31 de maio de 2010

FUNDO DO POÇO:ISRAEL FOI PARCEIRO ATÉ DO APARTHEID


Celso Lungaretti (*)

Em meio a temas palpitantes como o do acordo Brasil/Turquia/Irã que os EUA estimularam e agora torpedeiam, está passando quase despercebida a relevante informação de que Israel não só possui bombas atômicas aos montes, sem qualquer controle por parte de organismos internacionais, como andou tentando vender algumas ao regime segregacionista da África do Sul, em 1975.

E, no fundo, os dois assuntos se completam: que direito tem os EUA de exigirem que o Irã se submeta a uma daquelas revistas policiais em que até os orifícios do corpo são verificados, enquanto um país useiro e vezeiro em barbarizar vizinhos não só dispõe de armamentos que ameaçam a humanidade, como aceita negociá-los com qualquer um?

Ao contrário das novas gerações, que identificam os judeus com as características odiosas que seu estado incorporou, eu conheço bem os belos sonhos de outrora, dos kibutzim ao Bund.

O primeiro era uma experiência na linha do chamado socialismo utópico: o cultivo da terra em bases igualitárias, sem patrão, sem privilégios, sem desigualdade.

Tive jovens amigos de ascendência judaica que falavam maravilhas dos kibutzim, mas, pacifistas, relutavam em ir para um país onde poderiam ser convocados a qualquer instante para batalhas.

O socialismo revolucionário, por sua vez, era representado pelo Bund, a União Geral dos Trabalhadores Judeus na Lituânia, Polônia e Rússia, que estava entre as forças fundadoras do Partido Social-Democrata, tendo participado ativamente das revoluções russas de 1905 e 1917.

O MÉDICO SE TORNOU MONSTRO


Na segunda metade do século passado, entretanto, Israel viveu sua transição de Dr. Jeckill para Mr. Hide. Virou ponta-de-lança do imperialismo no Oriente Médio, responsável por genocídios e atrocidades que lhe valeram dezenas de condenações inócuas da ONU.

Até chegar ao que é hoje: um estado militarizado, mero bunker, a desempenhar o melancólico papel de vanguarda do retrocesso e do obscurantismo.

Ter, ademais, oferecido-se para dotar o apartheid de artefatos atômicos supera a pior imagem que já tínhamos de Israel.

É a pá de cal, a comprovação gritante de que o humanismo não tem mais espaço nenhum no estado judeu. O povo que nos deu Marx, Freud e Einstein hoje produz mas é novos Átilas, Gengis Khans e Pinochets.

Quanto à notícia publicada há poucos dias pelo Guardian londrino e que tantos preferem ignorar, é a seguinte: documentos secretos da África do Sul obtidos pelo acadêmico estadunidense Sasha Palakow-Suransky, além de exporem essa parceria política nauseabunda, constituem prova documental insofismável do programa nuclear israelense, que se sabia existir mas o estado judeu insistia em negar.

O Guardian divulgou inclusive um memorando do então chefe das Forças Armadas da África do Sul, general R. Armstrong, escrito no dia de um encontro entre os respectivos ministros da Defesa, Shimon Peres e Pieter Botha. Nele, o militar diz, de forma cifrada mas nem tanto, que, “considerando os méritos do sistema de armas oferecido [por Israel], algumas interpretações podem ser feitas, como a de que os mísseis serão armados com ogivas nucleares produzidas na África do Sul [grifo meu] ou em outro lugar”.

O NOME DOS MÍSSEIS É "JERICÓ"

Em entrevista publicada nesta 6ª feira (28) pela Folha de São Paulo, o acadêmico Palakow-Suransky rebate a alegação de Shimon Peres, de que sua assinatura não consta das minutas das reuniões:

"...mas ela aparece no documento que garante sigilo para a negociação sobre a venda de mísseis Jericó. Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema foi discutido em uma série de encontros em 1975. As frases usadas para descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de negociação. A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do Estado-Maior, R. F. Armstrong, que detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul, mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em termos concretos. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense como oferta nuclear".

O schoolar acrescentou que há outras evidências de colaboração de Israel com o apartheid:

"As principais são a continuação do projeto dos mísseis Jericó na África do Sul nos anos 80, quando especialistas israelenses ajudaram a construir projéteis de segunda geração para carregar ogivas nucleares; e a venda de 'yellow cake' [concentrado de urânio] da África do Sul para Israel em 1961".

E avalia que suas revelações não são a principal evidência disponível de que Israel possui arsenal atômico:

"As fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense condenado por traição] em 1986 são muito mais definitivas. O significado dos documentos não é provar que Israel tem armas nucleares, o que o mundo todo sabe há décadas. A notícia aqui é que a possível transferência de tecnologia nuclear foi debatida no alto escalão".

E, acrescento eu, a notícia é que Israel se dispôs a transferir tecnologia nuclear para um dos regimes mais execráveis e execrado do planeta. Dize-me com quem andas...

Também me chocou constatar que a aprazível "cidade das palmeiras" do Velho Testamento, onde os judeus recompuseram suas forças depois da escravidão, agora serve para nomear as armas do Juízo Final.

É um simbolismo bem apropriado para sua travessia negativa, que parece não ter fim, no sentido da desumanidade.

*Jornalista e escritor, mantém os blogues
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

Comunicado das FARC: 46 anos batalhando por uma nova Colômbia



Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP/Montanhas de Colômbia;

“Há quarenta e seis anos que a oligarquia mais reacionária, sanguinária, terrorista e submissa à estratégia imperialista dos Estados Unidos na Colômbia, decidiu empurrar a nação ao terrível caminho da guerra, fazendo ouvidos surdos às milhares de vozes que clamavam pelo imperativo do diálogo e das saídas políticas ao invés das agressões militares contra os camponeses de Marquetalia. O poder da violência e do terror foram agitados na colérica e provocadora palavra do senador Álvaro Gómez Hurtado, que nunca foi à guerra ainda que, deslumbrado pelo terror das falanges franquistas na Espanha, preparou o terreno, sobre mentiras, para justificar o novo ciclo de violência como metodologia para arrasar a oposição política.

A demência do poder decretou poucas semanas para arrasar a resistência encabeçada pelo maior e mais firme comandante guerrilheiro de todos os tempos, Manuel Marulanda Vélez e seu nascente Estado Maior com Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando Gonzales, Joselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos e Jaime Guaracas que, junto aos demais corajosos camponeses que não ultrapassavam 46 vontades, enfrentaram o terror bipartidário representado no excludente pacto da Frente Nacional, que engendrou esta guerra que já dura meio século.

Desde o início da campanha oligárquica e militarista, auspiciada e planejada pelo imperialismo para justificar o terror contra o movimento agrário de Marquetalia e Riochiquito, até o dia que iniciaram a agressão, nossa voz, junto à de muitas organizações e personalidades nacionais e internacionais, vibrou de sensatez propondo saídas incruentas e construtoras de democracia, de desenvolvimento humano, de fortalecimento da produção alimentária, de equilíbrio ambiental, de reconhecimento à cosmovisão das comunidades indígenas e negras e de participação equitativa na produção e distribuição da riqueza. Mas a cegueira do poder da oligarquia criolla e sua postura de joelhos ante as migalhas do amo imperial, desqualificou e silenciou essas vozes. Seu conto tem sido o enriquecimento, a qualquer preço, a base do terror e do roubo.

As FARC-EP, nascemos empurradas pela intolerância, exclusão e perseguição violenta das castas que ostentam o poder e estabelecem os governos; “temos sido vítimas da fúria latifundiária e militar, porque aqui, nesta parte de Colômbia, predominam os interesses dos grandes senhores da terra e os interesses acorrentadores da reação mais retrógrada do país. Por isso nos tocou sofrer na carne e no espírito, todas as bestialidades de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros entroncados ao imperialismo.” manifestamos no Programa Agrário. Não inventamos esta guerra, nem fomos a ela como aventura para homologar epopeias redentoras da pobreza; assumimos com dignidade e seriedade o destino político que lhe impôs o abominável poder oligárquico à nação, como destacamos naquela época no Programa Agrário: "somos revolucionários que lutamos por uma mudança de regime. Mas queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas 'Repúblicas Independentes' e como somos revolucionários que de uma ou outra maneira jogaremos o papel histórico que nos corresponde, nos tocou buscar a outra via: a via revolucionária armada para a luta pelo poder".

