurenho e as suas mais importantes aspirações. Este ato é uma reação desesperada da direita e seus aliados para frear a vontade popular de buscar vias democráticas para a transformação nacional.
A direita reacionária tentou freneticamente parar a Consulta Nacional a ser realizada em 28 junho deste ano e onde se perguntará à sociedade hondurenha se esta concorda em se instalar uma Quarta Urna nas eleições gerais de novembro para convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, com vistas à elaboração de uma nova Constituição.
Esta ofensiva golpista foi planejada e executada de maneira articulada entre os fascistas, o Congresso Nacional, a mídia e seus proprietários, o Ministério Público, os empresários mais poderosos do país e as Forças Armadas, que têm atuado em franco desacato às decisões do poder executivo; por isso denunciamos que o exército tem assumido um papel semelhante ao dos anos oitenta, quando servia de instrumento de repressão e de desestabilização. Nesta campanha, um ato de agressão contra o povo hondurenho, setores conservadores se juntaram às fileiras de igrejas evangélicas e católicas, que têm negociado, encorajado e justificado os atos de conotação golpista.
Também denunciamos a interferência e a participação do governo dos EUA e seu embaixador em Honduras. Alertado de antemão dos fatos aqui denunciados, abandonou o país e chamou os dirigentes do Banco Mundial, FMI e outras instituições em torno do governo estadunidense a também abandonarem o país, demonstrando, assim, a sua conivência com as forças golpistas.
Chamamos as bases do COPINH hondurenho e o povo em geral a se mobilizar em suas comunidades, aldeias ou cidades, especialmente em Tegucigalpa, para expressar seu repúdio e indignação. Alertamos para que não se deixem intimidar pela campanha midiática terrorista desencadeada contra a vontade e expressão do povo e seu direito de pensar e querer um novo país, com justiça e eqüidade.
Fazemos um apelo à comunidade internacional a manifestar-se contra esta agressão contra o povo hondurenho e expressar sua solidariedade e apoio para que não violem os direitos humanos do povo hondurenho.
Chamamos a intensificar a luta organizada para instalar a Assembléia Nacional Constituinte Democrática e Popular, agora, neste momento histórico de nossa pátria.
Finalmente, o COPINH reconhece como único Presidente Constitucional da República a Manuel Zelaya Rosales. Por isso, rejeitamos qualquer "substituto" imposto pelos poderes oligárquicos e imperialistas.
Com a força ancestral de Iselaca, Lempira e Etempica se levantam nossas vozes de vida, justiça, dignidade, liberdade e paz.
Cidade de La Esperanza,
Intibucá,
24 de junho de 2009
Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras – COPINH

FORA AS TROPAS BRASILEIRAS DO HAITI


Nota Política do PCB


A Comissão Política Nacional do PCB manifesta seu repúdio à repressão que está sendo levada a efeito contra os estudantes e trabalhadores haitianos pela Polícia Nacional e pelas tropas de ocupação no Haiti, sob a bandeira da ONU, comandadas pelo Brasil.

A repressão ocorre em função das mobilizações populares em defesa da lei de reajuste do salário mínimo, aprovada no legislativo e contestada pela burguesia local, bem como contra a ocupação do País.

Trata-se de um episódio lamentável envolvendo as tropas brasileiras que ocupam o Haiti há cinco anos, liderando uma missão da ONU que interveio no país para garantir um governo títere, imposto através da derrubada de um Presidente legitimamente eleito pelo povo haitiano. O resultado da ocupação é um acervo dramático de mortes e brutalidades. Cada vez mais fica claro que a presença das tropas de ocupação tem sido um motivo de desestabilização do país, de perseguição aos patriotas haitianos e de sofrimentos para o povo em geral.

Também fica claro que o Brasil se comporta nesse episódio como gendarme terceirizado dos interesses norte-americanos no Caribe e como tropa de choque do que há de mais atrasado na oligarquia local. Essa ocupação não tem nada a ver com os interesses do povo brasileiro e serve apenas para o governo Lula adular os Estados Unidos, visando de maneira servil se credenciar para ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, parte da estratégia da burguesia monopolista brasileira para tornar nosso país uma potência capitalista.

O PCB reitera seu repúdio à ocupação de uma nação soberana e exige a imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti. Ao mesmo tempo manifesta sua solidariedade militante a todos os patriotas que resistem à ocupação e que lutam por uma vida melhor.

junho de 2009
Comissão Política Nacional do PCB

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O IRÃ


Ricardo Costa (Rico) *

A grande imprensa tem tratado com sensacionalismo o caso das eleições no Irã, acusando de fraude a vitória de Ahmadinejad e incensando a figura do reformista Moussavi à condição de grande líder da oposição democrática, um verdadeiro “Ghandi do Irã”. A mídia burguesa não deu o mesmo destaque ao massacre promovido pelo governo de Allan Garcia contra a resistência indígena à privatização dos recursos naturais do Peru. Por se tratar de um aliado incondicional dos Estados Unidos, o tratamento é diferenciado. Assim agem os órgãos de comunicação que funcionam como meros transmissores da ideologia dominante.

Mais uma vez, quando se aborda a política no Oriente Médio, a mídia capitalista trata a questão de forma fantasiosa, reduzindo a luta de classes a uma contenda entre “anjos” e “demônios”. A grande imprensa apenas mostrou as manifestações contrárias ao governo, deixando de registrar as igualmente massivas demonstrações populares de apoio ao presidente reeleito. Obviamente, não faz nem jamais fará referência aos grandes interesses imperialistas em jogo, capazes de promoverem uma intervenção externa indireta, por meio de ajuda financeira à campanha de Moussavi, assessoria a grupos opositores através de agências de inteligência, propaganda via internet, mobilizações de jovens e estudantes, chamamento a manifestações em que predomina o discurso da “não violência” e da “desobediência pacífica” contra um “regime tirânico”.

Já conhecemos de longa data as estratégias do imperialismo para desestabilizar governos que se afastam de sua órbita de influência e passam a adotar política de maior independência. No caso do Irã, tal estratégia se utiliza ainda da propaganda em favor dos padrões de vida ocidentais, explorando reconhecido clamor por direitos civis e por mais democracia.

No entanto, é preciso esclarecer: o regime político iraniano não é uma teocracia pura, pois instituições políticas convivem com o poder dos aiatolás. Após a Revolução de 1979, o país passou a ser uma república islâmica, na qual todos os líderes são eleitos, sem exceção. O regime dos aiatolás, construído a partir da articulação das distintas facções que participaram da derrubada da Monarquia do Xá Reza Pahlevi, desenhou um sistema de governo descentralizado, no qual nenhum grupo, nem mesmo o do Partido Revolucionário Islâmico, conseguiu dominar de forma absoluta o cenário político. Isso não impede as disputas internas, como as que se verificam agora, revelando haver forte dissensão no interior do regime.

O líder supremo do Irã é o verdadeiro chefe de Estado, pois é quem verdadeiramente comanda as forças armadas e as comunicações. Em outras palavras, a presidência do Irã não deixa de ser um cargo decorativo, uma espécie de primeiro-ministro sem muita força política. Além disso, o regime islâmico no Irã não é “ortodoxo”: seu caráter republicano chega a ser uma contradição, pois, para os xiitas, somente os descendentes de Ali poderiam liderar a comunidade dos fiéis, o que não é o caso dos aiatolás.

A Constituição do Irã foi aprovada no mesmo ano do triunfo de 1979, através de referendo que obteve 98% de votos a favor. Num país formado por maioria muçulmana, a constituição outorga às minorias religiosas representação política no parlamento. É o único país de maioria muçulmana a permitir a representação política de judeus. As eleições são periódicas: o presidente da nação e o parlamento unicameral são eleitos por sufrágio universal a cada quatro anos.
Podemos dizer que, nos moldes liberais, trata-se de sistema político avançado, em comparação com as monarquias européias e com os Estados Unidos, onde dividem o poder dois partidos de idêntica ideologia. Não podemos esquecer que W. Bush assumiu mediante uma fraude eleitoral! Apontado como a ponta de lança do “mundo ocidental e civilizado” no Oriente, o exemplo de Israel também não pode ser usado como contraponto no aspecto da democracia, pois o país não possui Constituição escrita: são as leis adotadas pelo parlamento que regulam o funcionamento do governo. O presidente de Israel é escolhido no parlamento para um mandato de cinco anos, e seu poder é essencialmente representativo. Trata-se de um regime parlamentar no qual o essencial do poder executivo pertence a um primeiro ministro.
O Irã, portanto, é uma república constitucional, ao contrário de Israel, Arábia Saudita e Reino Unido. Por ser uma república islâmica com algum grau de transparência política, o regime iraniano passou a sofrer oposição de parte do mundo árabe, especialmente da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Marrocos, que chegam a ventilar a hipótese de apoiar o insano projeto israelense de ataque às instalações nucleares do Irã, sobre o qual jogam a suspeita de fabricação de bombas atômicas. Em contrapartida, não se questiona o fato de Israel deter a exclusividade na produção de armas de destruição em massa no Oriente Médio.
Tais considerações, que nos levam a repudiar a recente cobertura jornalística da grande imprensa, ideologicamente comprometida com os interesses do imperialismo na região, não podem elidir análise crítica sobre o papel político do Irã no Oriente Médio, lembrando que o país continua colaborando com os EUA na destruição do Iraque, a despeito das crescentes tensões entre Washington e Teerã. Esquadrões da morte, apoiados pelo regime dos aiatolás, promovem massacres e atos de limpeza étnica em todo o Iraque.
Além desta postura reprovável no cenário regional, os conflitos internos também revelam o descontentamento de grande parte da população em relação à necessidade de se fazer avançar os direitos civis e as conquistas democráticas (o partido comunista, por exemplo, é proibido de agir legalmente no país), além das insatisfações associadas às enormes desigualdades econômicas e sociais, ao crescimento da pobreza, do desemprego e da inflação, como resultado do aprofundamento das relações capitalistas no país e de políticas econômicas antipopulares.

