29 de setembro de 2010

COMUNICADO URGENTE: Acampamento na Prefeitura de Belo Horizonte

COMUNICADO URGENTE: Acampamento na Prefeitura de Belo Horizonte

Comunidades ameaçadas de despejo montam acampamento na prefeitura de BH

As Ocupações Camilo Torres, Dandara, Ir. Dorothy e Torres Gêmeas montaram hoje (29/09) acampamento por tempo indeterminado na entrada principal da prefeitura de Belo Horizonte.

O protesto faz parte da Jornada Nacional de Luta Contra os Despejos organizada em várias capitais do país pelos movimentos que integram a Frente Nacional de Resistência Urbana (F.N.R.U).

Exigimos que o Prefeito Márcio Lacerda e o Governador Antonio Anastasia abram as negociações com as Comunidades ameçadas de despejo forçado. Em tempos de Minha Casa Minha Vida é um contra senso jogar nas ruas mais de 1.500 famílias dessas 4 ocupações que há anos lutam pelo diálogo e por uma saída digna ao conflito.

Na última semana, representantes das organizações mineiras que compõem a F.N.R.U se reuniram com a Secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães, para cobrar junto com movimentos e organizações de outros estados a participação do Governo Federal em diversos casos de ameaça de despejo. Nesse encontro o Ministério das Cidades ficou de agendar uma reunião com o Prefeito Márcio Lacerda ainda nessa semana, mas a postura desse senhor está mais truculenta do que nunca. A exemplo das famílias despejadas do prédio 100 das Torres Gêmeas que até agora estão desabrigadas sem qualquer definição da Prefeitura, apesar de uma inspeção realizada na última semana pelo Ouvidor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Diante desse quadro, conclamos o apóio da população nessa justa causa contra os despejos. Queremos mostrar para a cidade e para todo país que fizemos TUDO que estava ao nosso alcance para se evitar uma tragédia ("massacre anunciado").

Nos próximos dias aqui estaremos, bem na sede do poder político de Belo Horizonte, sob as barbas do Prefeito, intransigentes na defesa do nosso direito à cidade.

Na porta da Prefeitura organizaremos sessão de cinema, roda de capoeira, grupos de formação política, atividades lúdicas e etc.

Venha fortalecer a luta contra aqueles que querem privatizar a cidade.

Principais demandas para solidariedade: colchonete, cobertores, alimentação geral, água, produtos de higiene.

Contatos: 8815-4120/9708-4830/ 8533-3363/8525-8138/9836-3450

A EUROPA DOS TRABALHADORES SE LEVANTA NESTE 29 DE SETEMBRO

A EUROPA DOS TRABALHADORES SE LEVANTA NESTE 29 DE SETEMBRO

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A EUROPA DOS TRABALHADORES SE LEVANTA NESTE 29 DE SETEMBRO

(Nota Política do PCB)

Mais uma vez na história, um fantasma ronda o continente europeu, onde a luta de classes parecia estar amortecida. Contra a Europa do Capital vem se afirmando com mais força e de modo mais espalhado uma Europa dos Trabalhadores, sobretudo a partir dos gregos, que no final de 2009 mostraram ao mundo o seu imenso poder de mobilização popular contra as medidas liberais para a crise capitalista internacional. Essa mobilização segue firme e vem dando demonstrações constantes de luta unitária contra o capital, como as greves realizadas em junho e em julho deste ano. Mais recentemente, no início de setembro, foi a vez dos trabalhadores franceses mostrarem também a sua força, com a manifestação de 2,5 milhões de pessoas nas ruas contra o aumento da idade mínima para a aposentadoria. Além disso, estão sendo construídas pautas unitárias para grandes mobilizações sindicais na Itália e na Inglaterra, países dos quais há tempos não chegavam notícias como estas.

Nesta quarta-feira, dia 29 de setembro, teremos uma grande demonstração dessa Europa dos Trabalhadores que está sendo constituída. Haverá grandes manifestações simultâneas em pelo menos quatro países: Espanha, Portugal, Grécia e Bélgica. Na Espanha, faz-se uma Greve Geral contra as duras medidas encaminhadas pelo governo Zapatero, medidas que visam atingir a previdência social, enfraquecer o poder de resistência dos sindicatos e facilitar a demissão de trabalhadores. Em Portugal, há uma Jornada Nacional de Luta pelo aumento real dos salários e pela defesa dos direitos trabalhistas.

Como afirma a secretária-geral do Partido Comunista Grego, em sintonia com o que o nosso partido vem afirmando, não pode haver nenhuma convergência de interesses entre o capital e o trabalho. Aqueles que insistem na conciliação e nas medidas supostamente intermediárias, como os social-democratas, são justamente os que vêm conduzindo as reformas antisindicais, antitrabalhistas e antissociais, como o governo do PASOK na Grécia, o governo do PSOE na Espanha, do PS em Portugal e do PT no Brasil.

É evidente que as crises capitalistas atingem mais e com mais força os trabalhadores, em especial aqueles mais precarizados. Estes não são os responsáveis, mas são os que acabam arcando com as chamadas medidas de “austeridade”, que implicam em redução dos já irrisórios gastos sociais e um comprometimento ainda maior dos orçamentos públicos com o pagamento de dívidas com o sistema financeiro.

Mas a resposta à crise capitalista deve passar pela garantia de mais e melhores direitos, não o oposto!

Em nosso país, algumas categorias como a dos petroleiros, metalúrgicos, bancários e trabalhadores dos Correios vêm enfrentando duras lutas contra os patrões e o governo. Fazemos um chamado de unidade e luta para resistirmos a todos os ataques aos direitos trabalhistas e avançarmos em novas conquistas.

Toda a solidariedade aos trabalhadores europeus! A luta de lá é a mesma daqui!

Preparar a luta da classe trabalhadora para resistir aos ataques que se anunciam!

Reforçar a UNIDADE CLASSISTA!

Construir a INTERSINDICAL!

Nenhum direito a menos, avançar em novas conquistas!

Construir a Frente Anticapitalista e Antiimperialista!

Partido Comunista Brasileiro

(Comitê Central)

Unidade Classista





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Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
NÃO VOTE INÚTIL.

NÃO VOTE INÚTIL.

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NÃO VOTE INÚTIL.

TOME PARTIDO NO PRIMEIRO TURNO.

ESCOLHA A MELHOR ALTERNATIVA DE ESQUERDA E NÃO O CAPITALISMO “MENOS RUIM”.

Nos últimos anos, os processos eleitorais caracterizam-se pela completa despolitização e o debate ideológico se apresenta como se só houvesse um projeto para a humanidade, o da burguesia. Cada vez mais as campanhas dos partidos da ordem baseiam-se em grandes produções midiáticas, em que buscam vender candidatos que melhor se apresentam para gerenciar a máquina pública em favor dos interesses capitalistas.

Nas eleições deste ano o quadro não é diferente. Em vários aspectos, há uma americanização da disputa eleitoral: a mercantilização crescente do processo leva à falsa polarização entre duas coligações representantes da ordem burguesa. As classes dominantes tentam impor ao povo brasileiro uma polarização artificial.

Nenhum dos candidatos do sistema se propõe a enfrentar o grande poder dos bancos, das grandes empresas e do agronegócio. Mas o jogo midiático eleitoral os apresenta como adversários inconciliáveis. Para tanto, manipulam a opinião pública e excluem os partidos de esquerda nos grandes jornais e sobretudo nos espaços e debates na televisão.

Nesta conjuntura, torna-se fora de propósito a defesa do chamado “voto útil”, mais ainda em se tratando de uma eleição em dois turnos, que cria a oportunidade, no primeiro turno, do voto ideológico, do voto em quem se acredita de verdade, do voto no melhor candidato e não no “menos ruim”. A justificativa do voto útil não tem o menor sentido, menos ainda quando as pesquisas eleitorais apontam para a possível solução da disputa já no primeiro turno.

Agora, portanto, é hora do voto consciente. O voto da identidade da esquerda. O voto pelas transformações sociais. O voto para a construção de um futuro socialista em nosso país.

A esquerda não pode votar rebaixada neste primeiro turno. Em nome de nosso próprio futuro, é necessário reafirmar a identidade da esquerda e demonstrar o inconformismo com o capitalismo e a ordem burguesa.