Assim foi que os potentados do terror nos transformaram em combatentes de resistência que a sabedoria do povo tem nutrido neste quase meio século de ação pela dignidade, a paz e a soberania. Crescemos ao calor da batalha político-militar, aferrados ao legado histórico que nos deixaram as comunidades indígenas na resistência contra o invasor espanhol; as lutas contra esse mesmo poder por negros e cimarrões; o levantamento guerrilheiro dos comuneiros com José Antonio Galã, Lorenzo Alcantuz e Manuela Beltrán; os forjadores das mobilizações pela primeira independência do colonianismo Espanhol há duzentos anos com Dom Antonio Nariño; e ao fogo patriótico e soberano que nos irradia o pensamento e o exemplo do libertador Simón Bolívar. Florescemos na experiência dos guerrilheiros dos mil dias, já nos novecentos, contra o “regenerador” Rafael Núñez. Reafirmamos a luta contra a barbárie, agitando como bandeira a memória dos assassinados pelo exército oficial a serviço do imperialismo no massacre das bananeiras no dia 6 de dezembro de 1928 em Ciénaga, estado de Magdalena e na comprometida lembrança com todos os lutadores vitimizados pelo Estado e suas estruturas paralelas para o terror. Mas também crescemos com a crítica, o reconhecimento, o abraço, o amor e a ternura de uma importante multidão de compatriotas que nos alentam com seu próprio sacrifício na luta por transformar o modelo econômico e os costumes políticos implantados.

Nestes 46 anos de árdua luta, crescemos em razões e em nosso compromisso de luta com cada vez mais camponeses sem terra por deslocamento forçado, que já ultrapassam a infame cifra dos 4 milhões de refugiados internos devido ao terror paraestatal; com os milhões de sem teto e com os mais de 20 milhões de pobres que se esforçam para romper o império da desigualdade; com os mais de 20 milhões de desempregados condenados ao “jeitinho”; e compromisso com os milhões de jovens que não têm acesso à educação; com a memória de todas as vítimas do terrorismo de Estado em todos estes anos de terror e que dia a dia clamam justiça, assim como os mais de 2.500 assassinados pela força pública e apresentados baixo o eufemismo de “falsos positivos” neste governo de Uribe Vélez; com as mulheres que tecem esperanças de igualdade ante uma violência que lhes oprime e nega possibilidades de vida digna. Crescemos no fragor do combate e na experiência organizativa ante cada arremetida militarista e ante cada ciclo por desqualificar-nos e exterminar-nos. O Plano Colômbia não tem diminuído nossa fortaleza, nem nossa moral; fracassou ante as inocultáveis razões do levantamento e pelo violento autoritarismo que sustenta a política de segurança desse governo que termina; estatelou-se pela mentira, o crime e a corrupção que constituem sua verdadeira natureza.

A escalada militar imperialista em nossa pátria também fracassará ante a capacidade de luta e resistência da insurgência e a mobilização de nosso povo. A defesa da soberania pátria é um imperativo neste tempo de reverência oligárquica ante os interesses do governo estadunidense.

Nossa disposição a construir caminhos de paz é um compromisso de sempre: pela saída política nos lançamos com seriedade, com ponderação, sem ilusões às maiorias nacionais, sem politicagens, sem malícia em todos os cenários. Assim foi com o governo de Belisario Betancur e Virgilio Barco na Casa Verde, ou em Caracas e Tlaxcala com Cessar Gaviria, ou na última tentativa em Caguan com Andrés Pastrana. Mas a excludente minoria de políticos, empresários, latifundiários e narcotraficantes que ostentam o poder, têm armado carapuças para posicionar seus interesses, só têm procurado abrir espaço para recompor suas estruturas de repressão estatal sob ordens e financiamento do império; como a implementação do fracassado Plano Colômbia para impossibilitar qualquer avanço da paz democrática e impor a linguagem do terror e a chantagem para desqualificar os movimentos de resistência e libertação nacional, bem como desestabilizar a região diante dos ventos de mudança e soberania que acompanham o continente.

O governo que agoniza, prometeu o aniquilamento das FARC-EP, como uma irrefutável estratégia de manipulação mediática da opinião, para manter-se de todas as formas no poder. E com seu extravagante autoritarismo ocultar seus crimes, seus vínculos com o narcotráfico e o paramilitarismo, bem como a corrupção que fervilha por todos os cantos do palácio presidencial. Jamais se apagará da história colombiana este período escuro e letal do fátuo potentado que culmina seu governo com uma profunda crise estrutural e com mais de 100 membros de sua bancada parlamentar comprometidos com a parapolítica, a iídiche-política e a feira dos cartórios. Isso além dos escândalos fraudulentos como Carimagua, Agroingreso Seguro; os decretos de emergência social; as zonas francas para incrementar o patrimônio familiar; as perseguições e grampos ilegais do DAS a opositores, sindicalistas e ativistas de direitos humanos; a perseguição às cortes; as reuniões palacianas com narcotraficantes; a obsessão cega por impor um promotor de bolso; a agressão ao território dos países irmãos violando todas as normas do direito internacional; a ameaça a jornalistas independentes; os “falsos positivos” e a entrega do território nacional para a operação de forças militares de ocupação norte-americanas.

O debate eleitoral que culmina seu primeiro turno neste 30 de maio, está marcado pela intolerância e a pugnacidade que impôs a autocracia Uribista. As propostas, programas e compromissos com a nação têm sido substituídos pelo ataque grotesco e vulgar, pela propaganda obscura em um esforço desmedido por apresentar a um ou outro dos candidatos como uma opção mais reacionária e autoritária que a caracterizada pelo mandatário que sai. Todos se esforçam para demonstrar submissão ante o império, assumindo posições chauvinistas contra os vizinhos e com o joelho no chão frente ao império do norte, como afirmou Gaitán. Ninguém tem proposto debater os temas vitais que mantêm a nação no profundo abismo das desigualdades e do terror. Todos em coro prometem mais despesa militar e mais guerra. É escuro o horizonte que traçam estes aspirantes e por estas razões estamos convocando à abstenção, convencidos que só a força da mobilização de todos os colombianos poderá impor um destino verdadeiro de paz e de justiça que devolva os prisioneiros de guerra a seus lares, que libere os guerrilheiros e os milhares de presos políticos que apodrecem nas prisões do Estado, reconcilie e reconstrua a Colômbia. Só a luta organizada das maiorias levantadas há duzentos anos, para lançar o segundo grito por nossa definitiva independência, devolverá a terra para produção camponesa, resolverá a crise ambiental que gera constantes desastres naturais a mudança de estação e a crise alimentária que mata a nação. E solucionará definitivamente o drama dos refugiados, garantirá o acesso à educação em todos os níveis, à saúde integral, à moradia digna, ao emprego bem remunerado e asseguraria o exercício pleno e integral dos direitos humanos. Só a unidade de todos os revolucionários e democratas da pátria, mobilizados junto às grandes maiorias, nos permitirá tirá-la da horrível noite em que a deixou abatida o Uribismo e eximir a geração do bicentenário.

Neste 46º aniversário, ratificamos nosso compromisso com a pátria grande e o socialismo, com a paz democrática como condição essencial para a reconstrução e reconciliação de todos os colombianos. Com a memória viva de todos os lutadores por uma nova Colômbia, com a força moral do pensamento de Bolívar, Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Raúl Reis, Iván Rios, e Efraín Guzmán, as FARC-EP dedicamos todos nossos recursos humanos pelo acordo humanitário e a paz da Colômbia.


Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

"TODO MUNDO CALE A BOCA"-Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio a Gaza

Soldados israelenses atacaram na madrugada desta segunda-feira a chamada "Flotilha da Liberdade", um grupo de seis navios que transporta mais de 750 pessoas com ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, deixando ao menos 19 mortos e 36 feridos, segundo o Canal 10 da televisão israelense.

A imprensa da Turquia mostrou imagens captadas dentro do navio turco Mavi Marmara, nas quais se viam os soldados israelenses abrindo fogo. Em contato telefônico ao vivo com os navios, membros do comboio humanitário, que é formado em sua maioria por ativistas turcos, informaram que os comandos israelenses abordaram os navios, dispararam com fogo real para reprimir os tripulantes, apesar de estes terem mostrado bandeiras brancas.

