26 de novembro de 2011

Chevron: a conta é da ANP, a “Agência Nacional da Privataria”

Desastre ecológico na costa do Rio de Janeiro é fruto da lógica privada que só enxerga o lucro

Paulo Schueller(*)

Tentativa ilegal de chegar ao pré-sal. Uso de mão-de-obra “importada”, burlando a legislação trabalhista brasileira. Despreparo para identificar o vazamento e falta de equipamentos para chegar até ele. Divulgação de números mentirosos quanto à extensão do desastre, leniência para informar ao público e uso de técnica equivocada para conter o vazamento. Cumplicidade com o principal veículo de informação do país para “tranquilizar” – em verdade, manipular – a sociedade.

O recente vazamento de óleo na Bacia de Campos traz à tona algumas facetas da “gestão privada” na extração de petróleo e serve como prova cabal de que este modelo, gerenciado pela Agência Nacional do Petróleo, sob comando de um dirigente nacional do PcdoB, Haroldo Lima, serve apenas aos interesses privados e envolve enormes riscos para a saúde e a vida dos trabalhadores e o ecossistema.

A Polícia Federal (PF) já iniciou investigações para comprovar que a Chevron estava tentando indevidamente alcançar a camada pré-sal do Campo de Frade. O fato de a empresa usar uma sonda com capacidade para perfurar a até 7,6 mil metros, quando o petróleo no local podia ser retirado a menos da metade de tal profundidade, é um indicativo de que a companhia estava burlando seu contrato de exploração.

A PF também investiga os indícios de que estrangeiros que entraram ilegalmente no Brasil estejam trabalhando em plataformas localizadas no litoral brasileiro, para a Chevron e outras empresas, sem direitos trabalhistas e previdenciários e alguns em regime de semi-escravidão.

O órgão federal também instou a empresa a parar de utilizar a técnica de jateamento de areia no óleo que vazou, pois ao invés de ser retirado, ele vai afundar (limpando o espelho d’água) e continuar a poluir o local. Trata-se do velho “esconder a sujeira para debaixo do tapete”.

Além dos inquéritos na PF, outros itens merecem ser destacados: a empresa não estava preparada para identificar o vazamento de petróleo e seu plano de emergência para acidentes não vem sendo cumprido. Foi a Petrobrás (que deveria ter o monopólio da exploração do petróleo no país) que verificou a fonte de vazamento e avisou à Chevron.

“Avisada”, ela tentou usar um robô para identificar a origem do derrame mas o equipamento tinha capacidade limitada e não conseguia fazer uma identificação precisa do local. E a Petrobrás lhe emprestou dois robôs capazes de colher dados mais precisos.

Tudo isso não é fruto do acaso. Tais falhas e desrespeitos à legislação fazem parte da lógica privada de busca pelo maior lucro possível, custe o que custar. O inusitado é que esta vergonhosa exploração seja gerenciada e “fiscalizada” por um dirigente de um partido que se intitula comunista, o PcdoB, e que convoca e dirige os leilões de nosso petróleo, em que a Petrobrás disputa em condições idênticas com as multinacionais como a Chevron e tantas outras. A ANP só se pronunciou ontem, 15 dias depois do início do vazamento, e assim mesmo por pressão da presidência da República.

Desastre ocorrido, restaram o oportunismo político de alguns e a falta de vergonha de outros. Explique-se: o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, aproveitou a ocasião para defender seu cofre na discussão sobre os royalties do pré-sal. Nada ofereceu à população que mora na região e que deverá sofrer as consequências do desastre ambiental.

A Rede Globo, por sua vez, fez cobertura jornalística no Jornal Nacional escamoteando muitas das informações que constam nesse texto – e são de seu conhecimento. Afinal de contas, as imagens aéreas mostradas no vídeo, por seu cinegrafista, foram feitas de dentro de um jatinho “concedido pela Chevron”, como desavergonhadamente disse a apresentadora do programa. Segundo o jornalista Ricardo Boechat, esta foi a primeira vez que a Globo repassou suas imagens para as outras emissoras, após tê-las exibido em primeira mão.