Segundo denúncias do Tudeh, o Partido Comunista do Irã, os líderes do regime, seus agentes e o complexo militar dilapidaram em nível sem precedentes a astronômica renda do petróleo nos últimos anos. E ainda reforçaram o clima de repressão e de terror, com os ataques contra os movimentos operário, feminino, juvenil e estudantil. Também intensificaram a repressão sobre as minorias nacionais e religiosas. O Tudeh defende um amplo processo de reforma calcado na organização e no crescimento do movimento popular, que possa acumular no sentido da construção de uma alternativa ao atual regime, calcada no interesse dos trabalhadores.
Portanto, não há que enaltecer o regime iraniano, cuja política interna, principalmente, difere de forma radical da opção socialista que defendemos. No entanto, o momento é de denunciar os planos imperialistas para a região, rechaçando a tentativa de satanização do governo iraniano por parte dos governos dos EUA, de Israel e de seus aliados europeus, além da grande imprensa, como forma de justificar um novo plano de invasão e ocupação militar no país, a exemplo do que se fez no Iraque. O Irã se transformou na “grande ameaça” ao ter desenvolvido a tecnologia nuclear, colocando-se como contraponto efetivo ao poderio de Israel no Oriente Médio. Além disso, ocupa posição estratégica, tanto do ponto de vista geográfico, quanto econômico, em função do petróleo.

Mais do que nunca, a crise mundial empurra as grandes nações capitalistas a desenvolver projetos belicistas. O Irã surge agora, em função de toda a celeuma criada em torno das eleições presidenciais, como a grande oportunidade para a produção de outra guerra a serviço do imperialismo e da rapina das transnacionais. É contra esta mais nova ameaça à paz e à vida que devemos estar atentos.

* Ricardo Costa (Rico) é Secretário de Formação Política – Comitê Central do PCB

“A política exterior de Obama será como a segunda Administração Bush”



Noam Chomsky
Tele-Sur, 7/maio/2009


Noam Chomsky, intelectual, escritor e professor universitário, revolucionou a lingüística moderna através de suas pesquisas e contribuições teóricas. Juntamente a sua longa carreira nas salas de aula, Chomsky levou adiante, através de décadas, uma incansável militância pela justiça social, impulsionando o papel dos intelectuais como agentes de transformação diante das políticas imorais dos governos.

Foi assim que ele se tornou um dos críticos mais radicais da política exterior intervencionista e imperialista dos sucessivos governos norteamericanos e de outros governos, ou como ele descreve, das elites que controlam o poder.

Nesta entrevista o professor Chomsky analisa vários temas de importância para Venezuela, como a posição do Governo Bolivariano em relação a Israel e Palestina, as expectativas da relação entre a administração de Obama e o Presidente Chaves, o programa atômico do Irã, o caso do terrorista Posada Carriles, Guantánamo e o bloqueio a Cuba, o contexto histórico da guerra midiática contra a Venezuela, a virada à esquerda da América Latina, o papel inspirador dos movimentos sociais na Bolívia e a Doutrina Monroe.

Esta entrevista foi realizada antes da cúpula de Chefes de Estado da OEA em Trinidad, porém, diante da solicitação de algum comentário adicional por causa dos acontecimentos da mencionada cúpula, o professor Chomsky manifestou a manutenção de todos seus pontos de vista.
Miguel Vera


Venezuela, Palestina e Israel

Miguel Vera: Prof. Chomsky, como o senhor sabe, o governo da Venezuela tem uma posição política definida em relação ao conflito de Gaza, posição esta que tem sido criticada por muitos, já que, segundo eles, originou sentimentos anti-semitas que levaram aos ataques a uma sinagoga em Caracas. Qual é sua opinião sobre a posição da Venezuela sobre o conflito de Gaza?

Chomsky: Pessoalmente considero que a posição da Venezuela está correta. Foi uma agressão selvagem e criminosa a uma população que se encontra praticamente encarcerada e que não pode escapar. Com este ataque de alta tecnologia e altamente destrutivo, não somente foram assassinados cerca de 1300 pessoas, mas também foi destruído o sistema agrícola e o pouco de indústria que existia.

Esta sociedade tem estado sob assédio permanente. É uma ocupação, não se deve chamar agressão, já que é um território ocupado; em nenhum momento deixou de ser – e se encontra sob ataque direto. Além disso os ataques não se restringem a Gaza, acontecem na Palestina inteira.

Com o apoio dos Estados Unidos, Israel constantemente realiza ações criminosas na Cisjordânia. Israel não se importa muito com Gaza, ficaria feliz se apodrecesse e afundasse no mar. O que realmente importa para Israel é a Cisjordânia, aí sim há terra com valor, terra agricultável, aí estão os prazerosos subúrbios de Jerusalém e Tel Aviv. Querem se apossar de tanto quanto possam. Aí eles têm todo tipo de interesses culturais e de presumidos interesses históricos.

Assim eles continuam se apropriando dos recursos, das terras e principalmente da água da Cisjordânia, para assim dividi-la em partes inviáveis, nas quais a população apodreça e neste processo haja um êxodo. Isto é completamente criminoso, eles sabem disso, está fora de discussão.

Em 1967, quando começaram os assentamentos, seus próprios assessores jurídicos avisaram que suas ações se configuravam como uma violação direta dos princípios essenciais da Lei Humanitária Internacional e da Convenção de Genebra – e eles sabiam disto. Desde então isso foi ratificado pelas cortes internacionais e em inúmeras resoluções do Conselho de Segurança, o que acontece é que não existe debate sobre este tema.

Israel quer se apossar destas terras por seus recursos e por outras razões. E os Estados Unidos apóiam Israel incondicionalmente. Conseguiram suprimir quase toda a resistência na Cisjordânia pela força. Em parte por sua própria força – que é massacrante - e em parte com a colaboração.

Os Estados Unidos e a Jordânia treinam forças militares dos partidos políticos que lhes são favoráveis. Sua função principal tem sido a de suprimir manifestações e protestos e prender simpatizantes. É uma estratégia típica do imperialismo. Desenvolvem uma colaboração entre as forças coloniais para controlar a população.

Assim têm conseguido suprimir os protestos na Cisjordânia. Ainda não puderam dominar totalmente as manifestações em Gaza, por isto destroem esta zona. Fora a clara selvageria e a covardia, estas ações são totalmente criminosas. Por isto temos que protestar.

A postura da Europa é vergonhosa; dizem que não concordam com essa situação, mas concretamente, a apóiam. A postura dos Estados Unidos é grotesca. A maioria dos países teme os Estados Unidos – com razões válidas – e por isto se calam.

A posição da Venezuela é totalmente honrada e não tem nada que ver com anti-semitismo. A profanação da sinagoga foi um ato anti-semita, mas não foi acionado pelo governo. A mesma coisa aconteceu na França e, que eu saiba, também nos Estados Unidos. Que eu saiba o governo da Venezuela adotou uma posição clara e condenou esta ação, encontrou os culpados que estão sendo processados. São as atitudes que qualquer país sério deveria tomar.

Palestina e o bloqueio a Cuba

MV: O senhor acha que se houvesse mais países assumindo uma posição clara em relação à ocupação israelense em Gaza, isso poderia resultar em alguma coisa nesta situação? Se a opinião pública se mobilizar e se mais países tomarem medidas similares as da Venezuela, o senhor acha que isto teria algum efeito?

Chomsky: Antes de mais nada temos que ser claros, não é somente a Faixa de Gaza. Os Estados Unidos e Israel gostariam que nos concentrássemos na Faixa de Gaza e que passássemos por cima do fato de que a Palestina é uma unidade. A Faixa de Gaza e a Cisjordânia são uma unidade. De fato, deveria ser uma pergunta mais ampla.

Pelo menos pela Lei Internacional, os limites territoriais de Israel foram criados em junho de 1967, os outros 22% de terras que conformam a Palestina é território ocupado. Isto inclui duas áreas separadas, não contíguas; a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Mas, essencialmente, são uma unidade.

Se a resistência aos atos criminosos de Israel é legítima na Cisjordânia, então a mesma resistência tem que ser considerada legítima na Faixa de Gaza. Eu disse isto à imprensa israelense e direi a você também: ainda que os ataques na Faixa de Gaza sejam particularmente ferozes, homicidas e destrutivos, o que acontece diariamente na Cisjordânia é também outra forma de destruir este povo.

É o que o falecido sociólogo israelense Baruch Kimmerling denominou “politicídio”; a destruição de uma nação. Pode não matar cada indivíduo, mas destrói a nação.

É o que acontece diariamente na Cisjordânia. De fato, Israel aproveitou o fato de que as atenções estavam voltadas para a Faixa de Gaza para expandir a infraestrutura de seus projetos de assentamento e desenvolvimento na Cisjordânia. Tudo isso concebido para cometer “politicídio”.

Portanto, temos que levar isto em conta. Se mais países adotassem uma postura mais firme, isto poderia exercer alguma influência nos que mandam. Na verdade os Estados Unidos dirigem o show, isto não é um segredo. Se a Europa tivesse vontade política de tomar uma posição independente, surtiria efeito, porque a Europa é poderosa e importante. Os países pequenos do mundo não podem fazer muita coisa.

Em uma pesquisa internacional recente, realizada por uma das mais importantes pesquisadoras das organizações internacionais de opinião pública, foi perguntado a pessoas do mundo todo qual era sua opinião sobre vários países. Israel estava no final da lista: é um país temido, detestado e considerado como o mais perigoso do mundo , por muitos países. O único país que se aproximava de Israel era o Irã, que ficou classificado quase no mesmo nível. Mas isso não tem importância desde que o dono do mundo continue apoiando Israel.

Assim a pergunta que tem que ser feita é se a opinião pública de outros países afeta as decisões do governo dos Estados Unidos. Não é fácil, nem sequer a opinião pública norteamericana afeta as decisões de seu governo em relação a muitos assuntos.