Efe
Israelenses portam cartaz em apoio à Faixa de Gaza, em Ashdod, próximo ao território ocupado


O comboio de ajuda internacional é composto por seis navios, três deles turcos, e transporta dez mil toneladas de ajuda humanitária, com o objetivo de romper o bloqueio sofrido pela Faixa de Gaza.

Segundo a mídia turca, o ataque aconteceu em águas internacionais por volta das 4h (horário local, 22h de Brasília do domingo). As autoridades turcas tentaram entrar em contato com o navio Mavi Marmara, mas não conseguiu. Os canais de televisão turcos mostraram imagens ao vivo do ataque até as 5h local, mas então a conexão foi interrompida.

Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros. As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.

A TV Al-Jazeera, do Catar, relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão. A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: "Todo mundo cale a boca!".

O Ministério de Assuntos Exteriores da Turquia tentou ligar para Israel várias vezes desde a partida da frota desde a Turquia para pedir que não interferisse em seu objetivo. Agora se espera que a diplomacia turca dê uma resposta e se abra um novo capítulo nas críticas relações entre Turquia e Israel, que ficaram abaladas desde o ataque israelense à Faixa de Gaza entre 2008 e 2009.

Em Istambul, centenas de pessoas se concentraram na frente do Consulado de Israel e tentaram entrar nele, mas foram impedidos pela polícia.
Posição de Israel

"Certamente lamentamos as vítimas, mas a responsabilidade pelas vítimas é deles, daqueles que atacaram os soldados israelenses", assinalou o número dois do Ministério de Exteriores israelense, Daniel Ayalon - do mesmo partido do chanceler Avigdor Lieberman - em entrevista coletiva do Ministério de Exteriores em Jerusalém.

Em comunicado, o Exército israelense assegura que dois "ativistas violentos sacaram os revólveres" de suas tropas "e aparentemente abriram fogo contra os soldados, como provam os cartuchos vazios dos revólveres".


Na entrevista coletiva, Ayalon disse que seu país "fez todo o possível para deter" a frota, mas seus integrantes "responderam inclusive com armas". "Nenhum país soberano toleraria essa violência".


Além disso, ele assegurou que "os organizadores" - em referência à ONG turca IHH, um dos diversos grupos que participavam da iniciativa - tem "estreitos laços" com "organizações terroristas internacionais", como a rede Al Qaeda.


Ayalon pediu que "todos os países trabalhem juntos para acalmar a situação" e que não sejam "pessimistas demais" sobre as consequências que possa ter a operação nas relações diplomáticas de Israel com outros Estados.

Repercussão

Ismail Haniya, chefe de governo em Gaza e líder do Hamas, convocou os palestinos ao redor do mundo a protestar contra o ataque israelense. "O governo decidiu nomear o dia 31 de maio como o 'dia da liberdade'. Exigimos que a Liga Árabe haja para impedir o cerco a Gaza", afirmou Haniya.
"Dizemos a esses heróis que a essência de seu sangue chegou a nós antes do que a ajuda prometida", concluiu.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, convocou uma reunião de emergência para amanhã (01/6), no Cairo. "O ataque claramente demonstra a natureza agressiva de Israel e seu desrespeito com as leis e regras internacionais".

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos. "O que Israel cometeu contra os ativistas da 'Frota da Liberdade' é um massacre", disse Abbas.

Um dos principais assessores de Abbas, o chefe negociador palestino Saeb Erekat, qualificou o fato de "crime de guerra" que "confirma que Israel age como um Estado acima da lei". Ele pediu uma resposta "rápida e apropriada" da comunidade internacional.

"Eram embarcações civis, que levavam civis e bens civis - remédios, cadeiras de rodas, comida, materiais de construção - para os 1,5 milhão de palestinos fechados por Israel. Muitos pagaram com suas vidas. O que Israel faz em Gaza é horrível, nenhum ser humano esclarecido e decente pode dizer algo diferente", apontou Erekat.

O ministro de Exteriores francês, Bernard Kouchner, condenou o ataque israelense. Após declarar-se "profundamente" horrorizado pelas trágicas consequências da operação, o chefe da diplomacia francesa expressou condolências às famílias e amigos das vítimas.

"Não entendemos o balanço humano, ainda provisório, dessa operação contra uma iniciativa humanitária conhecida há vários dias", acrescentou.

Opera Mundi

O MOMENTO DO ATAQUE



CENAS DO MASSACRE





FONTE: PCB - COMITÊ SÃO GONÇALO

28 de maio de 2010

Quanto vale a luta? O que se conquistou? O que se aprendeu? O que não se conquistou? Quanto vale...?

Não adianta fugir a regra, pois quando se termina ou suspende um movimento grevista ou qualquer outro movimento de reivindicações de classe, essa é a questão que sempre norteia nossas avaliações e opiniões.

Há aqueles que irão se prender ao imediato, ou seja, reivindicamos X, lutamos Y e ganhamos Z.

Há aqueles que irão relevar os pontos positivos frente a situação que se tinha antes e aqueles que irão repetir as mesmas “receitas de bolo” dos bolcheviques de plantão, de que a estratégia foi errada, de que há crise na direção ou de que essa luta é limitada e não adianta mais.

Eu diria que todas as questões podem estar certas ou erradas dependendo do ponto de partida da análise que se pretende fazer.

É incontestável que essa foi a maior greve do movimento sindical em Minas dos últimos 15 anos e inegável a disposição que a categoria dos trabalhadores (as) em educação manifestaram ao longo de 47 dias de luta e diga-se de passagem só quem não esteve na greve ou não é trabalhador é que ignora o que isso significa em um contexto onde o que reinava era a mais profunda apatia e desilusão com o sindicalismo e a luta política.

Para aqueles que só enxergam o momento presente e não compreendem que a vida é um processo dinâmico, dialético e às vezes flexível, que passa por etapas muitas das vezes imperceptíveis aos olhos dos mais desatentos ou precipitados, a não realização da nossa pauta de reivindicações é o coroamento do fracasso do movimento ou da falência da luta direta das massas.

Não se trata agora de fazer um balanço apenas do resultado financeiro restrito e isolado, mas do rico e fértil processo que esse movimento instaurou em nossa categoria.

Há cerca de oito anos, na greve de 2002, uma triste história teve seu ápice na traição que a direção do Sind- UTE operou contra a categoria que estava em Greve contra o então governo Itamar Franco, aliado de LULA nas eleições daquele ano.

Em uma assembléia histórica e com cerca de 10 mil pessoas, a Direção do sindicato ofuscada pelo processo eleitoral capitulou as pressões externas do PT e golpeou a todos com a decretação do fim de nossa greve. Foi uma revolta total e oito longos anos de ressaca de um processo que deixou marcas e desconfianças em nossa categoria.

Passado todo esse período as coisas não ficaram imóveis.

Nossas condições de trabalho ficaram cada vez mais precarizadas, por sua vez novos profissionais chegaram enquanto outros saíram e até o mais improvável aconteceu, uma ruptura interna no seio da Articulação Sindical forçando o grupo vitorioso a mudar o status quo reinante para se requalificar frente a sua base, com o resgate de discursos e ações abandonadas com o tempo.

Soma-se a isso uma pitada de humor político- eleitoral e temos todas as condições de se iniciar uma nova etapa no movimento.

Mas auto lá, vamos devagar... Principalmente aqueles que são mais afoitos. Uma nova etapa não significa que mudou tudo de vez ou que haverá um progresso contínuo, retilíneo e uniforme.

Estou falando que após todo esse rico processo que vivenciamos e que nos tirou do ostracismo político e que educou as massas que se lançaram ao campo de batalha, um novo e profícuo espaço se abriu entre nós e cabe agora àqueles que não se iludem com o economicismo sindical e que tem um compromisso com a luta para além do capital, explorar as oportunidades de reconstrução do movimento sindical na área da educação em nosso Estado.

A categoria dos trabalhadores (as) em educação, talvez sem ter a consciência disso, deu o maior exemplo de resistência e luta para o conjunto dos trabalhadores desse país e mesmo ressaltando essa convicção com uma pontinha de orgulho por ter participado desse movimento, faço-o com a mais absoluta serenidade após passar o furor das emoções e o contagio do calor impetuoso das massas.