Não se pode esquecer que nosso país se transformou no paraíso dos banqueiros e dos grandes capitalistas. Se o governo FHC implantou o neoliberalismo e alienou o patrimônio público, nunca esses setores lucraram tanto como no governo Lula, que aprofundou a reforma da previdência, implantou as PPPs, aprovou as novas leis das S/A e de falências, para favorecer o grande capital; que financiou o grande capital monopolista e o agronegócio, com juros baratos e dinheiro público; o mesmo governo que inviabilizou a reforma agrária tão prometida no passado.

Se as pesquisas estiverem corretas, serão mais quatro anos de governo para os ricos, com apenas mais algumas migalhas para os pobres e desta vez com Michel Temer de Vice e o PMDB com uma força inaudita.

Por isso, a esquerda tem a responsabilidade de reafirmar seu compromisso com as transformações sociais e a causa socialista.

Nesse sentido, o PCB, reconstruído revolucionariamente, por suas propostas, sua história, sua participação nas lutas sociais e seu internacionalismo militante, se apresenta com autoridade política para cumprir o papel de estuário do voto ideológico da esquerda que não se rendeu, do voto que pensa na frente de esquerda para além das eleições.

É o voto pela revolução socialista e em defesa das lutas dos trabalhadores no Brasil e em todo o mundo. O voto de repúdio à ação do imperialismo no planeta, de apoio aos povos e governos responsáveis pelas transformações sociais na América Latina, de solidariedade incondicional a Cuba Socialista, de apoio militante ao Estado Palestino.

Com sua coerência e firmeza, sem concessão na sua linha política em troca do voto, o PCB se credencia para contribuir na construção da Frente Anticapitalista e Anti-imperialista, a frente política e social que irá liderar o processo de transformações revolucionárias em nosso país.

Por entender que não está sozinho neste caminho, o PCB também compreende a importância do fortalecimento dos demais partidos da verdadeira esquerda nestas eleições. O voto na esquerda é fundamental para que se possa construir na prática o grande movimento político e social que irá desencadear o processo de mudanças no Brasil.

Não deixe que a direita escolha a “esquerda” por você. Escolha você mesmo. Resista à tentativa de esmagamento da verdadeira esquerda. Não vote inútil. Não escolha a forma de gestão do capitalismo. Vote útil, no socialismo.

Quem sabe faz agora, não espera acontecer.

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2010.

Comissão Política Nacional – Comitê Central do PCB

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27 de setembro de 2010

NINGUÉM PODE MATAR O MONO JOJOY

NINGUÉM PODE MATAR O MONO JOJOY

imagemCrédito: Partido dos Comunistas Mexicanos


Nota da Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Comunistas

Quem pode matar um homem que dedicou sua vida inteira à luta pela liberdade, pela América Latina e pelo socialismo? Quem pode dizer que venceu um homem que foi pilar fundamental no crescimento e na consolidação de uma das maiores organizações da América Latina? Quem pode se sentir vitorioso por depender da força econômica e militar dos maiores assassinos do mundo para matar um combatente revolucionário? Só mesmo um grupo de loucos e assassinos, só um grupo de oligarcas incapazes de combater honradamente seus inimigos, só um grupo de governantes corruptos que não entendem nada da história dos nossos povos.

O comandante Jorge Briceño, o Mono Jojoy, com seus grandes dotes militares e revolucionários, não foi concebido pela casualidade, nem por arte de magia, foi filho de uma sociedade profundamente confrontada pela agressividade do capitalismo colombiano, que condena diariamente milhões de pessoas a viver em meio à exploração, ao despojo e à violência; ficou conhecido porque, às vezes, pode-se ver a história dos povos sintetizada em alguns indivíduos; mas essas condições contraditórias do capitalismo fazem com que a burguesia ao incrementar seu poder e sua riqueza, incremente ao mesmo tempo as condições que cavarão sua própria cova. Mas o comandante Briceño nunca esteve sozinho nisso, o que aprendeu e levou a cabo em vida, foi feito como parte de uma organização exemplar que representa os interesses dos explorados da Colômbia e da Nossa América, as FARC-EP, a qual por sua vez sintetiza a experiência de luta de todo um povo. Ninguém que compreenda as leis da História pode pensar que por ter matado um homem exemplar tenha vencido seu oponente, e ninguém com pelo menos um mínimo de humanidade pode festejar o assassinato covarde de um homem valente. Os que hoje se abraçam e festejam por matar este homem valente e exemplar, não faz mais do que exibir sua deformidade humana e sua burrice; parecem desconhecer que na sociedade colombiana há milhares de pessoas que vivem atualmente as mesmas condições que fizeram com que o Mono Jojoy fosse guerrilheiro, e, além disso, há milhares de combatentes farianos que hoje em dia recebem a experiência e o conhecimento necessário para ocupar o lugar dos Caídos.

Quem pensa que um combatente insurgente não é consciente de que sua vida pode se extinguir biologicamente no meio da guerra é porque sua concepção do mundo e da vida, e seus escassos valores o impedem de compreender que um guerrilheiro, desde o momento em que entra nas filas, já deu sua vida pela Revolução, e sabe que no curso da mesma, sua vida individual pode se extinguir. Mas o que não se extingue jamais é a vontade e a capacidade de luta dos explorados, por isso quem pensa que ao matar um comunista em combate se desfez dele definitivamente, raciocina como quem enterra uma semente pensando que a matou e que não voltará a ouvir falar dela, ignorando que dessa mesma terra brotará uma nova vida que superará em magnitude a anterior.

Homens como o comandante Briceño não podem ser mortos, porque já foram semeadores de quadros revolucionários, de experiências, de ensinamentos, porque a essa altura o Mono Jojoy já reproduziu mais comandantes guerrilheiros que os que havia quando entrou nas filas revolucionárias. O infame assassino Juan Manuel Santos não é ninguém comparado ao comandante Briceño, não se comparam em astúcia, em inteligência e muito menos em qualidade humana, e nem por isso as FARC confundem o ato de matar Santos ou algum oligarca colombiano com o ganhar a guerra contra uma e genocida. A vitória não depende de quantos homens matem nem de como se chamam, a vitória será uma consequência da luta de es onde os explorados haverão de vencer. A vitória, mais cedo ou mais tarde, será na Colômbia para as FARC-EP e para quem viveu pela luta que haverá de emancipar seu povo. Aí estiveram e estarão sempre o comandante Manuel Marulanda Vélez, o comandante Jacob Arenas, o comandante Raúl Reyes, o comandante Ivan Rios e o comandante Jorge Briceño.

Proletários de todos os países, uniu-vos!

Tradução: Valeria Lima

Assista nesta terça feira (28/09) às 22:15 Ivan Pinheiro na TV Rede Vida



Assista nesta terça feira (28/09) às 22:15 Ivan Pinheiro na TV Rede Vida

Ivan Pinheiro em entrevista exclusiva:
Ivan Pinheiro participará de sua maior entrevista na TV nestas eleições, uma sabatina com 3 jornalistas dividida em 4 blocos de 18 minutos.

Veja:

Emissora: TV Rede Vida
às 22:15
Para sintonizar:
Nas capitais em UHF
Net: 26
Sky: 20
TVA: 73
Tec Sat: 3

http://www.redevida.com.br/
Honduras e a luta anti-imperialista

Honduras e a luta anti-imperialista

imagemCrédito: Diário da Liberdade


Brasil de Fato – edição 393 - de 9 a 15 de setembro de 2010

ENTREVISTA “O vigor das grandes manifestações é garantido por um trabalho regular e muito consistente nas comunidades, nas ocupações, bairros e demais setores do país”, afirma Ronaldo Pagotto

Nilton Viana

da Redação

“A SITUAÇÃO é bastante crítica. Há uma crise econômica profunda que fora agravada pelo golpe civil-militar”. Esta é a avaliação de Ronaldo Pagotto, militante da Consulta Popular que esteve em Honduras durante 40 dias, entre os meses de julho e agosto. Segundo ele, que participou de atividades de solidariedade com organizações populares e com a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), mesmo passados 13 meses do golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho de 2009, o povo segue resistindo. “As mobilizações não cessaram, o povo segue se organizando nas ruas, e com um vigor incrível”.

Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Pagotto analisa o atual cenário político e econômico de Honduras e afirma: “A ligação de Zelaya com as massas populares é profunda, não se explica somente com elementos objetivos. É algo que ameaça qualquer golpista”.

Brasil de Fato – Você esteve durante 40 dias em Honduras. Qual a avaliação política que faz do país passados mais de um ano do golpe civil-militar?