Consideremos um velho caso no hemisfério ocidental: Cuba. As sanções e o terror contra Cuba promovidos pelos Estados Unidos são atividades criminosas e toda a diplomacia mundial se opõe. A última votação nas Nações Unidas acho que foi 180 a 3, Estados Unidos, Israel e uma ilha do Pacífico, acho que Micronésia, o que quer dizer que na realidade é só os Estados Unidos. Israel tem que fazer o jogo dos Estados Unidos, ainda que de fato viola as sanções, portanto é só os Estados Unidos.

A opinião pública norteamericana tem sido, decididamente, favorável à suspensão das sanções, durante décadas, mas isso não teve nenhum efeito na política exterior – e este não é o único caso. Há um divórcio entre a opinião pública e as políticas dos Estados Unidos; não é uma democracia que funcione, ao contrário da propaganda que faz. Salvo se a opinião pública se organize e atue, não interessa o que as pessoas pensem. Houve mobilização sobre outros temas, mas não tem sido este o caso com relação a Cuba. Por esta razão as políticas do governo continuam seguindo seu próprio curso.

O mesmo acontece em relação às agressões, atrocidades e expansão de Israel. Enquanto o governo dos Estados Unidos as apóiem, será necessária a mobilização de poderosas forças para que estas políticas sejam modificadas. Qualquer ação tem importância, por isto o posicionamento da Venezuela é importante. Se fosse a França, teria mais peso, não que tenha que ser considerada mais importante, mas o que acontece é que o mundo opera através do poder e não da justiça. Assim são as coisas, ainda que não estejamos de acordo com isso.

Política exterior dos EEUU em relação a Venezuela, Rússia e Irã

MV: a ex Secretária de Estado, Condoleezza Rice disse uma vez que a administração de Chávez era uma força perigosa e maligna na América Latina. O presidente Barack Obama tem se referido ao presidente Chávez como uma força que interrompeu o progresso da região. Também tem dito que Chávez apóia atividades terroristas. Parece que há pouca diferença entre o que se disse durante a administração Bush e o que, aparentemente, será a posição de Obama em relação à Venezuela. Como o senhor vê isto? O senhor pensa que isto pode ser falta de informação da nova administração ou uma continuação das mesmas políticas?

Chomsky: É uma continuação das mesmas políticas. De fato, voltando a Condoleezza Rice, raramente concordo com ela, mas em algumas coisas tenho que concordar. Recentemente ela escreveu um artigo afirmando que a política exterior da administração de Obama será a mesma do segundo governo Bush.

As duas administrações Bush tiveram algumas diferenças; a primeira foi muito mais violenta, agressiva, arrogante em mostrar sua força ao mundo nos conduzindo a desastres seguidos de desastres e a uma avaliação cada vez pior sobre os Estados Unidos. Atualmente os Estados Unidos são mais detestados do que nunca, em todo o mundo, e isto é prejudicial a seus interesses cruciais.

Esta sociedade é basicamente dirigida pelas empresas. Formalmente é uma democracia, mas na realidade é uma sociedade dirigida pelas empresas e seus negócios, e seus lucros têm sido afetados por estes acontecimentos. Por isto houve pressão para que houvesse mudanças na administração Bush. De fato, algumas das figuras mais destrutivas, brutais e antidemocráticas foram removidas: Wolfowitz, Rumsfeld e outros. Sobrou Cheney, como assistente de Bush, que, basicamente era a administração. Assim que as políticas mudaram, movendo-se mais para o centro.

Não há indicação alguma de que Obama vá mudar estas políticas. De fato, em algumas instâncias ele tem tomado posições mais agressivas, como no Afeganistão e no Paquistão. Obama é uma pessoa inteligente e estou convencido de que o que ele diz tem sido preparado cuidadosamente por ele e por seus assessores, e expressa o que ele quer. Mas, em todas as suas declarações, ele tem sido deliberadamente impreciso.

A campanha eleitoral de Obama ganhou um prêmio da industria publicitária pela melhor campanha mercadológica de 2008. Ganhou da campanha dos computadores Apple. Os altos executivos publicitários foram muito efusivos, literalmente disseram que haviam comercializado candidatos da mesma forma que se comercializa a mercadoria há mais de 30 anos, desde os tempos de Reagan, mas que esta foi a maior conquista que tiveram. Isto terá um grande efeito sobre os diretores executivos publicitários, a cultura corporativa adotará este modelo para comercializar outras coisas. Esta campanha eleitoral foi uma campanha de mercado.

Eles têm bem claro que devem escamotear certos assuntos e se concentram em consignas vazias que somente servem para levantar o ânimo. É o que a imprensa chama de “sorving rhetoric”, como por exemplo: “esperança”, ” mudança”, “mudança na qual você pode acreditar”. Mas, se as pessoas se perguntarem que medidas vai tomar, terão que se esforçar bastante para poder entendê-las. Na melhor das hipóteses, talvez se possa encontrar alguma coisa em sua página web. Mas estes não eram os temas da campanha, que teve êxito como campanha de mercado. De fato há estudos que demonstram isto e os publicitários ficaram encantados por isso.

Fala-se muito do apoio massivo de pequenos contribuintes mas, na realidade foi mínimo. A maior parte do apoio econômico foi dado por financeiras e por escritórios de advocacia que também são lobistas – e suas políticas é claro que vão refletir isto. Já se pode ver isso por sua escolha de nomes para os cargos no governo e por seus assessores diretos. É basicamente uma administração de democratas de centro, com a qual as pessoas estão familiarizadas e não se diferencia tanto do segundo período de Bush. Somente se diferenciará em alguns assuntos. Serão reduzidas as violações mais extremas à lei e à constituição, levadas a cabo pela administração Cheney-Bush, como as torturas em Guantánamo ou a vigilância ilegal, mas praticamente qualquer dos candidatos, inclusive McCain, provavelmente faria o mesmo.


Esta será uma administração de menos confronto com o resto do mundo, mas vai seguir as mesmas políticas. Isto ficou claro com os recentes ataques a Gaza. A campanha de Gaza é um exemplo incrível. Foi planejada muito cuidadosamente com meses de antecedência, e a imprensa israelense diz isso abertamente. Foi meticulosa e claramente planejada para que terminasse antes da posse presidencial, terminou um dia antes.

Isso não é nenhuma casualidade, já que permita aparentasse não poder dizer nada a respeito. Enquanto ocorriam as atrocidades, ele dizia: “Há um só presidente, portanto não posso dizer nada a este respeito”. É claro que ele opinava sobre todos os outros acontecimentos, nada o impediu de falar sobre a “”ideologia do ódio” que estaria por trás dos ataques terroristas em Munbay. Ele podia opinar sobre isso, mas não podia falar do outro assunto porque “há um só presidente”.

A imprensa e os eleitores engoliram esse pretexto, mas os ataques na Faixa de Gaza tinham que terminar antes de sua posse. Mas ele já é o presidente. E o que diz agora? De fato sua primeira declaração sobre política exterior foi sobre Israel e Palestina, em conecção com a nomeação de George Mitchell como mediador.

Mencionou também alguma coisa sobre a paz entre Israel e Palestina, sobre uma proposta significativa, com um discurso cuidadosamente elaborado. Disse que havia uma proposta importante, com a qual ele estava de acordo, que era de iniciativa da Liga Árabe. Proposta esta que tratava da normalização das relações com Israel e que os estados árabes deviam se esforçar para isso. Mas ele sabe perfeitamente bem que não é isso que a Liga Árabe propõe. A Liga Árabe propõe o estabelecimento de dois estados (israelense e palestino) com suas fronteiras internacionais, de acordo com o consenso internacional; posição que os Estados Unidos bloquearam durante trinta anos. É nesse contexto que se encaminhariam para o estabelecimento da normalização das relações com Israel.

O fato de que Obama omita o componente essencial da proposta não é acidental. Ele sabe o que está fazendo, não é um bobo. O que quer dizer é que continuarão fazendo o que for necessário, inclusive continuar bloqueando a resolução política, mas queremos a normalização das relações com os países a árabes que são nossos clientes.

Deve ter sido necessária muita disciplina, da parte da mídia e dos intelectuais, para que fingissem não perceber tudo isto. O que acontece é que tudo isso é a perfeita obediência. Eles simplesmente seguem os passos de seu amo, como os passos de ganso. A mesma coisa acontece quando o entrevistam, repetem sempre que ele é muito comunicativo e que está cheio de esperança.

A declaração seguinte sobre política exterior foi um discurso do vice-presidente, Joe Biden, que também foi elogiado por ser muito comunicativo e por querer estender a mão da amizade ao Irã e à Rússia. Biden não é tão arrogante quanto John Bolton, que mandou que eles afundassem no lago mais próximo; pelo contrário, é muito amável e utiliza palavras simpáticas, no estilo sejamos todos bons amigos.

Mas o importante é se fixar no conteúdo. Sobre a Rússia ele disse que continuariam colocando sistemas de mísseis de defesa perto de suas fronteiras. Ele sabe muito bem que a Rússia considera isso como um potencial ataque a suas capacidades nucleares de dissuasão. É por isso que a Rússia se opõe, não tem nada que ver com o Irã.

Estados Unidos argumenta que é para impedir que o Irã dispare mísseis, que o Irã não tem, e armas nucleares que tampouco tem. Mas qualquer pessoa com a cabeça no lugar sabe que ainda que o Irã tivesse mísseis e armas nucleares, não atacaria a Europa a menos que quisesse ser borrado do mapa imediatamente, e não há nenhuma razão para supor que o Irã deseje tal coisa.

Então, acho que isto é uma grande fraude. Se estivessem verdadeiramente preocupados com uma ameaça iraniana, que não existe, teriam colocado o sistema de defesa de mísseis no sul, em algum lugar como o Azerbaijão, como foi proposta da Rússia. Mas isso não interessa a eles. O que realmente querem é ameaçar a força dissuasiva nuclear russa.

Os analistas estratégicos norteamericanos têm consciência disso. Pode-se ler nas publicações mais importantes. As bases de mísseis neste momento não provocam reações imediatas dos russos, isto não funcionaria, mas pode servir de base para Rússia reagir, além disso é uma provocação para a Rússia.

Biden insistiu em falar com voz baixa, em vez de ser arrogante, para dizer que vamos continuar com estas políticas. Continuar cercando os territórios russos na Europa.