Que categoria em tempos de abandono da luta classista e independente, no gozo mais requintado do modo de vida pós-moderno, individualista e sem utopias, cercada de aparelhos ideológicos e alienantes por todos os lados, poderia surpreender e suportar todo o arsenal do aparato do Estado burguês, que implacavelmente desferiu toda a artilharia que possuía contra os grevistas e a cada ataque a resposta era a adesão, a persistência e a luta?

E não estou falando aqui do trivial que lançam contra qualquer categoria que perturba a ordem burguesa, ou seja, a imprensa pusilânime, safada, mentirosa e imoral, a repressão policial ou a Justiça tendenciosa que nos colocou na condição de bandidos e fora da lei.

Estou falando de cortes de salário sobre pais e mães de família que mesmo na miséria não recuaram um milímetro sequer, estou falando de pessoas que não tem a educação como bico e que mesmo com a ameaça de desemprego evidente e as angústias e incertezas que isso trazia, mantiveram-se firmes e decididas a irem até o final.

Estou falando de uma massa de trabalhadores em assembléia ( cerca de 15 mil) que quando a Direção do sindicato, temerária e vacilante frente as ameaças do Governo, quis por fim a Greve em 18 de Maio, não vacilou e nem tremeu na base, atropelando o medo e a indecisão da Articulação com um sonoro coro de vozes e punhos cerrados em toda a Praça: GREVE, GREVE, GREVE, GREVE!!!!

A cada porrada do Governo , um saia do movimento, mas dois ou mais aderiam, a cada ataque desesperado a resposta era a indiferença dos grevistas a mesma que o Governo Aécio nos tratou durante todo esse tempo.

Já não tínhamos mais nada a perder, a não ser os grilhões que nos acorrentavam ao medo, a apatia, a mediocridade, a falta de amor próprio, ao ostracismo político e a cegueira de classe.

Se agora me perguntarem quanto valeu essa greve, eu direi sem dúvidas que valeu o aprendizado que tivemos e o resgate do sentido de nossa luta. Que, diga-se de passagem, não tem preço!

Se me perguntarem o que conquistamos de fato, direi que conquistamos o direito de sonhar de novo, de se rebelar de novo, de viver de novo, pois rompemos a barreira do lugar comum que tanto o sindicalismo acomodado e bem comportado, quanto a ideologia da conciliação de classes nos diz para seguir sem questionamentos.

A aula de resistência e luta que nossa categoria deu nas ruas e praças de Minas Gerais a fora, ecoaram por todo o país e hoje tem motivado a outras categorias do nosso Estado a se mobilizarem e saírem do mundo das sombras na qual elas se encontram.

É muito simplório e idealista talvez, querer dizer que saímos derrotados...

-Ledo engano!

Em todos esses 20 anos como militante eu nunca assisti uma categoria, mesmo dividida ao meio quando da votação da continuidade da greve, continuar em sua grande maioria junta e unida, esperando o desfecho final da assinatura do acordo que suspendeu nosso movimento.

O nosso retorno para as salas de aula não foi de cabeças baixas com o rabo por entre as pernas como vivenciei muitas vezes em minha vida.

De cabeças baixas e com os rabos por entre as pernas estavam meus tristes e ignóbeis fura greves que não conseguiam esconder o constrangimento de tanta covardia e mediocridade.

E olha que muitos nem agradeceram a conquista do concurso público que agora vão poder fazer graças ao nosso movimento e quem sabe saírem da triste condição de designados/ resignados!

E confesso que só desfiz meu sorriso e alegria ao voltar de cabeça erguida para a escola, quando fui recebido com aplausos por um grupo de alunos do EJA, por serem trabalhadores e sentirem na pele o que é ser explorado dia a dia como escravo. A essa manifestação de solidariedade inesperada não respondi com sorrisos...

-Chorei copiosamente, abraçado a eles (as).

Se não conquistamos tudo o que merecíamos e tendo o gostinho de que poderíamos ter ido mais longe, se não fossem as vacilações da Direção do sindicato, o sentimento de resgate da identidade de classe, da autonomia sobre sua profissão, da coragem e da ousadia realimentou de vida e esperança uma categoria que era julgada como moribunda ou morta, sem respeito e que não protagonizaria mais nada no cenário político desse Estado.

Para aqueles que viveram a Greve intensamente, para aqueles que sentiram os impactos de nossas manifestações nas ruas de Minas e foram forjando em seu ser social uma nova consciência, para aqueles que mudaram o eixo da triste sina ao qual estávamos errantes, não é preciso dizer que valeu muito a nossa luta e que frente à etapa na qual nos encontrávamos anteriormente a luta da classe trabalhadora em geral saiu vitoriosa dessa greve.

Sem receio do que vou dizer, construímos na história de nosso movimento, uma nova etapa política, que se iniciou quando a indignação e a esperança venceram o medo e o imobilismo. E esta etapa está aberta e cheia de possibilidades àqueles que desejam reconstruir o sindicalismo classista, independente e combativo em nossa categoria.

Dezenas de novos militantes surgiram nessa Greve, centenas de trabalhadores voltaram seus olhos para o papel de nossa categoria no cenário sindical e político desse Estado ou retornaram ao movimento depois de tantas desilusões e traições de classe e milhares de profissionais, mesmo que decepcionados com a condução da Greve em sua reta final perceberam a força de mobilização que ainda possuímos.

Não podemos enquanto marxistas, avaliar um movimento de massas apenas pelo seu aspecto reivindicatório e economicista, ou subjugar a pujança desse movimento e todas as suas variantes, por este não ter conseguido maiores vitórias ou não ter chegado aos céus e tomado o poder das mãos da burguesia!

A cada etapa, um processo diferente, a cada processo uma análise à luz do que havia antes e das mudanças que se manifestaram e transformaram a realidade objetiva e subjetiva e a cada mudança o entendimento do que estava em contradição e do que surgiu dessa contradição e se instaurou como o novo ou como a possibilidade do novo.

Sem isso companheiros(as) fica difícil querer fazer uma análise bem feita de nossa Greve, ou de qualquer movimento de massas que se coloque em oposição ao sistema capitalista, mesmo que lutando contra aspectos isolados desse sistema, como é o caso da luta econômica.

No nosso caso, quando a Justiça do Trabalho julgou nossa Greve ilegal e nos colocou na ilegalidade, rasgando a Constituição, passando por cima do Direito de Greve e penalizando a categoria com multa e ameaça de demissões, a Greve da educação assumiu naquele momento um simbolismo nunca antes evidenciado em nosso Estado. Pois já não se tratava mais de uma Greve salarial e contrária ao Governo do PSDB, mas uma Greve de dimensões maiores, pois nossa desobediência à ilegalidade da Justiça e a Magistratura subserviente representava todo o sentimento de resistência do conjunto do funcionalismo do Estado e mesmo do Brasil.

Não podemos nos esquecer que o ex-grevista e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, apoiava naquele mesmo momento a decisão do STJ de decretar a ilegalidade da Greve dos Funcionários do IBAMA que se viram constrangidos a recuarem e terminarem o movimento.

Sem dúvidas há muito ainda o que se superar, tanto em nossa estrutura sindical, quanto em nossas táticas de luta e organização, tanto em nossas concepções, quanto em nossas debilidades e vícios... Mas é inegável que após a Greve de 2010 dos educadores de Minas Gerais, uma “nova” lição todos nós reaprendemos na escola da luta de classes:

Só com a luta se muda a vida e só vive de fato aquele que ousa lutar.

Fábio Bezerra.

(Trabalhador em educação, membro do comando de Greve e da INTERSINDICAL- MG).

Reflexões de um comunista italiano sobre o KKE (Partido Comunista Grego)

No dia 2 de julho de 2006, milhares de membros e simpatizantes do Partido Comunista da Grécia (KKE) e da Juventude Comunista da Grécia (KNE) reuniram-se na cidade de Likorakhi, situada no coração da cadeia de montanhas Grammos, para participar da cerimônia de inauguração de um memorial em comemoração aos 60 anos da fundação da Armada Democrática da Grécia (ADG) e homenagear os milhares de militantes que sacrificaram suas vidas em três anos de guerra civil (1946-1949), na luta contra a reação local e o imperialismo anglo-americano.






