29 de outubro de 2010

ONU aprova fim do embargo norte-americano a Cuba

ONU aprova fim do embargo norte-americano a Cuba

imagemCrédito: Prensa Latina


Documento foi aprovado com 187 votos a favor, 2 contra e 3 abstenções

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou nessa terça-feira a suspensão do embargo norte-americano imposto a Cuba, em vigor desde 1962. Essa é a 19ª vez consecutiva em que o órgão coloca em votação a questão do bloqueio promovido pelos EUA contra a ilha caribenha, em que o colegiado de todas as nações que compõem a ONU aprovam o fim do bloqueio financeiro e comercial ao país.

O documento que decide pelo fim imediato do bloqueio a Cuba foi aprovado com 187 votos a favor, 2 contra (Estados Unidos e Israel) e 3 abstenções (Ilhas Marshall, República de Palau e Estados Federados da Micronésia - satélites dos EUA, mas que ainda assim não repetiram o voto contra, se abstendo no pleito).

Estimativas oficiais do governo cubano indicam que o embargo imposto há 48 anos causa prejuízos que somavam cerca de US$ 751,3 bilhões até dezembro de 2009. O bloqueio envolve restrições econômicas, financeiras, políticas e diplomáticas; sobrevivendo às custas de interesses das máfias e cartéis reacionários e fascistas, que empregam além do embargo citado, também táticas sujas de desestabilização e terrorismo para derrubar o Estado Cubano.

Para as autoridades cubanas e a comunidade internacional, o governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não demonstra boa vontade para recuar na adoção do embargo. Assim como parte de suas promessas de campanha, como o fim das guerras, Obama se "esqueceu" de levantar as asfixiantes restrições que partem do seu governo contra a população cubana, e oferece a Cuba a mesma mão que Bush e seus antecessores: um punho cerrado segurando um punhal.

Daniel Oliveira - com fontes internacionais (Agência Lusa e Xinhua)

CAPITALISMO QUESTIONADO

CAPITALISMO QUESTIONADO

imagemCrédito: PCB


Marcos Domich (Partido Comunista Boliviano)

A crise econômica do capitalismo europeu se transformou em crise política. Efeito desta crise é a queda do gabinete de Zapatero. E é, com toda certeza, o primeiro gabinete que cai. Depois virão outros países europeus.

Mas, o que significa a substituição de ministros e a aparição de rostos que ninguém tinha imaginado na Moncloa há alguns meses? A imprensa começou a especular - sem inocência, levianamente - de que se trata de um gabinete com “tendências de esquerda". Em particular, chamou atenção a presença de Rosa Aguilar, ex-prefeita de Granada e que chegou a esta posição enquanto fazia parte da Esquerda Unida. Dizem que teve um bom desempenho em seu cargo e agora a levaram ao ministério de meio ambiente. Mas, uma andorinha só não faz verão. É sugestiva a mudança de Moratinos no ministério de relações exteriores; dizem que é o autor da retirada das tropas espanholas do Afeganistão. Um atrevimento desses o Pentágono não perdoa, como também não perdoa sua atitude equilibrada nas relações com Cuba, nem a forma comedida com que trata o assunto dos "dissidentes" libertados.

É preciso olhar com lupa essas mudanças e nunca parar de pensar que pode ser uma artimanha; estão maquiando a cara porque haverá eleições e, Zapatero, com seu partido socialista, que se chama "operário" (PSOE), está muito deteriorado. O melhor seria que anulassem as leis antipopulares de maio. Isso seria uma retificação e não um novo engano. Alguém disse com ironia: "são os mesmos cabelos grisalhos, com menos mulheres"

Na França, a luta continua e com grande tenacidade. Tiveram que recorrer à força para desbloquear uma refinaria perto de Paris. Em Marselha, um dos portos mais importantes continua sendo bloqueado pelos trabalhadores; 85 cargueiros estão parados desde o dia 27 de setembro, resultando em milhões de euros perdidos. A batalha proletária francesa tem seus objetivos claros. O encarregado de assuntos de energia da Confederação Geral de Trabalhadores (CGT) disse: "não retrocederemos, essa é uma luta até a vitória". Por outro lado, Frederic Alpozzo, dirigente sindicalista dos trabalhadores dos estaleiros, expressou que a luta não é somente a questão da idade de aposentadoria, mas “que esta é uma questão do modelo social". Ele representa 40.000 trabalhadores que estão contra a privatização paulatina do porto. A burguesia pretende substituí-los por trabalhadores estrangeiros e com salários inferiores. Marselha é um porto com muitas tradições especificamente anticapitalistas; é um dos pontos nos quais a CGT, que recobrou impulso, tem forças para resistir ainda mais. Embora tenha sido aprovada a lei, em primeira instância e com pequena maioria (177 contra 153), a luta continua.

A principal conclusão das lutas europeias é que não estão em meros assuntos sobre idade de aposentadoria: estão questionando o modelo neoliberal, questionam o capitalismo. As ilusões do "Estado de bem-estar", do "Estado benfeitor” estão esfumaçando-se, etc. A exploração, o desprezo pelos trabalhadores, as migalhas que lhes são dadas, a repressão, a prática de extrair e exaurir dos trabalhadores a mais-valia, tudo continua igual. Cedo ou tarde estará mais clara a ideia de que é preciso derrotar o capitalismo e substituí-lo por uma nova ordem, mais justa, mais livre.

ESCOLA DO MST TEM A MELHOR NOTA DO ENEM

Na Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. A escola é dirigida por militantes do MST e professores indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1418 famílias, morando em 23 assentamentos.

A escola foi destaque no Exame Nacional do Ensino médio (Enem) de 2009, divulgado na pagina oficial do Enem. Ocupou a primeira posição no município, com uma nota de 505,69. Para muitos, esses dados não são mais do que um conjunto de números que indicam certo resultado, mas para nós, que vivemos neste espaço social, é uma grande conquista.

No entanto, essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação.

A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e do êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são Mais de 100 filhos de assentados estudam na Escola para uma pequena elite. Espaços culturais são direitos universais, mas que são realidade para poucos.

E mesmo com todas as dificuldades a Escola Semente da Conquista foi destaque entre as escolas do Município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim de uma proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado.
O Brasil de Lula -         Por Evelyne Bechtold-Rogno, de Nouveaux Regards

O Brasil de Lula - Por Evelyne Bechtold-Rogno, de Nouveaux Regards

imagemCrédito: 3.bp.blogspot.com


Um balanço de oito anos do governo Lula: um social-liberalismo à brasileira, em um país que ganha importância maior na geopolítica regional e internacional. Conheça a análise do politólogo Franck Gaudichaud, doutor em Ciência Política e mestre em Civilização Hispanoamericana na Universidade Grenoble 3 (ILCEA), membro do Comitê de Redação da revista Dissidences e da Associação França-América Latina.

P - Como se situa o Brasil numa perspectiva geopolítica, especialmente com respeito aos demais países latino-americanos?

R – Algumas cifras são esclarecedoras: o Brasil representa em extensão a metade do território Sul-americano e sua população supera 190 milhões de habitantes. É um gigante sob todos os pontos de vista. Sua economia se situa, aproximadamente, no oitavo ou nono lugar mundial, logo atrás da Espanha. Faz parte do grupo BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China, acrônimo que designa os grandes países chamados emergentes. Mas os dirigentes brasileiros rejeitam esse termo e consideram que representam uma economia “emergida”.

É um país que, no plano diplomático e geopolítico, sempre buscou a autonomia, multilateralismo e certa independência. Desde que Lula governa, esse aspecto se acentuou ainda mais. O Brasil quer jogar na primeira divisão. Reclama, por exemplo, um lugar no Conselho de Segurança da ONU. É também um dos promotores do G-20, que foi concebido como um fórum econômico mais amplo que o G-8 e aberto a alguns países do Sul.

A vontade de se desenvolver de forma independente frente ao poder estadunidense levou o Brasil a dizer “não” ao projeto imperial da ALCA em 2005, junto da Venezuela e Argentina. É um fato que o voto do Brasil era absolutamente determinante já que dele dependia a continuidade do projeto. Por outro lado, não existe dúvida de que o Brasil desempenha um papel predominante no Mercosul e, em geral, é um país chave para pensar a integração econômica dos países da América Latina.

Assim, o Brasil teve um papel essencial na recente entrada da Venezuela nesse mercado comum. No entanto, ainda que o Brasil preconize a autonomia, não defende um modelo de desenvolvimento alternativo ao capitalismo, exatamente o contrário. No campo econômico atua seguindo uma orientação capitalista desenvolvimentista e, em alguns aspectos, neoliberal. Em suas relações com os países da região, se detecta um claro desejo de hegemonia de proximidade. Alguns autores falam de “semi-imperialismo” ou de “imperialismo periférico”.

