17 de abril de 2011

A CIA por trás da rebelião

A CIA por trás da rebelião

imagemCrédito: PCB


O ataque euro-americano à Líbia nada tem a ver com 'protecção de civis'

John Pilger

O ataque euro-americano à Líbia não tem nada a ver com a protecção de ninguém; só os irremediavelmente ingénuos acreditam nesse disparate. É a reacção do Ocidente aos motins populares em regiões estratégicas, ricas em recursos e o início de actividades hostis contra o novo rival imperialista, a China.

O presidente Barack Obama já assegurou o seu lugar na História. É o primeiro presidente negro da América a invadir a África. O ataque à Líbia é chefiado pelo Comando África dos EUA (US Africa Command), instituído em 2007 para assegurar os lucrativos recursos naturais do continente, roubando-os às populações empobrecidas e à influência comercial da China, em crescimento rápido. A Líbia, juntamente com Angola e a Nigéria, é a principal fonte de petróleo da China. Enquanto os aviões americanos, britânicos e franceses vão incinerando líbios 'maus' e 'bons', assiste-se à evacuação de 30 mil trabalhadores chineses, provavelmente de forma permanente. As afirmações de entidades ocidentais e dos meios de comunicação de que 'um coronel Kadafi criminoso e enlouquecido' está a planear o 'genocídio' contra o seu próprio povo, continuam a carecer de provas. Isto faz recordar as afirmações fraudulentas que exigiram a 'intervenção humanitária' no Kosovo, o desmembramento final da Jugoslávia e a instalação da maior base militar americana na Europa.

Os pormenores também são conhecidos. Segundo se diz, os 'rebeldes pró-democracia' líbios são comandados pelo coronel Khalifa Haftar que, segundo um estudo da Fundação Jamestown americana, montou o Exército Nacional Líbio em 1988 "com forte apoio da CIA". Nos últimos 20 anos, o coronel Haftar tem vivido não muito longe de Langley, Virginia, o lar da CIA, que também lhe fornece um campo de treino. Os mujihadeen, que deram origem à al-Qaida, e o Congresso Nacional Iraquiano, que forjaram as mentiras de Bush/Blair sobre o Iraque, foram patrocinados por Langley, da mesma forma aceite por toda a gente.

Os outros líderes 'rebeldes' incluem Mustafa Abdul Jalil, ministro da Justiça de Kadafi até Fevereiro, e o general Abdel-Fattah Younes, que chefiou o ministério do Interior de Kadafi: ambos com estrondosas reputações de repressão brutal de dissidentes. Há uma guerra civil e tribal na Líbia, que inclui a rejeição popular contra a actuação de Kadafi em relação aos direitos humanos. Mas o que é intolerável para o ocidente não é a natureza do seu regime, é a independência da Líbia, numa região de vassalos; e esta hostilidade pouco mudou em 42 anos, desde que Kadafi derrubou o rei feudal Idris, um dos tiranos mais odiosos apoiados pelo ocidente. Kadafi, com os seus modos beduínos, hiperbólicos e bizarros, há muito que personaliza o 'lobo feroz' ideal (Daily Mirror), exigindo agora que os heróicos pilotos americanos, franceses e britânicos bombardeiem áreas urbanas em Tripoli, incluindo uma maternidade e um centro de cardiologia. O último bombardeamento americano em 1986 conseguiu matar a sua filha adoptiva.

O que os americanos, os britânicos e os franceses têm esperança de conseguir é o oposto da libertação de um povo. Ao sabotar os esforços dos genuínos democratas e nacionalistas da Líbia para libertarem o seu país de um ditador e dos corrompidos pelas exigências estrangeiras, o som e a fúria de Washington, de Londres e de Paris conseguiram turvar a memória dos dias de esperança de Janeiro em Tunis e no Cairo e desviar muitos dos que tinham criado esperanças da tarefa de assegurar que as suas conquistas não fossem roubadas furtivamente. A 23 de Março, as forças militares egípcias, apoiadas pelos EUA, emitiram um decreto proibindo todas as greves e manifestações. Isto praticamente não foi notícia no ocidente. E agora, com Kadafi identificado com o demónio, Israel, o verdadeiro cancro, pode continuar a sua espoliação de terras e expulsões. O Facebook, sob pressão sionista, removeu uma página apelando a um levantamento em grande escala na Palestina – uma 'Terceira Intifada' – a 15 de Maio.

Nada disto nos deve surpreender. A história exibe o tipo de maquinação revelado por dois diplomatas seniores nas Nações Unidas, que falaram ao Asia Times. Quando pretenderam saber porque é que as Nações Unidas nunca ordenaram uma missão de avaliação dos factos à Líbia, em vez de um ataque, disseram-lhes que já muita coisa tinha sido feita entre a Casa Branca e a Arábia Saudita. Uma 'coligação' dos EUA iria 'eliminar' o recalcitrante Kadafi se os sauditas abafassem o levantamento popular no Bahrein. Este último já foi concretizado e o sangrento rei do Bahrein vai ser um dos convidados às bodas reais em Londres.
A personificação desta reacção é David Cameron [NT] , cuja única verdadeira tarefa tem sido como homem de relações públicas de Michael Green, o oportunista da indústria da televisão. Cameron esteve no Golfo a vender armas aos tiranos inventados pelos britânicos quando a população se levantou contra Abdullah Saleh do Iémen; a 18 de Março, o regime de Saleh assassinou 52 manifestantes. Cameron não disse nada de jeito. O Iémen é 'um dos nossos', conforme o Foreign Office britânico gosta de dizer. Em Fevereiro, Cameron desmascarou-se num ataque ao que ele chamou de 'estado de multi-culturalismo' – um código para muçulmanos. Disse, "Precisamos de muito menos tolerância do que nos últimos anos!" Foi aplaudido por Marine Le Pen, líder da Frente Nacional fascista de França. "É exactamente este tipo de declarações que nos isolou da vida pública durante 30 anos", disse ela ao Financial Times. "Só posso felicitá-lo".

Num dos seus momentos mais exploradores, o império britânico produziu Davids Camerons aos montes. Contrariamente a muitos dos 'civilizadores' vitorianos, os actuais guerreiros sedentários de Westminster – através de William Hague [NT] , Liam Fox [NT] e do traidor Nick Clegg [NT] – nunca foram atingidos pelo sofrimento e banho de sangue que, à custa das diferenças culturais, são as consequências dos seus discursos e acções. Com o seu ar mais ou menos informal, sempre altivos, são uns cobardes no estrangeiro, visto que ficam sempre em casa. As suas prendas são a guerra e o racismo e a destruição da democracia social duramente conquistada da Grã-Bretanha. Lembrem-se disso quando forem para a rua às centenas de milhares, conforme é vosso dever.

NT 

David Cameron: primeiro-ministro do Reino Unido, líder do Partido Conservador

William Hague: politico britânico conservador; secretário dos Estrangeiros e primeiro secretário de David Cameron.

Liam Fox: politico do Partido Conservador britânico; secretário da Defesa do Reino Unido

Nick Clegg: Líder do Partido Liberal Democrata; vice-primeiro-ministro do Reino Unido, na coligação com o Partido Conservador e presidente do Conselho.

O original encontra-se em www.johnpilger.com

Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
27 ativistas de Direitos Humanos foram detidos em frente à Casa Branca

27 ativistas de Direitos Humanos foram detidos em frente à Casa Branca

imagemCrédito: Helen Jaccard


Numa ação violenta, 27 ativistas de Direitos Humanos foram detidos em frente à Casa Branca, Estados Unidos, por exigir o fechamento da Escola das Américas1 e o fim da intervenção militar dos EUA na América Latina.

No domingo, 10 de abril de 2011, centenas de ativistas protestaram em frente à Casa Branca, Washington DC, em memória das milhares de vítimas da América Latina que foram assassinadas pelos treinamento militar que os EUA forneceram a militares latino-americanos na Escola das Américas.

Em ato público, mulheres ativistas lembravam as Mães da Praça de Maio, Argentina, usando panos brancos como símbolos do que sucedeu na maioria dos povos da América Latina. Só na Argentina, foram 30 mil pessoas assassinadas pelos militares, muitas das quais estão desaparecidas.

Dentre os ativistas detidos neste domingo, figura o padre católico Roy Bourgeois, que em 1990 fundou o movimento dos Observadores da Escola das Américas (SOAW em Inglês). Roy e mais de duzentos ativistas estadunidenses são presos de consciência, com prisões que podem variar de 3 meses a vários anos, por protestos o treinamento que é realizado pela também conhecida como “Escola de Assassinos”.

Anteriormente, em 8 de abril, 25 ativistas foram detidos em outro protesto pacífico realizado no Pentágono contra a militarização estadunidense na América Latina.