E o que disse sobre o Irã? Disse que poderíamos abrir conversações desde que eles abandonem seus programas nucleares ilícitos.Quais são estes “programas nucleares ilícitos”? O Irã é um dos signatários do Tratado de Não Proliferação. Portanto, tem todo o direito de realizar seus programas nucleares e desenvolver a energia nuclear.

A grande maioria dos países do mundo está de acordo com isto, mas são membros dos países não alinhados, portanto “não existem”. Tudo o que se lê no ocidente é que o Irã está desafiando a comunidade internacional. A “comunidade internacional” quer dizer todo aquele que tenha armas suficientes para golpear a cabeça dos demais.

Se a maioria dos países do mundo não está de acordo com a “comunidade internacional”, não tem importância, pois estes países não existem. E o que pensa a opinião pública americana? Uma grande maioria considera que o Irã tem direito a desenvolver a energia nuclear. Mas assim como0 os países não alinhados, os cidadãos americanos tampouco fazem parte da comunidade “internacional”.

Assim que quando lemos artigos do New York Times ou da grande imprensa britânica sobre desafios á “comunidade internacional”, eles estão se referindo ao governo dos Estados Unidos.

Quais são estes programas ilícitos? São programas de armas? Talvez, mas a inteligência norteamericana não acredita nisso. Faz somente um ano que a inteligência norteamericana declarou ter certeza de que o Irã tinha interrompido seu programa de armas nucleares cinco anos antes. para o governo americano isso não pegou bem e por isto desapareceram as condições que permitiram que a mídia pudesse investigar este assunto, que assim, desapareceu dos meios de comunicação. Os comentaristas intelectuais não tocam mais neste tema.

Então agora, por ordem do governo, é um fato que o Irã está desenvolvendo armas nucleares. E se estiverem fazendo isso, eu francamente não me surpreenderia. Na realidade o que seria surpreendente seria que não o fizessem, ainda que somente como força dissuasiva. O Irã está completamente rodeado de países que possuem armas nucleares; os Estados Unidos têm mais gastos militares do que o resto dos países somados; e é um estado muito violento, acaba de invadir dois países. Seria surpreendente que o Irã não desenvolvesse dissuasivos nucleares. De fato, a cerca de dois anos, um dos mais destacados historiadores militares de Israel, Martin van Crevel, escreveu um artigo no Internacional Herald Tribune , no qual afirma que não é que deseje que o Irã tenha armas nucleares, mas que considera que se não está fazendo isto, é uma loucura, especialmente depois da invasão do Iraque.

Portanto, pode ser que o Irã tenha armas, pode ser que a inteligência norteamericana esteja errada, mas nada disso dá a Biden o direito de falar de “programas nucleares ilícitos”. Não há nenhuma evidência de que estes programas existam, o problema é que os Estados Unidos não querem que o Irã se desenvolva. E seu programa nuclear é precisamente o tema que está em discussão do ponto de vista dos Estados Unidos. Há outras questões em relação ao Irã, mas este é o que está em discussão, do ponto de vista dos Estados Unidos. O Irã tem muitos outros problemas, mas não faz parte do mundo tampouco, não possui armas suficientes para fazer pare do mundo. Por isto, do ponto de vista norteamericano e europeu, o único assunto que importa é o das armas nucleares e o que chamam de “apoio ao terrorismo”. Apoiar o terrorismo quer dizer apoiar a resistência aos atos criminosos dos Estados Unidos e de Israel,
isto para eles é terrorismo.

Esses são os temas que deveriam ser discutidos na negociação. Dizer que somente negociarão sob suas condições é o mesmo que dizer que não querem negociar. Este foi o conteúdo do discurso de Biden. Foi dito de forma amável, em tom amistoso e com palavras agradáveis e por isto é descrito como muito comunicativo. Do ponto de vista das elites norteamericanas e européias, este passo é muito positivo, já que desejaria, no fundo, apoiar a violência e as agressões. Consideram este discurso útil. Mas se fosse feito por alguém como Cheney ou Boulton, não poderiam acompanhá-lo, pois seu estilo é muito ofensivo e intolerante. O que querem é que alguém como Obama faça o discurso, ele fala de uma forma amável, vem da faculdade de Direito, é negro – e por isto eles podem fingir que não são racistas, embora o sejam até mais do que os norteamericanos, de modo que para eles este discurso é agradável.

Mas presta atenção no conteúdo, Condoleezza Rice está, mais ou menos, certa em sua apreciação. Nada indica o contrário.

POSADA CARRILES e GUANTÁNAMO

MV: Professor, uma das exigências que o governo venezuelano fez para melhoraras relações com o governo dos Estados Unidos, foi a extradição do conhecido terrorista Posada Carriles. Também solicitou a extradição dos dois ex-militares responsáveis pelos atentados a bomba em sedes diplomáticas em Caracas. O senhor acha que o governo norteamericano poderia entregar estes terroristas ao governo venezuelano? Afinal de contas eles vão fechar a base de Guantánamo e este gesto seria um sinal de respeito pelos direitos humanos.

Chomsky: Vão fechar Guantánamo porque não era útil e havia se convertido numa vergonha para os Estados Unidos, tanto a nível internacional como internamente. Além disso há uma enorme quantidade de textos e de pareceres jurídicos condenando Guantánamo.

Era mentira que tinham que conseguir evidências da tortura em Guantánamo. As discussões neste sentido eram muito elaboradas. Não é necessário ter evidências. O simples fato de que Guantánamo exista é suficiente para deixar claro que é um centro de tortura. Se não fosse, porque não estaria em Nova York? Disseram que era arriscado permitir que pessoas tão perigosas estivessem em Nova York. Mas não é perigoso. Se acham que é, porque não deixá-los em uma prisão de segurança máxima? Se bem que as prisões de segurança máxima dos Estados Unidos, não são tão diferentes de Guantánamo. Aqui também se tortura prisioneiros.

Guantánamo foi aberto em território estrangeiro para aparentar que está fora da jurisdição da lei doméstica e das leis internacionais. Não há nenhuma outra razão para que não tenha sido este o motivo.

Este fato nos mostra que é, efetivamente, um centro de tortura. Todas as evidências demonstram claramente que é assim. Esta prisão não tem nenhum sentido prático, assim como Abu Ghraib, é uma grande vergonha para os Estados Unidos. Por isso vão fechá-la, para não ter que envergonhar-se. Mas isso não significa que estejam dando um passo em alguma direção.

Quanto aos terroristas, Orlando Bosch é o principal, Posada Carriles é o outro e há uns quantos mais. Estados Unidos os tem protegido desde sempre. Faz parte da chamada doutrina Bush, que é considerada como princípio de fato da lei internacional, por destacados professores da Universidade de Harvard.

A doutrina Bush diz que um país que acolhe terroristas é tão culpado quanto os terroristas. Portanto devem ser tratados como tal. Isto significa que Bush está pedindo que bombardeiem os Estados Unidos. Ele deveria ter sido levado a julgamento por traição já que está explicitamente pedindo isso. Não há dúvidas de que essas pessoas são terroristas. No caso de Orlando Bosch já se passaram vinte anos.

O Departamento de Justiça e o FBI o acusaram de cerca de trinta atos terroristas. Queriam sua deportação por considerá-lo uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos. George Bush, pai, lhe concedeu o perdão presidencial. Atualmente passeia tranquilamente em Miami e, recentemente Posada se juntou a ele. Então, se é verdade que a doutrina Bush é um princípio de fato da lei internacional, os atentados de 11 de setembro seriam legítimos.

Mas eles não são os únicos, Emmanuel Constant, um dos principais assassinos dos esquadrões da morte do Haiti, foi de fato respaldado por Clinton, ainda que não se atreva a dizê-lo. Ele vive tranquilamente, há anos, em Nova Iorque. O Haiti pediu sua extradição, mas os Estados Unidos nem se incomodou em responder. Para que responder ao Haiti? Constant é responsável pelo assassinato de umas quatro mil pessoas, o que é bastante sério. Ele era o cabeça de uma organização terrorista no Haiti. Recentemente foi preso por uma pequena infração. Posadas também, foi julgado somente por ter violado as leis de imigração e não por ter colocado uma bomba no avião da Cubana de Aviação.

Não vejo nenhuma indicação de que as coisas estejam para mudar. Quase não existe pressão da opinião pública, porque quase ninguém tem essas informações, somente aqueles que estão envolvidos diretamente nestas questões. Se fosse feita uma pesquisa sobre o tema nos Estados Unidos, praticamente ninguém teria conhecimento do assunto.

O New York Times e a guerra midiática

MV: Professor, como funcionam os meios de comunicação nos Estados Unidos? Como o Sr. Vê a cobertura destas corporações midiáticas sobre a Venezuela? Por exemplo, em 2007 saiu um artigo no New York Times, escrito por Simón Romero, no qual ele afirma que os gastos militares da Venezuela chegaram aos níveis mais altos do mundo. Romero afirma que a Venezuela está chegando ao nível de compradores como o Paquistão e o Irã.

Chomsky: Tenho certeza de que a Venezuela gostaria muito de poder comprar armamentos dos Estados Unidos ou da França, mas não permitem que faça isso. É sempre a mesma história. Romero não é nenhum bobo, ele conhece a história da América Latina.

Quando, na administração de Eisenhower, os Estados Unidos quiseram derrubar o governo democrático da Guatemala (Jacobo Arbenz), começaram com ameaças – e os Estados Unidos não ameaçam de brincadeira – depois com a difamação, tachando-os de comunistas.

Quando a Guatemala tentou conseguir armas para se defender dos Estados Unidos, foi bloqueada. Tentou comprar armas da França e os Estados Unidos pressionaram para que a França não vendesse. Queriam obrigar a Guatemala a comprar dos países do leste. Finalmente a Guatemala conseguiu comprar da Tchecoslováquia, o que causou um grande escândalo, já que foi considerada como uma ameaça a todo o continente. Este argumento serviu como base para a propaganda que o governo dos Estados Unidos utilizou antes da invasão.

