5 de março de 2010

Diplomacia de aço. - Por Afonso Costa


Monitor Mercantil

A visita da secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton ao presidente Lula prevista para esta quarta-feira (3) não é mera cortesia. É mais uma tentativa de evitar que o Brasil assine acordo de cooperação nuclear com o Irã, de fazer com que nosso governo pressione o presidente da Venezuela Hugo Chávez, ferrenho adversário dos Estados Unidos e, de quebra, fazer propaganda dos F-18, os caças estadunidenses que concorrem com os franceses e os suecos pela preferência nacional.

A visita da secretária, não por acaso, é precedida pela presença do porta-aviões US$ Carl Vinson, ancorado no Rio de Janeiro. O navio carrega armas nucleares, tem mais de 50 aviões de guerra, é acompanhado por dois destróieres, dois cruzadores e dois submarinos, com uma tripulação de mais de cinco mil homens. Não por acaso, o ponto alto da recepção promovida pelo comandante do navio a personalidades brasileiras no último sábado (27), foi a visita aos caças F-18.

Também não coincidentemente, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, Yukiya Amano, declarou na segunda-feira (1º) que “o Irã não coopera suficientemente com a AIEA na investigação sobre as polêmicas atividades de seu programa nuclear”.

Em resposta aos sucessivos ataques desferidos pelos EUA, o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad fez um apelo à paz mundial através da destruição de todas as armas nucleares em nível internacional. Além disso, aceitou a proposta original da AIEA de enriquecer urânio a 20% na Rússia. Essa sugestão, que anteriormente agradava aos EUA, Alemanha, Inglaterra e França, repentinamente passou a não interessar mais.

A pressão dos Estados Unidos contra o Irá é crescente. Em meados de fevereiro, o Departamento do Tesouro ordenou o congelamento em seu país de todos os haveres financeiros de uma série de empresas iranianas, sob a alegação de um suposto envolvimento dessas empresas com a Guarda da Revolução. O subsecretário do Tesouro chegou a dizer que é fundamental “congelar os bens dos que fazem proliferar armas de destruição maciça”.

O que vemos é uma repetição da propaganda e das sanções que precederam a invasão do Iraque, com as conseqüências que são de conhecimento de todos: assassinatos em massa, a ocupação territorial e a partilha das reservas petrolíferas pelas transnacionais, a verdadeira razão do genocídio, pois chamar aquilo de guerra é um atentado à inteligência de qualquer ser humano.

Há de se perguntar quem elegeu os EUA como o fiscal mundial da produção de armas nucleares? Que direito Clinton, Bush e Obama crêem ter para querer fiscalizar e controlar o que cada país faz. Se os Estados Unidos é contra a proliferação de armas nucleares, que comece a dar o exemplo e a destruir as suas.

A pressão estadunidense sobre a Coréia do Norte só não foi mais adiante por causa da China. Seria impensável uma invasão no oriente, pois atentaria diretamente contra os interesses chineses. Da mesma maneira, não é tão tranqüila assim uma invasão ao Irã, tanto pelo seu porte econômico, quanto pelo grande apoio popular que a revolução iraniana que derrubou o xá Reza Pahlevi conta já em 31º ano, bem como pela posição da Rússia, que não a veria com bons olhos e a vetaria no Conselho de Segurança da ONU.

Barack Obama apesar de todo seu discurso de mudanças na campanha eleitoral, continua a beneficiar a indústria armamentista estadunidense e a dar continuidade à política intervencionista e belicista da gestão anterior: apoiou o massacre da Faixa de Gaza promovido por Israel; mantém a ocupação no Iraque para garantir os interesses das multinacionais do petróleo; desencadeou uma nova ofensiva no Afeganistão; pressiona a Coréia do Norte; mantém o bloqueio a Cuba; interveio “sutilmente” em Honduras; constantemente ameaça o Iraque e o Paquistão; sustenta a reativação da IV Frota na costa da América do Sul; firmou acordo para a instalação de sete bases militares na Colômbia; sem esquecer, ainda, das bases no Paraguai, região do Aqüífero Guarani, a maior reserva de água potável do mundo. E, para este ano, encaminhou e conseguiu a aprovação do maior orçamento militar da história dos EUA. Foi assim que ele ganhou o prêmio Nobel da Paz.

Em verdade, o giro da secretária Hillary Clinton pela América do Sul denota a preocupação da gestão Obama e das transnacionais com a autonomia do Irã e de outros países do terceiro mundo, particularmente os do nosso continente.


Afonso Costa
Jornalista

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