Ronaldo Pagotto – A situação é bastante crítica. Há uma crise econômica profunda que fora agravada pelo golpe civil-militar. O desemprego é crescente, entre jovens alcança índices alarmantes; o preço dos alimentos sobe e impulsiona o aumento do custo de vida, resultando em fome crônica em grande parte da população. Essa crise econômica é a base das mudanças mais significativas do governo Zelaya, com medidas para combatê-la e desde uma prioridade aos mais pobres. O golpe não só rompe com isso como patrocina um verdadeiro saque às finanças do Estado. Até mesmo o dinheiro oriundo da Alba foi roubado dos cofres!

O governo atual, que é parte do processo do golpe e sua tentativa de legitimação, não passa uma semana sem uma nova crise. Ele é um misto de atabalhoado e um fi el títere dos ditames do Pentágono. Passou meses correndo atrás de situações de emergência, sem resultado algum. Combateu enchentes, e o povo todo sofrendo; a dengue, e os dados oficiais apontam para um volume de casos recorde no país. E o sujeito vestido de caça-mosquitos não perde nem batizado. Qualquer oportunidade de aparecer sorrindo, o sujeito vai. Se chamar para batida de carro, show, copa do mundo, jogo de botão, festa, inauguração da placa da praça então...

O povo hondurenho assimilou o golpe ou ainda tem resistência?

Mesmo passados 13 meses do golpe, as mobilizações não cessaram, o povo segue se organizando nas ruas, e com um vigor incrível. Pude notar uma disposição muito boa. Apesar de já ter passado todo esse tempo e da forte repressão. Mas a resistência segue firme, com boa unidade, trabalho nacional e muito ânimo. A Frente Nacional de Resistência Popular, que reúne todos os setores populares que estão contra o golpe, não nasceu do golpe apenas. É parte de um trabalho de resistência anterior. A coordenação nacional de resistência popular foi organizada em 2003 e é a base da FNRP, o que ajuda a entender como a resistência foi capaz de organizar atos, manifestações, ocupações e outras formas de resistir desde os primeiros momentos do golpe. Nos 40 dias em que por lá estive, conheci e participei de algumas manifestações em um volume incrível. Em dias de semana, é certo que todos tivemos alguma mobilização, seja geral e mais unitária, seja de algum setor – taxistas, professores, indígenas, pequenos camponeses, sem-terra, movimento de mulheres, juventude, funcionários públicos, liberais em resistência e outros.

Agora, no início deste mês, estão concluindo um trabalho de coleta de assinaturas para a convocatória de uma Assembleia Constituinte. Já tinham alcançado mais de 1 milhão no dia 30 de agosto. E preparam uma paralisação nacional para o dia 7. Outra atividade que farão é um grande ato nacional que promete mobilizar centenas de milhares de pessoas no dia 15, data comemorativa da independência com relação a Espanha.

E como tem se comportado os movimentos populares de Honduras?

São a base e estrutura da resistência. E o vigor que aflora nas grandes manifestações é garantido por um trabalho regular e muito consistente nas comunidades, nas ocupações, bairros e demais setores. Podemos afirmar que o golpe acelerou o trabalho popular e dos movimentos. Há um esforço muito claro em articular as lutas específicas com as grandes questões. Todos os temas de lutas pautam as linhas gerais da Resistência Popular [FNRP], com uma unidade entre os movimentos sociais, as centrais de trabalhadores, os professores (que são a maior força organizada). Juntamente com esse impulso, muitas organizações de bairros, de artistas, de jovens em resistência nasceram desse momento de ruptura. Não há controle sobre isso. É um florescer de organizações que reúne pessoas que nunca haviam se mobilizado, mas agora estão nas ruas, usando os muros como tribunas populares e agitando o povo a se mobilizar. Esse clima é geral e muito animador.

Há uma repressão muito forte contra os movimentos contrários ao golpe. O que você pode perceber sobre essa violência?

A repressão é a primeira face do golpe, e podemos dizer que tem momentos distintos. A primeira fase, do golpe à posse do Pepe Lobo [27 dejaneiro] foi de repressão mais ampla nas ruas, sobretudo nas marchas, com sequestros e assassinatos durante os longos períodos de toque de recolher. Nesse período foram mais de 140 mortos e uma centena de exilados. Após a posse, a repressão adota outra estratégia, mais seletiva, combinada com a militarização de regiões de maior conflito, desaparecimento de pessoas e muita tortura e ameaças. E o governo adota a mesma postura desde o golpe: em Honduras não há tortura, não há repressão, não há assassinatos políticos. Parece até que resgataram os manuais das ditaduras sanguinárias da América Latina e não mudam uma vírgula. E há comprovadamente uma operação mais estratégica orquestrada pela CIA e Mossad em identificar lideranças, infiltrar agentes na resistência e promover ações mais contundentes e “cirúrgicas”. Há casos de jovens que já foram presos e torturados mais de dez vezes, mas que seguem na luta.

Você acredita que a atual conjuntura política do país permite um retorno de Zelaya?

Zelaya, conhecido pelo apelido de Mel (contração de Manoel) é uma referência de massas incrível. Seu nome é bradado por todos os setores com a carinhosa frase “Urge, Mel”. Sua volta é uma das bandeiras centrais da unidade da FNRP, e uma ameaça aos golpistas. Só para se ter ideia, durante a estada de Zelaya na Embaixada do Brasil, o povo fez vigília permanente dentro da casa, com mais de 70 pessoas. E, do lado de fora, sempre aos milhares, por vezes eram dezenas de milhares. No dia da sua saída, 27 de janeiro, também da posse de Pepe Lobo, o ato de despedida no aeroporto da capital levou mais de 500 mil pessoas às ruas. A ligação de Zelaya com as massas populares é profunda, não se explica somente com elementos objetivos. É algo que ameaça qualquer golpista.

Sua capacidade de mobilizar as massas, de ser a principal referência e, mesmo após o golpe, continuar demonstrando o compromisso com o povo e as pautas populares que deram razão ao golpe levam os setores golpistas a temerem seu retorno. Isso simboliza que ele é um líder sustentado pelas massas, dispostas a irem até o fim, ao que me parece. Zelaya está exilado na República Dominicana, com restrições para dar entrevistas e manifestar-se nos meios de comunicação, e, sempre que ameaçou voltar, os golpistas respondem que, caso volte, será preso. A resistência tem como um dos pontos a volta do presidente deposto, mas seu conteúdo está nos pontos programáticos de combate à pobreza e enfrentamento com os interesses da oligarquia, das transnacionais e do imperialismo. Diversas lideranças dão sustentação a isso e também se multiplicam no país.

Temos recebido informações sobre vários assassinatos de lideranças, inclusive jornalistas, no país. Isto é verdade? Na sua avaliação, qual o porquê desses assassinatos?

Nesse quadro repressivo, os alvos seletivos preferidos são jornalistas, professores, lideranças de organizações populares e militantes com algum destaque. Nesse ano foram dez jornalistas mortos, e isso explica parte da estratégia dos golpistas: repressão ampla e agora seletiva, medidas circenses do governo e uma mídia que todos os dias repete: em Honduras não se passa nada. Os assassinatos dos jornalistas têm sempre justificativas da imprensa que apoia o golpe. E as explicações variam: ou eram jornalistas com muitos problemas pessoais, ou conjugais, com grupos políticos locais... e, quando nada pode ser dito, usavam o argumento de que foram mortos por grupos de narcotraficantes. E o mais torpe é que, logo no dia seguinte das mortes, os jornais golpistas já tinham as justificativas prontas.

Já que você citou a imprensa, que análise faz do papel da mídia burguesa no país?

A mídia golpista, aliada da oligarquia hondurenha, é muito semelhante ao que temos aqui no Brasil. Nos lembra o comportamento da mídia brasileira no golpe civil-militar. Repetição de imagens boas, tentativa de criminalizar lutas, organizações, e de silenciar ante aos movimentos da resistência. Mas há uma perda gradativa dessa capacidade de construir uma versão dos fatos desde os interesses golpistas.

E a imprensa alternativa, popular; qual tem sido o papel desses meios frente a esse cenário?

A resistência conta com uma ampla gama de rádios comunitárias. Em Honduras, a população, sobretudo do campo, preserva o hábito de ouvir mais rádios do que ver televisão ou ler jornal. Então, essas rádios alcançam todo o território. Também contam com um programa diário, de duas horas, veiculado à noite em uma das rádios mais importantes do país – Globo –, coordenado pela FNRP. Nesse programa se compartilham informes, orientações unitárias, entrevistas gerais com pessoas da FNRP ou internacionalistas. Também falam sobre a agenda da semana e comentam os passos dos golpistas. É um programa organizador do processo. E há um programa diário também de sátira contra os golpistas, de muito boa qualidade, comentando os fatos mais importantes da conjuntura e com uma audiência grande entre os jovens.