Várias empresas brasileiras são multinacionais que praticam uma política econômica agressiva com seus vizinhos: Petrobras, com o petróleo, ou Odebrecht, no âmbito da construção, provocaram conflitos importantes com países próximos, como a Bolívia ou o Equador... A mesma relação desigual se dá com o Paraguai, concernente aos recursos hidroelétricos comuns em Itaipu, onde o Paraguai foi privado de sua soberania no setor. A burguesia financeira e industrial brasileira (em especial a de São Paulo) defende assim suas prerrogativas no mercado mundial, o que, por outro lado, não impede os acordos estratégicos entre Brasil e Estados Unidos, com respeito, por exemplo, aos agrocombustíveis.

Do ponto de vista diplomático, a presidência atual tentou se esconder, ao apoiar os governos de esquerda ou centro-esquerda da região. Lula sempre apoiou Chávez (como, por exemplo, durante o golpe de Estado de abril de 2002), também mantém boas relações com o governo cubano e foi muito claro sobre a situação em Honduras diante do golpe contra o presidente Zelaya.

Além disso, Lula ameaçou não participar da Cúpula UE-América Latina de Madri, em maio, se Lobo – o presidente hondurenho golpista – estivesse presente (este último teve que desistir). Sua diplomacia favorece as relações Sul-Sul no plano diplomático, mas também no econômico. A China veio a ser um dos seus principais sócios econômicos: em oito anos, o comércio desse país com o Brasil aumentou 750%...

Seguindo um princípio de multipolaridade e buscando ter mais espaço no cenário mundial, o governo brasileiro rejeita as ingerências das grandes potências do Norte em assuntos dos países do Sul, o que explica seu apoio ao Irã frente aos Estados Unidos ou a denúncia das novas bases militares estadunidenses na Colômbia.

O Brasil investe no desenvolvimento da Unasul (União de Nações Sul-americanas), que responde à sua preocupação de independência política e consolidação econômica, com um projeto que prevê instaurar uma moeda e um parlamento comuns. Se se materializa, a dita união concentrará uma população de 360 milhões de habitantes e será, em extensão (17 milhões de km²), a maior união econômica, monetária e política do mundo.

Mas numerosos obstáculos ainda precisam ser superados, devidos às múltiplas competições econômicas intrarregionais e as tensões existentes entre os diferentes setores do capital, obstáculos que, paradoxalmente, foram criados pelas elites brasileiras ao defender sistematicamente seus interesses em detrimento da perspectiva de cooperação real.

As relações do Brasil com a União Europeia se inscrevem nessa preocupação de maior inserção competitiva no mercado mundial. O Brasil firmou com a França um importante contrato de fornecimento de armamento. O Mercosul está em negociação com a UE, ainda que se choque com o protecionismo europeu, sobretudo no terreno da agricultura.

P – Qual balanço se pode fazer ao final de oito anos de governo Lula?

R – Segundo vários analistas, as enormes decepções que seguiram à chegada do PT e do Lula ao governo em 2002 eram previsíveis. É verdade que uma parte da esquerda e dos movimentos sociais não havia analisado até que ponto a natureza e a orientação política do PT tinham mudado entre o começo dos anos 80 e a vitória eleitoral de 2002.

O PT foi fundado em fevereiro de 1980 a partir de uma oposição coletiva e popular radical à ditadura militar. Desde o final de 1978, sindicalistas, intelectuais, dirigentes de movimentos populares falavam da necessidade de criar no Brasil um novo partido independente, de classe e abertamente socialista. O PT foi um dos maiores partidos operários do mundo e continua sendo o partido de esquerda mais importante da América Latina.

No início, reuniu vários setores sociais mobilizados: sindicalistas, é certo que procedentes principalmente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que representam sua coluna vertebral; militantes de movimentos associativos, de feministas, de bairros; mas também muitas comunidades cristãs de base, inspiradas na Teologia da Libertação. Em 20 anos, e depois de três derrotas eleitorais sucessivas nas eleições presidenciais, o partido mudou muito. De um programa inicial anticapitalista, que prometia uma alternativa radical, o discurso se tornou cada vez mais moderado, de centro-esquerda.

Em 2002, o slogan da campanha de Lula era “Paz e amor”... Temos aqui um novo exemplo do que o britânico Perry Anderson analisou na Europa: “a esquerda ganhou seus galões de partido de governo depois de ter perdido a batalha das ideias”. O PT sofreu uma transformação de sua composição social, deixando um lugar cada vez maior para as classes médias e intelectuais num processo de institucionalização-burocratização do seu aparato e de sua direção, progressivamente ocupada pelos parlamentares e pelos diferentes eleitos em detrimento dos sindicalistas de ontem.

Apesar de tudo, a vitória de Lula em 2002 despertou muitas esperanças no país e inclusive em toda América Latina. Mas chegou o momento de fazer um balanço. O sociólogo Emir Sader fala do “enigma Lula”, que escaparia dos julgamentos já feitos. Outros sociólogos como Michael Löwy ou Atilio Boron são mais críticos, e este último aponta que esses dois mandatos foram marcados pelo “possibilismo conservador”. Seguramente, é possível constatar que Lula renegou os ideais do PT de 1980 em prol da estabilidade macroeconômica e dos interesses do capital, que ficaram muito acima das reformas sociais prometidas.

Há sinais evidentes de continuísmo da política de F. H. Cardoso (o governante anterior), com o argumento de que a salvação do Brasil continua sendo o mercado mundial, a exploração massiva de matérias primas e a abertura do país (e de sua mão de obra) para as transnacionais. Neste sentido, o “êxito” econômico é real: a economia do Brasil é uma das mais dinâmicas do mundo, com mais de 5 % de crescimento anual, e vista de Brasília a crise só foi uma “marolinha”, em palavras do próprio Lula.

Sem tocar na estrutura social, e com o aplauso dos grandes empresários e do FMI, o governo do Brasil pratica taxas de juros muito elevadas, para grande beneficio dos capitais especulativos internacionais. Este “êxito” tem como contraponto a manutenção, inclusive o incremento, das desigualdades sociais e de renda, o que constitui um dos principais problemas democráticos reais do país. O Brasil é uma espécie de “Suíça-Índia”, que reúne no mesmo território rendas extremas.

Mesmo assim, Lula não atuou sobre essas desigualdades estruturais: durante seu mandato, a renda dos mais pobres aumentou de maneira notável, porém a dos ricos ainda mais. Segundo o economista Pierre Salama, o número de brasileiros com mais de um bilhão de dólares em ativos financeiros cresceu mais de 19%, somente entre 2006 e 2007.

Outro problema ainda maior é que o Brasil embarcou em uma política de agronegócios, que inclui o cultivo intensivo de organismos geneticamente modificados e de agrocombustíveis, para grande alegria de empresas como a Monsanto, acolhidas com os braços abertos, mas com consequências sociais e ambientais desastrosas. Isto foi o que levou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a se demitir.

Nestas condições, a grande reforma agrária tão esperada, tão anunciada durante a campanha, não foi cumprida. No Brasil, não poderá haver desenvolvimento alternativo, democrático e sustentável sem uma reforma agrária radical. Trata-se de um problema incontornável. Toda esta política foi um jato de água fria para os movimentos sociais e em particular para o Movimento dos Sem Terra (MST), que é o maior movimento social do continente e um dos mais interessantes por suas formas de auto-organização e da impressionante educação popular.

Sem dúvida, essas políticas públicas conservadoras foram favorecidas pelos obstáculos institucionais do Estado federal que é o Brasil. O PT é minoritário na Câmara de Deputados e no Senado, e só é majoritário em três estados. Desde o princípio, tentou aliar-se com a direita liberal e latifundiária para governar, o que acentuou sua imobilidade, em particular do ponto de vista da política agrária.

Ademais, a exigência de estabilidade econômica e o respeito à grande propriedade privada eram argumentos aos quais Lula era muito sensível no momento de sua eleição, como mostra a Carta aos Brasileiros que publicou durante a campanha. Seus principais assessores econômicos haviam saído das escolas do pensamento neoliberal estadunidense, e a contra-reforma do sistema de pensões dos funcionários foi uma das primeiras medidas que tomou seu governo.

Esta revisão das conquistas sociais dos funcionários conduziu à aparição das primeiras diferenças no seio do PT e levou à criação do PSOL, em torno das figuras da esquerda como Heloísa Helena ou Plínio de Arruda Sampaio. Mesmo assim, seria errado esquecer que Lula continua sendo extraordinariamente popular, sobretudo entre as classes mais pobres (particularmente do Nordeste). Levou a cabo vários programas sociais assistencialistas (especialmente durante o segundo mandato), muito rentáveis eleitoralmente, como o Bolsa Família, que conseguiu tirar da miséria extrema mais de 20 milhões de brasileiros.