É preciso uma rigorosa apuração policial para desvendar a teia de promiscuidade entre a ANP, a Rede Globo, a Chevron, o governo do Estado, setores da Petrobrás e o Ministério das Minas e Energia, dirigido por um apadrinhado do indefectível José Sarney.

(*) Paulo Schueller é jornalista e membro do CC do PCB

22 de novembro de 2011

Cuba confirmada como o país com melhor desenvolvimento humano da América Latina




Isla Mía

O Fundo de População das Nações Unidas assegurou que Cuba conta com um desenvolvimento equivalente ao avanço de um quarto de século, se comparado aos demais países da América Latina e do Caribe.

Isla Mía para Kaos en la Red

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA em inglês), na apresentação do Informe sobre o Estado da População Mundial 2011, além de analisar o fato de que o mundo chegou aos 7.000 milhões de habitantes, assegurou que Cuba é a nação com mais alto desenvolvimento humano latino-americano, chegando a afirmar que conta com um desenvolvimento equivalente a um quarto de século de avanço em relação aos demais países da América Latina e do Caribe.

Isso ocorre devido aos baixos níveis de mortalidade do país, a elevada esperança de vida, seu acesso à saúde e educação, sua saúde sexual e reprodutiva, e os indicadores de envelhecimento de sua população, todos com valores similares e, inclusive, maiores aos de nações industrializadas.

Com respeito ao enfoque sobre os 7.000 milhões de pessoas no mundo, a UNFPA não só evidenciou dados demográficos, como também o aprofundamento das problemáticas sociais e econômicas que implicam no crescimento da população, onde se alguns questionamentos foram levantados: De que maneira reduzir as lacunas entre ricos e pobres e retificar as desigualdades entre homens e mulheres, e entre meninos e meninas?  Ou ainda: Como alcançar que as cidades sejam lugares aptos para viver?

O documento mostrou os grandes contrastes sociais e as necessidades de trabalharmos unidos pelo progresso, como, por exemplo, a questão da natalidade. Enquanto nas nações européias mais industrializadas nascem 1,5 crianças por mulher, na África – de alarmantes indicadores sócio-demográficos e grande pobreza –, nascem cinco bebês por mãe.

Esta conquista de Cuba se soma a sua reconhecida luta contra o racismo, a desnutrição infantil e sua comprovada qualidade em todos os níveis de educação.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)
Informe completo em espanhol


Relacionado
http://islamiacu.blogspot.com/2011/11/cuba-mantiene-puesto-elevado-en-el.html

Viva a Conferência Política do PCB

Por Roberto Arrais (PCB Pernambuco)
Um belo encontro,
camaradas de diversas gerações,
dos mais variados lugares do nosso querido Brasil.
Homens e mulheres que vêm lutando
há décadas,
muitos que foram presos e torturados,
para que entregassem os camaradas,
os aparelhos,
onde clandestinamente o partido se organizava.
Camarada Secretário Geral fez a chamada dos desaparecidos,
que foram torturados até a morte,
e, as famílias de sangue, dos lutadores e de coração,
nem tiveram o direito de o enterrarem,
embora estejam presentes nas lutas,
nas fábricas, nos campos, nas crianças sem perspectivas de futuro,
nas mulheres e nos homens oprimidos pela exploração do capital, nos momentos de luta
e de congraçamento.
Junto deles, os que também se encantaram, mas que aqui compartilharam os melhores dias de suas vidas
pela causa do socialismo,
homens e mulheres, como
David Capristano, Hiran Pereira, Gregório Bezerra, Luiz Carlos Prestes, Olga Benário, Raimundo, Mariguella, Ana Montenegro e tantos outros e outras,
que deixaram seu exemplo e sua obra para que pudéssemos seguir adiante,
caminhando,
lutando,
costruindo o PCB e a luta de massas.
Junto com a Conferência,
muitas outras reuniões paralelas ocorreram,
da aguerrida juventude,
das mulheres lutadoras,
dos solidários internacionalistas,
do incasável e barulhento movimento sindical,
dos mestres professores,
do Comitê Central e para finalizar esse dias de debates e teses,
mais um ato de solidariedade à figura lutadora,
que caiu em combate,
lutando pelo socialismo,
defendendo a Colômbia,
a América Latina,
enfrentando o Imperialismo.
Alberto Cano, ao que todos responderam "PRESENTE!".
Havia pessoas de diversas camisas,
a do PCB, a da CCCP, do Flamengo, do Vasco,
do Corinthians, do Cruzeiro, do América Mineiro, do Grêmio,
do Palmeiras, do CHE, da Palestina...
mas, nesta diversidade de cores e clubes,
o que ficou marcado,
foi a nossa unidade,
o fortalecimento do que nos indica
que a Revolução tem o caráter Socialista,
que hoje mais do que nunca,
é fundamental a organização do Partido,
cada um em uma base,
cada qual na luta sindical, estudantil, nos movimentos sociais.
o PCB é cada um, somos todos nós,
"De norte a sul, e no País inteiro,
Viva o Partido Comunista Brasileiro!"