Reflexões de um comunista italiano sobre o KKE (Partido Comunista Grego)

Por Fosco Giannini, membro da direção nacional do Partido da Refundação Comunista

Como parte dessa pequena homenagem que nosso sítio faz, acertadamente, ao Partido Comunista da Grécia (KKE), gostaria de acrescentar somente algumas pequenas notas: no início dos anos 90, eu fui - enquanto membro do Departamento Político Estrangeiro do PRC e responsável pelas relações com as forças comunistas e a esquerda européias - ao Congresso do KKE, o Congresso consecutivo à cisão de direita do Synapsimos. Foi um Congresso difícil: a cisão do Synapismos, conduzida por Maria Damanaki, sobre as posições filosóficas "occhettiennes" (de Attilo Occhetto, liquidacionista do PCI em 1991) e voltado para a superação da autonomia comunista e a transformação do KKE em um "Partido de Esquerda" (o eterno retorno, pode-se dizer, se permanecemos dentro do espírito helenista e pensando sobre o que acontece há décadas na Itália, de “Bolognina" de Occhetto à conteporânea Vendola e a seus partidários no seio da própria RPC, passando por Bertinotti) havia criado problemas importantes para o KKE que rapidamente é contornado, principalmente devido a um amplo e profundo enraizamento, em particular entre a classe operária e os trabalhadores rurais.

No Congresso, o que me impressionou, entre outras coisas, foi uma frase do camarada Thanassis Papariga (então editor-chefe da Rizospastis, jornal do KKE e grande homem de espírito – que infelizmente faleceu - e marido da secretária geral do KKE, Aleka Papariga) que me disse: "Faz tantos anos que não víamos um camarada italiano que nós pensamos que você fosse uma invenção da CIA"

De fato, o PCI dos anos 80 (todo ocupado pelo eurocomunismo e, em seguida, pelas relações privilegiadas com as sociais-democracias de Willy Brandt e Olof Palme) teve muito diluídas - como aconteceu posteriormente com o PRC - suas relações com o KKE, considerado, tanto pelo PCI dos últimos anos como pela futura Refundação, demasiado "ortodoxo", pouco inclinado a inovações (de Occhetto, de Damanaki, Bertinotti ...)

Hoje, nós nos confrontamos com um paradoxo (aparente): os partidos do eurocomunismo ou culturalmente provenientes dele (italianos, franceses, espanhóis) que esnobaram e previram um fim iminente para os partidos comunistas ortodoxos "marxistas e leninistas (português e grego principalmente) têm hoje, pouco mais que um sopro de vida, estão à beira da extinção. Enquanto os camaradas gregos, portugueses, chipriotas e tchecos (apesar da "Lustration") estão indo bem, estão crescendo em termos eleitorais e à frente das lutas anticapitalista e anti-imperialistas (pois a luta travada pelo KKE contra a União Europeia é deste tipo).

Sobre esse aparente paradoxo, ele deverá refletir, sobretudo sobre uma questão central: o abandono e a liquidação do patrimônio teórico, histórico e político do movimento comunista ajuda realmente a reviver uma estratégia anticapitalista e anti-imperialista eficaz e consequente ou ela traz mais o declínio e dissolução da cultura e da prática da esquerda moderada? Comparado com o que a história nos ensina, a resposta parece óbvia...

Também deve ser dito que a capacidade diária de luta do KKE (que, como vemos, obtém rapidamente a simpatia dos jovens, dos trabalhadores e dos movimentos anti-Maastricht, anticapitalista e anti-imperialistas de toda a Europa) não vem do nada, não aparece de repente. Esta capacidade de luta (luta de massas, muito diferente do radicalismo sectário e dos extremismos, que os camaradas gregos rejeitam), o KKE a encontra em sua própria história, uma história marcada pela grande e heróica tentativa revolucionária do pós-guerra (quando o KKE tentou - apesar de Yalta - a tomada revolucionária do poder, pondo a duras provas o exército britânico de ocupação, chegando com os seus partidários armados e suas bandeiras vermelhas, quase tomou o centro do poder, que é Atenas, mas pagando, contudo, um tributo enorme de sangue: 300 mil comunistas mortos na luta revolucionária e de libertação nacional); uma história marcada pela luta corajosa contra os coronéis gregos que, em conluio com o governo norte-americano e com a CIA, conseguiram, em 21 de abril de 1967, seu golpe de Estado e lançou uma repressão antitrabalhista, antipopular e anticomunista; uma históra, a dos comunistas gregos, marcada pela resistência - política e teórica - aos profundos movimentos anticomunistas "Gorbachovistas" à deriva, consecutivos ao fracasso da "perestroika" e ao colapso da URSS. Uma história marcada- também nos últimos quinze anos - pelo fato de que o KKE encabeçou grandes lutas trabalhistas e camponesas que ocorreram (aquelas das últimas semanas não são, naturalmente, as primeiras) na Grécia contra as políticas hiper-liberais de Maastricht e contra as guerras imperialistas no Iraque e na Iugoslávia

Se hoje os camaradas gregos que, depois de ocupar a Acrópole, podem mandar uma mensagem de esperança e de luta para os povos da Europa e podem ser ouvidos por eles; se agora eles podem oferecer a todos os povos e trabalhadores europeus uma leitura da União Europeia bem diferente da visão conciliadora manifestada pela esquerda comunista italiana, e podem dizer – e ser ouvidos - com base em fatos e nas duras condições do povo grego, do “neo-imperialismo europeu"; se eles podem varrer as nuvens da desconfiança que tinham coberto o PCI nos últimos anos – que sentiu o "occhettisme", do PDS, do PRC e de uma certa “nova esquerda” européia, é porque o KKE resistiu aos anos muito difíceis da contra-revovução consecutiva a 1989, e aos gritos do "transformismo" da esquerda, nesse momento, pelas lutas e autonomia política e cultural, pela sua credibilidade no movimento operário grego e seu enraizamento social."

1 Mardi 11 mai 2010

Traduction AC pour http://solidarite-internationale-pcf.over-blog.net

25 de maio de 2010

Sonho e realidade na América do Sul*


Sonho e realidade na América do Sul*

ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES**

UMA DÉCADA se passou desde que o Brasil tomou a iniciativa de convocar, em Brasília, a 1ª Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada no ano 2000. Quase oito anos depois, em maio de 2008, o presidente Lula recebeu os chefes de Estado da região para a assinatura do tratado que fundou a União Sul-Americana de Nações (Unasul).

Para quem hoje observa a intensidade da agenda regional, é difícil imaginar que, até há pouco, os líderes do continente jamais tivessem se reunido. Dez anos atrás, a articulação da América do Sul não passava de um sonho. Hoje, é uma realidade concreta.

As estatísticas comprovam o sucesso da integração sul-americana. Desde o ano 2000, o comércio total do Brasil com a região passou de US$ 22 bilhões para US$ 63 bilhões. Em 2002, nossas exportações para os vizinhos somaram US$ 7,5 bilhões.

Em 2008, alcançaram 38,4 bilhões: um aumento de 412%. Em 2009, o índice de bens industrializados nas exportações brasileiras para a região alcançou cerca de 90% -vendemos, na nossa vizinhança, bens de alto valor agregado. Essas mercadorias geram renda e empregos com carteira assinada para milhões de brasileiros.

A presença das empresas brasileiras na América do Sul é crescente e tem transformado a infraestrutura de países vizinhos, com a construção de estradas, aeroportos, hidrelétricas, petroquímicas. Para apoiar esse esforço, o Brasil financia parte dos projetos, sobretudo por meio do BNDES.

O total de financiamentos em 2009 chegou a US$ 8 bilhões para a América do Sul. Cerca de US$ 3,1 bilhões referem-se a projetos em execução ou já concluídos, e outros US$ 4,9 bilhões, a projetos já aprovados.

São obras que ajudam a economia brasileira e contribuem para o desenvolvimento dos países da região. Os investimentos diretos das empresas brasileiras também têm crescido.

Na Argentina, por exemplo, o estoque total é estimado em US$ 8 bilhões. A América do Sul é o espaço primordial para a transnacionalização das empresas brasileiras.

Nem ingenuidade nem ideologia explicam a vertente sul-americana da política externa brasileira. Por ser o Brasil a maior e mais diversificada economia da região, é inevitável que o país exerça o papel de propulsor da integração. Solidariedade não é sinônimo de ingenuidade.

Porque queremos abrir mercados na América do Sul, interessa-nos que nossos vizinhos também sejam cada dia mais prósperos.

O Brasil deseja que a prosperidade e a justiça social se espalhem pela América do Sul. A política solidária não é incompatível com a busca de nossos legítimos interesses.