A cobertura social e os salários mínimos também foram ampliados e a criminalização dos movimentos sociais por parte do Estado baixou consideravelmente, abrindo espaços de diálogo e inclusive de cooptação de muitos dirigentes sociais e sindicais. Não se deve ignorar que os grandes grupos midiáticos estão nas mãos de uma oligarquia arcaica, ainda ferozmente hostil a Lula, que continua a considerá-lo um sindicalista procedente da esquerda, e por isso tão potencialmente perigoso em razão da composição de sua base social.

Em resumo, poderia dizer que a política de Lula conjuga uma política macroeconômica neoliberal e uma política social assistencialista centrada na luta contra a extrema pobreza, dando finalmente estabilidade ao sistema, razão pela qual o ex-sindicalista é considerado por Wall Street e por grande parte das elites como um dos melhores presidentes da história democrática do país. Poderia qualificar sua gestão de “social liberalismo à brasileira” ou talvez como fazem alguns autores de “liberal-desenvolvimentismo”, posto que o Estado brasileiro continua querendo regular uma parte da atividade econômica do país.

P – Como vê o futuro do país?

R – Lula não pode voltar a se apresentar nas próximas eleições de outubro. Para o PT, o desafio é fazer “lulismo sem Lula”, captar sua popularidade, evidentemente com poucas mudanças na orientação política e econômica. A candidata atual é Dilma Rousseff. Economista de formação, chefe do gabinete ministerial de Lula, uma espécie de primeira-ministra, militou na juventude nos movimentos de luta armada contra a ditadura. Pouco carismática, subiu muito nas pesquisas graças ao apoio decidido de Lula, e é provável que ganhe as eleições no primeiro turno frente ao principal candidato da oposição, José Serra (social-democracia liberal).

À esquerda do PT, o PSOL apresenta Plínio de Arruda Sampaio, lutador social incansável e grande defensor da reforma agrária. Mas, infelizmente, não haverá candidato comum da esquerda radical, em particular com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – trotskista) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Marina Silva será a candidata dos verdes, encarnando a ecologia liberal.

Apesar da crítica de uma parte da esquerda, é provável que o PT consiga o apoio de importantes setores populares e daqueles que não querem a volta de uma direita repressiva e do centro neoliberal encarnado pela candidatura de Serra. A médio prazo, creio que é interessante ver o que sucede no Movimento Sem Terra, dos sem teto e das organizações sindicais. Este verão se tentou criar uma nova central sindical classista, na perspectiva de um sindicalismo mais independente que a CUT frente ao poder e que congregue operários combativos junto a estudantes, feministas e coletivos afro-brasileiros e indígenas. Este primeiro passo não deu certo. Mas acredito que este tipo de recomposição “desde baixo” pode fazer surgir a esperança de uma renovação das alternativas anticapitalistas no Brasil, terra do Fórum Social Mundial e da consigna “outro mundo é possível”.

9/10/2010

Fonte: ViaPolítica/Tlaxcala/Noveaux Regards

Fonte: http://www.cetri.be

Título do original em francês: “Bilan Lula: Um social-liberalisme a la bresilienne”

Evelyne Bechtold-Rogno é jornalista do Comitê de Redação da revista Nouveaux Regards, de Paris.

Contato com o entrevistado: franck.gaudichaud@u-grenoble3.fr Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

URL desta entrevista em Tlaxcala: http://www.tlaxcala-int.org

Data de publicação do texto original em francês: 29/09/2010

Em espanhol: http://www.cetri.be

Traduzido por Mariana Ferreira Gomes Stelko, para Tlaxcala

28 de outubro de 2010

A POSIÇÃO DO PCB SOBRE O SEGUNDO TURNO

A POSIÇÃO DO PCB SOBRE O SEGUNDO TURNO

Entrevista, ao vivo, com Ivan Pinheiro

Entrevistador: Paulo Passarinho

Programa Faixa Livre – Rádio Bandeirantes- Rio de Janeiro

Dia 22-10-2010

Paulo Passarinho – Eu tenho a honra de anunciar, para os nossos ouvintes, a presença aqui na ponta da linha, do candidato do Partido Comunista Brasileiro, PCB, à Presidência da República nas últimas eleições, Ivan Pinheiro. Bom dia.

Ivan Pinheiro – Bom dia, Paulo. Bom dia, ouvintes do Faixa Livre.

Paulo – Vamos conversar hoje a respeito, inicialmente, dos resultados do 1º turno. Como você avalia estes resultados? Cá para nós, eu acho que a esquerda sofreu uma bela derrota, hein, Ivan?

Ivan – Foi uma vitória da direita, que tentou e conseguiu excluir a esquerda revolucionária, a esquerda socialista, a esquerda que não se rendeu, de qualquer possibilidade de aparecer, inclusive na televisão, em jornalões e tal.

No nosso caso, a chapa própria não era o plano A, que era fazer uma grande frente que ultrapassasse, inclusive, os partidos registrados no TSE, no campo da esquerda, para tentar criar uma alternativa permanente, uma frente permanente. Mas isso não sendo possível, optamos pela chapa própria. E você é testemunha e os ouvintes também que, desde o primeiro momento do registro, nós dissemos que não estávamos fazendo uma campanha propriamente eleitoral, mas uma campanha política. E que íamos analisar o resultado não apenas do ponto de vista matemático, mas do ponto de vista político, do saldo que deixou. E nós achamos que, apesar desta derrota numérica, o saldo foi positivo. E eu acho que esta fragmentação pode ter ensinamentos para as forças de esquerda; já estão surgindo condições para entendimentos, para possibilidades futuras.

Paulo – Agora, Ivan, é verdade que a esquerda que não se rendeu, conforme você apontou, teve muito pouco espaço nos meios de comunicação, particularmente o PCB, o PSTU...

Ivan – E o PCO também.

Paulo – Agora, o que eu ia falar é que, destes partidos, o PSOL teve um espaço, não idêntico, evidentemente, aos três candidatos defendidos pela grande imprensa, o Serra, a Dilma e a Marina. Mas o Plínio teve uma exposição. É interessante! Nas eleições de 2006, a Heloísa Helena teve quase 7% dos votos. Agora, o Plínio não conseguiu, inclusive sendo um nome muito respeitável, não conseguiu sequer 1% dos votos. Você não acha que isso é muito grave, não só para o PSOL, mas para toda essa esquerda que, conforme você disse, não se rendeu?

Ivan – Realmente, a votação do PSOL este ano ficou bem aquém em relação à de quatro anos atrás. Mas tem que levar em conta que, há quatro anos atrás, quando foi a Heloísa Helena, além de ter sido uma frente ampla, de várias forças políticas, havia toda uma emoção em torno da candidatura dela. Ela tinha pontificado naquela CPI do mensalão, que todos assistimos, até de madrugada, aqueles debates... Então, ela tinha uma mística. Heloísa Helena, eu acho que foi um fenômeno eleitoral. Esses partidos (PSOL, PCB e PSTU) já não tinham voto naquela eleição. Quem teve voto foi a Heloísa Helena. Igual ao PV agora. O PV não tem 19% de votos. Eu acho que a Marina foi, em 2010, o fenômeno eleitoral que a Heloísa foi, em 2006. Realmente o Plínio teve mais espaço. Até porque tem um dispositivo recente na legislação, que o favoreceu. As emissoras de televisão podem convidar todos os candidatos, mas só são obrigadas a convidar os dos partidos que tem representação eleitoral.

Eu acho, Paulo, que a burguesia brasileira conseguiu o que queria, o seu sonho. Eles americanizaram as eleições brasileiras. Se você pensar bem, essa polarização que vai acontecer agora no dia 31 já existe há 16 anos no Brasil. Em 2006, o PCB, um mês depois das eleições, alertou a esquerda: “olha, em 2010 vai acontecer a mesma coisa”. E não deu outra. Estamos diante de um segundo turno anunciado.

Paulo – E é de acordo, inclusive, com o interesse de setores que apostam que os tucanos possam retornar ao governo depois de um 1º turno, onde, inclusive, alguns órgãos que apoiavam o José Serra haviam admitido a própria derrota do mesmo. E aí, eu quero saber, justamente, essa posição do PCB, onde há muita gente aqui... Eu ouço aqui no programa, contestando. Eu acho que a posição que o PCB defende, talvez seja igual à da maioria do PSOL, que se diferencia da posição do PSTU. Agora, eu queria que você colocasse aqui para os nossos ouvintes a posição do Partido Comunista Brasileiro.