Brasil: Nem julgamento nem castigo

Atilio Boron
24/11/2011

Há poucas semanas a imprensa internacional informou que a presidenta Dilma Rousseff havia finalmente dado carta branca à criação de uma Comissão da Verdade para investigar as violações dos direitos humanos cometidas durante a ditadura na que, como se recordam, ela mesma foi capturada como guerrilheira, detida e torturada. Para surpresa de muitos a Comissão investigará as violações dos Direitos Humanos ocorridas no período compreendido entre 1946-1985 em lugar de concentrar-se nos anos 1964-1979, que foram aqueles nos quais se perpetraram os crimes mais aberrantes. Além disso, a Comissão - e isto é o decisivo - nasceu privada da faculdade para jugar e castigar os responsáveis dos crimes.

Como havia advertido em uma entrevista concedida ao autor deste blog a professora Anita Prestes, filha do lendário dirigente comunista Luiz Carlos Prestes, a Comissão tem como missão esclarecer porém não poderá julgar os vários torturadores que todavia atuam à luz pública no Brasil, muitos deles inclusive no âmbito das instituições estatais.

Um dado revelador do limitado alcance da Comissão, que alguns pensaram que emularia os avanços registrados na Argentina, surge do incidente ocorrido na ocasião da cerimônia que sancionaria sua criação no dia 18 de Novembro no Palácio do Planalto, em Brasília.

Para essa ocasião a presidenta Rousseff havia querido – ou pelo menos consentido - que falaria, em nome das vítimas da repressão, a professora Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, um dos primeiros desaparecidos pela ditadura militar instalada logo após o golpe de estado de Abril de 1964. Conhecida a intenção da presidenta, os três ministros militares manifestaram sua mais severa oposição: se Paiva falasse, também deveria fazer uso da palavra um militar. Resultado: Paiva não falou e o brilhante discurso que tinha preparado não pode ser lido. Conclusão: a fundamental supremacia civil sobre as forças armadas é ainda uma perigosa matéria pendente na "democracia" brasileira.

A direita e os militares brasileiros argumentaram o de sempre: "não reabrir feridas já cicatrizadas" e que o processo já havia sido fechado com a sanção da Lei de Anistia de Agosto de 1979, que possibilitou o regresso dos exilados ao mesmo tempo que cobria com um espesso manto de esquecimento sobre as atrocidades cometidas nos anos anteriores.

O mais grave do caso foi que não somente a pressão militar fez com que Dilma tivesse que ceder perante as demandas reacionárias: o Supremo Tribunal Federal do Brasil se apressou a ratificar a impunidade declarando que o alcance da Comissão da Verdade não podia transgredir os limites estabelecidos pela Lei de Anistia.