Um Brasil que contribui para a prosperidade continental reforça suas credenciais como fator de estabilidade e progresso no mundo. Junto com isso, avançam a democracia e um sistema econômico aberto.

Será preciso, porém, reforçar a consciência de nossos interesses comuns de longo prazo. Se franceses e alemães tivessem optado, no final da 2ª Guerra Mundial, pelos ganhos de curto prazo, perdendo-se na mesquinhez da contabilidade das reparações e no exercício das recriminações, teria sido possível construir o edifício que é hoje a União Europeia?

A política externa brasileira para a América do Sul não se pauta apenas por uma visão pragmática de viabilização de negócios e investimentos mas também está imbuída de uma visão política, estratégica, social e cultural de longo prazo.

Aqui, idealismo e realismo se combinam: o primeiro nos inspira a buscar um futuro melhor; o segundo nos estimula a colocar as mãos à obra.

* Nota do Secretariado Nacional do PCB: Este artigo é escrito por um importante diplomata de carreira brasileiro, especializado em América Latina. Com conhecimento de causa e franqueza, o autor ajuda a compreender a análise do PCB sobre a política externa do governo brasileiro.

** ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES é subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Foi embaixador do Brasil em Caracas (2008-2010), diretor do Departamento de Energia (2006-2008) e secretário de Planejamento Diplomático (2005-2006) do MRE.

Imagem Fonte: http://www.inpi.gov.br/noticias/cooperacao-na-america-do-sul-podera-ser-financiada-pelo-bid/image


--
Veja a Nova Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
PETRÓLEO - ELES ESTÃO MUDOS. Por: Emanuel Cancella

PETRÓLEO - ELES ESTÃO MUDOS. Por: Emanuel Cancella

=====================================================================
Esta mensagem é um informe da APN - Agencia Petroleira de Noticias
====================================================================

PETRÓLEO - ELES ESTÃO MUDOS

Por Emanuel Cancella


Os partidos políticos, as centrais sindicais, os movimentos sociais e a
mídia precisam se manifestar e se posicionar para garantir que a riqueza
obtida com a exploração do petróleo na camada do pré-sal fique, de fato, no
Brasil. A omissão agora, no momento em que está tramitando no Senado o marco
regulatório, é crime. Vale registrar que a nova lei do Lula já foi
totalmente modificada no Congresso Nacional e, por sinal, para pior, muito
pior. As emendas apresentadas são extremamente nocivas. A pergunta que se
faz hoje é: você quer entregar o petróleo para quem, para as multinacionais
ou quer fazer com que o Brasil enriqueça com a sua exploração? Não existe um
terceiro lado. Chegou a hora de marcar posição e ir para as ruas.

Muita gente só tem olhos para a eleição, principalmente a disputa pela
presidência. É verdade que alguns partidos, centrais e movimentos sociais
apoiaram o projeto dos movimentos sociais, que propõe uma Petrobrás 100%
estatal e pública, a volta do monopólio, o fim dos leilões da ANP e a
revisão dos já realizados. Isso é um avanço, mas é pouco frente aos
interesses de grupos internacionais, representados no Brasil por políticos
entreguistas.

Há pouco tempo, o governador Sérgio Cabral puxou um movimento em defesa dos
royalties chamado “Covardia contra o RIO” e que movimentou o Rio e o Brasil,
tendo repercutido até no Congresso Nacional. Foi uma resposta a emenda do
deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, que propôs distribuir os royalties para
todos os estados e municípios brasileiros, discriminando, porém, os estados
e municípios produtores. Agora, que a ameaça é a dos gringos levarem o nosso
petróleo, ninguém fala nada!

Nós, da Campanha o Petróleo Tem que Ser nosso! achamos que eleição é muito
importante, porque vai decidir o destino do país nos próximos quatro anos.
Mas sabemos que tratar do tema petróleo hoje significa discutir o Brasil
para os próximos cinqüenta anos. Já podemos imaginar o Brasil sanando todos
os nossos problemas sociais, principalmente os da nossa população pobre,
acabando com a miséria de nosso povo sem que para isso seja necessário pedir
um centavo emprestado a organismos financeiros internacionais. Tudo com
dinheiro do petróleo, principalmente do pré-sal.

Aliás, os políticos dizem defender prioritariamente os mais necessitados,
parafraseando Jesus Cristo, que fez, de fato, a opção pelos pobres. Lula
representa como ninguém o Brasil lá fora, mas quando chega a hora de
defender nossos próprios interesses, a história é outra. No marco
regulatório do petróleo, por exemplo, apesar de superar a lei entreguista de
FHC, o governo só garante aos brasileiros 30% das reservas do pré-sal. Os
outros 70% vão ser abocanhados, melhor dizendo, surrupiados pelas
multinacionais. Como diz o ator Paulo Betti em nosso filme da campanha do
petróleo: “achamos um tesouro em nosso quintal e vamos entregar...”

Acreditamos que a sociedade vá se levantar contra esse entreguismo. Isso
porque, na década de 50, quando não existia televisão, internet e nem havia
certeza da existência de petróleo no Brasil, o povo foi às ruas e organizou
o maior movimento cívico que esse país já vivenciou. O movimento “O petróleo
é nosso!” foi responsável pela criação da Petrobrás e estabeleceu o
monopólio estatal do petróleo.

A Petrobrás fez a sua parte. Entre tantos êxitos desenvolveu tecnologia
inexistente no mundo e descobriu o pré-sal. Será que toda essa luta de nosso
povo seria para depois entregar, de mão beijada, o nosso petróleo aos
gringos?

Muito estranho o silêncio, principalmente dos partidos políticos, das
centrais sindicais e dos movimentos sociais. Grande parte da mídia sempre
agiu assim, contra os interesses nacionais e, portanto, não é de estranhar
sua omissão hoje. Só para refrescar a memória: a imprensa nacional aliou-se
à ditadura militar, foi a principal articuladora da candidatura Collor, que
se revelou um grande farsante e escondeu o quanto pode o movimento das
Diretas Já!

Parece que o Brasil, em detrimento de nosso povo, assumiu definitivamente a
condição de quintal do mundo. Daqui já levaram todas nossas riquezas
naturais, o petróleo é só mais uma. Vamos continuar a ser o país do futuro!

Fonte : Agência Petroleira de Notícias
====================================================================
www.apn.org.br | www.radiopetroleira.org.br | www.sindipetro.org.br
=====================================================================

--
Veja a Nova Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
Debate “Estratégia da União Europeia 2020” - Jerónimo de Sousa

Debate “Estratégia da União Europeia 2020” - Jerónimo de Sousa


PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS

SECÇÂO INTERNACIONAL

Debate “Estratégia da União Europeia 2020” - Jerónimo de Sousa

Segunda 10 de Maio de 2010

Artigos Relacionados

Debate «Estratégia da União Europeia 2020» - Jerónimo de Sousa

Permitam-me começar por saudar e valorizar a presença e os contributos de todos para esta iniciativa do Grupo Unitário da Esquerda / Esquerda Verde Nórdica e do PCP e agradecer, em particular, aos camaradas que atenderam ao convite para se deslocarem a Portugal e participarem nesta reflexão.

Entendemos a vossa presença não apenas como uma expressão da cooperação que os nossos Partidos mantêm no seio do Grupo Parlamentar do Parlamento Europeu - e para a qual o PCP tem dado e irá continuar a dar o seu contributo - mas também como uma demonstração de solidariedade para com a luta do nosso povo e para com o nosso Partido. Solidariedade que - num momento de especial exigência e complexidade para a luta dos trabalhadores e povos e para o movimento operário, os comunistas e outras forças progressistas da Europa - queremos retribuir.

Camaradas,

Já hoje aqui muito foi dito sobre a natureza, os reais objectivos e os conteúdos da Estratégia 2020. Trata-se de um documento estratégico para o grande capital europeu, que escamoteando as nefastas consequências da sua predecessora – a Estratégia de Lisboa – reafirma e aprofunda o rumo neoliberal das políticas da União Europeia nos mais diversos campos e insiste na estratégia chamada “de saída da crise” por via do aumento da exploração e dos apoios ao grande capital. Uma Estratégia que aprofundará - se posta em prática - todas as raízes e causas da profunda crise que estamos a viver.