Ivan – É uma boa oportunidade nesse espaço democrático e para esse público progressista. Nós somos e continuaremos a ser oposição ao governo petista. Os oito anos de governo Lula não têm nada de socialista. A política econômica é a mesma: é um governo que serve ao capital. Ele ganha de FHC, inclusive, em índices macroeconômicos. Talvez ele tenha alavancado mais o capitalismo que ninguém no Brasil.

Mais ainda existem algumas diferenças entre PT e PSDB. Na nossa leitura, elas estão se diluindo, estão cada vez menores. Mas ainda existem algumas diferenças que nos fazem indicar Dilma no segundo turno, sem qualquer entusiasmo. Não é um apoio acrítico, como a esquerda reformista está dando, sem qualquer reparo, sem qualquer crítica. O que é um absurdo! Convalidam todos os oito anos de governo Lula e dão um cheque em branco para a Dilma continuar ou piorar esse projeto social-liberal.

Essas diferenças que ainda vemos são as seguintes, Paulo. Uma delas é a questão da política externa. Não é que a política externa do Lula seja anti-imperialista, socialista. Não, nada disso. Ela é apenas menos ruim que a política externa que faria o Serra. As restrições que este tem à política externa do Lula são à direita. As nossas são à esquerda. Nós achamos que essa política externa é a mesma velha política da burguesia brasileira para transformar o Brasil numa grande potência capitalista. Só que os dois lados operam esta política de uma maneira diferente. A do Serra, a do PSDB, é pior, porque expressa setores burgueses mais integrados ao imperialismo norte-americano. No governo Lula, a política externa teve mais independência, para favorecer outros setores burgueses que vem se expandindo em outros países. De certa forma. Lula ajudou a enterrar a ALCA. Mas, por outro lado, ele boicota a ALBA.

Na questão da privatização, também há diferenças. Serra privatizaria mais que Dilma, como FHC privatizou mais que Lula. Mas tem que ser dito que o governo Lula também é privatizante. Implantou as PPPs, a ANP continuou funcionando; dos dez leilões do petróleo, seis foram feitos no governo Lula. Esse marco regulatório do petróleo que está sendo saudado aí nas ruas pelo lulismo, ele é apenas um pequeno avanço com relação ao anterior, pois só garante à Petrobrás 30% do pré-sal.

Agora, há uma diferença importante, que temos que levar em conta. Diz respeito à luta de massas: a criminalização dos movimentos populares e da pobreza, a questão democrática. Nesse tema, não restam dúvidas. Num governo Serra, a criminalização vai ser intensa. Tanto é assim que ele vai para a televisão e diz que quer um campo sem boné do MST. O PCB hipoteca a sua mais irrestrita solidariedade ao MST. Este é um ponto que nos sensibiliza muito. Ambos os projetos são do campo do capital, mas a candidatura Serra é da direita política. Agora, deixando claro: o nosso voto é contra o Serra. É um voto crítico na Dilma.

Paulo – É. Fica perfeitamente entendido. Inclusive, vocês tem uma palavra de ordem que eu achei muito interessante que é “derrotar Serra nas urnas e depois derrotar Dilma nas ruas”. É sobre isso que eu queria explorar. Com esta situação da esquerda, da esquerda que não se rendeu, me parece que esse isolamento dessa esquerda não se dá apenas no plano eleitoral. Ele se dá no plano dos movimentos sociais. Você pode ponderar que o governo Lula tem uma política de cooptação espetacular. O problema é o seguinte: esta é a vida que nós estamos tendo. O que fazer?

Ivan – Há um sentimento, nessa esquerda que não se rendeu, inclusive no PCB, de que o próximo governo, seja qual for, vai ser pior que o governo Lula. Na nossa avaliação, também levamos em conta isso. Um governo Serra pode ser pior ainda, mas o governo Dilma pode ser pior que o governo Lula, do ponto de vista da esquerda. A crise do capitalismo está se agravando, está se espalhando pela Europa. Por mais que no Brasil se diga que aqui a crise não vai chegar, você sabe melhor do que eu que há um risco sério. Num governo Dilma, o PMDB vai ter um peso maior que no governo Lula. O vice-presidente do Lula é o José de Alencar, que fica só reclamando de juros. Enquanto o vice da Dilma é da máquina do PMDB, que já tem seis ministérios no governo Lula. Imagine quantos terá num governo Dilma.

Mas queremos dizer o seguinte: nós, do PCB, estamos muito mais próximos dos companheiros que estão com o voto nulo do que os que estão com o voto acrítico em Dilma. Nós respeitamos, como legítima, a posição dos companheiros que estão propondo o voto nulo, mas achamos que neste caso estão incorretos. A maioria dos documentos propondo o voto nulo tem uma contradição. Começam dizendo assim: não queremos que os tucanos voltem, o FHC foi um terror e tal. Reclamam do governo Lula, com toda a razão, e concluem com o voto nulo. Se não queremos que voltem os tucanos, usando uma expressão italiana, vamos “tampar o nariz” e votar na Dilma.

Nós achamos que quanto pior, pior; não quanto pior, melhor. É disso que se trata.

Os companheiros da esquerda que estão com o voto crítico ou com o voto nulo estarão muito mais próximos de nós, nas lutas, nas ruas, do que os que estão com o voto acrítico em Dilma. Porque estes, se Dilma vencer, vão continuar conciliando, babando o ovo do governo, que é um governo social-liberal.

Paulo– Bem, é isso, Ivan. Acho que ficou absolutamente bem entendida a posição do Partido Comunista Brasileiro e eu te saúdo por este esforço que você fez aí, à frente do PCB, para manter uma campanha presidencial no 1º turno, que nós sabemos que foi bastante difícil. Espero que a gente possa colher frutos num futuro próximo. Confesso que me preocupa muito a situação brasileira.

Ivan – Mas veja só, Paulo Passarinho. Se estivéssemos na França, na Espanha, há um ano atrás, também não estaríamos desanimados? E olha o povo nas ruas... Porque a crise do capitalismo vai se agravar e a luta de classes vai voltar com força, o sindicalismo também. Eu não tenho a menor dúvida. Eu só queria, se você me permite, dizer como o PCB opera este apoio crítico à Dilma. É absolutamente unilateral. Não conversamos com ninguém. E não participamos da campanha, dessa campanha acrítica, que vai para as ruas, em passeatas, louvando o governo Lula e dando um cheque em branco ao eventual governo Dilma. Não! Nós deixamos claro que estamos votando no menos ruim. E que vamos continuar na oposição, lutando por uma frente anticapitalista e anti-imperialista permanente.

Paulo – Obrigado, Ivan. Um abraço.

Ivan – Obrigado, Paulo.




Transcrição: Maria Fernanda M. Scelza



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Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
Obama e a sua nova diplomacia para a América Latina.

Obama e a sua nova diplomacia para a América Latina.

Obama e a sua nova diplomacia para a América Latina.
O tom continua o mesmo de sempre: imposição dos interesses e métodos americanos.

Por IHU OnLine

De três em três meses o Centro Gumilla de Caracas, sob a coordenação
de Francisco José Virtuoso, elabora uma Análise de conjuntura da
América Latina e Caribe. O grupo de pesquisadores que elabora a
análise é constituído por Jesús Machado, Carolina Jiménez, Hildebrand
Breuer, Alfredo Infante, SJ e Demétrio Boersner.


Eis alguns trechos da análise:


Em seu discurso de despedida de 1961, o então presidente Dwight
Eisenhower havia assinalado que não havia administrado um país senão
um “complexo industrial militar” e advertiu que sua influência
“econômica, política e até espiritual” se sentia em “cada cidade, cada
Estado, cada oficina do governo federal”, até formar parte “da própria
estrutura de nossa sociedade”.

Em princípios de fevereiro do ano em curso, o governo dos EE.UU disse
que o gasto com defesa para 2011 será de US$ 750.000 milhões, US$
31.000 milhões mais do que em 2010 e quase US$ 100.000 milhões mais do
que em 2009. Em meio a uma tremenda crise econômica, e a um déficit
recorde na história do setor público estadunidense, na ordem dos US$ 2
bilhões, nem o Nobel da paz pôde com o Pentágono.
Coincidências ou continuidades entre o Rumsfeld de 2002 e o Obama de
2008? O que significa manter em postos-chave de segurança e defesa
funcionários do Pentágono da passada administração Bush e repetir os
discursos dos operadores do Pentágono? Por que não é possível reduzir
o pressuposto do Pentágono em meio à crise? É Obama refém do
Pentágono? O Pentágono dita a política exterior dos EE.UU ?