O Brasil se mostrou solidário abrigando o presidente deposto e condenou o golpe. Como o povo hondurenho viu essa postura brasileira?

Participei de muitos espaços, debates, estudo, saudações, e, apenas por ser apresentado como brasileiro, gerava uma simpatia incrível. Não foram poucos os que vieram pessoalmente me agradecer pela solidariedade prestada pelo governo brasileiro nafigura do presidente Lula ao povo hondurenho e a Zelaya. Queriam saudar, mandar abraços ao povo brasileiro. Na marcha de 18 de agosto, com mais de 70 mil pessoas, a segunda bandeira mais vista era a do Brasil. Isso se combina com uma certa ideia generalizada de que no Brasil tudo está sendo resolvido, não há fome, pobreza. Ou seja, não existiria aqui os problemas que vivem lá. O que é falso. Em alguns debates, quando expusemos o quadro da situação do campo, por exemplo – em que a reforma agrária está paralisada, o enorme incentivo ao agronegócio, o uso recorde de agrotóxicos, monocultivo e o velho problema da pior distribuição de renda do mundo –, não geramos espanto, mas uma certa decepção.

E como acha que serão os desdobramentos e operações dos golpistas nos próximos meses?

Com todo esse quadro de mobilizações, de fortalecimento da unidade popular e incapacidade dos golpistas de assegurarem uma mínima governabilidade, os rumos estão indefinidos. Dependem da capacidade dos dois blocos – golpistas e resistência – em operar uma tática exitosa e forte. Do lado dos golpistas, operam resumidamente buscando neutralizar setores populares estimulando as divisões – embora sem muito sucesso – e cooptar setores com medidas pontuais do governo que resolveriam parte do problema da fome. Além disso, há movimentações do governo para neutralizar o movimento camponês, embora também sem sucesso. Mas seguem com a estratégia. Tudo isto, junto ao pretexto da militarização com a justificativa de combate ao narcotráfico. Honduras é uma região estratégica da logística de distribuição de drogas para os EUA. Esta é a justificativa para duas novas bases militares estadunidenses no país. Também há um esforço para reconhecimento internacional do atual governo, comprometido desde o golpe com o não reconhecimento da OEA, ONU, Unasul e outros.

E há um setor dentro do campo golpista que quer o endurecimento do regime. Quer o fim das liberdades de organização, de imprensa etc. Para derrotar o movimento de massas. Hoje essa alternativa não encontra respaldo, em parte por não contar com o apoio – por enquanto – do Pentágono e também por não ter coesão com um setor da burguesia ligado ao comércio internacional, temendo perder espaço e negócios. Mas não deve ser descartada. E é disso que fala Pepe Lobo, temeroso de ser golpeado pelo seu próprio grupo.

E a resistência, como deve se comportar nos próximos meses?

Por parte da resistência, não temos clareza de quanto tempo mais conseguirão manter as mobilizações e organizações populares. O tempo gera desgaste e, se não são obtidas conquistas e vitórias, pode gerar uma desmobilização. Pode ser ousado dizer, mas a vitória de processos como este depende de ações de desgaste, de demonstração de força e unidade. E também de ações que sejam capazes de reverter a correlação de forças. Honduras é hoje um símbolo da luta antiimperialista e antineoliberal. Lá, os enfrentamentos são com uma oligarquia sanguinária, que atua com apoio dos falcões do Pentágono. Portanto, penso que toda solidariedade é fundamental. Honduras somos todos nós, povos do mundo combatendo o imperialismo, o neoliberalismo, as es dominantes locais e caminhando para a construção de um outro mundo e da nossa América sonhada por Bolívar, Morazan e Martí.

Ronaldo Pagotto é militante da Consulta Popular e graduado em Direito.

Os novos rumos da Revolução Cubana

Os novos rumos da Revolução Cubana

imagemCrédito: 2.bp.blogspot.com


O professor de comunicação cubano José Ramón Vidal analisa as mudanças econômicas que o governo planeja

Igor Ojeda da Redação

As medidas econômicas anunciadas recentemente em Cuba não significarão o fim do socialismo, garante, em entrevista por correio eletrônico, o cubano José Ramón Vidal, professor de comunicação e coordenador do Programa de Comunicação Popular do Centro Martin Luther King (CMLK), em Havana, capital do país.

No dia 13, um comunicado da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) revelou que o governo cubano planeja demitir, até o primeiro trimestre de 2011, meio milhão de trabalhadores estatais e incentivar as pequenas iniciativas privadas, como trabalhos autônomos, empresas familiares e cooperativas. O objetivo seria a melhoria da eficiência da economia cubana, que vem se deteriorando fortemente nos últimos anos, depois de uma franca recuperação pós-Período Especial, como é chamada a época que se seguiu à queda da União Soviética.

Boa parte da imprensa internacional, assim como brasileira, anunciou, como consequência de tais medidas, o início do fim do socialismo na ilha caribenha, mas, para Vidal, elas “não apenas são compatíveis com um projeto socialista como também são indispensáveis para se alcançar sua sustentabilidade nas atuais circunstâncias”, pois o Estado, segundo ele, manterá a propriedade sobre os meios de produção e distribuição fundamentais.

Vidal alerta, no entanto, que tais transformações só fortalecerão o socialismo na ilha se forem aplicadas por meio do protagonismo popular. “Se as fizerem [as mudanças econômicas] a partir de posições tecnocráticas, sem um consenso real que leve em conta, o máximo possível, os interesses legítimos dos diversos atores sociais, podem ser letais para o projeto socialista”, afirma.

Brasil de Fato – O que o governo cubano busca com as medidas econômicas anunciadas recentemente?

José Ramón Vidal – As modificações do modelo econômico centram-se, até o momento, na redução ou eliminação de gratuidades e subsídios, redução de pessoal (planeja-se que, para o primeiro trimestre de 2011, se conclua uma primeira fase desse processo, com uma diminuição de meio milhão de vagas de trabalho), ampliação do mercado interno (ofertas turísticas nacionais, venda de eletrodomésticos e serviços de telefonia celular etc.), ampliação do trabalho autônomo e o arrendamento de terras e de pequenos estabelecimentos a seus trabalhadores, tais como barbearias e cabeleireiros, serviços de táxi, entre outros. Tudo dirigido a tornar a economia mais eficiente e a resgatar a necessidade do trabalho como meio de vida, assuntos vitais para a sustentabilidade do país. Essas medidas, além disso, liberam o Estado da administração de pequenos negócios, algo que, desde há muito tempo, havia se identificado como uma hipertrofia do modelo socialista.

As mudanças do modelo econômico se dão em meio a uma situação muito complexa, na qual combinam-se a deterioração consolidada dos indicadores de eficiência econômica – que repercute em menor produção e produtividade, tanto na indústria como na agricultura – e expressões muito extensas de corrupção e ilegalidades. Somam-se ainda, a esses elementos, os impactos externos (queda dos preços do níquel e dos ingressos provenientes do turismo, principalmente) – que repercutem em uma diminuição sensível do crescimento do PIB (até 1,4% em 2009 e estimados 1,9% para 2010, segundo cálculos oficiais) – e a emergência de uma crise financeira do sistema bancário nacional. Não podem ficar fora dessa análise os impactos negativos que o bloqueio dos EUA e os efeitos devastadores dos furacões de 2008 provocam sobre toda a atividade econômica e financeira. Em outras palavras, as medidas em curso ou anunciadas tendem a enfrentar essas complexa situação.

Pode-se dizer que essa é a mudança econômica mais radical em Cuba desde a implementação do socialismo no país? Implementa-se, de fato, um novo modelo econômico?

Na minha opinião, são mudanças importantes com repercussões econômicas e sociais, mas não devem ser magnificadas. O Estado manterá a propriedade sobre os meios de produção e distribuição fundamentais. Haverá novos e renovados atores econômicos (mais cooperativas, mais trabalhadores autônomos e pequenos negócios familiares, arrendamentos de estabelecimentos pequenos ao coletivo de trabalhadores), uma utilização muito mais protagônica do sistema tributário, da política monetária, e um maior apego ao realismo de que ninguém, nem pessoa, família ou país, pode gastar mais do que produz. Mas acredito que tudo isso não apenas é compatível com um projeto socialista como também é indispensável para se alcançar sua sustentabilidade nas atuais circunstâncias.