A América Latina não concordou, mas estava sendo aterrorizada pelos Estados Unidos. Apoiavam a Guatemala, mas não se atreviam a tornar público este apoio. Tentaram fazer a mesma coisa com Cuba. Realmente existem documentos que provam isto. A Inglaterra aconselhou os Estados Unidos a forçar Cuba a comprar armas nos países do leste europeu, para que tivessem um motivo para atacar. Os cubanos acabaram comprando armas da Rússia.

Tentaram a mesma coisa com a Nicarágua. Nos anos oitenta os Estados Unidos fizeram um grande esforço para conseguir que os sandinistas comprassem armas da Rússia, da Líbia ou de qualquer lugar que criasse um fato do qual pudessem se aproveitar. Mas os sandinistas não caíram na armadilha. Então os Estados Unidos espalharam que a Nicarágua tinha comprado armas da Rússia e se colocaram, claramente, contra a realização das eleições de 1984, já que seriam monitoradas e teriam credibilidade. Seriam seriamente fiscalizadas por especialistas internacionais, que diriam que as eleições foram limpas, mas isso era inaceitável.

Um país que está sendo desestabilizado pelo terrorismo em grande escala, não pode ter eleições justas e limpas. Isto é uma regra. E como conseguiram fazer um bloqueio de silêncio sobre as eleições nicaraguenses? Através de um bem sucedido esforço propagandístico. Enquanto se realizavam as eleições, a administração Reagan inundava o país com boatos de que a Rússia estava enviando armamento pesado para a Nicarágua. Claro que estas histórias eram falsas, mas ainda assim saíam estampadas nas capas e manchetes de revistas e jornais.

A opinião da elite norteamericana se dividiu de um modo interessante. O grupo dos falcões disse: está bem, vamos bombardear a Nicarágua; o grupo dos pombos, que incluía senadores mais moderados, disse que a notícia podia não ser verdadeira, que tinhamos que verificar antes, mas que se fosse verdade, temos que bombardear, porque não é permitido que a Nicarágua tenha armas.

Mas para que os nicaraguenses queriam armas? Necessitavam das armas porque a CIA tinha o controle total de seu espaço aéreo e usava isto para enviar instruções para o exército terrorista (os contras) para que soubessem como se esquivar do exército nicaragüense e para que atacassem alvos civis como as cooperativas de agricultores. Os contras não eram um grupo guerrilheiro comum, pois contavam com computadores e aviões que lhes davam diretrizes.

A Nicarágua quis defender seu espaço aéreo, portanto, se tivesse adquirido armas antiaéreas, isto teria sido totalmente legítimo. Mas na realidade tudo isto foi uma grande farsa para que a realização das eleições fosse esquecida. Segundo a história dos Estados Unidos elas não aconteceram. É muito difícil encontrar alguma referência a estas eleições nos livros de história.

Esta é uma técnica padrão. Gostariam de usá-la contra a Venezuela. A Venezuela fazendo ou não, cairia na armadilha. Mas é um golpe muito velho. Romero certamente conhece esta história. De qualquer modo, que tipo de ameaça a Nicarágua representava? A quem iria atacar? Se olhamos para trás, é difícil saber se Ronald Reagan era um ser humano ou não. Ele calçou suas botas de vaqueiro e decretou estado de emergência nos Estados Unidos por causa da ameaça à segurança nacional, representada pela Nicarágua. Disse também que o exército nicaragüense estava a dois dias do Texas e que, praticamente, seríamos destruídos. E as pessoas não acharam graça.

Isto me faz lembrar um incidente que aconteceu, suponho que em 1961, quando Kennedy estava operando para que a OEA apoiasse as sanções contra Cuba, já que esta era uma ameaça para a segurança do hemisfério ocidental. A maioria dos países concordou pelo medo que tinham dos Estados Unidos. Mas o México negou seu apoio. O embaixador do México disse a Kennedy que se voltasse para o México dizendo que Cuba era uma ameaça para a segurança, 40 milhões de mexicanos iriam morrer de rir. E é verdade, isto deveria provocar risadas.

Mas aqui não houve risadas, aqui a opinião pública acreditou na farsa. Aqui a Nicarágua era uma ameaça à segurança, Granada era uma ameaça à segurança. Os russos nem sequer podiam encontrar Granada nos mapas, mesmo sendo esta a capital mundial das nozes. Apesar disso representava uma ameaça à segurança e, por isso, tivemos que invadir.

Isto é o que é vendido à população nos Estados Unidos, e dá para entender. Os assuntos internacionais são conduzidos de forma mafiosa. Se alguém se atreve a desafiar o poderoso chefão, talvez algum comerciante que se negue a pagar sua taxa de proteção, a máfia tem que enviar seus homens armados para acabar com ele e para que sirva de exemplo.

Por mais insignificante que possa parecer, para eles qualquer desafio a suas regras é muito sério, já que pode parecer aos demais que tampouco têm a obrigação de pagar suas taxas. Por isto, como Maurice Bishop montou um sistema de cooperativas eficiente, em Granada, a administração Carter considerou que isto era uma ameaça para nossa segurança. Quanto mais fraco for o país, maior é a ameaça. Porque se um país pequeno pode desafiar as regras, um país vizinho pode achar que também pode fazê-lo.

Se examinarmos os registros de documentos, fica claro que os Estados Unidos são um país muito liberal, mais do que qualquer outro. Temos um significativo registro de documentação interna. No caso de Cuba, Guatemala e outros países, a ameaça consistia no que Henry Kissinger chamou de um vírus contagioso. Outros países iriam pensar que para eles também seria possível. Ele se referia ao Chile de Allende. Disse que Allende era um vírus que poderia se propagar no sul da Europa.

Mas Kissinger não acreditava que o exército de Allende fizesse parte de alguma ameaça. O que ele achava, e talvez tivesse razão, era que a democracia parlamentar que conduzia moderadas reformas socialistas no Chile, poderia fortalecer os grupos que na Itália e na Espanha caminhavam na mesma direção. Por isto tinham que cortar o mal pela raiz.

Este é um dos aspectos mais importantes nos assuntos internacionais, encontra-se nos registros históricos, aparece de forma explícita nos registros de documentos. É necessário um imenso esforço das classes educadas para que isto seja claramente visto. O que se vê facilmente são os pretextos que utilizam para cada caso. O caso de Romero simplesmente se encaixa numa velha tradição.


A América Latina e a Doutrina Monroe

MV: Para concluir, gostaria que o Sr. comentasse a guinada à esquerda da América Latina neste momento decisivo e também suas reflexões sobre as organizações de base na Venezuela, como os conselhos comunais, na tarefa de construção do Poder Popular.

Chomsky: A América Latina, a América do Sul particularmente, está passando por grandes mudanças. São mudanças muito significativas e que acontecem em quase toda a região. É hoje talvez o lugar mais emocionante do mundo e essas mudanças são produto dos movimentos populares. A Bolívia é um caso dramático, já que talvez possa ser considerada como o país mais democrático do mundo. Justamente por isto os Estados Unidos a denunciam como antidemocrática, e os Estados Unidos são demasiados democráticos para poder tolerar o que está acontecendo na Bolívia. Até certo ponto algo similar está acontecendo em toda a região, mas de forma diferenciada.

Em relação às organizações populares na Venezuela, o que elas estão fazendo é se assegurar de que a estrutura realmente funcione e que se transforme em instituições de Poder Popular que funcionem e trabalhem para mudar as relações sociais e culturais e para promover a mudança política que venha das bases.

O caso da Bolívia é dramático. Comparar a situação da Bolívia com a dos Estados Unidos é muito interessante. Eu já tinha mencionado que as últimas eleições nos Estados Unidos foram aclamadas pelas empresas publicitárias com uma vitória estrondosa – lograram comercializar um candidato como se comercializa um artigo para venda. Não sabemos muito sobre as políticas de administração de Obama, mas o que sim sabemos é que não provem das bases.

Não há organizações de base que influenciem estas políticas. Pode ser que algumas organizações dêem sua opinião, mas ninguém presta atenção nela. Na Bolívia acontece exatamente o contrario. Os bolivianos não estão esperando as ordens de Morales para que eles então pressionem Morales. Aqui se supõe que as pessoas esperem as instruções do líder para depois fazer pressão. Na Bolívia as políticas emergem das organizações de massa e foram elas que elegeram alguém de seu próprio meio.

È interessante ver a euforia que houve na Europa em torno da campanha eleitoral norteamericana; somente nos Estados Unidos pode haver tanta magia. Para os padrões europeus provavelmente isso seja correto; lá são mais racistas do que nos Estados Unidos. Mas para os padrões mundiais isso não significa nada.

É muito mais surpreendente que na Bolívia as organizações populares tenham conseguido eleger um presidente de seu próprio meio, do campesinato. Há muitos outros casos como este, mas aconteceram em lugares onde as pessoas são consideradas subumanas pelo Ocidente, porque para estes as pessoas são sujeitos e não agentes da mudança.

Na Bolívia não foram somente as organizações populares, havia problemas reais. Nos Estados Unidos os problemas são colocados à margem, porque esta não é a forma de comercializar candidatos. Na Bolívia se encaram os problemas: o controle de seus recursos, direitos culturais, justiça, diretos étnicos. O que aconteceu não foi que o povo um dia, simplesmente compareceu as urnas. O dia das eleições foi somente um dos cenários de uma luta popular que vem sendo travada há muitos anos. Isso sim é democracia.

Por isso é que aqui a mídia descreve a Bolívia como antidemocracia. O que motiva esta afirmação é o fato de que a Bolívia é verdadeiramente democrática, o que é intolerável. Acho que esse é o modelo a seguir. As sociedades têm suas próprias maneiras de fazer as coisas, mas este é um modelo inspirador para a Venezuela e os demais países.

MV: O Sr. acha que a Doutrina Monroe foi destruída pela unidade latinoamericana?

Chomsky: Está sendo desafiada. Em Santiago do Chile houve uma reunião da UNASUR durante a qual os estados fortes apoiaram Morales contra os movimentos separatistas da Bolívia. Isto foi de suma importância. Realmente, foi tão importante que não se divulgou nos meios de comunicação dos Estados Unidos.