Em princípios de fevereiro do ano em curso o governo dos EE.UU disse
que o gasto com defesa para 2011 será de US$ 750.000 milhões, US$
31.000 milhões mais do que em 2010 e quase US$ 100.000 milhões mais do
que em 2009.

O estadista dominicano Juan Bosch escrevera um livro em 1967,
intitulado O Pentagonismo: substituto do imperialismo. Com tremenda
clareza desenvolveu o modo como operava a forte diretriz do Pentágono
no sistema da tomada de decisões na Casa Branca e a justificação
ideológica de suas intervenções armadas. Tempos de releituras.

Os primeiros movimentos da política exterior norte-americana com a
América Latina e o Caribe (ALC) se caracterizaram por uma série de
atos ambíguos e atitudes contrapostas. Dos coquetismos iniciais do
presidente Obama com países como Cuba e Venezuela, a declarações
agressivas da parte de funcionários de diversos níveis contra vários
países considerados adversos aos EE.UU. As ações e discursos iniciais
que mostravam alguma flexibilidade produziram mais de uma inquietude
negativa na opinião pública estadunidense e o ataque dos setores mais
conservadores não tardou muito em se manifestar e boa conta dele deram
editoriais de imprensa e vários representantes do partido opositor.

O subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos, Arturo
Valenzuela, disse em roda de imprensa, uma semana antes da tomada de
posse do recém eleito Presidente do Uruguai: “Esta viagem é uma
continuação de nossos esforços para envolver-nos com os países do
hemisfério numa multiplicidade de assuntos”.

Na visita que realizara o vice-presidente Biden ao México, enviara um
sinal bem claro de que a administração Obama daria prioridade às
relações com a ALC.

Em declarações dadas nas Bahamas pelo atual secretario de defesa
Robert Gates, a propósito da conferência de segurança regional dos
países da órbita do Caribe, em princípios de abril de 2010, ele
dissera que se estava enviando um forte sinal de que “os Estados
Unidos estão se reenvolvendo com esta região”.

Um claro exemplo da ofensiva política e diplomática dos EE.UU na
região foi o recente episódio do golpe em Honduras. Como parte das
contradições inter-burguesas na condução deste país, o derrotado
presidente Mel Zelaya realizara alguns movimentos de alianças com os
países que formam a ALBA. Entre outras coisas, também realizara
declarações em torno de suas intenções de converter a Base Soto Cano
num aeroporto destinado totalmente para atividades civis, coisa que
não agradou ao Pentágono. Estes elementos fizeram supor às facções
mais conservadoras de Honduras e aos analistas estadunidenses que se
estava produzindo na região um avanço do comunismo na América Central.
Uma vez produzido o golpe, a atitude estadunidense foi ambígua,
contraditória e branda com o princípio de apoio à democracia liberal.
Os funcionários que manifestaram a política exterior dos Estados
Unidos nesse tema se mostraram mais eficazes em reconhecer eleições
que legitimavam o golpe do que em colaborar com o restabelecimento da
democracia nesse país.

Com o tema Cuba a administração Obama adotou uma política de tensão
progressiva; num primeiro momento aplicou medidas como anulação de
limites à quantidade de viagens desde seu território e o envio de
remessas à ilha, porém progressivamente tem de novo aumentado a
pressão ao governo insular e não se avançou sobre o tema do bloqueio.

As contínuas visitas ao continente de funcionários da Secretaria de
Estado ou do Pentágono mostram parte dessa ofensiva: as visitas da
Secretária de Estado, Hillary Clinton; do subsecretário de Estado dos
EE.UU, James Steimberg; do subsecretário para Assuntos Políticos,
William Burns; do subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos,
Arturo Valenzuela; do Secretário de Defesa Robert Gates; e do chefe do
Comando Sul, General Douglas Fraser.

Entre os países que receberam funcionários da diplomacia e do
Pentágono se encontram Uruguai, Brasil, México, Chile, Guatemala,
Haiti, Costa Rica, Equador, Peru. Além das reuniões com presidentes na
América Central: Álvaro Colom, Porfírio Lobo, Mauricio Funes, Oscar
Arias, Laura Chinchila, Leonel Fernández.
Enquanto mantém relações tensas com alguns países considerados
adversos, com outros estreita relações, como os casos de Colômbia,
Peru, Chile, Panamá, Honduras, México.

A ação estadunidense tratou de moderar a postura do Brasil em relação
ao tema iraniano. O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva,
havia declarado na Cúpula da América Latina e do Caribe, realizada no
México, que a comunidade internacional não devia isolar nenhum país em
nome da paz mundial, referindo-se ao Irã e à perspectiva de novas
sanções. A posição do Brasil com respeito ao tema iraniano preocupa os
Estados Unidos por duas razões fundamentais: a primeira é porque eles
avaliam que o colosso do sul tem grande influência na região e pode
ajudar a bloquear ou a moderar as posturas da Venezuela e Bolívia nas
relações com o Irã: e a segunda, porque na atualidade o Brasil ocupa
um dos postos rotativos no Conselho de Segurança da ONU e ante a
discussão de eventuais sanções contra o Irã seu voto pode ser
decisivo.


A agenda militar

A presença militar norte-americana na ALC é ampla: abrange múltiplos
aspectos e formas. Encontram-se na região não menos de duas dezenas de
bases militares sob seu controle ou com forte presença, operações
militares conjuntas, presença de pessoal de tropa ou contratados
(mercenários?).

O argumento mais recorrente que se utiliza por parte dos porta-vozes
norte-americanos tem a ver com temas que deveriam concitar a aprovação
universal nesses assuntos, tais como o combate ao terrorismo e a luta
contra o tráfico de drogas. Em outros casos, quando esses argumentos
não parecem ser os mais adequados, emprega-se um roteiro cujas linhas
assinalam que a presença militar norte-americana se deve a um convite
do governo local ou simplesmente se trata de cooperação. Sendo certo
que a presença militar norte-americana seja para deter esses terríveis
flagelos, como não se avançou no controle das drogas ilícitas? Após
anos de detenção e tortura de presos em Guantánamo, a invasão e o
desenvolvimento de guerras contra países sob o argumento da luta
contra o terrorismo, a mesma se apresenta estancada. Que ameaça
terrorista tão poderosa existe na ALC, que demande uma presença
militar tão poderosa e extensa na região?

É evidente que a presença militar norte-americana tem outras
intenções, além do tema das drogas e do terrorismo. Talvez a
explicação esteja relacionada com outros elementos geoestratégicos da
política exterior norte-americana.

Os intentos regionais de reduzir a influência norte-americana em
matéria militar se desenvolveram através de duas vertentes, sendo uma:
acordos militares intra-regionais, que sempre existiram, porém com o
acréscimo contemporâneo de que os mesmos são adiantados por governos
cujas identidades político-ideológicas são de contestação e até de
rechaço; e a segunda: aliança com outros países extra-regionais como
provedoras de armamento.

As bases militares

A estratégia militar norte-americana ante a ALC não é novidade. No
documento Instalações Militares de Ultramar e na Lei de Revisão de
Estrutura de Distribuição de 2003 se criou a comissão sobre a revisão
das instalações militares de ultramar e distribuição de estruturas dos
EE.UU com o seguinte objetivo: 1) estudar as questões relativas às
instalações militares e sua distribuição no exterior; e 2) dar informe
de resultados da revisão ao Presidente e ao Congresso, incluindo uma
proposta para uma estratégia de bases no exterior para satisfazer as
necessidades atuais e futuras de missões do Departamento de Defesa.

Partindo das orientações de um memorando intitulado Presença Global
Integrada e Estratégia Base, o Departamento de Defesa elaboraria uma
estratégia a longo prazo sobre as bases no exterior. Nela se prevêem
as decisões sobre o fechamento das instalações no exterior, caso se
justifiquem, tomando um conta os esforços em marcha.

Isso se traduziu, na prática, numa modificação das dimensões das bases
norte-americanas na ALC. A implementação inicial são as chamadas bases
de localização cooperativa de segurança (Cooperative Security
Location-CSL), que são centros instalados num país-anfitrião, com
presença permanente, pouca ou nenhuma dos EE.UU, os quais requerirão
manutenção periódica, por contratados e/ou apoio do país hospedeiro.
Seu objetivo é facilitar o acesso de contingência e elas são um ponto
focal das atividades de cooperação em segurança. Podem conter equipes.
Estas são: de rápido acesso para uso tático, ampliáveis para
convertê-las num ‘Forward Operating Site’ (FOS), como posto avançado e
de explorações. Não têm um sistema de apoio para as famílias dos
efetivos militares.