Deste modo o "esclarecimento" ao que pode chegar a Comissão será dolorosamente frustrado ante a impossibilidade de apelar à justiça para castigar os culpados. Converte-se em um exercício masoquista: examina-se e se comprova o crime em seus mínimos detalhes porém ao preço de reprimir a ânsia de justiça que aperta o espírito dos familiares e amigos das vítimas.

Vera Paiva poderá saber como capturaram, torturaram, mataram e desapareceram com seu pai, mas com o preço de renunciar ao seu direito de julgar e castigar os culpados de seu assassinato. Enésima comprovação de que não bastam as iniciativas "desde cima", desde as alturas do estado: sem a participação dos organismos de direitos humanos a impunidade dos repressores está garantida. Assim o demonstra o caso que estamos analisando e, ao contrário, o que vem ocorrendo na Argentina.

Leia o discurso censurado de Vera Paiva em português na página

http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3271:discurso-proibido-de-vera-paiva-na-sansao-da-lei-da-comissao-da-verdade&catid=64:ditadura

Leia o discurso censurado de Vera Paiva em espanhol na página


Traduzido do espanhol por Daniel Oliveira – PCB Brasil www.pcb.org.br

10 razões pelas quais a ocupação do Haiti pela ONU deve acabar

Greg Grandin y Keane Bhatt(*)
Revista Amauta

Nota dos Editores: A ocupação do Haiti por tropas estrangeiras ainda é comandada pelo Brasil, por decisão do ex-presidente Lula

Um vídeo explosivo difundido no início de setembro evidencia o suposto abuso sexual de um jovem haitiano de 18 anos nas mãos de cinco soldados uruguaios que pertencem a um contingente da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti localizado na cidade sulista de Port-Salut, Haiti. Enquanto o episódio é transmitido a nível internacional, a Missão de Estabilização da ONU — conhecida por sua sigla em francês MINUSTAH — tem sido o alvo de manifestações públicas em Port-Salut, na capital haitiana de Porto Príncipe e em frente ao Ministério de Defesa uruguaio em Montevidéu. Os soldados que apareceram no vídeo foram repatriados e atualmente se encontram encarcerados esperando o processo judicial. Anteriormente, enquanto as informações de má conduta se divulgavam mas não se confirmavam, o ministro de Defesa uruguaio Eleuterio Fernández Huidobro disse que "nunca irá faltar, em tão grande número de pessoas, alguém que se porte mal". Depois da publicação do dito vídeo, o chefe da MINUSTAH, Mariano Fernández, afirmou que "os atos de uns poucos não deveriam sujar [a imagem] de milhares de militares, policiais e civis que estão servindo na MINUSTAH e no Haiti de modo impecável desde 2004. "O mandatário uruguaio José Mujica pediu desculpas ao presidente haitiano Michel Martelly pela "conduta criminosa e vexatória de uns poucos" efetivos.

Contudo, isso não é um caso de umas poucas maçãs podres. A MINUSTAH tem sustentado um histórico realmente desastroso de delinquência em seus sete anos de presença militar — em grande parte como resultado de seu desenho institucional. Ainda que o ministro da defesa brasileiro Celso Amorim (encarregado do maior contingente de soldados da ONU no Haiti) recentemente tenha proposto uma redução gradual das tropas, admitiu que "não há um calendário elaborado para uma… eventual retirada."
A seguir há dez razões pelas quais um calendário para uma retirada rápida de todos os soldados da ONU é necessário:

1. O Haiti não experimentou um conflito armado nem é parte de um acordo obrigatório de paz, que é o critério de um estacionamento legítimo das tropas de paz da ONU. A ONU afirma na sua Carta que não deve "intervir nos assuntos que são essencialmente da jurisdição interna dos Estados", salvo uma ameaça à paz, uma violação à paz, ou um ato de agressão. A MINUSTAH chegou ao Haiti usando essa justificação, a qual lhe permitiu permanecer no país sem o consentimento do governo haitiano. Mas este argumento nunca foi válido, muito menos na atualidade, sete anos depois da chegada da MINUSTAH e sua presença aparentemente indefinida.