Vários camaradas referiram-se aqui ao falhanço da Estratégia de Lisboa e têm razões para o fazer. Aqui mesmo, em Lisboa, a quando do Conselho Europeu de Março de 2000, alertamos que a Estratégia de Lisboa não criaria mais emprego com direitos, não erradicaria a pobreza e a exclusão social e dificilmente asseguraria um forte crescimento que fizesse da Europa – e passo a citar –“a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo, caracterizada por um crescimento económico durável, pleno emprego e uma maior coesão económica e social”.

Hoje, sempre que recordamos esta sonante frase de propaganda, uns esboçam sorrisos e outros disfarçam a sua responsabilidade assobiando para o lado. É natural. É hoje a própria Comissão Europeia que afirma que a produção industrial está ao nível dos anos 90; que o desemprego afecta 10% da população activa ou seja 23 milhões de pessoas; que 21% dos jovens não têm direito ao trabalho; que existem 85 milhões de pobres na União Europeia e que o PIB do conjunto dos Estados membros da União Europeia caiu 4% só no último ano.

Há de facto razões de sobra para afirmar que a Estratégia de Lisboa falhou. Falhou nos seus proclamados objectivos, embora saibamos que não falhou na concretização dos seus objectivos de classe, como afirmou o camarada do Die Linke. É que a Estratégia de Lisboa tinha, de facto, outros objectivos. Objectivos de classe, de uma classe e que denunciámos na altura: aumentar a exploração dos trabalhadores adoptando as exigências do patronato europeu; reduzir aquilo a que chamam “custos do trabalho” legalizando e generalizando a desregulamentação, a precariedade e a mobilidade laboral; garantir chorudos lucros aos grandes grupos económicos (nomeadamente na área das novas tecnologias e dos serviços) e ao capital financeiro; entregar ao capital privado sectores estratégicos da economia e avançar na sua desregulamentação; atacar seriamente os serviços públicos que interessam ao capital em áreas como a saúde, segurança social, educação, cultura e justiça e avançar na liberalização do comércio em nome da sacrossanta competitividade e livre concorrência.

É então fácil de concluir que, desse ponto de vista - de classe, insisto - a Estratégia de Lisboa foi um sucesso. Bastaria, para tal, passar em revista o que foi a evolução dos lucros dos grandes grupos económicos em sectores como o financeiro, o energético, dos transportes, das novas tecnologias e comunicação e dos serviços. Bastaria ver como as directivas Bolkenstein e do tempo de trabalho (apenas para referir dois exemplos) foram ao encontro dos interesses do patronato europeu, ou ainda ver como evoluiu a redistribuição da riqueza com clara e constante vantagem para o capital em detrimento dos rendimentos do trabalho.

E é igualmente fácil concluir que, se não for derrotada pela luta, a Estratégia 2020 significará ainda mais sucessos para o capital à custa da destruição do que resta das funções sociais dos Estados, à custa da destruição dos aparelhos produtivos da economias mais fragilizadas pela dependência económica, à custa de mais desemprego, mais baixos salários, menos direitos sociais e laborais, mais pobreza e outras chagas sociais que alastram por esta Europa fora como a fome.

Estamos portanto no terreno da antiga e tão actual luta de classes na Europa. E estando nesse campo não podemos, obviamente, isolar este ou aquele aspecto das políticas e orientações que presidem ao processo de integração capitalista europeia. Se se justifica a pergunta “para que serve e a quem serve” a Estratégia 2020, a mesma pergunta se impõe também relativamente ao Pacto de Estabilidade, à União Económica e Monetária, ao Euro, ao BCE, à chamada política externa da União Europeia e aos Tratados – como o de Maasctricht ou de Lisboa. Em suma, a pergunta impõe-se relativamente a esta União Europeia neoliberal, federalista e militarista. E a resposta encontramo-la também nesta Estratégia 2020: serve cada vez mais interesses alheios aos trabalhadores e povos da Europa

A situação que estamos a viver demonstra muito bem aquilo que acabámos de afirmar. Um a um, os dogmas da União Europeia e os instrumentos destinados a impor a acelerada integração capitalista na Europa são postos em causa pela realidade dos factos. Os mais recentes acontecimentos revelam bem o grau de falsidade dos discursos da solidariedade, da coesão e da “Europa social” e põem em evidência para que servem de facto os instrumentos contidos nos tratados, nas políticas comuns e nas Estratégias.
Que o digam os trabalhadores vítimas do autêntico terrorismo social resultante da fuga para a frente do grande capital, da União Europeia e da esmagadora maioria dos Governos, face à crise do capitalismo que se aprofunda.

Que o digam os povos de vários países europeus confrontados com a especulação dirigida a partir dos centros de decisão do grande capital. O mesmo capital financeiro que recebeu dos governos milhões de milhões de euros. Os mesmos governos e Partidos que agora perante a especulação não escondem a sua natureza de classe e estendem o tapete ao saque, transferindo para os trabalhadores a factura do roubo.

Que o digam os trabalhadores e o povo da Grécia. Infelizmente as cinzas vulcânicas impediram que o representante do Partido Comunista da Grécia aterrasse ontem à noite em Lisboa. Mas não deixaremos de saudar muito fraternalmente os comunistas gregos e expressar a nossa firme solidariedade para com a luta que, lado a lado com as massas trabalhadoras e populares e com movimento sindical de classe estão corajosamente a travar.

Um povo inteiro vítima da chantagem do FMI, da Comissão, do Conselho, do BCE, das grandes potências como a Alemanha e do seu próprio governo, mas que não se verga. Um povo que percebeu o real significado de umas mal chamadas “ajudas”, pagas com mão de ferro e que irão direitinhas para os cofres do grande capital. É caso para dizer: ajudas destas, os trabalhadores e o povo grego rejeitam! E foi por solidariedade com o povo da Grécia que o PCP, juntamente com o Partido Ecologista os Verdes, foram as únicas duas forças políticas a votar contra a proposta de Lei que irá desencadear a mal chamada “ajuda à Grécia”.

A realidade, e estes “empréstimos” comprovam-no, é que os povos desta Europa estão a ser vítimas de uma política de concentração e centralização do poder económico e político, origem da dependência e fragilidade económica dos seus países. A verdade é que estão a ser vítimas da política de competição entre as grandes potências europeias e os EUA, nomeadamente em torno da questão monetária, uma expressão muito concreta do aprofundamento das contradições e rivalidades inter-imperialistas quer entre União Europeia e EUA, quer dentro da própria União Europeia.

Estão a ser vítimas da clássica saída do capitalismo para a sua crise, ou seja: aumento da taxa de exploração; mais desigualdades, mais e profundos ataques à soberania dos países; crescentes ameaças e provocações à democracia e às forças que resistem à voragem da exploração capitalista. A realidade é que, neste quadro, a União Europeia com as suas políticas, instrumentos e instituições está mais uma vez a funcionar como um instrumento de opressão das classes dominantes.

Vários tentam atirar-nos areia para os olhos com os discursos da necessidade de sacrifícios para dar combate à crise e para salvar o Euro, a União Económica e Monetária, salvar a União Europeia!

A esses respondemos em primeiro lugar que no que toca a sacrifícios, os trabalhadores e os povos conhecem-nos melhor que ninguém. São-nos pedidos para evitar a crise, são-nos pedidos para pagar a crise e já nos estão a ser pedidos para “recuperar da crise”.

Em segundo lugar respondemos que sabemos que esses tais sacrifícios não são inevitáveis, pelo contrário, são uma premeditada e consciente opção de classe, estratégica do ponto de vista dos interesses do capital, para assegurar os lucros no presente e garantir no futuro - com a chamada estratégia de saída para a crise - uma ainda mais grave correlação entre capital e trabalho.

Em terceiro lugar retorquimos com uma pergunta: Sacrifícios para salvar o quê e quem? Para salvar os grandes grupos económicos que continuam a registar lucros obscenos? Para salvar o capital financeiro que está a lucrar rios de dinheiro com esta crise? Para salvar as políticas de retirada de direitos, de diminuição das condições de vida dos trabalhadores e dos povos e de destruição dos aparelhos produtivos de países como Portugal? Para isso não contem connosco! Era a mesma coisa que pedir ao condenado para salvar o carrasco.

E, em quarto lugar respondemos que - por sabermos bem onde está a origem desta profunda crise que afecta todo o mundo - temos ideias bem claras e propostas muito concretas para a combater.