As bases de operações avançadas (FOS) se localizam num país anfitrião
catalogado como sítio quente, com presença limitada de apoio militar
dos EE.UU e, possivelmente, equipes militares pré-localizadas. Pode
alojar as forças de rotação e ser um foco de formação bilateral e
regional. Estas bases estão desenhadas para satisfazer as necessidades
previstas e podem ser utilizadas por um período de tempo prolongado.
São incumbidas de dar o apoio requerido às bases principais de
operações (Main Operating Base-MOB).

Uma base principal de operações (main operating base, MOB) é uma base
estratégica permanente estabelecida num país-anfitrião com forças de
combate estacionadas de maneira permanente, sólida infra-estrutura,
acesso estratégico, estruturas de comando e controle e serviços de
apoio familiar. As MOB servem como pontos de ancoragem para a
transferência, formação, participação e capacidade de apoio de FOS e
CLS.

A reengenharia da presença militar estadunidense tem implicado em
passar de grandes bases a pequenas unidades militares (CLS). Na medida
em que uma situação vá se complicando em termos de segurança, se vai
recorrendo a mecanismos de ampliação, até convertê-las em verdadeiras
bases (MOB) onde se hospedaria o pessoal militar, além de equipes de
guerra mais pesada e presença permanente. É a estratégia de flor de
lótus. Na medida em que a circunstância o exija, vão se ampliando a
capacidade e as funções.

Nos casos da Colômbia e do Panamá se utilizou o mesmo discurso, no
qual se sustenta que as bases, nas quais mantêm presença militar os
norte-americanos, são dos países anfitriões e que sua presença é
pequena. Nisso há uma dose de verdade, porém não toda a verdade. O que
ocultam é que esses convênios de cooperação militar estão sob a lógica
militar de escalamento das bases militares até convertê-las em
verdadeiras bases, desta vez, totalmente controladas pelos
norte-americanos: CLS>FOS>MOB.

Por outra parte, esta nova reengenharia permite aos EE.UU
descentralizarem sua presença militar no continente, porém não
eliminá-la, e assim tratar de minimizar as rejeições que suscitam as
grandes bases.

Bases militares norte-americanas na ALC

Os Estados Unidos têm 865 assentamentos militares fora de seu
território, dos quais entre 45 e 49 estariam na América Latina e
Caribe ou em suas proximidades.

- Colômbia (10); trata-se de três bases da Força Aérea: Malambo
(norte), Palanquero (centro) e Apiay (leste); duas do Exército: em
Tolemaida (centro) e Larandia (sul); e duas navais: Cartagena (norte,
sobre o Atlântico) e Málaga (oeste, no Pacífico). A base aérea de
Palanquero tem uma posição estratégica de grande importância para os
Estados Unidos. A partir desta base “em torno da metade do continente
pode ser coberta com um C-17 sem reabastecimento. Tendo subministração
adequada de combustível no destino, um C-17 pode abarcar todo o
continente, excetuando a região de Cabo de Hornos no Chile e a
Argentina.”

Arauca: esta instalação se utiliza para a vigilância da
infra-estrutura petrolífera, o que inclui o oleoduto Caño
Limón-Coveña. Lugar de treinamento para militares colombianos, estação
de monitoramento da zona fronteiriça com a Venezuela.

Forte Militar Larandia: serve como base de helicópteros dos Estados
Unidos. Possui uma pista de aterrissagem para bombardeiros B-52, uma
capacidade operadora que ultrapassa o território colombiano e permite
uma cobertura para ataques em quase todo o sul do continente.

Base militar Três Esquinas: nesse lugar funciona a Rede de Radar de la
Cuenca del Caribe (Caribbean Area Radar Program (CBRN) e o Centro
Conjunto de Inteligência. Serve, além disso, para operações
terrestres, helitáticas e fluviais.Esta instalação é receptora
permanente de armamento, logística e serve para o treinamento de
tropas de combate.

- El Salvador (1): Base Militar Comalapa. Esta base é conhecida como
uma FOL; é uma base pequena que se utiliza para o monitoramento de
satélites e para apoiar as bases grandes, com pessoal que tem acesso a
portos, espaços aéreos e instalações do governo. O acordo autoriza o
ingresso de tropas estadunidenses, naves, aeronaves, transporte
terrestre e armamentos.

- Aruba (1): Base Militar Rainha Beatriz. Utilizada para o
monitoramento de satélites e como apoio para o controle de vigilância
no Mar Caribe.

- Curaçao (1): Base Militar Hatos. Utilizada para o monitoramente de
satélites e como apoio para o controle de vigilância no Mar Caribe.

- Panamá: Em fins do ano passado se dava como fato a instalação de
duas bases. Estas seriam instaladas na Baía Piña, na província de
Veraguas (300 kms. ao sudoeste da capital). Mencionou-se que o
presidente Martinelli teria firmado um acordo com os Estados Unidos
para a instalação de quatro bases. Além das duas já mencionadas, as
restantes se localizariam uma na Ilha Chapera e outra em Rambala,
província de Bocas del Toro.

- Porto Rico (14): Inclui uma ampla gama de instalações militares para
diferentes funções. Haveria umas 14 instalações militares, a partir
das quais se desenrolam atividades de patrulhamento, treinamento, zona
de tiro, estações de radar. Têm assento as forças do exército, bem
como navais, de aviação e guarda nacional.

- Peru (3): em Iquitos funciona o Centro de Operações Ribeirinhas.
Administram-se cursos de adestramento a soldados peruanos. É, ademais,
uma base de monitoramento com radar. A base de Chiclayo serve
fundamentalmente para operações aéreas. Pucalpa: funcionou aí a Escola
de Sobrevivência na selva e é uma base aérea utilizada por pessoal do
Comando Sul e da DEA. É uma base anti-narcóticos. O governo dos
Estados Unidos diz que estas bases pertencem às forças armadas
peruanas, porém foram construídas e são utilizadas por soldados
estadunidenses que operam na zona fluvial Nanay, na Amazônia peruana.

- Cuba (1): Base naval de Guantánamo.

- Paraguai (1): Base Marechal Estigarribia. Em maio de 2005 o governo
dos EE.UU firmou um tratado com o Paraguai para instalar a base
militar na cidade de Marechal Estigarribia, província de Boquerón, no
chamado Chaco Paraguaio. Tem capacidade para alojar 20 mil soldados
estadunidenses, uma enorme pista de aterrissagem e se encontra a 200
quilômetros da Argentina e da Bolívia e a 300 quilômetros do Brasil.
Seu aeroporto é maior que o de Assunção, a capital paraguaia. A base
está estrategicamente localizada perto da tríplice fronteira Paraguai,
Brasil, Argentina, e próxima ao Aqüífero Guarani, que é a maior
reserva de água doce do mundo. A partir dali também se vigia o
Altiplano boliviano e a Venezuela.

- Honduras (2); Base Soto Cano em Palmerola; usa-se como estação de
radar e proporciona apoio para treinamento e missões em helicóptero,
que monitoram os céus e as águas da região e são chaves nas operações
militares. Base Naval no departamento norte-oriental de Gracias a
Dios. Conta com um edifício multifuncional e um centro de operações
que contribui para o aumento da capacidade de albergar mais pessoal e
um cais para a ancoragem de lanchas de patrulhamento.

- Ilhas Turkos e Caicos (1): Base de Operações para o Apoio de
Esforços Internacionais (OBAT).

- Bahamas (1): Base de Operações para Apoio de Esforços Internacionais (OBAT).

- Ilha Ascensão: embora não faça parte da ALC, encontra-se frente às
costas orientais do Brasil. É uma estação de seguimento de mísseis.

- Costa Rica (2): Base Militar Libéria. Estação de radar. O
Subcomandante do Comando Sul do exército norte-americano Paul Trivelli
informou também sobre a inversão de 15 milhões de dólares numa base
naval que já está sendo construída na localidade de Caldera, da
província de Puntarenas.

- Antígua (1): base localizada próximo à cidade de Saint Johns.

- Jamaica (1): estação de radar e estação da aviação.

- Ilha Granada (1): estação de radar.

Os Estados unidos possuem bases militares nas ilhas Santa Cruz e Santo
Tomás, que, embora não formem parte da América Latina, estão na região
caribenha.

Foram reveladas 17 estações de radares operadas por pessoal dos
Estados Unidos. Na maioria dos casos, os pontos de radar encontram-se
num país-anfitrião. Um destacamento operacional típico se compõe de 36
a 45 pessoas. As bases conhecidas dessas estações de radares são: na
Colômbia (6): Leticia (sudeste da Colômbia); Marandúa (leste, na
fronteira com a Venezuela); Rohacha (noroeste, na costa do Caribe);
San Andrés (ao leste da Nicarágua e no Mar Caribe); San José del
Guaviare (sul do centro da Colômbia); Três Esquinas (sudoeste, perto
da fronteira do Equador). No Peru (3): Iquitos (no rio Amazonas, perto
da fronteira com a Colômbia); Andoas (norte do Peru, entre Colômbia e
Equador); Pucallpa (sobre o rio Ucayali, perto do Brasil). As
restantes estações de radar são móveis ou estão situadas em lugares
secretos.