Os detidos deste domingo, 10 de abril, são:

Alice Gerard, Grand Island, New York;

Ann Tiffany, Syracuse, New York;

Becca Polk, Bloomfield Hill, Michigan;

Chris Gaunt, Grinnell, Iowa;

David Barrows, Washington, DC;

David McPhail, Kensington, California;

Ed Kinane, Syracuse, New York;

Eve Tetaz, Washington, DC;

Father Roy Bourgeois, Columbus, Georgia;

Jack Gilroy, Endwell, New York;

Janice Sevre-Duszynska, Nicholasville, Kentucky;

Jim Forfythe, Heyward, California;

Judith Kelly, Arlington, Virginia;

Kathleen Desautels, SP, Chicago, Illinois;

Kevin Moran, Atlanta, Georgia;

Kirsten Wittkowski, Bethesda, Maryland;

Liz Deligio, Chicago, Illinois;

Maia Rodriguez, Arlington, Virginia;

Megan Felt, Des Moines, Iowa;

Nicholas Alexander, Washington, DC;

Nico Udu-gama, Washington, DC;

Paki Wieland, Massachusets;

Palmer Legare, Burlington, Vermont;

Priscilla Treska, Cleveland, Ohio;

Sarah Sommers, Cleveland, Ohio;

Scott Wright, Washington, DC;

Silvia Brandon-Perez, Heyward, California.

Fotos: Helen Jaccard. Mais fotos da repressão em: https://picasaweb.google.com/Helen.Jaccard/

Fonte: http://www.soawlatina.org/

Nota do tradutor:

1. O jornal panamenho La Prensa a chama de Escola de Assassinos. Leia mais em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_das_Am%C3%A9ricas

Traduzido por Dario da Silva
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE TORTURA E DE OUTROS CRIMES HEDIONDOS

DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE TORTURA E DE OUTROS CRIMES HEDIONDOS

imagemCrédito: Latuff


Prof. Rubim dos Santos Leão de Aquino

Um dos mitos existentes a respeito da sociedade brasileira refere-se a ser pacífico o homem brasileiro.  Sempre repetida tal afirmativa pelos seguidores da História Oficial, tal falsa afirmativa acaba por ser aceita como se verdadeira fosse.

Na verdade, a violência foi uma constante na evolução da sociedade brasileira.  Estava presente no extermínio de índios pelos colonizadores.  Existiu no tratamento dado aos escravos africanos, arrancados de suas terras de origem, imposto ao longo da viagem para o Brasil e sofrido no seu dia-a-dia, como mão-de-obra da Colônia e do Império.  Era habitual como prática das autoridades contra os de baixo em geral.

A justiça colonial, ao condenar eventuais rebeldes, usava uma expressão que nos intrigou, por algum tempo: “Portanto condenam ao réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes (...) a que (...) seja conduzido pelas ruas públicas ao local da forca e nela morra morte natural para sempre (...)”.  Morrer de morte natural era morrer sem torturas!

Embora não houvesse torturas – pelo menos na hora do enforcamento – a sentença determinava fosse a cabeça de Tiradentes cortada e exposta em local público de Vila Rica – a atual Ouro Preto – e “o seu corpo será dividido em quatro quartos e pregados em postes pelo caminho de Minas (...)”.

Contra outros movimentos de contestação ao regime vigente, adotou-se usualmente prática semelhante.

E o conhecido pau-de-arara, tão amplamente utilizado nos porões da ditadura militar? Nesta, era constituído de dois cavaletes de cerca de 1,5m de altura, feitos com suportes na parte superior, onde eram encaixados às pontas de uma barra de ferro.  Despido, com os pulsos e tornozelos amarrados com cordas, com as pernas dobradas, encostadas no peito e os braços envolvendo-as, o preso era pendurado na barra de ferro.  Esta, era, então, encaixada nos suportes dos cavaletes.  Além de ficar com a cabeça para baixo e, conseqüentemente, com maior concentração de circulação sanguínea na cabeça, o preso sofria pancadas, choques elétricos, queimaduras com cigarros e até podia ser estuprado ou estuprada!  Pois bem, esse aparelhinho que a ditadura brasileira até exportou para uso em outros países foi criado no século XVII pelos riquíssimos oligarcas Garcia d’Ávila para punir seus escravos na Bahia!

A prática de cortar a cabeça de adversário derrotado, usada por militares na Guerrilha do Araguaia (1972-1974), vem de longe!  Antônio Moreira César, coronel do Exército e comandante da terceira campanha contra Canudos, era conhecido pela alcunha de Corta-Cabeças.  Esse cognome devia-se ao fato de haver mandado cortar a cabeça de mil adversários vencidos na Revolução Federalista (1893-1895).  Aplicou a usual gravata vermelha quando, da cabeça cortada, a língua pendia, como se gravata fosse.

Os exemplos citados patenteiam o emprego de torturas e outras sevícias contra presos políticos ao longo da História do Brasil!

É importante registrar que métodos de tortura foram sendo aperfeiçoados ao longo dos tempos.

A TORTURA COMO INSTRUMENTO DE PODER E TERROR.

Antes mesmo da ditadura militar, eram enviados policiais e militares para fazerem cursos no exterior.  Esses cursos funcionavam na Academia Internacional de Polícia, em Washington, ou no quartel do Forte Gullick, na Zona do Canal do Panamá, onde estava a  Escola das Américas.  Havia ainda outros quartéis nos Estados Unidos, como o Forte Bragg, o Forte Leavenworth e o Forte Benning, para treinamento militar.

O temor a uma nova Cuba na América acarretou tomar corpo nos Estados Unidos, durante o governo John Kennedy (1961-1963), a criação de projeto de treinamento militar e policial de latino-americanos.

O primeiro professor norte-americano de tortura a chegar ao Rio de Janeiro, em 1960,  chamava-se Lauren Goin, que também atuou em Belo Horizonte.  Mais conhecido foi Daniel Anthony Mitrione, o Dan Mitrione, policial-instrutor em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, desde 1961.  Foi ele inclusive quem conseguiu importar “equipamentos de trabalho” no valor de cem mil dólares.  “Os Estados Unidos gastaram dois bilhões de dólares para treinar e equipar forças policiais brasileiras a partir de 1964 através de um programa da Agência Internacional para o Desenvolvimento.  O programa coordenado pela Secretaria de Segurança Pública, já propiciou treinamento a cem mil policiais, 1/6 dos efetivos policiais do Brasil.” (COOJORNAL, novembro de 1979).

Na Escola das Américas, em Português e Castelhano, eram dados cursos de contra-guerrilhas urbana e rural, métodos científicos de interrogatório, ou seja, tortura.  Ensinava-se o que no Brasil denominou-se Ação Cívico Social (ACISO): militares fardados deveriam realizar tarefas que beneficiassem uma comunidade.  Desse modo, projetavam uma imagem capaz de torná-los populares.

Muitos militares fizeram esses cursos desde 1954, seja como alunos atentos, seja como instrutores capacitados.

Segundo o general Hugo Abreu “Em fins de 1970 enviamos um grupo de oficiais do I Exército à Inglaterra para aprender o sistema inglês de interrogatório.  O método consiste em colocar o prisioneiro em uma cela sem qualquer contato com o mundo exterior.  Os carcereiros eram instruídos a deixar o prisioneiro até 18 ou 24 horas sem alimento; depois dava-se o almoço e uma hora depois, o jantar.”  Constituía uma técnica de desestruturação psicológica, inclusive com o prisioneiro perdendo a noção do tempo em que vivia.  O desequilíbrio psicológico era de tal monta que o prisioneiro ficava fragilizado ao ser interrogado.

O sistema inglês foi introduzido no país pelo general Sylvio Frota, então comandante do I Exército.  Apesar disso, Frota ganhou fama de ser contrário a torturas nos presos políticos.

A tortura, entretanto, não é ato que apenas massacre o corpo dos indivíduos.  Na verdade, atinge a alma do prisioneiro e deixa marcas perenes.  Na verdade, é um crime contra a vida e contra a Humanidade!  Recordamos, a propósito, o psicanalista Hélio Pellegrino que considera a tortura “a tentativa de usar o corpo contra a alma, de servir-se da dor como cúmplice contra a mente, sede do espírito e da dignidade dos seres humanos.”

Podemos, portanto, considerar que torturadores, mandantes e coniventes são seres que detestam a vida e a Humanidade!

Que cérebro diabólico da Operação Bandeirante, em 1969, terá criado a cadeira do dragão, terrível máquina de tortura?  Esse instrumento de torturas, que os militares repressores chegaram a exportar para outros países, como já haviam feito com o pau-de-arara, era uma cadeira de madeira, cujo assento, o encosto e os braços para apoiar os braços, eram revestidos de chapas de metal.  Fios condutores de eletricidade eram ligados às placas e a uma maquininha de choque.  Esta era cognominada de Pianola, Boilesen, Perereca,Pimentinha, Maricota ou Manivela. O preso ficava amarrado à cadeira mediante correias de couro.  A partir de então, sofria choques elétricos que podiam crescer de intensidade.

O terrorismo de Estado no Brasil foi se sofisticando com o aperfeiçoamento e a diversificação dos instrumentos e métodos de tortura realizados nos órgãos de segurança.

Assim aconteceu com o microfone elétrico, desde 1972 acoplado à cadeira do dragão: os gritos das vítimas, transmitidos pelo microfone, aumentavam a intensidade dos choques.