O tema medular radica em como serão aplicadas essas transformações. Se as fizerem a partir de posições tecnocráticas, sem um consenso real que leve em conta, o máximo possível, os interesses legítimos dos diversos atores sociais, podem ser letais para o projeto socialista. Mas, se forem orientadas para favorecer a uma maior socialização do poder, uma maior participação real dos trabalhadores na condução de seus empreendimentos e centros trabalhistas – e, em geral, se fortalecerem os mecanismos de poder popular e não deixarem abandonados à sorte nenhuma família que, justificadamente, não puder garantir seu sustento por meio do trabalho, como se proclamou –, então, o projeto socialista se fortalecerá e se fará realmente sustentável.

Sabe-se que a economia cubana sempre dependeu muito da contribuição de outros países. Com a adoção das novas medidas, você acredita que se abre a perspectiva para uma base produtiva mais forte e dinâmica, que diminua essa dependência da ajuda econômica externa?

Claro que uma melhora da produtividade do trabalho, e, em geral, dos indicadores de eficiência econômica, torna o país muito mais forte e o põe em melhores condições para participar dos processos integradores em curso em nossa região. Cuba tem um potencial enorme em seus recursos humanos altamente qualificados. Sua utilização de maneria mais eficiente beneficiará não apenas nosso povo como também aqueles que têm recebido nosso apoio.

Como o povo cubano vem reagindo ao anúncio de mudanças? Como foi o processo de elaboração e discussão delas? Houve um processo de consultas aos trabalhadores?

Obviamente, muitas pessoas se preocupam com seu futuro imediato. Elas se perguntam: “Estarei entre esse meio milhão de pessoas que será demitido?” É um processo difícil que, de imediato, trará a muitas famílias tensões que não podem ser minimizadas. Atualmente, discute-se nos centros de trabalho um comunicado da Central de Trabalhadores de Cuba que anuncia e explica a medida de redução de vagas que está para começar. Reitera-se que será um processo transparente com a plena participação do sindicato e que os critérios de idoneidade serão os que guiarão as decisões. Esta é a medida mais complexa de se aplicar. Um assunto que gera preocupação é se, durante o ano de 2011, poderão ser criados empregos suficientes para compensar significativamente os cortes que serão feitos no primeiro trimestre. Espera-se que uma parte dos demitidos se autoempreguem, pela via do trabalho autônomo, e que alguns setores econômicos com déficits de trabalhadores – como a agricultura e a construção – sejam também um alívio à situação de desemprego criada. As transformações restantes encontrarão menos dificuldade para alcançar consenso e, mais ainda, despertar esperanças de melhora da vida cotidiana.

As mudanças anunciadas preveem a autorização para que os microempresários ou trabalhadores autônomos contratem força de trabalho. Como garantir que não ocorra exploração e que não se aumente a desigualdade social?

Em todo esse período que chamamos “especial”, desencadeado pelo colapso da União Soviética e do socialismo europeu, os índices de desigualdade em Cuba cresceram. O fato de que muitas pessoas tenham, legal ou ilegalmente, ingressos não provenientes do trabalho provoca essas desigualdades. A nós, em Cuba, isso, com toda razão, é indesejável, mas tais índices estão muito longe dos níveis de desigualdade do resto do continente americano. As novas medidas tendem a regularizar fatos que já ocorrem na prática e, nesse sentido, a própria legalização é uma medida de proteção. O empregador terá que pagar um imposto para a seguridade social de seu empregado. Será preciso, além disso, imaginar outras formas de proteção, para que os direitos desses trabalhadores sejam respeitados. Pessoalmente, penso que os sindicatos poderiam desempenhar um papel nisso.

TRÊS ORIGINALIDADES E UM VELHO CAMINHO

TRÊS ORIGINALIDADES E UM VELHO CAMINHO

imagemCrédito: PCB


TRÊS ORIGINALIDADES E UM VELHO CAMINHO

Mauro Luis Iasi*

Resumo: Análise da trajetória da Revolução Cubana tomando como hipótese três aspectos particulares que atribuem a esta experiência histórica sua originalidade e a reflexão sobre elementos de sua universalidade como manifestação histórica fundada na concepção socialista e nos pressupostos marxianos.

Quando comemorarmos os 50 anos da Revolução Cubana torna-se necessário refletir sobre sua trajetória, seus ensinamentos e impasses. Devemos alertar inicialmente que em se tratando da Revolução Cubana, ainda que como em toda a análise devamos preservar a necessária objetividade, nos é impossível qualquer tipo de neutralidade. Assim, acompanhamos Mario Benedetti reafirmando que seremos totalmente parciais e, mais que isso, apaixonados, pois cremos que, assim como vimos em Cuba, paixão e revolução são inseparáveis.

A história da Revolução Cubana nos permite identificar três originalidades que lhe conferem um aspecto singular no cenário das revoluções do século XX, mas, ao mesmo tempo, ela é a comprovação de pressupostos e caminhos universais que a luta dos povos vem construindo, teórica e praticamente, há tanto tempo.

Seguindo as pistas de Che Guevara, quando busca compreender se há ou não uma excepcionalidade nos caminhos trilhados pelos revolucionários cubanos, concordamos que as características específicas de Cuba também lhe permitem uma profunda identidade com as demais formações sociais1, fundamentalmente aquelas de nosso continente. Aqui, no entanto, gostaria de começar por destacar três elementos ligados aos caminhos escolhidos no que tange à Revolução e à transição socialista.

PRIMEIRA ORIGINALIDADE: QUANTO À VIA REVOLUCIONÁRIA

O primeiro aspecto que gostaria de destacar diz respeito à via revolucionária, ou seja, o caminho de objetivação da estratégia e suas vinculações táticas. O pano de fundo desta polêmica se relaciona, ao mesmo tempo, com os elementos da realidade cubana e o debate das experiências revolucionárias vitoriosas, ou seja, a Revolução Russa e a Revolução Chinesa.

Toda grande revolução deixa uma marca e se torna uma referência. É natural, portanto, que os revolucionários procurem seguir seus passos e, muitas vezes, de maneira mecânica. Assim surgem modelos. Esquematicamente podemos resumir para fins desta exposição nas consagradas fórmulas do chamando modelo Petrogrado, ou seja, uma insurreição baseada nos principais centros urbanos/industriais e na classe operária que, se aliando aos camponeses, logra a tomada do poder; e a Guerra Popular Prolongada que partindo das lutas e guerrilhas no campo se transforma em um Exército Popular e toma as cidades, cercando-as.

Cuba tinha uma grande tradição de greves e insurreições, assim como de luta armada, como as duas guerras de independência. Com a montagem do grupo guerrilheiro na Sierra

Maestra e a organização de resistência construída pelo M26 nas cidades, abre-se o debate a respeito do núcleo estratégico e da via, isto é, uma greve geral que leva a uma insurreição apoiada pelo braço armado guerrilheiro, ou uma ação ofensiva da guerrilha apoiada pela resistência urbana que deflagraria uma greve geral. Tal polêmica que contrapunha os chamados setores da planície e da sierra expressava o debate entre as alternativas soviética e chinesa. A primeira originalidade que destacamos é que a polêmica se resolve de maneira criativa.

A Revolução Cubana não é uma mera cópia de nenhum dos dois modelos, mas antes uma síntese. A mera greve geral insurreicional não seria capaz de derrotar Batista, como se comprovou na tentativa de 1958. Da mesma forma a mera transposição da Guerra Popular Prolongada seria inviável nas condições cubanas, pelas dimensões do território, pela presença próxima do imperialismo e outros fatores. A saída foi uma criativa combinação entre a ação da guerrilha, a formação das áreas liberadas no oriente, a resistência urbana e a frente de revolucionária conseguida através de um amplo leque de alianças, que culminou, simultaneamente na ofensiva militar e a insurreição que levaria à vitória de janeiro de 1959.

DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA, ALIANÇAS E PRINCÍPIOS

A segunda originalidade diz respeito a direção revolucionária, sua forma de condução política da luta, incluindo aí a questão das alianças e, na seqüência, a firmeza estratégica que leva da superação do momento da revolução democrática à construção socialista.