De igual maneira, os Estados Unidos tem pretensões de instalar
futuramente quatro bases adicionais: uma em Alcântara, no Brasil.
Recém obtiveram acordo em matéria militar com o governo de Lula, porém
sem instalações militares. Outra base seria na zona de Chapare, na
Bolívia, onde a forte oposição ao presidente Evo Morales torna
difícil, de imediato, que a mesma se concretize; mais uma em Tolhuin,
na província de Terra do Fogo, na Argentina; e a última na zona
conhecida como a tríplice fronteira, situada entre os limites do
Brasil, da Argentina e do Paraguai.

As localizações das bases têm assinaladas áreas de cobertura. O raio
de ação de algumas delas seria: Aruba-Curaçao (para operações no
Caribe Oriental e na região norte da Venezuela); Comalapa em El
Salvador (para as operações no Pacífico Oriental, no Caribe Ocidental
e América Central). A base Soto Cano de Honduras, que provê apoio e
resposta mediante helicópteros em missões do Comando Sul na América
Latina e no Caribe. As bases na Colômbia, com capacidade de
monitoramento e intervenção com equipes e tropas, em toda a parte
norte da América do Sul, em parte do Cone Sul e na América Central,
além de outras tarefas encobertas: lutar contra os insurgentes
colombianos; controlar os fluxos de petróleo e minerais, os recursos
em água doce e a biodiversidade. Porém, desde o princípio seus
principais objetivos foram: vigiar a Venezuela e desestabilizar a
revolução bolivariana.

Presença de tropas na ALC

A terrível tragédia sofrida pelos irmãos haitianos foi um pretexto
oportuno para que os EE.UU pusessem em solo haitiano uns 20.000
homens, pessoal de tropa da 82ª Divisão. Os mesmos tomaram o controle
do principal porto e aeroporto de Porto Príncipe e exerceram ações de
controle à população. A situação acabou sendo tão escandalosa que
várias chancelarias latino-americanas se pronunciaram sobre o fato e
até o Secretário de Estado francês para a Cooperação, Alain Joyandet
declarou: “Trata-se de ajudar o Haiti, e não de ocupar Haiti”. Ante
este fato há muitas perguntas: por que a presença de tantas tropas?
Não teria sido de mais ajuda colocar pessoal médico nessas mesmas
proporções? Por que assumir o controle de aeroportos e portos sem
contar com a anuência da Minustah? Quem lhe outorgou essas funções?
Foi um exercício de ocupação militar a um país da ALC?

A reativação da 4a Frota

Em julho de 2008 a armada estadunidense reativou a IV. Frota que havia
sido dissolvida em 1950, e começou a patrulhar os mares da América
Latina e do Caribe, respondendo às ordens do Comando Sul dos Estados
Unidos (o Southcom), cujas bases se encontram em Miami. A IV. Frota
conta com o porta-aviões nuclear George Washington, fragatas com
mísseis, 120 aviões, entre eles bombardeiros F-14, tanques,
submarinhos nucleares e 12 navios d escolta (cruzeiros ou
caça-torpedeiros).

A reativação da IV. Frota implicou em pronunciamentos de vários
presidentes latino-americanos. Ao que um funcionário de Assuntos
Públicos do Comando Sul replicou dizendo que esta frota concentrará
seus esforços na luta contra o tráfico ilícito de drogas e em prover
ajuda humanitária e socorro em casos de desastres.

Conclusões

A nova política exterior norte-americana com respeito à ALC se
expressa no momento atual numa ofensiva político-diplomática, por um
lado, e militar, pelo outro. Trata-se de estreitar relações com
governos da região catalogados como aliados, enquanto se hostiliza e
se implementam táticas para o desgaste interno e externo de governos
catalogados por eles como hostis. Paralelamente, desenvolve-se o
componente militar sob a responsabilidade do Comando Sul, que inclui a
obtenção de acordos para instalação de bases com diferentes
finalidades, como monitoramento por radar e satélite, postos de
controle e supervisão de áreas geográficas, treinamento de tropas dos
países anfitriões, exercícios militares conjuntos, etc. Esta nova
ofensiva norte-americana ocorre num contexto em que o continente
latino-americano experimenta governos discursivamente de esquerda ou
progressistas.

IHU OnLine é uma publicação da Unisinos de São Leopoldo,
RSArtigosObama e a sua nova diplomacia para a América Latina

Fonte:http://www.domtotal.com/especiais/detalhes.php?espId=776
A tradução é de Benno Dischinger.


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Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
VENEZUELA: O PÓLO PATRIÓTICO E O APROFUNDAMENTO DA REVOLUÇÃO

VENEZUELA: O PÓLO PATRIÓTICO E O APROFUNDAMENTO DA REVOLUÇÃO

Escrito por Tribuna Popular
Sexta-feira, 15 de Outubro de 2010 16:16

Caracas, 15 de out. 2010, Tribuna Popular TP/Editorial Tribuna Popular Nº 180.- É certo que já passou o 26 de setembro. Já passaram as eleições parlamentares. Passou a campanha eleitoral. Passaram os tambores e os pratos. Porém, é certo também que a batalha política, ideológica e de massas continua.

A etapa do processo revolucionário venezuelano, que começou em 1998, está fortemente marcada – com avanços e retrocessos, gostemos ou não – pelos processos eleitorais.

Esta característica não é produto da vontade de ninguém em particular. É produto das condições específicas da Venezuela.


A atual fragilidade da revolução bolivariana está vinculada, justamente, ao marco da democracia liberal burguesa, na qual se desenvolve.

Esta experiência revolucionária em que avança nosso povo, pode perder-se. Não somente por conta de tropas estrangeiras, mas numa eleição regional, parlamentar ou presidencial.

O grave não é a possibilidade de perder uma eleição como essa, porque significaria que a perda se deu a favor da vontade popular. No entanto, esta vontade popular conta com importantes níveis de influência das forças reacionárias e de seus meios de manipulação de massas.

É grave, inclusive, que muito desta vontade popular se perdeu por erros próprios das chamadas forças do processo e por deficientes, burocratas e corruptas gestões governamentais.

É grave, inclusive, que a prostituição dos termos Socialismo e Socialista – mediante seu uso indiscriminado para se referir a um momento político e a ações de governo, que não cabem em tais conceitos – pode levar à decepção, à frustração desta vontade popular, fazendo com que a mesma passe a apoiar caminhos anti-populares.

O problema maior não são as eleições – inclusive, as de tipo liberal burguesa, que continuam acontecendo na Venezuela –, mas sim a estrutura do Estado, que segue sendo burguês.

Na mesma medida em que muda o Estado venezuelano – que é muito mais que o governo –, mudará o sistema eleitoral.


Nesta discussão, é necessário ter clareza de que o sistema eleitoral não é mais ou menos automatizado, não é o mais ou menos passível a uma auditoria, não é mais ou menos fidedigno da vontade popular.

O sistema eleitoral será realmente democrático na mesma medida em que esteja liberto das diversas formas de influência da burguesia, das forças internacionais reacionárias e de seus valores capitalistas.

Por isso, a batalha pelo aprofundamento da revolução deve continuar. Deve avançar organizada, coordenada e coesa nas ações para a liquidação do Estado burguês e pela construção do Estado democrático e popular. Deve substituir a estrutura e as formas de gestão da democracia liberal pelo Poder Popular.

Por isso, é de maior relevância a necessidade da reiterada cobrança expressa pelo PCV – e que o Presidente Chávez interpretou mediante sua proposta do Pólo Patriótico – de avançar na articulação das forças democráticas, progressistas e revolucionárias para constituir um espaço permanente de coordenação de políticas, uma estrutura orgânica não conjuntural nem restrita ao âmbito eleitoral, «com visão estratégica caracterizada por uma dinâmica interna, que estimule a discussão política e ideológica de fundo, e que favoreça a participação equitativa e democrática das forças revolucionárias em seu nível respectivo, respondendo ao princípio da “unidade na diversidade”».

Uma grande frente anti-imperialista e pela construção do novo Estado, estruturado em todos os níveis e frentes sociais.

Em definitivo, a expressão político-organizativa do germe da direção coletiva da Revolução venezuelana.

Ainda dá tempo. Façamos todos os esforços necessários para cumprir o que é uma necessidade histórica e um pedido popular.