A resposta de Morales foi agradecer este apoio e dizer que pela primeira vez em 500 anos a América Latina está tomando seu destino em suas próprias mãos. Ora, isso tem muita importância para que seja divulgado nos meios de comunicação deste país. Para os Estados Unidos isto é um desafio, e por essa razão são tão intransigentes. Há documentos secretos dos governos de Kennedy e Lyndon Johnson aonde se diz explicitamente que o problema de Cuba é ter conseguido desafiar as políticas norteamericanas, é ter conseguido desafiar a Doutrina Monroe.

22 de junho de 2009

PARAGUAI: FRENTE DE ESQUERDA CRIA O ESPAÇO UNITÁRIO POPULAR! - Ivan Pinheiro

Foram necessários apenas dez meses do governo Fernando Lugo para a esquerda paraguaia ter a sabedoria e a responsabilidade de constituir uma frente, para reforçar a unidade de ação na luta contra as oligarquias, que jogam tudo para manter seus privilégios e cooptar e domesticar o novo governo. Como outros Presidentes de países do Cone Sul, inclusive Lula, Lugo tem optado pela governabilidade institucional ao invés do respaldo do movimento de massas para promover mudanças, opção dos governos da Bolívia, Equador e Venezuela.

Num Congresso Unitário Popular, que reuniu no último 19 de junho quase dois mil militantes de cinco Partidos políticos e diversos movimentos sociais paraguaios (*), foi criado o ESPAÇO UNITÁRIO POPULAR. Trata-se de uma frente de esquerda voltada para a luta de massas e não uma mera coligação eleitoral. As próximas eleições nacionais só serão em 2013. A frente não terá registro civil nem eleitoral, que pode ou não, no futuro, vir a ser formalizado, a depender do estreitamento da unidade de ação e da capacidade de mobilização popular que venha a suscitar. O principal objetivo da frente é a construção do poder popular.
Só não aderiram à frente, apesar de convidados, dois partidos de esquerda, sendo um de orientação maoísta, com influência junto ao campesinato, e outro trotsquista, ligado à LIT – Liga Internacional dos Trabalhadores, com atuação no movimento estudantil.
Como se vê no manifesto de fundação da frente, as forças que a criaram não têm ilusão na democracia burguesa e sabem que o programa com que Lugo se elegeu não será levado adiante na base de acordos e alianças com setores conservadores. Diz o texto, que divulgaremos em breve:
“A grande tarefa hoje é exigir o cumprimento do programa com que Fernando Lugo se comprometeu perante nosso povo e do qual até agora se fez pouco ou quase nada… O processo de mudanças é independente deste e de outro governo e só pode avançar com unidade, mobilização e luta popular.”
A partir de agora, o ESPAÇO UNITÁRIO POPULAR começa sua organização a partir das bases, com a realização de Congressos distritais, municipais e estaduais, que criarão coordenações regionais. A coordenação nacional, que decide por consenso, é constituída por cinco dirigentes, cada um indicado por um partido. A frente tem uma plataforma política, em que se destacam três pontos:
- democratização radical, com participação popular;
- reforma agrária integral, com protagonismo camponês;
- recuperação da soberania nacional, especialmente sobre Itaipu e Yasyretá (**) e os territórios ocupados pelas transnacionais da soja.


O PCB, único partido brasileiro convidado ao Congresso Unitário, esteve presente com uma delegação que, além do Secretário Geral, incluiu três de seus militantes do fronteiriço Estado do Paraná.
Na intervenção do PCB na Plenária do Congresso, reiteraram-se os termos do documento distribuído aos delegados, em espanhol, expressando nossa solidariedade ao povo paraguaio na luta pela renegociação do acordo que criou a binacional Itaipu e nossa indignação pelo fato de a oligarquia brasileira de turno ter levado nosso país a participar da famigerada “Guerra do Paraguai”, em verdade um dos maiores extermínios já cometidos em nosso continente.
Foi bem recebida entre os participantes do Congresso, incluindo as delegações de outros países do continente, nossa proposta de realizarmos uma grande manifestação internacionalista na Tríplice Fronteira, para expressar a confraternização entre os povos irmãos da região e a unidade na luta antiimperialista e socialista.
Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB
Fotos:
1- Intervenção do PCB no Congresso.
2- Encontro com Ananias Maydana (histórico dirigente do PCParaguayo) e Aluizio Palmar;
(*) Partido Popular Tekojoja, Partido Comunista Paraguayo, Partido Convergencia Popular Socialista, Partido del Movimiento al Socialismo, Frente Patriótico y Popular, Frente Social y Popular, Espacios Unitarios de San Pedro, del Alto Paraná, de Misiones, de Caaguazú, de Caazapá, de Guairá e de Ñeembucú.
(**) usina hidroelétrica na fronteira com a Argentina
Fonte: http://www.pcb.org.br/paraguai8.htm

O PERU E O IRÃ VISTOS PELO MESMO OLHAR IMPERIALISTA - Ivan Pinheiro

Não há comparação melhor para denunciar a manipulação da mídia e a hipocrisia dos governos dos países imperialistas do que os posicionamentos de ambos com relação a dois fatos recentes: a resistência indígena no Peru e as manifestações no Irã.

O Peru é governado por Allan Garcia, aliado incondicional dos Estados Unidos, com quem firmou um Tratado de Livre Comércio, cujo objetivo é o saque das riquezas minerais da selva amazônica peruana. Neste caso, a mídia diz que o assassinato de dezenas de indígenas foi produto de conflitos provocados por manifestações violentas destes contra as leis. Com exceção de Evo Morales e Hugo Chávez - que se solidarizaram com os indígenas - nenhum chefe de Estado se pronunciou a respeito.

O mundo burguês fingiu que não viu! Nenhuma foto que revelasse a brutalidade da repressão foi exibida na imprensa burguesa.

Já o Irã é o primeiro país da fila de espera para ser agredido pela máquina de guerra norte-americana. Afinal, seu governo insiste em dominar a tecnologia nuclear, para se defender do arquiinimigo dos povos da região, o Estado de Israel, detentor da bomba atômica e cabeça de ponte dos Estados Unidos no Oriente Médio. Os iranianos já possuem mísseis que podem alcançar Israel. Acusa-se também o Irã de ajudar a resistência armada palestina e libanesa. O país só não foi agredido até agora por falta de tropas, hoje atoladas em aventuras militares no Iraque e no Afeganistão.

Contrastando com o silêncio sobre os indígenas peruanos, os chefes de Estado dos países imperialistas têm sido loquazes sobre o Irã. Sarkosy e Ângela Merkel - em cujos países os trabalhadores e estudantes são reprimidos - condenaram veemente a “violência contra os manifestantes iranianos”. Obama manteve silêncio sepulcral diante das atrocidades israelenses na Faixa de Gaza e, já como Presidente, referiu-se ao bombardeio que levou à morte de centenas de civis na fronteira Paquistão/Afeganistão como “efeito colateral”. Já sobre o Irã, se declarou “profundamente perturbado com a violência que viu na televisão”.

A manipulação da mídia é tão grosseira que os jornais escondem as manifestações a favor do presidente iraniano, algumas maiores que as da oposição. Por outro lado, passa-se a impressão de que as manifestações da oposição são contra a política externa iraniana. Certamente elas têm a ver com insatisfações diferenciadas - sobretudo em setores da classe média e da burguesia -, como os impactos da crise econômica, a queda do preço do petróleo, a inflação, a questão dos direitos civis e aspirações por um Estado laico ou pela ocidentalização dos costumes e do consumo.

A desestabilização do Irã é parte dos planos imperialistas. Cumprido o objetivo de se apropriar das reservas de petróleo do Iraque, os Estados Unidos preparam uma falsa retirada deste país, onde deixarão um governo títere, forças repressivas armadas e dirigidas por militares ianques e poderosas bases militares, que não existiam antes da invasão. Enquanto isso, vão satanizando e deslegitimando as próximas vítimas.

Esta “saída” do Iraque permitirá a liberação de tropas para os novos planos belicistas: ocupar parte do Paquistão, a pretexto de derrotar os talibãs, e atacar o Irã, o mais cobiçado objeto de desejo do imperialismo, não só pela ajuda às resistências armadas no Oriente Médio mas por sua posição geopolítica estratégica. O país fica exatamente entre o Iraque e o Afeganistão, com os quais tem as maiores fronteiras; além disso, é banhado pelo Golfo Pérsico e o Mar Cáspio.

Como internacionalistas, temos que ser solidários com o povo iraniano frente ao imperialismo. Mas não podemos nos iludir com o regime que vigora no país, muito menos glamourizá-lo. De fato, seu antiimperialismo ajuda a fragilizar os principais inimigos da humanidade. Isto devemos valorizar. Mas não nos esqueçamos de que se trata de um antiimperialismo nacionalista de direita.

O fundamentalismo do regime dos aiatolás não tem nada a ver com os ideais socialistas e libertários. Trata-se de um regime conservador, machista, homófobo, anticomunista. O Partido Comunista Iraniano (TUDEH) foi colocado na ilegalidade e seus membros são perseguidos. Nesse sentido, não se difere da maioria dos Estados árabes conservadores e pró-imperialistas, a não ser pelo fato de os iranianos serem persas. Aliás, alguém já viu alguma campanha midiática pela “democracia” nos Estados árabes dirigidos por oligarquias monárquicas aliadas dos Estados Unidos, que não se submetem a qualquer eleição?

Mas de forma nenhuma a esquerda pode se iludir ou se omitir diante da campanha de satanização do Irã, já há algum tempo em curso. Ela é a ante sala da agressão militar. Já há muitos indícios de que estamos diante de um golpe midiático, de guerra psicológica. Mais uma das chamadas “revoluções das cores”, desta vez verde. Lembram-se da satanização de Sadam Hussein antes da invasão do Iraque? Cadê as armas de destruição em massa?