“Geladeira

O principal equipamento do ‘sistema inglês’.  É um cubículo construído em concreto com dois metros de altura por 1,80 metro de largura e 1,80 metro de comprimento com uma porta, de aço, com um metro de altura, tudo pintado de negro.  Na parede oposta à porta, junto ao teto, estão instaladas as caixas de som.  Na parede lateral direita, a 20 centímetros do chão, há uma abertura para ventilação protegida por uma tela de aço enquanto no teto, também protegido por uma tela de aço, um nicho onde ficam as lâmpadas.  Em funcionamento – com um prisioneiro nu, que pode permanecer na ‘geladeira’ até por várias semanas – as caixas de som despejam ruídos de todo tipo: barulho de passos, de moedas girando em uma mesa, de trens, cornetas, de turbinas de jato etc.  O volume do som varia aleatoriamente, de extremamente alto a quase inaudível, assim como a temperatura ou as luzes.  O equipamento de ventilação pode fornecer dias de frio quase insuportável, algumas horas de calor altíssimo e novamente frio; as luzes podem passar semanas sem se acenderam ou dias inteiros piscando ininterruptamente.” (FON, ANTÔNIO CARLOS.  Tortura: a história da repressão política no Brasil, São Paulo: Global Editora e Distribuidora, 1979, pp. 74 e 75).

Acrescentaríamos que as caixas também transmitiam, em altíssimo volume, os gritos de outros torturados e sons dissonantes ensurdecedores.  Há notícias ainda do uso de serpente, cujo veneno fora retirado, mas deixava o preso alucinado ao se sentir picado.  Mais difícil era o emprego de um jacaré pequeno suspenso por uma corda e ameaçando abocanhar, com suas presas, o preso.

Eventualmente empregava-se o pentotal sódico, vulgarmente cognominado de soro da verdade.  No entanto, por ser considerado pouco eficaz, acabou sendo pouco aproveitado.  Um dos seus efeitos trágicos é a possibilidade de acarretar danos psíquicos à vítima.

Um dos métodos mais utilizados pela repressão foi o afogamento, em várias modalidades.  A mais usual era empurrar a cabeça do preso em um barril cheio d’água.

Foram 310 tipos de torturas, físicas e psicológicas, aplicadas de maneira institucionalizada visando precipuamente sustentar o regime implantado, serem um método de coletar informações e constituir uma arma de intimidação.

Já vimos que os métodos se sofisticaram e se diversificaram, contudo, muitos torturadores ainda recorriam a práticas pré-históricas: com um alicate arrancavam dentes da vítima até que ela confessasse.  Empregava-se também a medieval roldana ou polé, espancamentos desapiedados, inclusive nas solas dos pés...

Torturadores brasileiros foram identificados atuando no Uruguai, no Chile e no Paraguai, por ocasião dos golpes, implantando ditaduras militares naqueles países, isso  antes mesmo da criação oficial da Operação Condor, em 1974.

É preciso deixar claro não ser correta a idéia simplista de que os torturadores fossem pessoas marcadas por um sadismo congênito e incontrolável.  Na verdade, em geral, constituíam pessoas comuns que agiam a serviço de uma política do Estado.  Eram motivados freqüentemente pela possibilidade de obter recompensas diversas: medalhas, prêmios, gratificações, promoções.  Eram pessoas que rotineiramente mergulharam na prática de sevícias ao preso, chegando mesmo a ficar insensíveis aos gritos e à agonia dos presos selvagemente torturados.

Naturalmente era conhecido dos órgãos de segurança o estudo do general francês Jacques Massu A verdadeira batalha de Argel.  Comandante da 10ª Divisão de Paraquedistas e um dos líderes da Organisation de l’Armée Secrete, em seu estudo expõe os métodos repressivos, implicando torturas, empregados contra os guerrilheiros argelinos que lutavam pela independência do seu país.  A Folha de São Paulo, de 4 de maio de 2008, por sua vez, publicou entrevista com o general francês Paul Aussaresses que afirmou ter sido instrutor de torturas para oficiais brasileiros no Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus, em 1975.

Ainda no governo Médici (1969-1974), o gabinete do ministro do Exército, general Orlando Geisel, fez circular documento confidencial intitulado Interrogatório.  Esse documento foi descoberto nos arquivos do DOPS paranaense pela professora de História Derlei Catarina de Luca.  O documento confirma que, efetivamente, a tortura foi utilizada como instrumento oficial da política de repressão.  Fica evidente que a tortura utilitária era aceita pelos chefes militares da repressão.

Artigo no Jornal do Brasil, de 10 de dezembro de 1978, registra: “Primeiro torturaram-se aqueles que combatiam o regime de armas na mão e praticavam atos terroristas.  Depois, aqueles que por qualquer meio lhes foram solidários.  Em seguida, os que tinham qualquer ligação, ainda que pessoal, com subversivos.  Esgotada essa área, quando o espectro da tortura já rondava a sociedade política do país, utilizava-se qualquer pista para atemorizar jornalistas, intelectuais, estudantes universitários e políticos.  Qualquer um podia ir preso e, preso, qualquer um podia ser torturado.”

Esse comentário, eivado de termos popularizados pela repressão, merece os versos seguintes:

“Na primeira noite eles se aproximam e
colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam o nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho
em nossa casa, rouba-nos a lua e
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer  nada.”

(GOMES, JÚLIO CÉZAR MEIRELLES.  A lógica da maldade,  Brasília: Thesaurus, 1985, p. 48).

Este Texto foi retirado do livro Um tempo para não esquecer do prof. Rubim dos Santos Leão de Aquino
Fonte: http://www.uni-vos.com/opiniao.html
Ofensiva da direita: Militares querem censurar novela sobre a ditadura

Ofensiva da direita: Militares querem censurar novela sobre a ditadura

imagemCrédito: Diário Liberdade


PCO - A novela "Amor e Revolução" corre o risco de ser tirada do ar caso o Ministério Público aceite o pedido dos militares que promovem um abaixo assinado para censurá-la.

Após uma semana de exibição, a novela do SBT "Amor e Revolução" corre o risco de sair do ar. Militares começaram um abaixo-assinado através do site militar.com.br e pretendem encaminhá-lo ao Ministério Público para que este censure a novela. A iniciativa dos militares tem como objetivo tirar a novela do ar. O pretexto da censura seria porque na visão dos militares a novela que retrata o romance de uma militante de esquerda e um militar denegriria a imagem das Forças Armadas por mostrar que houve tortura durante a ditadura.

Tirar uma novela do ar é um grande ataque a liberdade de expressão e de crítica. Segundo este setor que deu um golpe de Estado patrocinado pelo imperialismo se determinada obra ou idéia não os agradam, eles teriam o direito de simplesmente proibir sua divulgação. Neste sentido, a própria existência do abaixo assinado, independente deste conseguir ou não censurar a novela, mostra os planos que os militares e a direita tem para o país caso seus interesses estejam ameaçados.

A intenção dos militares pode ser observada em trechos do texto usado no baixo-assinado: "As Forças Armadas não devem permitir, dentro da legalidade, que tal novela seja exibida, pelos motivos óbvios abaixo declarados. Convém salientar que as Forças Armadas já se manifestaram negativamente a respeito da novela Amor e Revolução". E ainda completam: "Sendo assim, o efetivo da Forças Armadas, tanto da ativa como inativos e pensionistas, vêm respeitosamente através desse abaixo-assinado, como um instrumento democrático, solicitar do digno Ministério Público Federal, representado acima, providências em defesa da normalidade constitucional, vista o cumprimento da lei de anistia existente, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Nestes termos pede deferimento em caráter urgentíssimo".

Neste momento, há um debate sobre uma possível abertura dos arquivos da ditadura. Desde 2009, o governo aprovou a formação da Comissão da Verdade, responsável por investigar os crimes dos militares durante a ditadura, como a tortura e assassinato de opositores.

Mesmo com o governo federal tendo declarado que não pretende punir nenhum militar que torturou e assassinou na época da ditadura (a maioria ainda está vivo), a cúpula das Forças Armadas se mantém contrária a qualquer tipo de investigação.

Da mesma forma, os militares quererem censurar qualquer tipo de crítica à ditadura, por mais moderada que esta crítica possa ser.

É preciso denunciar esta política dos militares, pois se ela for vitoriosa pode abrir um precedente para que qualquer crítica à ditadura militar. Esta iniciativa é parte de uma ofensiva geral de toda a direita e quem tem como objetivo acabar com os direitos democráticos da população.

Fonte: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=14469

Vídeos sobre a novela:

SBT -- Amor e Revolução - Jarbas Marques - Depoimento #2

http://www.youtube.com/watch?v=NZtDnkyAcL0



SBT -- Amor e Revolução - Jarbas Marques - Depoimento #3

http://www.youtube.com/watch?v=52YC9asSMKQ



NOS PORÕES DA DITADURAREPORTAGEM ESPECIALPARTE 01

http://www.youtube.com/watch?v=xY5bBPr4XwQ
 


NOS PORÕES DA DITADURA - REPORTAGEM ESPECIAL - PARTE 02

http://www.youtube.com/watch?v=yTSqTjCxd78



NOS PORÕES DA DITADURA - REPORTAGEM ESPECIAL - PARTE 03

http://www.youtube.com/watch?v=ds1gIlxZLDs



NOS PORÕES DA DITADURAREPORTAGEM ESPECIALPARTE 04

http://www.youtube.com/watch?v=HCcsV2EiVtw


COMUNICADO DO PARTIDO COMUNISTA DA BOLÍVIA

COMUNICADO DO PARTIDO COMUNISTA DA BOLÍVIA

imagemCrédito: PCB


Detenhamos a conspiração reacionária e o aventureirismo ultraesquerdista

Retificando, defendendo e aprofundando o processo de Mudança

Frente ao conflito social em desenvolvimento, a Comissão Política do Partido Comunista da Bolívia acredita ser necessário efetuar alguns apontamentos imprescindíveis, com o propósito de buscar uma saída que preserve tanto os interesses do processo de mudanças como os dos trabalhadores agrupados em torno da Central Obreira Boliviana os quais - por razões de princípio - não são contraditórios:

1.- Partimos do fato de que o processo de mudança só é oposto aos desígnios da oligarquia, a sua representação política na direita e extrema direita e ao imperialismo yanqui. Algumas falências e até erros que pudemos ter cometido não nos privam de legitimidade e da necessidade de continuarmos e aprofundá-lo.