O protagonismo do M26 desde sua formação após o assalto ao quartel Moncada, a preparação e a montagem do núcleo guerrilheiro na Sierra Maestra é inquestionável. No entanto, no curso da luta contra Batista os revolucionários, sem que perdessem o protagonismo, tornaram possível uma frente bastante ampla que não apenas atraiu os outros partidos progressistas, como o PSP (nome legal do Partido Comunista), o Diretório Estudantil Revolucionário e outros, mas setores da própria burguesia cubana e mesmo de latifundiários.

Este caminho não se deu sem tensões e mesmo polêmicas, por exemplo, a que opôs Fidel a Che quando das negociações com empresários e o compromisso firmado na Venezuela. O fato é que a ação política do M26 isolou o ditador e criou as condições políticas da vitória. Mas é aí que entra a verdadeira originalidade da revolução cubana e que a diferencia das muitas tristes e trágicas experiências que presenciamos em nosso continente.

Logo após a vitória em janeiro de 1959 se forma um governo tendo a Frente Urrítia e Cardona, dois políticos democráticos e que mantinham boas relações com a burguesia cubana e os EUA, defendendo uma solução de compromissos e responsabilidade. Fidel se encontra em Santiago e faz uma lenta e longa marcha na qual repete seu discurso segundo o qual a Revolução começaria agora e chegava ao poder sem compromissos com ninguém a não ser com o povo que era o único dono da vitória. Contra as propostas moderadas, impôs o programa de Moncada, a reforma agrária (começando pelas terras de sua própria família), a reforma urbana e, depois, a nacionalização das empresas estrangeiras, leia-se, norte americanas.

Em tempos como os nossos onde candidatos se esquecem de seus princípios no caminho entre as urnas e o palácio do governo e contentam-se em se manter nos limites da ordem abandonando as verdadeiras demandas revolucionárias que por ventura um dia os moveram, esta é uma característica excepcional da revolução Cubana.

A ORIGINALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA TRANSIÇÃO SOCIALISTA

A terceira originalidade se relaciona à transição socialista e seus problemas. Uma vez consolidada a vitória, não sem dificuldades como mostra a brutal reação do imperialismo desde as sabotagens até a tentativa de invasão pela Baia dos Porcos em 1961, reapresenta-se a polêmica dos modelos, agora aplicados não mais à via, mas a condução da economia. Recordemos que no início da década de sessenta ocorre o rompimento entre URSS e China, o que agrava o debate.

Neste momento delicado a direção revolucionária soube manter uma postura extremamente correta e como afirmou Fidel em seu discurso de fundação do PCC, “não perguntamos a ninguém como deveríamos fazer a revolução e a fizemos e não perguntaremos a ninguém como deveremos levá-la à frente e levaremos”; e alertava que “ninguém pode nos dividir se não deixarmos que as divergências que dividem o campo socialista nos atinjam”. Na mesma oportunidade Fidel lembrava que o marxismo é uma doutrina feita por revolucionários para revolucionários e não uma propriedade privada registrada em nenhum cartório, completando: “aqueles que derem interpretações corretas e as aplicarem conseqüentemente triunfarão, aqueles que não o fizerem fracassarão”.

Esta postura de independência que marcaria a posição de Cuba no cenário internacional refletiu-se internamente de maneira muito significativa e neste episódio a figura de Che Guevara é essencial. Começando pela própria construção do Partido.

Quando da criação do Partido Unido da Revolução Socialista, ainda em 1961, certos dirigentes de partidos já estruturados defendiam a idéia de que se mantivesse a hierarquia anterior, ou seja, alguém que fosse da direção de um partido ou organização que compunha a frente tornar-se-ia dirigente do Partido Unido. Che contrapõe a esta tese a proposta de criação das ORIs (Organizações Revolucionárias Integradas) que deveriam ser compostas a partir dos locais de trabalho e comitês de defesa de quadra e os quadros que integrariam o partido e suas direções deveriam ser indicados pelos trabalhadores entre aqueles que estes considerassem os mais capazes e firmes.

Além desta importante questão da organização a grande originalidade na construção socialista vem da discussão sobre a forma de organização da economia. Che, nesta época no Ministério, faz um profundo estudo sobre as experiências socialistas, inclusive viajando a vários países e conversando com dirigentes e trabalhadores. O comandante chega a uma conclusão de transcendental importância. Em suas palavras:

Perseguindo a quimera de realizar o socialismo com os meios falhos que nos legou o capitalismo (a mercadoria como célula econômica, a rentabilidade, o interesse material individual como alavanca, etc.) se pode chegar a um beco sem saída. E quando se chega aí depois de percorrer uma longa distância na qual os caminhos se entrecruzam, muitas vezes é difícil perceber o momento que perdemos o caminho. Entretanto, a base adaptada já terá feito seu trabalho de sabotagem sobre o desenvolvimento da consciência. Para construir o comunismo, simultaneamente com a base material temos que produzir o homem novo (GUEVARA, s/d, p. 273).

E completa:

Não se trata de quantas gramas de carne se come ou quantas vezes por ano alguém pode ir à praia, nem de quantas belezas que vem do exterior possam ser compradas com os salários atuais. Trata-se, precisamente, que o indivíduo se sinta mais pleno, com muito mais riqueza interior e com muito mais responsabilidade (p. 282-283).

Tais constatações levaram o comandante a propor um sistema que chamava de presupostário e que, em síntese, procurava superar a forma mercantil na relação entre empresas socializadas e mais adiante tentou, numa experiência piloto na Isla de la Juventud, uma forma de sociabilidade na qual recuperava-se o valor de uso e abolia-se o dinheiro como forma de equivalente. É neste contexto que devemos entender a proposta guevariana a respeito da superioridade dos incentivos morais sobre os materiais. Não se trata de uma formulação meramente ética ou romântica, pelo contrário, sua posição remete a necessidade de considerar as transformações de consciência como força material no desenvolvimento das forças produtivas. Polemiza Che:

Se, o estímulo material se opõe ao desenvolvimento da consciência, mas é uma grande alavanca para obter resultados na produção, devemos entender que a atenção preferencial ao desenvolvimento da consciência atrasa a produção? Em termos comparativos em uma época dada, é possível, ainda que ninguém tenha realizado cálculos pertinentes; afirmamos que em tempo relativamente curto de desenvolvimento da consciência o desenvolvimento da consciência faz mais para o desenvolvimento da produção que o estímulo material e o fazemos projetando o desenvolvimento da sociedade socialista em direção ao comunismo, o que pressupõe que o trabalho deixe de ser uma penosa necessidade para converter-se em um agradável imperativo (GUEVARA, s/d, p. 191).

Destacando que o fundamento ético da proposta de Che é a materialidade das relações, tal raciocínio não deixa de ser moral, porém esta se altera substantivamente não apenas como meta ideal, mas, fundamentalmente como caminho. Não é uma mera afirmação de princípios, é uma poderosa crítica aos caminhos escolhidos pelas sociedades que ensaiavam a transição socialista. A transição socialista é, simultaneamente, composta de mudanças materiais e nas relações sociais que tanto impulsionam alterações na consciência, como são impulsionadas por estas alterações.

O socialismo econômico sem a moral comunista não me interessa, dizia Che. Lutamos contra a miséria, mas ao mesmo tempo lutamos contra a alienação. Um dos objetivos fundamentais do marxismo é fazer desaparecer o ‘interesse individual’ e também, das motivações psicológicas. Marx se preocupava tanto com os fatos econômicos como sua tradução na mente. Ele chamava isto de ‘fatos de consciência’. Se o comunismo descuida dos fatos de consciência pode até se tornar um método de distribuição, mas deixa de ser uma moral revolucionária (DANIEL, 1987, p. 45).

A tragédia é que em Cuba se gestavam as condições para que esta constatação ocorresse, pelo desenvolvimento da experiência socialista até então, mas as condições materiais para superar as determinações materiais que se encontram na base do fenômeno detectado, em Cuba, se encontravam ainda menos desenvolvidas que em outras formações sociais que trilhavam o caminho da transição socialista. Isso explica o desenvolvimento futuro das escolhas econômicas na ilha revolucionária e os problemas práticos encontrados na execução, naquele momento, do pensamento econômico de Che.

Entretanto, estas reflexões não deixaram de fincar suas marcas na experiência cubana, desde as formas de organização nos locais de trabalho, nas formas de gestão e mesmo, e talvez fundamentalmente, nos processos políticos que culminaram na experiência de Poder Popular iniciada a partir de 1974, depois estendida em 1979.