Para esta e todas as tarefas por vir, o povo venezuelano e a revolução bolivariana poderão seguir contando com o Partido Comunista.

Fonte: Tribuna Popular Impressa Nº 180

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza










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Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922
Secretário-geral da  Juventude Comunista do Equador sofre atentado.

Secretário-geral da Juventude Comunista do Equador sofre atentado.

BOLETIM DE IMPRENSA
Na segunda-feira, 25 de outubro de 2010, aproximadamente às 13:30 da tarde, o diplomado da Faculdade de Direito e Secretário Geral da Juventude Comunista do Equador, Edwing Pérez, sofreu um atentado. Tal ação gerou sua imediata internação ma clínica Kennedy, onde foi submetido a uma cirurgia de alto risco.

O suposto autor é um estudante de Direito, chamado Neptalí Ramírez, conhecido como “o escorpião”. Trata-se de um elemento mercenário da política, vinculado aos movimentos Sociedade Patriótica e Polícia do Guerreiro.

O motivo desta brutal agressão é o desespero em que se encontram estes setores, juntamente a outros, unidos em torno das Forças Democráticas Autênticas da Universidade. O desespero se instalou quando conseguimos uma resolução judicial que anula as fraudulentes eleições da FEUE, nas quais o agressor figurava como “vicê-presidente da LDU”, apoiadas pela maioria do Conselho Universitário, o que resulta em novas eleições. A isto, se soma o fato de que estes mesmos setores, com o aporte adicional do MPD, tentaram, sem conseguir, respaldo da Universidade para a intentona golpista de 30 de setembro passado.

Este atentado criminoso contra Edwing Pérez despertou enorme indignação nos setores Estudantis Democráticos e em diversas Organizações Juvenis de Trabalhadores e populares, que fazem chegar sua solidariedade frente este o ocorrido.

COMITÊ CENTRA DA JCE

SAUDAÇÕES AO CAMARADA EDWING

FAVOR DIFUNDIR POR TODOS OS MEIOS
TEMOS QIE DENUNCIAR OS GRUPOS FASCISTAS E GOLPISTAS

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

21 de outubro de 2010

O exemplo da França

O exemplo da França

imagemCrédito: ODiário.info


Nota dos Editores

Nas últimas semanas em gigantescas manifestações quase 15 milhões de franceses saíram as ruas para protestar contra a lei que somente permite a reforma aos 62 anos. Foram seis as mobilizações populares, e uma greve geral indefinida tem paralisado grande parte da actividade económica e dos serviços públicos.

Na manifestação do dia 15 participaram segundo os organizadores mais de 3,5 milhões de pessoas das quais 330.000 em Paris. As grandes universidades aderiram ao protesto assim como os estudantes de mais de 1.200 liceus. As refinarias não funcionam e a falta de combustível começou a afectar os aeroportos.

O movimento, o de maior amplitude das últimas décadas, conta com a simpatia da maioria da população que identifica na lei de Sarkozy uma grave ameaça não apenas à segurança social, mas a direitos conquistados pelos trabalhadores em séculos de lutas.

«Deixem os jovens e os desempregados trabalhar e os “antigos” repousar», foi um dos cartazes exibidos nos desfiles pelos trabalhadores.

A popularidade de Sarkozy caiu nestes dias para o nível mais baixo atingido por qualquer presidente da França desde o final da II Guerra Mundial.

O governo espera que a aprovação pelo Senado da lei contribua para um refluxo do protesto nacional, mas os sindicatos mais combativos lembram que em 2006, as manifestações forçaram a Assembleia Nacional a revogar a chamada lei do primeiro emprego já promulgada pelo presidente Chirac.

A decisão de Sarkozy de, se necessário, reabrir as refinarias com recurso à força, poderá endurecer a luta do povo francês.

Seja qual for o desfecho da grande luta em curso, saudamos o combate dos trabalhadores franceses, saudado em todo o mundo pelas forças progressistas como exemplo de resistência à ofensiva do grande capital, na linha das grandes tradições revolucionárias do povo da França.

No momento em que o governo reaccionário de Sócrates tenta em Portugal aumentar a idade da reforma, actualmente de 65 anos, a recusa dos franceses em permitir que ela ultrapasse o patamar dos 60 não somente mobiliza solidariedades em toda a Europa como constitui um valioso encorajamento para as poderosas lutas que os trabalhadores portugueses têm em curso, com grande destaque para a Greve Geral do próximo dia 24 de Novembro.

OS EDITORES DE ODIARIO.INFO

Fonte: http://www.odiario.info/?p=1782

Adeus social-democracia, olá esquerda anticapitalista

Adeus social-democracia, olá esquerda anticapitalista

Teodoro Santana

A queda da social-democracia em toda a Europa não obedece a uma melhor ou pior gestão de seus líderes. Pelo contrario, deve-se a uma implacável necessidade histórica. Aliás, ao desaparecimento do papel histórico da social-democracia.

Os partidos chamados "socialistas" representaram as políticas do "Estado do bem-estar", de fazer dos trabalhadores dos países imperialistas partícipes das migalhas dos fabulosos benefícios saqueados do Terceiro Mundo, na forma de salários mais altos, concessões sociais e certo nível de vida. De modo que estas políticas social-democratas criavam um colchão que amortizavam a luta de classes e estabeleciam um "cordão sanitário" diante do "comunismo" que representava a URSS e os países socialistas da Europa do Leste.

A imensa maioria dos trabalhadores europeus associou, dessa forma, sua vida relativamente cômoda com a social-democracia, que falava sempre em seu nome (e até, como no caso espanhol, com seu nome) diante das políticas abertamente antitrabalhistas dos partidos de direita.

Mas dois acontecimentos históricos vieram transformar radicalmente a situação. Por um lado, a queda do socialismo soviético, tornando desnecessário esse "colchão" diante do "perigo do Leste". Não em vão, a queda da URSS abriu caminho às políticas de extrema direita capitalista (o chamado "neoliberalismo"), encabeçadas por Reagan, nos Estados Unidos e Tatcher, no Reino Unido.

Por outro lado, a crise de agonia do capitalismo, principalmente nas grandes potências imperialistas, era incapaz de gerar os inúmeros volumes de capital necessários para sustentar sua acelerada carreira a lugar nenhum. Já não sobram nem as migalhas que iam parar nas mãos da classe trabalhadora. Trata-se de raspar o caldeirão para juntar até as raspas. E isso significa diminuir salários, reduzir pensões, baratear demissões e liquidar qualquer resistência operária, incluindo a dos sindicatos mais reformistas. Isto é, a luta de classes escancarada e hostil.

O dilema para os partidos "socialistas" é: persistir nas políticas do "estado do bem-estar", com o risco de serem varridos por um sopro pelas oligarquias capitalistas que os apoiaram e até financiaram quando lhes interessava sua existência, ou adotar as políticas da direita capitalista "pelo bem da classe operária". O primeiro, não apenas, não vão deixá-lo fazer (e nem lhes passa pela cabeça radicalizar-se nem fazer políticas verdadeiramente socialistas); e o segundo supõe perder cada vez mais o apoio da imensa maioria das trabalhadoras e dos trabalhadores, e não ganhar nada no espaço da direita.

O fato de o colapso da social-democracia não ser absoluto e rápido, é devido à confiança que alguns setores ainda mantêm de voltar aos "bons velhos tempos", associados à social-democracia. E, evidentemente, ao temor de que os partidos de direita façam igual ou pior. À medida que a fantasia da "recuperação econômica" vai se evaporando, vai ocorrendo o mesmo com relação ao apoio aos partidos "socialistas".

Inclusive, dentro da social-democracia, vão aparecendo correntes que resistirão a este desvio direitista e suicida, e cujo acontecer dependerá muito das particularidades destes partidos em cada país. É previsível, em todo caso, a aparição de correntes de esquerda e fortes contradições internas.

Neste cenário, é dramática a divisão e a dispersão da esquerda anticapitalista, fator que não aparece na equação e que, caso aparecesse, aproveitaria uma oportunidade histórica única para mudar o curso dos acontecimentos. A unidade de todas as forças da esquerda – comunistas, socialistas revolucionárias, sindicatos - em torno de um programa anti-imperilista é, portanto, urgente e inadiável.

Boicotar este processo, bombardeá-lo com as velhas inércias de protagonismos baratos e mesquinhez, sempre reprovados, converte-se em uma atitude verdadeiramente criminosa em um momento em que temos a possibilidade de abrir caminho ao futuro, à esquerda anticapitalista, ao socialismo.

(*) Teodoro Santana é membro do Comitê Central do Partido Revolucionario de los Comunistas de Canarias (PRCC)

Tradução: Valeria Lima


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