Peru: Vitória do movimento indígena sobre Alan García


Enviada por Brasil de Fato,

Após mobilizações, presidente encaminha ao Congresso pedido de anulação das leis; primeiro-ministro Yehude Simon renuncia Após dois meses de greve e mobilizações e um confronto entre indígenas e policiais que deixou, no dia 5, pelo menos 50 mortos, o governo do presidente peruano Alan García teve de engolir a derrota. Dez dias depois do massacre, o primeiro-ministro do país, Yehude Simon, reuniu-se com lideranças indígenas e assinou um documento em que se compromete a anular os nove decretos rechaçados pelos indígenas da Amazônia peruana. Eles afirmam que as leis legalizam a exploração de suas terras pelas transnacionais, preparando a região para o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos.
No dia seguinte, Simon encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta de anulação e anunciou sua renúncia para as próximas semanas. "Eu vou sair de qualquer forma na hora que tudo tiver acalmado, que deve ser nas próximas semanas", declarou à imprensa.
Daysi Zapata, a nova presidente da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep), que substituiu Alberto Pizango – procurado pela Justiça e asilado político na Nicarágua – qualificou de “tardia” a decisão e reiterou a desconfiança em relação ao governo, afirmando que somente após se oficializar a anulação das leis é que a entidade irá se pronunciar sobre a abertura do diálogo com o governo. “Os povos já estão cansados de promessas, queremos ver realidades”, afirmou. A dirigente ainda relembrou as vidas perdidas no massacre: “Tantas vidas tinham que ser perdidas para que o governo se desse conta de que as leis eram ruins?”
Protestos
Os decretos foram editados em junho de 2008, ocasião em que os movimentos sociais fizeram uma série de protestos. Porém, eles os interromperam após a promessa de abertura de diálogo com o governo García. Ignorados e frustrados, eles retomaram a mobilização no dia 8 de abril.
O movimento cresceu ainda mais após o confronto do dia 5. Os indígenas mantiveram as ações e ganharam mais apoio, tanto de entidades indígenas, como urbanas, além da sociedade. Em Lima, uma passeata reuniu 30 mil pessoas no dia 11. Foram realizados novos bloqueios de rodovias e até a tomada de um aeroporto, na cidade andina de Andahuaylas, além de novas greves em cidades amazônicas. Uma greve geral foi chamada para os dias 7 a 9 de julho e pedidos da renúncia presidencial começaram a ser ouvidos. Ao desgaste atual, somou-se o já existente em relação ao governo da Alianza Popular Revolucionaria Americana, o partido de García. Pesquisa feita em maio apontou níveis de popularidade de 30% apenas.
Suspensão
Cinco dias antes da reunião com o primeiro-ministro, o Congresso havia votado a suspensão temporária dos decretos por 90 dias, o que foi visto por alguns como uma tentativa de manobra. Durante cinco horas, governistas e oposição, esta última encabeçada pelo Partido Nacionalista (PN), trocaram acusações. Os primeiros acusaram os nacionalistas de “manipular os indígenas”, de “promover a violência” e “desestabilizar a democracia”; a oposição afirmou que o atual governo ignora os direitos dos povos originários em favorecimento das transnacionais, exigiu a formação de uma comissão investigadora independente para determinar as responsabilidades pelos acontecimentos do dia 5, além de pedir a anulação dos decretos.
A suspensão foi aprovada por 57 votos a 47, mas os congressistas do PN seguiram protestando, pois queriam a anulação completa do pacote de leis, com o argumento de que uma comissão do Congresso as havia considerado inconstitucionais.
Neoliberais em xeque
Ainda que vista como um início de recuo, os movimentos não se contentaram com a suspensão. Para o pesquisador e escritor peruano Róger Rumrrill, “a suspensão das leis, ao invés da anulação, é uma manobra do governo para desmobilizar os indígenas e continuar tentando impor os decretos. Mas os indígenas não vão cair nessa armadilha. Essas leis são parte essencial do projeto neoliberal e autoritário desse governo. Os indígenas apareceram para questionar esse projeto e por isso são reprimidos e satanizados pelo governo”.
Com a continuidade dos protestos e a promessa de outros, a saída de García foi recuar, mesmo tendo dito, um dia antes, que não anularia as leis e que, se necessário, aumentaria a repressão. “Com a anulação dessas leis, a tensão social seguramente diminuirá, mas o conflito não se soluciona. Essa anulação é somente o ponto de partida para o início de um diálogo que deve ocorrer não apenas entre governo e movimentos indígenas, mas com todas forças sociais. Esta crise revelou os limites do modelo econômico neoliberal e do sistema político, que já não dá mais, e devemos fazer um debate nacional sobre isso”, disse o sociólogo Eduardo Toche, pesquisador do Centro de Estudos e Promoção do Desenvolvimento.
Enviada por Brasil de Fato,

16 de junho de 2009

USP EM LUTA (Nota da UJC sobre eventos recentes da USP)


A União da Juventude Comunista – UJC vem repudiar a brutalidade e selvageria com as quais os policias de São Paulo (do governador Jose Serra) agrediram os estudantes, funcionários técnicos administrativos e professores que estavam ocupando a USP em atividade de apoio a greve dos funcionários e a legitima reivindicação de melhores condições de trabalho, mais verbas para a educação, numa resposta articulada do conjunto dos movimentos sociais da USP a política de privatização que o governo Jose Serra direcionada a educação.

A agressividade do ataque policial com bombas de efeito moral, balas de borracha, spray de pimenta contra os manifestantes é mais um triste capitulo do processo de criminalização dos movimentos sociais empreendido pelos governantes, que apresentam como dialogo a força da repressão.

A UJC repudia o uso da violência, não somente a utilizada contra os manifestantes, mas a violência camuflada de “programa modernizador” da educação brasileira, já tão agredida e tantas vezes alvo de governos comprometidos com os interesses do mercado.

Uma outra agressão, essa contra a autonomia universitária é a ocupação dos policias ao campus universitário, lesando mais essa garantia, colocando literalmente a universidade sob intervenção, encerrando com pá de cal qualquer forma de dialogo, cabe ainda mencionar que houve total apoio da reitoria da Universidade a tamanha agressão, dessa forma a UJC defende a saída de Suely Vilela, por sua postura arrogante no trato com a comunidade acadêmica, sua truculência e brutalidade contra a própria universidade.


NECESSÁRIA UNIDADE PARA A LUTA

Cabe ainda dizer, que num evento como esses, aspectos positivos, ainda que cercado pela já mencionada brutalidade e truculência policial e das instituições do estado de São Paulo, assim como da própria reitoria da USP, existem, tal como a unidade da comunidade acadêmica.

Testemunhamos a força proporcionada pela unidade dos setores fundamentais da comunidade acadêmica, dos profissionais técnicos administrativos, professores e estudantes, e viemos conclamar esse caminho, da unidade, como única forma possível de não apenas barrar os ataques contra a universidade, como também avançar nas lutas e nas conquistas para a universidade e para a própria sociedade brasileira. Que essa unidade sirva de exemplo para o conjunto das universidades publicas e para as comunidades acadêmicas das universidades particulares, na luta por conquistas, por avanços, por uma maior democratização da vida acadêmica. “Nenhum direito a menos e avanços nas conquistas” também na área da educação passa a ser uma bandeira, para viabilizar a construção da universidade popular.

A unidade na luta é uma bandeira preciosa demais para ser leiloada em disputas menores que visam somente a divisão do conjunto do movimento, devemos cada vez mais buscar construir a unidade pela base, na luta, no dia a dia, trazendo cada vez mais participantes, fazendo de cada um, um militante por uma nova sociedade.


UNE, suas noites são de gala, nosso samba é na rua.

Também viemos questionar a ausência da UNE nesse processo, entidade que cada vez mais se acomoda nos gabinetes das instituições estatais, se desvinculando mais e mais das lutas sociais e em muitos casos, como uma amortecedora das lutas, diante de seus acordos e seus compromissos assumidos com governos e com mandatos.

Aproveitamos o momento do congresso da UNE para convocá-la para as lutas, entendemos o rico momento de debates advindos do momento congressual, onde apresentaremos nossa proposta para construir uma UNE novamente nas lutas, onde se forjou e cresceu se tornando uma referência, referência essa que hoje se apaga diante de acordos políticos e conchavos com governos.

A UJC chama a UNE novamente para as lutas, de onde não deveria ter saído, repudiamos sua institucionalização, a convocamos novamente para junto dos estudantes.

Comissão Política Nacional da União da Juventude Comunista

15 de junho de 2009

Um retrato honesto da Venezuela(Resenha do livro "A Revolução Venezuelana", de Gilberto Maringoni)

Por: Igor Fuser


Na lista dos demônios da mídia empresarial, o posto número 1 pertence, disparado, a Hugo Chávez, com sua boina vermelha e língua ferina. Raramente se passa um dia sem que alguma publicação da chamada "grande imprensa" despeje regulares doses de veneno contra o presidente venezuelano, apresentado como louco, fanfarrão, ditador ou incompetente. Essa cantilena se mantém há mais dez anos. Para ser exato, desde o início de 1999, quando o antigo coronel iniciou, após sua chegada ao governo, a transformação de um dos países de estrutura social mais iníqua no planeta - mais de 50% dos habitantes na miséria, em contraste com os lucros nababescos das exportações de petróleo - em uma referência mundial para todos os que cultivam os valores da justiça e da igualdade.
O livro de Gilberto Maringoni (A Revolução Venezuelana, Editora Unesp, 2009) merece ser saudado com um antídoto perfeito contra a manipulação informativa que, na imprensa brasileira, atingiu as raias de uma lavagem cerebral. Jornalista e historiador, Maringoni fala de um tema que conhece em primeira mão. Viajou várias vezes à Venezuela e lá entrevistou quase todos os nomes que valiam a pena no tumultuado enredo político local - dos caciques da oposição conservadora, como Teodoro Petkoff, às figuras mais graduadas do regime esquerdista, entre as quais o próprio Chávez, além das mais variadas fontes na esfera acadêmica.