UM ÚLTIMO ELEMENTO ORIGINAL

O conjunto destas originalidades implica na singularidade da experiência cubana, mas há um outro elemento, mais difuso e difícil de ser compreendido por observadores desatentos, que se potencializou por estes aspectos descritos, mas em grande medida também podem explicá-los. Este elemento é a dignidade. Não que exista alguma essencialidade ou caráter nacional, ou qualquer uma destas metafísicas, trata-se de um traço cultural e histórico e, em grande medida, construído pela revolução.

A exploração colonial, a escravidão e o racismo, as opressões da riqueza e do domínio imperialista, costumam impor traços de subserviência e servilismo. O fato de a história de Cuba ser marcada por duas guerras de independência, a primeira levando à abolição da escravidão e a segunda a independência em relação à Espanha, a luta guerrilheira contra Batista, produzem uma alteração significativa que reverte servilismo em rebeldia. Como não há essência humana fora daquela que os seres humanos constroem através de sua ação histórica, a rebeldia levou a emancipação de uma dignidade rara de se encontrar entre nossos sofridos povos explorados.

Este é um traço difícil de ser compreendido pelos adversários da Revolução Cubana e, inclusive, para alguns de seus defensores. Peguemos por exemplo uma bela canção de Silvio Rodriguez, El Nécio. Explica o autor em seu disco que um tanto surpreendido com as insistentes tentativas de seduzi-lo com propostas milionárias de carreiras e contratos no exterior, talvez por estes senhores acreditarem que “todos têm seu preço”, ironicamente responde que se é assim, coloca o seu: “Es una canción de marketing, de precios. Y para que nadie se imagine que soy santo, voy a poner el mío (por ahora): El levantamiento del bloqueo a Cuba y la entrega incondicional del territorio Cubano que E.E.U.U. usa como base naval en Guantánamo”. E diz em sua música:

Para no hacer de mi ícono pedazos,

para salvarme entre únicos e impares,

para cederme un lugar en su Parnaso,

para darme un rinconcito en sus altares.

me vienen a convidar a arrepentirme,

me vienen a convidar a que no pierda,

mi vienen a convidar a indefinirme,

me vienen a convidar a tanta mierda.

Yo no se lo que es el destino,

caminando fui lo que fui.

Allá Dios, que será divino.

Yo me muero como viví.

É estranho para quem trás no peito uma máquina registradora no lugar do coração entender certas posturas. Quando a URSS ruía e logo após o muro que separava a Alemanha, muitos repórteres internacionais foram a Cuba, prontos para registrar a queda do regime. Alguns devem estar lá, persistentes, até hoje. Mesmo no mais duro dos tempos do chamado período especial, e acreditem eram duros estes tempos no que diz respeito as mais elementares necessidades da existência, Cuba logrou resistir e cabe perguntar por quê? A imprensa internacional tem já pronta sua resposta, a ditadura, o medo, a violência.

Em um documentário sobre o período especial, um dos entrevistados nos diz que quando ouvia Fidel falar das dificuldades, da necessidade de enfrentar as carências tão sérias que estavam enfrentando, mas ao mesmo tempo resistir na alternativa socialista, dizia, “nós acreditávamos nele, pois podemos olhar nos olhos de nossos dirigentes e ver que eles estavam falando a verdade, que não estavam enriquecendo, nem mandando dinheiro para o exterior quando pediam o nosso sacrifício”. Este é um recurso difícil de ser quantificado e que se relaciona com esta rebeldia e dignidade que falávamos. Um pequeno pedaço mais da música de Silvio talvez esclareça melhor.

Yo quiero seguir jugando a lo perdido,

yo quiero ser a la zurda más que diestro,

yo quiero hacer un congreso del unido,

yo quiero rezar a fondo un hijonuestro.

Dirán que pasó de moda la locura,

dirán que la gente es mala y no merece,

más yo seguiré soñando travesuras

(acaso multiplicar panes y peces).

[...]

Dicen que me arrastrarán por sobre rocas cuando la Revolución se venga abajo,

que machacarán mis manos y mi boca,

que me arrancarán los ojos y el badajo.

Será que la necedad parió conmigo,

la necedad de lo que hoy resulta necio:

la necedad de asumir al enemigo,

a necedad de vivir sin tener precio.

Yo no se lo que es el destino,

caminando fui lo que fui.

Allá Dios, que será divino.

Yo me muero como viví.

Dignidade. Não esperem que explique. Certas coisas são impossíveis de ser explicadas ao cérebro se o coração não entendeu.

UM VELHO CAMINHO EM MEIO A TRÊS ORIGINALIDADES

Finalmente, depois de tecer comentários sobre algumas originalidades da Revolução Cubana, me permito afirmar que esta profunda singularidade alcançada só foi possível porque os revolucionários cubanos souberam se fundamentar em pressupostos e leis que não são em absoluto em nada originais: o marxismo.

Em si mesmo, o verdadeiro marxismo, porque dialético, é simultaneamente tradição e ruptura, herança e inovação, em uma palavra superação dialética. Só pode ir além quem se fundamenta no existente, só pode inventar o futuro evitando as armadilhas do passado, quem conhece a história. Neste aspecto a Revolução Cubana não é original, ela é parte da história do socialismo e reafirma elementos substanciais de todo pensamento revolucionário e, fundamentalmente, do pensamento marxiano.

Não é o caso de realizar um exaustivo inventário desta profunda coerência entre a experiência cubana e os fundamentos do marxismo, mas ressaltemos aqui apenas alguns poucos elementos.

O primeiro deles é o conceito de Revolução Permanente, inicialmente apresentado por Marx e Engels em Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas (1850) e depois resgatado com muita propriedade por Trotsky. Por este princípio, ainda que a revolução proletária, por determinações objetivas se encontre na situação de ter que lutar contra o inimigo de seus adversários, no caso da luta da burguesia contra a nobreza feudal deveria conduzir sua estratégia de forma que as condições de desenvolvimento da luta em aliança com a burguesia levariam ao desenvolvimento da luta contra ela no sentido da revolução proletária. Lênin compreendeu perfeitamente isso na passagem da Revolução de fevereiro para a tomada do poder em Outubro. Fidel e seus camaradas não pararam no meio da viagem para descansar e se contentaram em democratizar Cuba, desenvolver o capitalismo, ousaram o salto revolucionário no sentido da transição socialista.

A leitura esquemática e dogmática desta tese leva a uma estranha teoria das etapas, na qual é necessário primeiro desenvolver o capitalismo para depois ser possível uma revolução socialista, tal como se consolidou em certo momento na Terceira Internacional sob influência do período stalinista e virou o principal dogma da deformação social-democrata.

O segundo elemento, que está ligado a este primeiro, é a questão da dualidade de poderes que no caso de Cuba se expressou no momento de constituição do governo Urrítia/Cardona em 1959 ao lado da força organizada da guerrilha e das áreas liberadas. Este é um traço universal nos processos revolucionários, a capacidade de dar forma organizativa e coletiva a uma correlação de forças que torne possível a derrota do inimigo. Assim foram os Soviets na experiência russa, as enormes áreas liberadas com apoio dos camponeses na China e a guerrilha na Sierra Maestra no caso cubano.

O terceiro elemento que Marx e Engels destacam é que a revolução, em algum momento de seu desenvolvimento, encontra a resistência do Estado e de seus meios de dominação, com destaque nos momentos mais agudos de luta, as forças armadas. Ainda que as vias e as formas possam variar muito, e de fato variaram na pequena história do socialismo, não se supõe possível uma revolução que se pretenda verdadeira, seguir seu curso sem que haja rupturas. O mito de desenvolvimento pacífico da revolução, que tanto sangue custou em nossa história (vejam Alemanha e Chile), desconsidera que a implantação de uma transição societária em direção ao socialismo e além dele ao comunismo, não se dará sem rupturas.

Aqueles que desejam preservar suas alianças e as sagradas noções de governabilidade estão condenados a limitar sua ação política nos limites da ordem. Os revolucionários cubanos não padeceram deste mal.

Por último, mas não menos importante, está uma tese central de Marx. A transição socialista só é possível tendo por base o pleno desenvolvimento das forças produtivas materiais que se abrigam na forma societária capitalista. Dizia Marx, em 1859, que nenhuma forma social desaparece antes que se desenvolvam ao máximo todas as forças produtivas que pode conter e jamais surgem novas formas de sociabilidade antes que se desenvolvam, no seio da própria sociedade antiga, as condições materiais para tanto.