Respondemos que combater a crise na União Europeia passa pela ruptura com o seu rumo neoliberal e federalista, pela ruptura com as orientações da sua política económica e monetária e pelo fim do mal chamado “Pacto de Estabilidade e Crescimento”. Combater a crise passa pela total inversão das políticas anti-sociais da União Europeia bem patentes nesta proposta de Estratégia 2020. Combater a crise passa por respeitar a democracia, aprofundar os direitos laborais e sociais e incentivar a acção e luta dos movimentos dos trabalhadores, nomeadamente do movimento sindical de classe e não combatê-lo. Combater a crise passa por defender uma real convergência e cooperação. Uma cooperação fundada no progresso social, no apoio à produção nacional, no investimento público, no reforço dos serviços públicos, no emprego com direitos. Uma cooperação que acabe com a chamada “livre” circulação de capitais, decida do fim dos paraísos fiscais e dos produtos financeiros derivados e assuma, de uma vez por todas, uma real linha de combate à especulação financeira e bolsista.

Se este for o caminho, então aí sim estaremos no caminho do combate à crise.

Crise que se manifesta em Portugal de forma dramática, ampliando todos os principais problemas com que o nosso país já se vinha confrontado. Crise que encontrou um país altamente debilitado em resultado de anos e anos de políticas de direita. Crise que irrompeu quando Portugal caminhava, desde 2002, em acelerada divergência económica e social em relação à média europeia, enfrentando a mais prolongada estagnação económica das últimas décadas e assistia a um dramático agravamento das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e das populações laboriosas.
Em nome da Estratégia de Lisboa e da competitividade da economia promoveu-se a mais brutal ofensiva contra os direitos laborais e sociais dos trabalhadores. Com a adesão à moeda única, a economia portuguesa foi não só confrontada com um novo factor de redução da sua capacidade competitiva, pela vinculação ao Pacto de Estabilidade e Crescimento e aos seus critérios de convergência nominal, como se congelaram as políticas de crescimento económico e o desenvolvimento.

Em nome do equilíbrio das contas públicas deram-se passos, como antes não se não tinham dado, no ataque ao direito dos portugueses à saúde, à segurança social, à educação e à cultura e lançou-se uma brutal ofensiva global contra aspectos essenciais do nosso regime democrático.

Estes últimos dois anos de aguda crise do capitalismo global e a acção destruidora que a acompanha traduziram-se, assim, num acrescentar de crise à crise interna que se vinha desenvolvendo e que conduziu a uma explosiva destruição do aparelho produtivo do país, à degradação das condições de trabalho de largas massas, particularmente com o agravamento brutal do desemprego.

São hoje bem visíveis no nosso país as consequências das políticas que promoveram a desregulamentação financeira e a economia de casino, as privatizações e a liberalização dos mercados, em detrimento da produção real e das condições de vida dos trabalhadores e dos povos.
Portugal é hoje um país não só mais injusto e desigual no plano social e no desenvolvimento do território, mas também um país mais dependente, mais endividado, mais deficitário e mais vulnerável.

Este é o resultado de uma prolongada acção política orientada para promover uma escandalosa centralização e concentração da riqueza a favor do grande capital monopolista. Política que se preparam para continuar depois da farsa montada à volta das condenações e da demarcação em relação ao neoliberalismo e ao mercado “em roda livre” no auge dos escândalos do sistema financeiro, dos discursos da “regulação”, do combate aos off-shores e às actividades financeiras especulativas, quando se tornou necessário justificar o abrir dos cordões à bolsa das finanças públicas para salvar os especuladores e o capital financeiro.

Quem se lembra da famosa reunião do G-20 a exigir supervisão, regulação e fim dos off-shores? Não passou duma manobra de diversão e propaganda! Já passou tempo suficiente para se ver que nada de novo ou diferente nasceu ou ocorreu sob o domínio do mesmo poder político que conduziu à crise e deu cobertura, aqui e no resto da Europa, aos interesses dos grandes monopólios financeiros. E não foi preciso esperar muito tempo para ver aqueles que absorveram incomensuráveis recursos públicos a “soltar os cães” da especulação financeira e da chantagem e a atirarem-se como predadores implacáveis aos recursos dos povos.

Portugal vive, neste momento, sobre uma intensa e perigosa operação de carácter especulativo e é objecto de verdadeiro roubo, tal como outros países, mas a única saída que os poderes políticos dominantes apresentam é o da exigência de mais sacrifícios aos povos.

Poderes que não se limitam a aceitar a chantagem. Usam-na de forma concertada e coordenada para dobrar a parada na exigência de sacrifícios. Isso está bem patente no Programa de Estabilidade e Crescimento elaborado pelo Governo português e que foi presente a Bruxelas, viabilizado com a aprovação de uma resolução negociada entre os dois partidos que têm liderado os governos do país nos últimos anos. Trata-se de um novo ataque que se prepara aos rendimentos do trabalho, pelo corte dos salários e o aumentos dos impostos, mas também a todas as principais prestações sociais, aos serviços e empresas públicas e participadas, com novas privatizações e um inaceitável congelamento do crescimento económico e do emprego, acentuando e agravando ainda mais o atraso relativo do país.

Um Programa que é simultaneamente a rendição sem condições aos ditames dos mercados financeiros e uma repetição de agravadas receitas, medidas e orientações que tantos sacrifícios, desigualdades, injustiças, têm imposto à maioria do povo português.

No momento em que se impunha dar prioridade às políticas de promoção do crescimento económico e do emprego o que se vê é a completa claudicação e de um Governo que se diz socialista face às exigências do grande capital nacional e internacional.

Ei-los, Governo/PS e PSD, em privado, a acertarem os passos para dar novos golpes no investimento público, no imposto mais cego - o IVA - e nos salários!

Ei-los, a fazer regressar a ditadura do défice das contas públicas e sua redução a mata-cavalos, pondo de lado o crescimento económico e o emprego, secundarizando a resposta aquilo que é a questão central - o défice externo global (público e privado), a necessidade de crescer, de criar riqueza, de desenvolver o aparelho produtivo e a produção nacional!

Não é preciso ser sábio ou perceber de economia para saber qual vai ser o resultado! Quem vai pagar a factura, quem nada paga e a quem nada se exige!
Vão perder os trabalhadores, os reformados, os pequenos empresários. Vai perder o país. Vão ganhar os que muito ganham e ganharam ligados ao sistema que provocou a crise.

Uma claudicação muitas vezes justificada com o lamento “isto é assim, não há nada a fazer”. Perante a história, eis que se repete o vergar de serviz das classes dominantes e governantes sem qualquer rasgo patriótico!

Nós respondemos que sim, que há muito, que há tanto para fazer! Não nos deixamos derrotar sejam quais forem as circunstâncias em que desenvolvemos a nossa luta. Afirmamo-lo porque temos profunda confiança nos trabalhadores, no nosso povo e na sua luta.
Também na nossa história secular muitas vezes o povo foi enganado e por vezes também se enganou. Mas foi sempre o povo que reagiu, lutou e encetou um caminho novo.

Confiança sempre presente nas várias gerações de lutadores. Nos que derrotaram o nazi-fascismo há 65 anos; nos que há 120 anos, desafiando a criminosa repressão inauguraram essa jornada histórica mundial do 1º de Maio; nos que no nosso país resistiram meio século ao fascismo e fizeram do 25 de Abril a mais bela data da nossa História e, finalmente, confiança presente naqueles que nos últimos anos vemos encher as ruas e avenidas das nossas cidades e vilas. Gente, povo, trabalhadores, dispostos a dizer sim. Gente, povo, trabalhadores que vão estar nas ruas de Lisboa no dia 29 de Maio. Sim a um futuro de progresso, de igualdade, de justiça, paz e cooperação.

Esses podem contar com este Partido Comunista e com todas as suas forças. Assim como podem contar com este Partido os povos aqui representados neste nosso debate e especialmente os Partidos comunistas e progressistas aqui presentes. Transmitam aos vossos militantes e activistas uma mensagem de confiança dos comunistas portugueses e a solidariedade do Partido Comunista Português.

Partido Comunista Português – PCP – www.pcp.pt

http://www.pcp.pt/debate-%E2%80%9Cestrat%C3%A9gia-da-uni%C3%A3o-europeia-2020%E2%80%9D-jer%C3%B3nimo-de-sousa


http://www.solidnet.org



--
Veja a Nova Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922