Com dados confiáveis em mãos, o autor desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? É errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década. O Venezuela já viveu outros períodos de alta dos preços do petróleo, sem que a população tivesse tido acesso a mais do que umas magras migalhas do banquete. A marca da gestão chavista é algo que as primeiras gestões municipais petistas defendiam no Brasil e que, lamentavelmente, diluiu-se no lodaçal dos compromissos com as classes dominantes: a inversão das prioridades em favor das multidões oprimidas, ainda que ao preço do confronto aberto contra as elites privilegiadas.
Na Venezuela, os gastos sociais aumentaram de 8,2% do PIB, em 1998, para 13,6% em 2006. Os índices de pobreza caíram de 55,1% para 27,5%. O salário mínimo se elevou numa escala sem precedentes em qualquer outro país do chamado Terceiro Mundo e milhões de venezuelanos passaram a ter acesso a uma infinidade de benesses antes inalcançáveis - desde serviços essenciais, como assistência médica e dentária, aos ícones do consumo descartável, como telefones celulares. Nesse cenário em que a mudança passa do plano da retórica para a existência cotidiana, torna-se fácil entender porque Chávez foi vitorioso em todas as freqüentes consultas eleitorais que promoveu, com apenas uma exceção.

O grande mérito de Maringoni é que ele não se limita a salientar as conquistas do processo político venezuelano, mas também aponta, sem medo de entrar em polêmica com os defensores mais entusiastas do chavismo, os limites do festejado "socialismo do século XXI". Concretamente: após dez anos de "revolução bolivariana", o velho modelo de desenvolvimento dependente latino-americano, erigido com base na exportação de produtos primários (no caso, o petróleo), permanece inalterado. Os ganhos desse modelo, é verdade, passaram a beneficiar, pela primeira vez, a maioria da população, sobretudo depois que Chávez retirou a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) das mãos da camarilha que a controlava, enquadrando a empresa sob o controle público. Mas o caminho ainda está no seu início: "O Estado continua ineficiente, lerdo, corrupto e avesso às interferências populares", escreve o autor.

Mesmo que seja prematuro falar em uma verdadeira revolução na Venezuela, é inegável que o governo de Chávez mudou a face política daquela sociedade e, em certa medida, de toda a América do Sul. A influência venezuelana se faz presente em todo um conjunto de países onde, pela primeira vez, o poder de Estado passa a ser exercido em benefício das maiorias. Como afirma Maringoni, referindo-se à época de ofensiva conservadora mundial pós-1989: "A Venezuela é, com todos os problemas, o país onde mais se avançou, nesse período, na contestação ao neoliberalismo e no questionamento do poder global dos Estados Unidos." Aí reside a explicação para o ódio que Chávez desperta entre os donos da mídia brasileira e internacional. Ele é, de fato, um sapo difícil de engolir.

(*) Igor Fuser é jornalista, professor na Faculdade Cásper Líbero, mestre em Relações Internacionais, doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo e membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato.

"BRASIL FAZ UMA INTERPRETAÇÃO ABUSIVA DO TRATADO DE ITAIPU"


Introdução de Jacob David Blinder
Realizou-se recentemente na sede da FIESP, em pleno coração financeiro da capital paulista, uma reunião de empresários brasileiros e representantes dos governos do Brasil e Paraguai para debater a questão da Hidroelétrica de Itaipu na qual o Paraguai, através do Presidente Fernando Lugo, reivindica mudanças no contrato original, celebrado entre dois ditadores da época o Sr. Augusto Stroessner e e o Sr. Garrastazu Médice, no já longínquo 1973 ou, como alternativa, que sejam feitos alguns acordos bilaterais paralelos que permitam vantagens mais equilibradas entre as partes.
A posição dos representantes do Brasil no debate foi típica de país colonizador, onde entre os vários argumentos utilizados disseram que na construção da grande usina hidroelétrica de Itaipu, o Paraguai deu como contrapartida apenas a água. E todo o resto ficou com os brasileiros. E sendo assim não poderiam reivindicar mais nada – devendo tudo ficar como se encontra agora, sem qualquer tipo de mudança. Os representantes do Paraguai responderam com razão que entraram com o principal (matéria prima) e também com 20% da construção, e que o Brasil não colocou dinheiro próprio no negócio e sim foi apenas o avalista do empréstimo bancário – portanto os recursos financeiros utilizados na obra foram de terceiros. E que se consideram como parte igualitária nesse empreendimento, tanto nos ônus como nos bônus.
E alegaram também, tal como estipula o contrato, que no pagamento da dívida o Paraguai participa com 50% e o Brasil também com 50% e que essa dívida aumenta a cada ano e que já representa várias vezes o que foi gasto na construção da hidroelétrica, já que sobre ela incidem os juros e a correção monetária, nem sempre honestas, pois flutuam de acordo com os interesses do poder econômico mundial. E que será necessária uma auditagem de nível internacional para que ela seja re-avaliada. Ficou claro no debate que o Brasil quer socializar o prejuízo (ou seja, a dívida) e capitalizar as benesses (ou seja, o lucro gerado pela venda da quota de energia que cabe ao Paraguai). E o que é pior: não pretende ceder nem um milímetro nessa situação desfavorável para a Paraguai.
Outro ponto importante tocado pelos representantes do Paraguai é que aceitariam de bom grado serem eles próprios os vendedores de sua quota de energia no mercado brasileiro e que isso poderia ser feito pela ANDE. E nesse caso poderiam vender a energia com preços mais compensadores do que o praticado no atual sistema, que é injusto para a Paraguai pois estão muito abaixo dos preços de mercado. Proposta essa negada pelos representantes do Brasil alegando que tal questão foge ao contrato celebrado na época de sua construção. Tal argumento não é correto, pois o mesmo cita textualmente duas entidades como responsáveis pela comercialização da energia gerada, ou seja cita a Eletrobrás e a ANDE.
Os paises colonizadores sempre procuraram inverter e minimizar as opressões realizadas nos paises colonizados foi assim com os britânicos na Índia e China, com a França no Vietnam e Argélia, com os Estados Unidos em vários paises da América Latina – onde procuraram mostrar suas bondades e esconder as maldades praticadas, entre as quais cito as opressões, as explorações, as mistificações, as tergiversações e, sobretudo, a geração de dependência dos povos dominados a seus interesses econômicos.
Como brasileiro solidário com o grande movimento de mudanças que ocorre na América Latina não concordo com posições colonialistas venham de onde vier e realizadas por quem for e acho que é possível na atual conjuntura haver acordos justos, mesmo que as partes sejam economicamente assimétricas entre si. Basta que para isso se tenha decisão política e se atue de acordo aos interesses do povo e não do grande capital ou oligarquias. O artigo abaixo transcrito e coletado na mídia paraguaia fornece outras informações sobre o tema.
RENEGOCIAÇÃO HISTÓRICA DA BINACIONAL QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2009
"BRASIL FAZ UMA INTERPRETAÇÃO ABUSIVA DO TRATADO DE ITAIPU"
Última Hora Paraguai 28/05/2009
Carlos Mateo Balmelli e Jorge Samek discutiram a portas fechadas por mais de três horas com membros da Federação de Industriais de São Paulo. Não houve consenso e um acordo parece ainda distante.
A negativa do Brasil para que o Paraguai venda diretamente o excedente de energia que lhe corresponde da geração da hidroelétrica de Itaipu é uma interpretação "abusiva" do tratado que regula a binacional, denunciou o diretor paraguaio, Carlos Mateo Balmelli.
Durante três horas, os diretores da Itaipu se reuniram a portas fechadas com integrantes da Federação de Industriais de São Paulo (Fiesp) para debater sobre o Tratado. Ao fim do debate, falaram com a imprensa e ficou demonstrado através das expressões díspares dos diretores que uma possível negociação ou revisão do Tratado está ainda longe de se chegar a um consenso.
À medida que Carlos Mateo Balmelli e Jorge Miguel Samek brindavam seu ponto de vista, davam a impressão de que cada um tinha lido um tratado diferente ao outro. Balmelli defendia uma coisa e Samek outra completamente diferente, sem chegar a um ponto de coincidência.
ENERGIA DE OUTRAS USINAS. Com relação à possibilidade de que a ANDE venda energia ao Brasil, Samek assinalou que pode fazê-lo "sempre e quando não seja a energia gerada em Itaipu". O Paraguai pode comercializar a energia das outras represas que possui, como Acaray e Yguazú, referiu.
Sobre o ponto, Mateo Balmelli apresentou e defendeu a proposta paraguaia diante dos empresários presentes, afirmando que "o que o Paraguai quer fazer está contemplado dentro do Tratado e se recebermos um não, para nós é uma interpretação abusiva do direito que sucede de uma situação de predomínio. Pedimos que sejam respeitados os nossos direitos", apontou. Os empresários convidados pela FIESP apenas ouviram a tese do representante paraguaio e não se manifestaram a respeito. Repetidamente, Mateo Balmelli declarou que não se está mendigando nada e que os tratados devem ser cumpridos de boa fé, e com isso o Paraguai está reivindicando a sua soberania.
NÃO SÓ A ÁGUA. O titular paraguaio da binacional também foi de encontro às acusações de alguns políticos brasileiros que sustentam que o Paraguai só pôs a água em Itaipu, dizendo que nosso país pôs "o essencial", e encarregou-se de 20 por cento das obras civis. 80 por cento ficou em mãos brasileiras e a dívida se paga em partes iguais pelos cidadãos paraguaios e brasileiros.
"A grande riqueza desse empreendimento é a água. O Brasil pôs o aval dos créditos, não é que o Brasil tenha posto sozinho o dinheiro, o Brasil não paga sozinho a dívida, o Paraguai também a paga", afirmou Carlos Mateo Balmelli.
Samek afirmou que o seu país tem prioridade para comprar a energia que o Paraguai não utiliza, já que as instalações foram financiadas pelo Brasil, e que se deve ainda US$ 19.500 milhões à Eletrobrás, soma que será saldada em 2023, ao cumprirem-se 50 anos da assinatura do Tratado. A reivindicação do Paraguai de ter liberdade para vender a parte que lhe corresponde da energia de Itaipu foi uma das bandeiras eleitorais, no ano passado, do atual presidente paraguaio Fernando Lugo.