2. As tropas da ONU recebem ampla imunidade para os delitos cometidos no Haiti, e só são expostas quando são processados juridicamente em seus países de origem. Dentro do grupo dos diferentes países que participam na MINUSTAH, existem grandes discrepâncias tanto nas suas leis domésticas como na sua vontade de investigar os delitos. Mesmo se as tropas são processadas, seria difícil obter testemunhos e evidências confiáveis desde o Haiti. Os mesmos haitianos não são informados de punições exitosas no exterior, o que intensifica a aparência da impunidade. Enquanto essa estrutura legal que fomenta uma falta de responsabilidade persiste, uma retirada completa é a única forma segura de prevenir futuros abusos.

3. Há menos de quatro anos, mais de 100 soldados da MINUSTAH do Sri Lanka – mais de 10% de toda a brigada – foram repatriados a seu país de origem devido a acusações de má conduta e abuso sexual, frequentemente com meninas menores de idade. O braço investigativo da ONU concluiu que "a troco de sexo, as meninas receberam pequenas quantidades de dinheiro, comida e às vezes telefones celulares". Atos de exploração e abusos sexuais eram "frequentes" e ocorreram "praticamente em todos os lugares onde os membros dos contingentes estavam alocados". Não há evidência de que nenhum soldado do Sri Lanka tenha sido processado. Novos informes corroboram as alegações de que efetivos uruguaios engravidaram mulheres da cidade de Por-Salut, inclusive uma jovem de 17 anos.

4. A MINUSTAH está implicada em um suspeito "suicídio" no ano passado de um adolescente haitiano chamado Gerald Jean-Gilles, que foi encontrado enforcado no interior de uma base da ONU em Cabo Haitiano. Como informa o jornal Haïti Liberté, o ex-chefe da MINUSTAH Edmond Mulet obstaculizou uma investigação iniciada pelas autoridades haitianas. Ele outorgou imunidade a uma testemunha haitiana, prevenindo que se cumpra a investigação com a entrega de um relato dela pela justiça haitiana.

5. As tropas de paz da ONU do Nepal foram responsáveis pela introdução do cólera no Haiti no final de 2010, provavelmente através da contaminação dos rios com seu esgoto sem tratamento adequado. O cólera matou mais de 6.200 e  infectou  440 mil haitianos em apenas 10 meses. Novos estudos científicos demonstram que a negligência grave da MINUSTAH, que levou a epidemia letal, é praticamente indiscutível. Depois da aparição do cólera, Edmond Mulet se negou a admitir a possibilidade da culpabilidade da MINUSTAH. A ONU e outras entidades disseram que uma investigação sobre como chegou o cólera no Haiti não era necessária e poderia ser prejudicial, mesmo com a convocação dos principais especialistas do cólera e da saúde de que era "tanto possível como necessário encontrar a fonte para prevenir futuros mortos."
A negação da MINUSTAH enfureceu ainda mais os haitianos, cujas dramáticas manifestações contra a ONU resultaram nas mortes de manifestantes por disparos das tropas da ONU. Apesar desse episódio, o contingente uruguaio em Port-Salut é acusado de lançar às águas seu lixo e esgoto de maneira inapropriada.
O renomado epidemiologista Piarroux Renaud, que investigou a propagação do cólera no Haiti, concluiu que não há dúvida de que foi a ONU que levou a bactéria ao Haiti, ela "deve aceitar a responsabilidade e fazer as pazes com o Haiti… por exemplo, por meio da oferta de compensação monetária ou um forte apoio para que o país se liberte do cólera de novo."