2.- O processo de mudança não pertence a ninguém em particular. É o resultado da longa acumulação da luta do povo boliviano e por ele deve ser defendido como uma obra coletiva, em particular dos trabalhadores do campo e da cidade junto aos partidos de esquerda. Todos, em convergência, lograram derrotar o neoliberalismo e abrir a possibilidade de uma nova via de desenvolvimento soberano para a construção de uma nova ordem social. A COB se guia em sua luta pela Tese Socialista de 1969 e a qual não renunciará em nenhuma circunstância.

3.- É possível encontrar soluções rápidas a partir de uma atitude de flexibilidade dos atores em conflito. O governo do Estado Plurinacional deve ostentar, sobretudo em suas altas esferas, uma atitude de maior abertura ao diálogo.

4.- Por sua parte, os setores laborais devem por fim à infiltração de elementos plantados pela direita que com uma linguagem pseudorrevolucionária, na realidade, estão servindo aos propósitos nefastos do imperialismo. Ante tudo se deve evitar os intentos de enfrentar trabalhadores contra trabalhadores. O êxito do processo de mudança radica sobretudo na aliança operário-camponesa.

5.- É necessário que o governo assuma que há necessidades insatisfeitas das classes populares e busque procedimentos que se encaminhem para a sua satisfação. Por sua vez os trabalhadores não devem deixar-se levar pela propaganda desinformadora que inventa propósitos ou medidas que supostamente afetariam os legítimos interesses do povo. Por isso mesmo é necessário informar-se sem prejuízos para atuar com objetividade.

6.- A vigilância revolucionária, própria dos trabalhadores, deve fazer ouvidos surdos aos cantos da sereia da direita e a demagogia social do fascismo. Estes elementos atuam em consonância com serviços do imperialismo que sustentam atividades que não somente operam na Bolívia, senão em todos aqueles países com governos democráticos e progressistas ou empenhados em processos de mudança, de uma ou outra magnitude, porém que são igualmente indesejáveis ao imperialismo. Deve-se denunciar particularmente a infiltração de elementos provocadores que atiçam a violência.

7.- Como Partido que reivindica sua condição de partido do proletariado e de encarnar os interesses conjunturais e históricos das classes revolucionárias, conclamamos os atores em conflito a porem-se a trabalhar com desprendimento, com ânimo de retificação e honradez para alcançarmos as soluções mais adequadas.


La Paz, 8 de abril de 2011.

Comissão Política do Partido Comunista da Bolívia.

Senado uruguaio aprova fim da Lei da Anistia

Senado uruguaio aprova fim da Lei da Anistia

imagemCrédito: AP/Arquivo


Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

Texto será enviado para Mujica, que foi preso durante o regime

O Senado uruguaio aprovou no fim da noite desta terça-feira um projeto de lei que anula a Lei de Anistia do país. A medida poderá abrir caminho para o julgamento de militares policiais acusados de crimes na ditadura militar, entre 1973 e 1985.

Após mais de 12 horas de debates, a votação terminou quase empatada, com 16 votos a favor da anulação e 15 votos contra.

O site Observa, do jornal El Observador, informou que os senadores aprovaram especificamente a anulação de quatro artigos da chamada 'Lei da Caducidad', sob argumento de que "violam a constituição e carecem de valor jurídico".

As mudanças afetam os militares que ainda não respondem a processo judicial, segundo afirmaram parlamentares da base governista e da oposição.

Segundo a imprensa local, o resultado foi comemorado no plenário da Casa.

"Vai ser aberta uma discussão jurídica sobre esta medida a partir de agora", disse o senador da oposição e ex-presidente, Luis Alberto Lacalle.

O senador Rafael Michelini, que apoiou o fim da lei de anistia, afirmou que "hoje é um dia histórico".

O texto deverá ser enviado para a Câmara dos Deputados e a expectativa é que caberá ao presidente José ‘Pepe’ Mujica sancionar ou rejeitar a medida do legislativo.

Mujica era guerrilheiro quando foi preso, inclusive em regime de prisão solitária, nos anos da ditadura uruguaia.


Condenação

A votação contou com apoio de grande parte da base governista, mas gerou questionamentos entre alguns parlamentares do bloco.

A chamada Lei de Caducidad entrou em vigor em 1986 e foi submetida a dois plebiscitos populares – em 1989 e em 2009 – que a mantiveram em vigor.

No entanto, mais recentemente a lei tem sido alvo de ataques neste país de pouco mais de três milhões de habitantes.

Mais importante, no fim de março, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Uruguai em um caso interposto por familiares de duas vítimas da ditadura militar e determinou que o país abrisse os arquivos do período.

Na opinião da Corte, a lei da anistia constituía um "obstáculo ao esclarecimento dos crimes contra a humanidade durante a ditadura".

O caso levado à Corte foi iniciado pela família do escritor argentino Juan Gelman, que localizou a neta, Macarena, nascida nos porões da ditadura. Os pais da menina estão desaparecidos desde então. A mãe dela, Nora de Gelman, está desaparecida. O corpo do pai de Macarena, filho de Gelman, foi localizado em 1989.

Na segunda-feira, um dia antes da votação, militares da reserva e da ativa divulgaram um comunicado assinado por 1.200 deles, anunciando que entrarão com ação contra o Estado nos tribunais internacionais – a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Corte de Haia.

Em sua argumentação, os processos de 'lesa humanidade' são 'arbitrários e irregulares'.

Alguns dos acusados daqueles crimes encontram-se presos, como o ex-presidente do país, Juan Maria Bordaberry, que cumpre prisão domiciliar.

Estratégia de "correcção" ou de derrube do sistema?

Estratégia de "correcção" ou de derrube do sistema?

imagemCrédito: Resistir.info


KKE*

Como é sabido, o KKE, em 1 de Dezembro de 2010, na sua carta aos Partidos Comunistas e Operários da Europa, apelava ao enfraquecimento do PEE (Partido de Esquerda Europeu) e ao seu abandono, porque ele é um instrumento para o envolvimento das forças revolucionárias no quadro do capitalismo, como "apêndice" da social-democracia.

A iniciativa do KKE provocou, como era esperado, discussões em vários partidos, que também são membros ou observadores do PEE. Ao mesmo tempo, tornou-se o alvo de ataques de forças que pretendiam o posterior afastamento do movimento comunista dos seus princípios e tradições revolucionários. E, por isso, o nosso partido foi visado por um criticismo ofensivo e completamente infundado, que nós alegadamente lançámos ao PEE "acusações falsas e sem bases". De facto, dizem que o KKE é de opinião que "o PEE divide a esquerda". Na realidade, uma leitura cuidadosa da carta do KKE mostrará que há uma referência ao " papel de divisão e enfraquecimento do PEE contra o movimento comunista internacional ". Uma demonstração simbólica deste facto foi a organização do congresso do PEE exactamente nas mesmas datas do Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários na África do Sul.


Simples aritmética ou … "álgebra" política? 

Aqueles que se envolveram em polémicas contra o KKE, para suportarem a sua escolha de assimilação no PEE, recorrem à "contagem" dos partidos que participam no PEE, mesmo daqueles que observaram o seu congresso. O que não é tratado por esta gente é o conteúdo político, isto é, a direcção oportunista do PEE na vanguarda e na tentativa de puxar estes partidos para seguirem na sua esteira. A questão não é a do número de partidos que participam, mas o carácter, individualmente considerado, de cada partido. Muitos destes partidos, no passado, eram forças que alinharam com a corrente oportunista do "Eurocomunismo", PCs e outras forças que renunciaram ao socialismo e foram "social-democratizadas" depois das contra-revoluções na URSS e no Leste da Europa, forças que se devotaram, elas próprias, ao anticomunismo. Não é pois por acaso, que estes partidos têm hoje um papel de liderança no PEE e batalham por realizar aquilo de que, antes, não foram capazes, para pôr fim ao movimento comunista e aos PCs que resistem à tempestade das contra-revoluções. O alvo dos oportunistas continua o mesmo, que os PCs não possam forjar uma moderna estratégia revolucionária. O problema do PEE não é um assunto de simples "aritmética" (quantos participam), mas político... "álgebra" (isto é, que política "qualitativa" é criada por aqueles que aí participam).


A estratégia oportunista do PEE 

A base dos argumentos que o KKE avançou na sua carta de 1 de dezembro é comprovada pela própria carta e pelo conteúdo dos documentos e resoluções do III Congresso do PEE.