Aparentemente Cuba nega esta tese, pois inicia uma revolução que se declara socialista em um país pobre e de escasso desenvolvimento capitalista enquanto grandes países altamente industrializados e plenamente capitalistas contentam-se em acelerar o crescimento capitalista e distribuir bolsas. No entanto, as aparências enganam.

Primeiro devemos ressaltar que nem Marx, nem Engels, consideram uma relação mecânica entre a base material econômica e a luta política, ou seja, a política é entendida como mediação. Isso significa que não existe nenhuma determinação que limite a ação dos seres humanos, pois como afirmava Marx no mesmo texto (2009) a humanidade só se propõe tarefas que podem realizar, pois se analisamos bem, estas tarefas só brotam quando existem ou estão em germinação as condições materiais para enfrentá-las.

Portanto, não é o caso de esperar as condições materiais desenvolvidas para depois agir, o que leva a todo tipo de reformismo e adeqüacionismo que conhecemos. Cuba trilhou seu caminho a partir das condições que ali se apresentavam e que tornavam possível uma revolução e não dá o salto em direção ao socialismo por puro aventurerismo romântico, mas por que a luta de classe ali tornou possível que sua vanguarda assim caminhasse.

No entanto, o desdobramento da construção do socialismo em Cuba prova que a experiência cubana, e neste ponto também todas as experiências socialistas do século XX, comprovam que Marx estava tragicamente certo em sua tese. A autonomia da ação política não pode prescindir das condições materiais, ou seja, ainda que possível ir além com base em condições ainda em germinação, o pouco desenvolvimento das forças produtivas materiais cobrará seu tributo na forma e destino da ousadia empreendida, determinando o rumo da transição, ou não, ao comunismo.

Minha paixão por Cuba e meu sólido compromisso solidário com o povo cubano não me impedem de reconhecer os graves problemas e, em alguns casos, mesmo distorções, em sua experiência revolucionária. Os próprios cubanos as conhecem e, alguns, têm clara consciência de suas conseqüências. Mas, estes problemas não negam as teses centrais do pensamento marxiano, pelo contrário, as confirmam, como podemos destacar em apenas uma simples mas extremamente complexa constatação: a revolução socialista é, necessariamente, internacional.

Os cubanos, com seu compromisso internacionalista para o qual Che é um exemplo, não podem substituir as bases materiais de universalização do capital que torna possível a revolução mundial. Podem, e assim o fizeram e fazem, estar ombro a ombro com toda luta que caminha no sentido da emancipação.

Assim podemos concluir que a Revolução Cubana é profundamente original e não é em seu fundamento original. É continuidade e parte da história da humanidade por sua emancipação, um belo e complexo capítulo desta obra coletiva que estamos a construir. Romântica e realista, rebelde e digna, costurando no corpo de seu sonho notas de ousadia profunda, mas que encontra nos caminhos áridos do real a carne de suas realizações

Bela, trágica e dura... como a vida. Terminemos por, mais uma vez, citar Silvio e seu grito de esperança e resistência: “românticos – al menos hasta el fin – imposmodernizable”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DANIEL, J. “La profecia del Che”, in Carlos Tablada Perez. Ernesto Che Guevara, hombre y pensamiento: el pensamiento econômico del Che. Buenos Aires: Antarca, 1987.

GUEVARA. E. “El socialismo y el hombre en Cuba”. Obras, tomo I, s/d.

MARX, K. Contribuição para a crítica da economia política. Disponível em http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm. Acesso em 27 out 2009.


*Graduado em História, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor na Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e educador no NEP 13 de Maio. Membro do Comitê Central do Partido

Comunista Brasileiro (PCB).

NOTAS:

1. Che destacava os aspectos tais como a presença do latifúndio, a dinâmica do imperialismo que deforma o desenvolvimento levando à exploração eufemisticamente chamada de subdesenvolvimento, e as condições de vida que poderiam se resumir na expressão em maiúsculas: FOME DO POVO.

Fonte: Revista Múltiplas Leituras, v.2, n.2, p. 109-120, jul. /dez. 2009.

26 de setembro de 2010

Querido camarada Ivan Pinheiro


Partido Comunista Peruano

Com todo o afeto e solidariedade comunista, receba nossa saudação, e que alcance os melhores logros na tarefa que o glorioso PCB te confiou: a de levantar bem alto as bandeiras de luta dos comunistas pelos interesses da e operária, dos trabalhadores e do conjunto do povo oprimido por uma vida digna e pelo Socialismo na terra de Luiz Carlos Prestes, Carlos Marighela, Caio Prado Jr, Jorge Amado e de tantos outros lutadores.

Mantendo vossas tradições, vossas raízes revolucionárias, vossa identidade comunista, enfim, vossa própria personalidade, contribuem dessa forma poderosamente com a grande torrente anti-imperialista que assim se expressa no Brasil, e que recorre nossa América morena. Estamos seguros de que, imprimindo com força o programa do PCB no processo eleitoral, trabalham pela conjunção das forças que lutam por transformações econômicas e sociais contra as expressões políticas e ideológicas dos que defendem os interesses das transnacionais, da oligarquia, e do imperialismo.

O PCB tem profundas raízes históricas, não é um Partido do passado, é um Partido atual e atuante, com propostas válidas para vossa realidade, e que no atual processo eleitoral o povo brasileiro as perceberá nitidamente.

Unidos na ideologia de Marx e Lênin e na solidariedade internacional, novamente grandes êxitos ao PCB e à sua combativa militância, e a ti, querido camarada Ivan “guerreiro…”;

Sempre em “Atitude Subversiva”, o forte abraço dos comunistas peruanos.

Roberto de la Cruz

Secretário Geral do PCP

Partido Comunista Peruano

Raúl Núñez

Secretário de Relações Internacionais do PCP

Lima, 17 de setembro de 2010
ABAIXO ASSINADO - DOCUMENTOS DE LUIZ CARLOS PRESTES DEVEM SER ENTREGUES AO INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES!

ABAIXO ASSINADO - DOCUMENTOS DE LUIZ CARLOS PRESTES DEVEM SER ENTREGUES AO INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES!

Ao Embaixador da Federação da Rússia no Brasil
Exmo. Sr. Serguey Pogóssovitch Akopov
embaixada.russia@gmail.com


Nós, abaixo-assinados, tendo tomado conhecimento pela imprensa de que documentação pertencente a Luiz Carlos Prestes, no período em que ele se encontrava exilado na ex-União Soviética, será doada a uma parte da sua família, em cerimônia no Palácio do Planalto, no próximo dia 8 de outubro, queremos solicitar ao Governo da Federação da Rússia que os referidos documentos sejam entregues ao Instituto Luiz Carlos Prestes, presidido por sua filha com Olga Benário Prestes, a Professora Doutora Anita Leocádia Prestes.
Entendemos que tal documentação histórica deva ser preservada com cuidados especiais de quem entende do assunto, ficando disponível para consulta do público em geral e de pesquisadores nela interessados.
Entendemos que tal documentação deva ser destinada à instituição pública, legalmente constituída, que especificamente se dedica à preservação da memória de Luiz Carlos Prestes – o Instituto Luiz Carlos Prestes.
Dessa forma, reivindicamos: DOCUMENTOS DE LUIZ CARLOS PRESTES DEVEM SER ENTREGUES AO INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES!

CLIQUE AQUI PARA ASSINAR

25 de setembro de 2010

24 de setembro de 2010

23 de setembro de 2010

AÉCIO NEVES E ANASTASIA CONTINUAM TENTANDO CENSURAR PCB COM MAIS 4 PROCESSOS!

AÉCIO NEVES E ANASTASIA CONTINUAM TENTANDO CENSURAR PCB COM MAIS 4 PROCESSOS!

O primeiro processo, tentando tirar do ar o programa de nosso candidato ao governo de Minas Gerais Fábio Bezerra fracassou, e logo no dia seguinte os nove advogados de Anastasia e Aécio Neves entraram com quatro novos processos contra nós.

A grande imprensa (leia-se imprensa do Capital) não noticiou nada!

Que desespero para tirar do ar nosso 45 segundos!

Aécio Neves (ex-governador de Minas Gerais) e sua coligação Somos Minas Gerais voltam a atacar o PCB. O motivo é o mesmo da última representação. O PCB apresentou em seu programa eleitoral uma crítica contundente ao CHOQUE DE GESTÃO promovido nos últimos anos pela administração tucana.


Assista aqui o Programa

http://www.youtube.com/user/PCBJF#p/u/11/dUz3uBaJgHc