A comum e generalizada referência ao "socialismo com democracia" (desbaratando o socialismo que conhecemos na URSS e nos outros países socialistas, ao afirmar que era alegadamente "antidemocrático") visa lançar a confusão! Na realidade, como está claro nos documentos do seu congresso, o PEE tem outros objectivos, que estão contidos no slogan "Nós não podemos melhorar o mundo se o não salvarmos, mas podemos salvar o mundo melhorando-o" ". O que o PEE admite neste slogan é que se esforça para humanizar e melhorar o capitalismo. Num período em que os impasses do capitalismo estão a tornar-se cada vez mais claro para os trabalhadores, ainda mais agora que o trabalhador pode compreender com a sua própria experiência que o capitalismo, tanto no período de desenvolvimento, como no de crise, é bárbaro e agressivo, o PEE dedicou-se a lavar a cara ao capitalismo , deixando intocados a exploração capitalista e o poder do capital.

"Transformação da missão do Banco Central Europeu (BCE). Através da criação de dinheiro e com base em critérios sociais, o BCE deve alargar crédito a juros baixos aos estados membros... Emissão de 'Eurobonds' para permitir que os estados membros peçam empréstimos a taxas de juro razoáveis... Uma outra Europa é possível... Estamos a lutar por uma refundação democrática da Europa e da UE". O PEE demonstra, com esta posição, que propõe medidas que operam dentro do âmbito do sistema capitalista, visam a sua gestão e são utópicas, porque pretendem que o capitalismo regresse à sua anterior fase de pré-monopólio. Alegadamente, por este caminho, a "humanização" do capitalismo e a "purificação" da UE dos especuladores e do "neoliberalismo" serão alcançadas. A ansiedade do PEE para "refundar" e "purificar" a UE e transformar o BCE numa instituição alegadamente benevolente e pró-popular, demonstra que não tem qualquer relação com uma perspectiva de classe e de análise do carácter imperialista da UE.
Além disso, os comunistas que seguem o marxismo-leninismo sabem muito bem o que, objectivamente, existe na sociedade capitalista; que este sistema de exploração não pode ser melhorado através de reformas várias, nem as suas organizações imperialistas podem ser refundadas numa base pró-popular – só pode ser derrubado.

"Se a UE não é capaz de travar a especulação, quem o é?" pergunta o PEE. Fica assim claro que as ilusões e esperanças dos documentos do congresso do PEE excedem, até, as dos documentos da própria e imperialista UE. A postura de um Euro-partido é explicada pelo facto de que a pré-condição da sua existência é a sua aceitação (nos seus documentos fundadores e Estatutos) dos princípios da UE, da eternidade desta união imperialista e, assim, da exploração capitalista – nesta perspectiva e simultaneamente, são produzidas ilusões de que podem existir capitalistas que não visam lucros.

Quando o PEE está a favor de um "novo processo democrático baseado na participação ativa das pessoas, parlamentos europeu e nacionais, através de novos poderes e direitos de participação..." está a apresentar de novo uma cara lavada dos parlamentos burgueses , que visam armadilhar o movimento laboral e popular, na lógica da falência do Eurocomunismo.

Quando o PEE escreve que "Isto significa que nós queremos criar uma frente política e social contra o neoliberalismo, tanto a nível nacional, como a nível europeu." , isso traz danos ao movimento popular, porque propaga falsas esperanças de que o capitalismo pode, alegadamente, resolver hoje os problemas dos povos, sem tocar nas relações económicas capitalistas e nas suas superstruturas políticas. O que se promove com estas perigosas e enganosas "frentes anti-neoliberais" é a falhada "solução" de reformas burguesas, deixando a porta aberta para a social-democracia.

No período em que os social-democratas constituem a básica "força de ataque" do capitalismo, para que a barbárie anti-trabalhadores e a massiva expansão da pobreza seja aceite (p.e. na Grécia, Espanha e Portugal), o PEE condena hipocritamente a "gestão neoliberal", indo ao ponto de lhe atribuir exclusivamente a crise capitalista. E, assim, pretende não ver o carácter da crise como uma crise do sistema capitalista em si, como uma crise de sobreacumulação do capital, que está enraizada na contradição básica entre o capital e o trabalho, como os PC concluíram no seu Encontro na África do Sul. Ao contrário, as forças do PEE deixam intocadas as causas reais da crise global capitalista.

Com esta linha, eles restringem qualquer desenvolvimento de lutas da classe operária , ao condenarem "o mau Direito" (p.e. Sarkozy, em França) e desta forma, no essencial, trabalham para o retorno da social-democracia, que tem um comprovado recorde de assumir o projecto anti-popular e continuá-lo de uma forma ainda mais bárbara do que a dos governos liberais. Os PC que desempenham o papel de parceiro no governo com a social-democracia promovem a mesma linha oportunista, tendo em vista impulsionar as políticas antioperárias – uma linha que, como é bem sabido, conduziu à castração ideológica dos PC na Europa, no passado recente, à perda da sua interligação com a classe operária e as massas populares.
A estratégia revolucionária do KKE 

As forças do compromisso no movimento comunista promovem como seu ideal uma linha na qual os PC assumem um papel "suplementar" da social-democracia , tendo em vista a criação da chamada "maioria social para a solidariedade". O modelo da "unidade de esquerda" é desenvolvido neste contexto, na Grécia e mais genericamente.

Em relação à questão das alianças, o KKE não se submeteu à pressão que foi exercida na Grécia com o argumento da "unidade da esquerda". Um argumento que, no nosso país, é apoiado pelo membro do PEE, SYN (este é uma união de forças oportunistas – algumas delas deixaram o KKE em 1968, sob a bandeira do eurocomunismo e, em 1991, sob a bandeira do "Gorbachevismo").

O facto de o KKE ter rejeitado o beco sem saída da chamada "unidade da esquerda" significa que o KKE tem uma política de alianças que responde aos interesses da classe operária, dos estratos populares e às necessidades da luta de classes. Centramos a nossa atenção na aliança social e política que se baseia na ação e interesses comuns e na linha comum de luta da classe operária e dos trabalhadores independentes rurais e urbanos. Uma aliança que entrará em conflito com os monopólios e o imperialismo e, em simultâneo, luta por outro caminho para o desenvolvimento do nosso país: o caminho para o poder e a economia populares, onde os meios de produção serão socializados, haverá uma planificação central da economia e o controlo dos trabalhadores. Para os comunistas não pode haver "poder intermédio" ou "sistema intermédio" entre o capitalismo e o socialismo. Para os comunistas, o poder e a economia do Povo significam a sociedade socialista.

O KKE considera que não podemos ter uma tão negativa situação no movimento laboral, hoje, onde os parceiros do PEE e os burocratas amarelos da CSI são dominantes e, por outro lado, a nível político, a existência de uma radical aliança política.

Hoje, os PC acumularam uma significativa experiência e podem libertar-se do ponto de vista de que uma aliança política significa união com as forças que desertaram do movimento comunista. As conclusões necessárias devem ser tiradas dessa deserção. Isto, porque eles não saíram das fileiras dos PC e criaram partidos e grupos oportunistas por acaso, ou porque simplesmente discordaram de alguns detalhes, mas porque discordaram do essencial – e entregaram-se à submissão do capitalismo e à perpetuação do sistema de exploração. A sua resposta à questão crucial " com o povo ou com os monopólios? " é que, tanto na teoria como na prática, estão com os últimos. E enquanto podem invocar as suas raízes comunistas, sustentam um sistemático ataque anticomunista e anti-socialista contra o marxismo-leninismo; eles procuram a corrupção e o desarmamento ideológico-político dos PC, a sua dissolução e a sua diluição em formações oportunistas e pontos de passagem para os braços da social-democracia. Por conseguinte, estas não são forças que " não dizem as coisas tão bem como os comunistas ", mas sim forças hostis.

Em vez do entendimento familiar conjunto das lideranças com formações, partidos e social-democracia oportunistas, em nome da "unidade de esquerda", com o que o movimento comunista tanto sofreu no passado, a principal obrigação hoje para os PC é a massiva libertação da classe operária e das forças populares da influência dos partidos burgueses, social-democratas e liberais. Nesta base, as pré-condições para a concentração de forças para a aliança social na Grécia será criada através da reunião de forças numa frente de actividade comum das organizações: Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), União Militante de Todos os Camponeses (PASY), União Anti-monopolista Nacional de Trabalhadores por conta própria e de pequenos empresários (PASEVE), Federação das Mulheres Gregas (OGE) e Frente Militante dos Estudantes (MAS). É esta actividade comum que determinará a rapidez com que teremos uma totalmente formada aliança sócio-política, a um nível político, das forças anti-monopolistas e anti-imperialistas. Só este trabalho pode criar laços com a classe operária e as massas populares. Em qualquer caso, o comunista nada pode construir sem um persistente trabalho entre as massas, sempre guiado pelo seu objetivo estratégico do socialismo e pela aliança que os conduzirá aí, através do reforço do seu partido, que é o dirigente insubstituível da classe operária.

Esta é a linha política que o KKE tem seguido desde a saída das forças oportunistas, em 1990; e ficou demonstrado que o KKE não só não ficou"isolado das massas". como alguns esperavam, como também reforçou os seus laços com a classe operária e as massas populares. Isto é evidente nas mobilizações e greves de massas, onde os comunistas estiveram na vanguarda. Também é evidente nos resultados eleitorais, que não são o mais importante indicador para os comunistas, mas um de entre muitos outros. Nas primeiras eleições após a separação com os oportunistas (1993), o KKE teve 4,5% (cerca de 300.000 votos) e, em 2010, teve perto de 11% e 600.000 votos.

O objectivo de derrubar o imperialismo em vez de o humanizar é, para o KKE, tão relevante como sempre o foi. Para o KKE, a frenteestável contra o oportunismo é característica da nossa identidade comunista, marxista-leninista. Esta identidade e a sua defesa são hoje pressupostos para a rejeição do PEE e o seu abandono pelos PC que são seus membros ou observadores. Esta experiência não está relacionada com as peculiaridades de cada país em si. Ao contrário, é parte da riqueza colectiva da experiência do movimento comunista. Contém princípios que são pré-requisitos necessários em qualquer período e são verdadeiros para todos os PC, para que possam enfrentar o desafio da mais dura luta de classes, o derrube do poder dos capitalistas e a construção do socialismo-comunismo.


A postura assumida perante o anti-comunismo é um critério básico 

Vinte anos depois do derrube do socialismo na URSS e na Europa Central e de Leste, nas condições de uma crise global capitalista, os regimes burgueses e os seus mecanismos ideológicos intensificam os seus ataques contra o movimento comunista e continuam a difamar a URSS e as outras Democracias Populares. Temos um recente exemplo disto na Alemanha.

O chamado "motor" da Europa, deve ser bem "instalado" para que possa "conduzir" a rentabilidade do capital. Todas as "principais" forças políticas, de "esquerda" ou de "direita", são chamadas a contribuir à sua maneira para este esforço.

Neste país, estiveram em vigor durante décadas proscrições contra os comunistas a trabalhar em diversas situações no sector público. Um gatilho para um novo surto de anticomunismo foi dado com a intenção de Gesine Lötzsch, presidente do Partido de Esquerda (Die Linke), de falar numa reunião que incluía a palavra "comunismo" no seu tema. Este acontecimento provocou "duros" reflexos de classe dos partidos burgueses alemães, assim como dos média, que acusaram aquele partido e o seu presidente de… resvalarem para o "comunismo".


Burguesia alemã … "Democracia" 

"Quem tem o comunismo como seu objetivo ataca a ordem liberal e democrática da nossa constituição", declarou Alexander Dobrindt, secretário-geral da União Social Cristã (CSU) , e exigiu que "'Die Linke' fosse monitorizado a um nível nacional pelos serviços Secretos Nacionais".Enquanto o Partido Social Democrata (SPD) , na declaração do secretário do seu grupo parlamentar, Tomas Oberman, realçou a convulsão interna provocada no "Die Linke" com a presença do seu presidente em tal reunião, concluindo que a "esquerda alterou direcções na sua liderança". 

Isto é a muito alardeada "democracia burguesa" dos modelos europeus e o "contributo europeu" do "motor" da Europa, que declara abertamente o seu anticomunismo e persegue quem ousa colocar a questão do derrube do sistema explorador capitalista e a necessidade da construir uma sociedade sem a exploração do homem pelo homem.


Declarações de renúncia ao comunismo 

No entanto, como acontece em tais circunstâncias, há frequentemente alguns "danos colaterais". A presidente de "Die Linke", assim como recebeu fogo "hostil", teve, no final, fogo "amigo" vindo dos quadros do seu próprio partido. Mesmo apesar de ela própria ter feito muitas declarações"renunciando ao comunismo" , afirmando que ela é "uma socialista e não uma comunista", lembrando o "Stalinismo" e condenando os "crimes do comunismo". Eles amaldiçoam "o socialismo que existiu" e fazem juramentos de fidelidade ao chamado "socialismo democrático"

Os quadros do "Die Linke" alinharam-se para declarar lealdade ao seu partido e louvar a democracia burguesa. Por exemplo, Lothar Bisky, um funcionário e ex-presidente do partido, declarou há poucos dias que "a reunificação da Alemanha garantiu a liberdade e os direitos individuais e trouxe-nos uma excepcional constituição. E – se posso falar a nível pessoal – os meus alunos e filhos podem crescer num país de uma forma que, anteriormente, estava para além dos nossos mais excitados sonhos"". 


No entanto, todos estes... "exorcismos do comunismo" não parecem ter ajudado "Die Linke". 

Uma atitude contrária aos valores, tradições e história do movimento comunista 

Ao mesmo tempo, a aliança ideológica dos oportunistas com a ideologia burguesa é mais uma vez evidente. Em qualquer caso, o "Die Linke" e os partidos do chamado "Partido de Esquerda Europeu" (PEE) estão unidos na sua oposição à luta de classes e à construção do socialismo. Não é por acaso que, com base nos seus estatutos, o PEE participa activamente na brutal campanha anticomunista na Europa, condenando a história da construção do socialismo na URSS.

Vamos pensar, por um momento, o que esta atitude poderia ter em comum com a postura orgulhosa assumida por milhares de comunistas gregos e outros, que, perante pelotões de fuzilamento, a tortura e o exílio não esmoreceram e não assinaram declarações renunciando ao comunismo, que os seus torturadores lhes exigiam? A resposta é – NADA! E o "Die Linke" e o PEE não têm nada em comum com as tradições, a história, os valores e a experiência do movimento comunista e operário.

As suas reivindicações de que lutam por um... "socialismo democrático", em oposição ao "totalitarismo", à "ditadura". ao "comunismo arbitrário",não são novas . São a continuação do "socialismo democrático" de Bernstein (que foi formulado há mais de uma centena de anos) e dos argumentos aparentados da II Internacional, relativos à aquisição pacífica do poder político através do Parlamento, posição que foi adoptada pelo"actual eurocomunismo". 

Como o XVIII Congresso do KKE considerou: "A propaganda burguesa e oportunista, falando da falta de liberdade e de regimes antidemocráticos, projecta os conceitos de "democracia" e "liberdade" no seu conteúdo burguês, identificando democracia com parlamentarismo burguês e liberdade com individualismo burguês e propriedade privada capitalista. A verdadeira essência da liberdade e da democracia sob o capitalismo é a coerção económica da escravidão assalariada e da ditadura do capital, na sociedade em geral e, em especial, nas empresas capitalistas. A nossa abordagem crítica tendo em vista a participação e o controlo operários e populares não tem qualquer relação com as polémicas burguesas e oportunistas sobre democracia e "direitos" na URSS". 

O KKE que, ao contrário do PEE, defende as conquistas do socialismo, depois de estudar a experiência da construção do socialismo na URSS chegou, entre outras, à seguinte conclusão: "Para resolver os problemas que surgiram na economia foram usados os caminhos e os meios do passado. Com a promoção das políticas de "mercado" – em vez de se reforçar a propriedade social e o Planeamento Central, a homogeneização da classe operária (com a ampliação das competências e capacidades para a multi-especialização, para a alternância na divisão técnica do trabalho), a participação operária na organização do trabalho e o controlo dos trabalhadores de baixo para cima -, a tendência inversa começou a reforçar-se". 


Diferentes aspectos da frente ideológica 

Na realidade, as afirmações dos oportunistas sobre o "socialismo democrático" são a "peneira" om que os oportunistas pretendem esconder a sua rejeição e oposição à necessidade da luta revolucionária! 

O chamado "socialismo democrático" é a "peneira" com a qual os oportunistas pretendem esconder a sua completa conformidade com o sistema burguês , a sua submissão à democracia "burguesa", ao poder da ditadura do capital!

"socialismo democrático" é a "tarefa" com que as forças oportunistas se comprometeram, na campanha hostil e caluniosa do sistema burguês contra o comunismo científico, contra a luta de classes . Uma campanha que não se limita a operar em condições capitalistas, mas que também assume uma posição clara contra a experiência da construção socialista na URSS e nos outros países europeus! Assim, as forças políticas burguesas, juntamente com os oportunistas do "Die Linke" e do PEE com o seu discurso do "socialismo democrático", criticando de forma anti-histórica vários períodos da história, têm como claro objectivo a negação da contribuição da construção socialista. Algumas vezes atacam todo o período de 70 anos da história da URSS, noutras ocasiões atacam o período em que a base socialista estava sob a liderança de J. Stalin.

Na verdade, a liderança deste particular partido oportunista da Alemanha "destacou-se" nas reuniões que se realizaram no aniversário do assassinato dos dirigentes comunistas da Alemanha, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, da seguinte forma:   colocou no cemitério dos militantes socialistas-comunistas uma placa memorial às … "Vítimas do Stalinismo". A persistência do Die Linke em continuar este acto de provocação foi demonstrada pelo quarto ano consecutivo, uma vez que a placa, naturalmente, provoca fortes reacções.

Através destas acções, eles são bem sucedidos na demonstração do "cordão umbilical" que liga a democracia burguesa ao oportunismo. Como uma acção dupla bem coordenada, na qual se concebem todos os argumentos para os apologistas da democracia burguesa –os argumentos que condenam o socialismo e os princípios fundamentais da sua construção e os argumentos a favor da gestão capitalista.

É este membro da acção dupla que apresenta aos trabalhadores o slogan "as pessoas antes dos lucros". No exacto momento em que todos os aspectos da situação actual (crise capitalista, desemprego, guerras imperialistas, o recente escândalo alimentar respeitante a dioxinas na Alemanha, etc.) demonstram a necessidade da abolição dos lucros capitalistas e do sistema de exploração que os gera. 

Por mais que digam, uma coisa é certa: a luta de classes não foi abolida, as revoluções não foram abolidas, nem tão pouco o serão aqueles que as desenvolvem sem pedirem autorização à burguesia. A experiência da construção socialista na URSS e noutros países, onde, através de lutas sem precedentes a construção do socialismo foi tentada, é para os comunistas uma contribuição insubstituível para as revoluções sociais no futuro!

*Artigo do Departamento de Relações Internacionais do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE)
A tradução para português em http://www.pelosocialismo.net
Este artigo encontra-se em http://www.resistir.info/grecia/correccao_derrube.html
Mapuches são condenados pela (in) justiça do Chile

Mapuches são condenados pela (in) justiça do Chile

imagemCrédito: OUTRA POLÍTICA


Afonso Costa*
Quatro índios chilenos da etnia Mapuche foram condenados a penas de 20 a 25 anos de prisão no último dia 22 de março, em um julgamento marcado por irregularidades.
O mapuche Héctor Llaitu recebeu a sentença de 25 anos de prisão. Ramón Llanquileo, José Huenuche e Jonathan Huillical foram condenados a 20 anos de prisão. Qual crime cometeram? Qual? Lutar pela sua terra, pela sua história, pela história dos seus antepassados.
A infundada acusação é de que teriam realizado um “atentado” com roubo e um suposto ataque a um fiscal em outubro de 2008.
No ano passado, os quatro mapuche fizeram três meses de greve de fome em protesto ao julgamento, que não foi baseado na legislação comum, mas sim em uma lei draconiana, a chamada Lei Anti-Terrorista. O julgamento foi calcado por várias infrações, entre a elas a adulteração de provas e a utilização de testemunhas secretas, segundo denunciou um dos advogados de defesa, Victoria Farina, que vai recorrer à Corte Suprema daquele país.
Segundo a porta-voz dos Mapuche Natividad Llanquileo, por trás da decisão existe motivação política “já que o interesse dos poderosos é manter presas as pessoas que pensam e que estão contra seu modelo econômico”.
A esposa de Héctor Llaitu afirmou que a condenação é uma repressão ao movimento dos mapuche, que lutam pela sua autonomia territorial e reconhecimento enquanto povo-nação dentro do Estado chileno. Desde a sanguinária ditadura de Augusto Pinochet os mapuche são perseguidos e suas terras vendidas para empresas privadas.
Os mapuche representam cerca de 10% da população chilena e lutam pela sua autonomia, manutenção dos seus costumes, de toda a sua história.
A história dos Mapuche: a única nação indígena jamais derrotada militarmente pelos brancos
Os espanhóis invadiram o território que hoje é o Chile em meados do século XVI (1538-1540), depois de terem assassinado e escravizado os incas, os aymarás e outras nações nas regiões que atualmente correspondem ao Peru, Equador e Bolívia. Desceram o norte do Chile com esporádicos enfrentamentos com algumas nações indígenas. Não conheciam, entretanto, a fama e a história dos mapuche.
Os mapuche jamais foram derrotados por nenhuma das nações indígenas, inclusive pelos incas, famosos pelas suas conquistas na atual América do Sul. Seu território se localizava à época entre os rios Bío-Bío, ao norte; e Tolten, ao sul, do litoral do Oceano Pacífico até a região dos lagos andinos, no centro-sul do que hoje é o Chile e em um pedaço do que hoje é a Argentina.
Quando os espanhóis ultrapassam o rio Bío-Bío a resistência mapuche foi feroz. Foram travadas inúmeras batalhas durante cem anos, de 1541 a 1641, quando no dia 6 de janeiro finalmente o rei da Espanha capitulou e através do Tratado de Quillín reconheceu que as terras abaixo do referido rio eram território mapuche.
Apesar disso, poucos anos depois, com a ascensão de um novo monarca, os espanhóis voltam a tentar ocupar as terras mapuche, novamente sem sucesso. A guerra se estendeu até 1818 quando o Chile conquista sua independência. Apenas em 1882 o exército chileno finalmente conseguiu derrotar os mapuche e aprisionar seu povo, além de enganá-los em um tratado que jamais foi cumprido.
Um povo indômito
Os mapuche foram identificados como um povo indômito no poema “La Araucana” escrito por Alfonso de Ercilla, oficial do exército espanhol que o enviou ao então rei Carlos para explicar as dificuldades do vice-rei em conquistar as terras abaixo do rio Bío-Bío.
Ele faz uma descrição apaixonada dos mapuche, na qual reconhece sua bravura em combate e sua organização militar. O primeiro grande líder militar da guerra contra os brancos (tolki em mapundungun, a língua deles) foi Lautraro ou Lautaro, há mais de uma grafia, então um jovem de cerca de 18 anos. Ele criou várias táticas militares desconhecidas pelos espanhóis. Só para se ter uma noção, a trincheira é uma invenção sua, mas que somente será usada pelos homens brancos já no século XX, na Primeira Guerra Mundial. Até hoje Lautaro é famoso entre seu povo, uma lenda que perdura na consciência de uma nação que jamais escravizou ou invadiu outras nações pois sempre amou a liberdade.
Há um belo poema em um livro de Leonel Lienlaf, ‘Se ha despertado el ave de mi corazón’, de 1990, que reproduzimos abaixo, mostra sua importância quatro séculos e meio depois de sua morte:
O ESPÍRITO DE LAUTARO
Anda acerca da vertente
bebendo a água fresca
e grita nas montanhas,
chamando seus guerreiros.
O espírito de Lautaro
caminha acerca de meu coração,
olhando,
escutando,
chamando-me todas as manhãs.
Lautaro vem buscar-me,
buscar a sua gente
para lutar com o espírito
e com o canto.
Teu espírito Lautaro
anda de pé
sobre esta terra.
*Afonso Costa é jornalista

14 de abril de 2011

Líbia: Obama e a defesa da 'rebelião'

Líbia: Obama e a defesa da 'rebelião'


imagemCrédito: Resistir.info


James Petras*
Nas últimas duas semanas a Líbia sofreu o mais brutal ataque imperialista, por ar, por mar e por terra, da sua história moderna. Milhares de bombas e de mísseis, lançados de submarinos, vasos de guerra e aviões de guerra, americanos e europeus, estão a destruir as bases militares líbias, os seus aeroportos, estradas, portos, depósitos petrolíferos, posições de artilharia, tanques, porta-aviões blindados, aviões e concentrações de tropas. Dezenas de forças especiais da CIA e do SAS têm andado a treinar, a aconselhar e a apontar alvos para os chamados 'rebeldes' líbios empenhados numa guerra civil contra o governo de Kadafi, as suas forças armadas, as milícias populares e os apoiantes civis ( NY Times 30/03/11).

Apesar deste enorme apoio militar e do total controlo dos céus e da linha costeira da Líbia pelos seus 'aliados' imperialistas, os 'rebeldes' ainda não foram capazes de mobilizar o apoio de aldeias e cidades e encontram-se em retirada depois de enfrentarem as tropas governamentais da Líbia e as milícias urbanas, fortemente motivadas ( Al Jazeera 30/03/11).

Uma das desculpas mais idiotas para esta inglória retirada dos rebeldes, apresentada pela 'coligação' Cameron-Obama-Sarkozy, e repetida pelos meios de comunicação, é que os seus 'clientes' líbios estão 'menos bem armados' (Financial Times, 29/3/11). Obviamente, Obama e companhia não contabilizam o grande número de jactos, as dezenas de vasos de guerra e de submarinos, as centenas de ataques diários e os milhares de bombas lançadas sobre o governo líbio desde o início da intervenção imperialista ocidental. A intervenção militar directa de 20 potências militares estrangeiras, grandes e pequenas, flagelando o estado soberano da Líbia, assim como o grande número de cúmplices nas Nações Unidas não contribui com nenhuma vantagem militar para os clientes imperialistas – segundo a propaganda diária a favor dos rebeldes.

Mas o Los Angeles Times (31/Março/2011) descreveu como “… muitos rebeldes em camiões com metralhadoras deram meia-volta e fugiram… apesar de as suas metralhadoras pesadas e espingardas antiaéreas serem parecidas com qualquer veículo governamental semelhante”. De facto, nenhuma força 'rebelde' na história moderna recebeu um apoio militar tão forte de tantas potências imperialistas na sua confrontação com um regime instituído. Apesar disso, as forças 'rebeldes' nas linhas da frente estão em plena retirada, fugindo desordenadamente e profundamente descontentes com os seus generais e ministros 'rebeldes' lá atrás em Bengazi. Entretanto, os líderes 'rebeldes', de fatos elegantes e de uniformes feitos por medida, respondem à 'chamada para a batalha' assistindo a 'cimeiras' em Londres onde a 'estratégia de libertação' consiste no apelo, perante os meios de comunicação, de tropas terrestres imperialistas ( The Independent, Londres) (31/03/11).

É baixa a moral dos 'rebeldes' na linha da frente: Segundo relatos críveis da frente da batalha em Ajdabiya, “Os rebeldes… queixaram-se de que os seus comandantes iniciais desapareceram. Acusam camaradas de fugirem para a relativa segurança de Bengazi… (queixam-se de que) as forças em Bengazi monopolizaram 400 rádios de campo oferecidos e mais 400… telemóveis destinados ao campo de batalha… (sobretudo) os rebeldes dizem que os comandantes raramente visitam o campo de batalha e exercem pouca autoridade porque muitos combatentes não confiam neles” ( Los Angeles Times , 31/03/2011). Segundo parece, os 'twitters' não funcionam no campo de batalha.

As questões decisivas numa guerra civil não são as armas, o treino ou a chefia, embora evidentemente esses factores sejam importantes: A principal diferença entre a capacidade militar das forças líbias pró-governo e os 'rebeldes' líbios apoiados por imperialistas ocidentais e por 'progressistas', reside na sua motivação, nos seus valores e nas suas compensações materiais. A intervenção imperialista ocidental exaltou a consciência nacional do povo líbio, que encara agora a sua confrontação com os 'rebeldes' anti-Kadafi como uma luta para defender a sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches – um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. O oposto também é verdadeiro para os 'rebeldes', cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar imperialista para os levar ao poder. Que soldados rasos 'rebeldes' vão arriscar a vida, a lutar contra os seus compatriotas, só para colocar o seu país sob o domínio imperialista ou neo-colonialista?

Finalmente, as notícias dos jornalistas ocidentais começam a falar das milícias pro-governo das aldeias e cidades que repelem esses 'rebeldes' e até relatam como “um autocarro cheio de mulheres (líbias) surgiu repentinamente (de uma aldeia) … e elas começaram a fingir que aplaudiam e apoiavam os rebeldes…” atraindo os rebeldes apoiados pelo ocidente para uma emboscada mortal montada pelos seus maridos e vizinhos pró-governo ( Globe and Mail,28/03/11 e McClatchy News Service, 29/03/11).

Os 'rebeldes', que entram nas aldeias, são considerados invasores, que arrombam portas, fazem explodir casas e prendem e acusam os líderes locais de serem 'comunistas da quinta coluna' a favor de Kadafi. A ameaça da ocupação militar 'rebelde', a detenção e a violência sobre as autoridades locais e a destruição das relações de família, de clã e da comunidade local, profundamente valorizadas, levaram as milícias líbias e os combatentes locais a atacar os 'rebeldes' apoiados pelo ocidente. Os 'rebeldes' são considerados 'estranhos' em termos de integração regional e de clã; menosprezando os costumes locais, os 'rebeldes' encontram-se pois em território 'hostil'. Que combatente 'rebelde' estará disposto a morrer em defesa de um território hostil? Esses 'rebeldes' só podem pedir à força aérea estrangeira que lhes 'liberte' a aldeia pró-governo.

Os meios de comunicação ocidentais, incapazes de entender essas compensações materiais por parte das forças pró-governo, atribuem o apoio popular a Kadafi à 'coerção' ou 'cooptação', agarrando-se à afirmação dos 'rebeldes' que 'toda a gente se opõe secretamente ao regime'. Há uma outra realidade material, que muito convenientemente é ignorada: A verdade é que o regime de Kadafi tem utilizado a riqueza petrolífera do país para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas . Os líbios têm o rendimento per capita mais alto de África com 14 900 dólares por ano ( Financial Times,02/04/11).

Dezenas de milhares de estudantes líbios de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. As infra-estruturas urbanas foram modernizadas, a agricultura é subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebem crédito do governo. Kadafi promoveu esses programas eficazes, para além de enriquecer a sua própria família/clã. Por outro lado, os rebeldes líbios e os seus mentores imperialistas prejudicaram toda a economia civil, bombardearam cidades líbias, destruíram redes comerciais, bloquearam a entrega de alimentos subsidiados e assistência aos pobres, provocaram o encerramento das escolas e forçaram centenas de milhares de profissionais, professores, médicos e trabalhadores especializados estrangeiros a fugir.

Os líbios, mesmo que não gostem da prolongada estadia autocrática de Kadafi no cargo, encontram-se agora perante a escolha entre apoiar um estado de bem-estar, evoluído e que funciona ou uma conquista militar manobrada por estrangeiros. Muito compreensivelmente, muitos deles escolheram ficar do lado do regime.

O fracasso das forças 'rebeldes' apoiadas pelos imperialistas, apesar da sua enorme vantagem técnico-militar, deve-se a uma liderança traidora, ao seu papel de 'colonialistas internos' que invadem as comunidades locais e, acima de tudo, à destruição insensata de um sistema de bem-estar social que tem beneficiado milhões de líbios vulgares desde há duas gerações. A incapacidade de os 'rebeldes' avançarem, apesar do apoio maciço do poder imperialista aéreo e marítimo, significa que a 'coligação' EUA-França-Inglaterra terá que reforçar a sua intervenção, para além de enviar forças especiais, conselheiros e equipas assassinas da CIA. Perante o objectivo declarado de Obama-Clinton quanto à 'mudança de regime', não haverá outra hipótese senão introduzir tropas imperialistas, enviar carregamentos em grande escala de camiões e tanques blindados e aumentar a utilização de munições de urânio empobrecido, profundamente destrutivas.

Sem dúvida que Obama, o rosto mais visível da 'intervenção armada humanitária' em África, vai recitar mentiras cada vez maiores e mais grotescas, enquanto os aldeões e os citadinos líbios caem vítimas da sua força destruidora imperialista. O 'primeiro presidente negro' de Washington ganhará a infâmia da história como o presidente americano responsável pelo massacre de centenas de líbios negros e da expulsão em massa de milhões de trabalhadores africanos subsaarianos que trabalham para o actual regime ( Globe and Mail, 28/03/11).

Sem dúvida, os progressistas e esquerdistas anglo-americanos vão continuar a discutir (em tom 'civilizado') os prós e os contras desta 'intervenção', seguindo as pisadas dos seus antecessores, os socialistas franceses e os 'new dealers' americanos dos anos 30, que debateram nessa época os prós e os contras do apoio à Espanha republicana… Enquanto Hitler e Mussolini bombardeavam a república por conta das forças fascistas 'rebeldes' do general Franco que empunhava o estandarte falangista da 'Família, Igreja e Civilização' – um protótipo para a 'intervenção humanitária' de Obama por conta dos seus 'rebeldes'.

04/Abril/2011

*Professor Emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, Nova Iorque. É autor de 64 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em jornais da especialidade, incluindo o American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia, e o Journal of Peasant Studies. Já publicou mais de 2000 artigos. O seu último livro é War Crimes in Gaza and the Zionist Fifth Column in America.




O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=24142 .





Tradução de Margarida Ferreira

Equador expulsa do país a embaixadora dos EUA em Quito

imagemCrédito: Carlos Llozano Gguillen


Equador
O governo do Equador solicitou à embaixadora dos EUA em Quito, Heather Hodges, que deixe o país “no menor intervalo de tempo possível”, como consequência de um documento confidencial divulgado por WikiLeaks sobre a suposta corrupção na Polícia do país andino.

“Pedimos que deixe o país no menos intervalo de tempo possível”, disse em entrevista coletiva à imprensa o chanceler do Equador, Ricardo Patiño.

Ricardo Patiño afirmou que esta decisão “de nenhuma maneira tem a intenção de afetar as relações com os Estados Unidos”.

Patiño chamou Hodges, ontem, ao seu escritório para pedir-lhe explicações sobre o caso, mas a diplomata lhe respondeu que os documentos haviam sido roubados e que nem ela nem seu Governo haviam comentado a respeito, segundo relatou o chanceler equatoriano.

Sua declaração como persona non grata “foi dirigida a uma funcionária que fez uma afirmação dessa natureza e que depois não prestou nenhum esclarecimento”.

Patiño disse que o Equador não chamará para consulta o seu embaixador em Washington, porque sua reação não se dirige contra o Governo estadunidense, “são contra as afirmações contidas no documento divulgado por WikiLeaks e que supostamente teriam sido sustentadas pela embaixadora”.

No documento diplomático de 2009, a embaixada dos EUA no Equador afirma que “a corrupção é generalizada nas fileiras da Polícia” do país.

O documento explica que o policial Jaime Hurtado Vaca, que saiu do cargo em maio de 2009, “utilizou seu poder como a máxima autoridade da corporação para extorquir”, acumular dinheiro, facilitar o tráfico de pessoas e proteger outros agentes envolvidos em corrupção. Alega ainda que suas atividades corruptas eram tão conhecidas que “alguns funcionários da embaixada (EUA) acreditam que o presidente (Rafael) Correa devia ter conhecimento quando o nomeou. Estes observadores acreditam que Correa poderia preferir um chefe de polícia facilmente manipulável”.

Em entrevista à Efe, Patiño rotulou essa declaração de “absolutamente irresponsável” e “falsa”.

“É absolutamente incabível, nosso Governo não pode aceitar este tipo de informação, que foi dada pela senhora embaixadora (dos EUA) em nosso país”. Afirmou Patiño.


Traduzido por Dario da Silva