6. A chegada de tropas da ONU no Haiti em 2004 tem uma legitimidade duvidosa, e a bandeira de uma coalizão da ONU é somente a fachada menos controversa para o exercício dos interesses dos Estados Unidos no Haiti. A MINUSTAH foi impulsionada pelos Estados Unidos, depois de que a administração Bush orquestrou um golpe de Estado contra o presidente democraticamente eleito do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, um antigo objetivo. WikiLeaks revelou que a ex-embaixadora dos Estados Unidos no Haiti, Janet Sanderson, considerava a MINUSTAH "uma ferramenta indispensável à realização dos interesses políticos primordiais do [governo dos Estados Unidos] no Haiti, "especialmente diante" do contexto atual de nossos compromissos militares em outras partes. "O compromisso regional coordenado com a América Latina no Haiti não seria possível sem o amparo da ONU", o qual "ajuda outros doadores importantes – dirigido pelo Canadá e seguido pela União Europeia, França, Espanha, Japão e outros países – para justificar sua cooperação bilateral domesticamente". Sanderson conclui: "Sem uma força de estabilização autorizada pela ONU, receberíamos muito menos ajuda de nossos sócios hemisféricos e europeus na gestão do Haiti".

7. A MINUSTAH é uma força política muito partidária num país soberano, e se intromete nos assuntos domésticos do Haiti. Por exemplo, uma mensagem de 2006 demonstra que Edmond Mulet, então chefe da MINUSTAH, "solicitou reiteradamente aos Estados Unidos a tomar uma ação legal contra [o presidente exilado pela força] Aristide para evitar que ganhasse mais apoio da população haitiana e que regressara a Haiti".

8. A MINUSTAH dá prioridade às questões militares e às de segurança e contribui pouco ao desenvolvimento social e econômico. Em 2010, a ONU proporcionou um dinheirão — US$850 milhões — ao orçamento anual da MINUSTAH, ou seja, nove vezes a soma que arrecadou para o tratamento do cólera que a MINUSTAH introduziu no país sem saber. Mesmo assim, após o terremoto devastador de 12 de janeiro de 2010, a Reuters informou que a MINUSTAH priorizou "a gestão da segurança e a busca de saqueadores" a custa de esforços de socorro e assistência humanitária. O que piora a situação é que os soldados da MINUSTAH não podem se comunicar com a maioria dos haitianos, que falam crioulo, e geralmente os soldados não são acompanhados por tradutores.

9. A MINUSTAH tem um histórico de fracasso espetacular no cumprimento de sua dita intenção de prover a estabilidade. A distinta revista médica The Lancet destacou que em 2004, 8 mil pessoas – muitas sendo partidárias do presidente deposto, Aristide – foram assassinadas ou desaparecidas somente em Porto Príncipe durante o período quando a MINUSTAH era a única responsável pela manutenção da segurança. Em 2005 um informe da Faculdade de Direito de Harvard concluiu que a MINUSTAH "efetivamente amparou a polícia na execução de uma campanha de terror nos bairros pobres de Porto Príncipe". As prioridades dos Estados Unidos, e por isso as prioridades da MINUSTAH, estavam claras depois do golpe de Estado de 2004, segundo uma mensagem filtrada de março de 2005. James Foley, o diplomata de mais alta categoria dos Estados Unidos no Haiti naquele momento, pressionou para que a MINUSTAH "tome medidas decisivas contra as quadrilhas pró-Aristide, particularmente em Porto Príncipe, por todas as razões óbvias, e também para evitar acusações de parcialidade". Tendo em conta que Aristide contava com amplo apoio, especialmente entre os pobres (ele foi eleito com mais de 90 por cento dos votos em 2000), a recomendação de Foley tinha consequências de grande alcance.

10. A MINUSTAH gerou violência mediante o uso repetitivo e indiscriminado da força nas zonas urbanas densamente povoadas, matando dezenas de civis durante seus ataques. Em 6 de julho de 2005, as tropas da MINUSTAH dispararam 22 mil cartuchos de munições em Cité Soleil, um bairro pobre de Porto Príncipe, durante apenas sete horas. Um médico da ONG Médicos Sem Fronteiras disse que "tratamos 27 pessoas por feridas de bala; ao redor de 20 eram mulheres de menos de 18 anos". Os habitantes de Cité Soleil acusaram a MINUSTAH de disparos gratuitos desde seus tanques, matando gente. Um mecânico cujo intestino foi dilacerado por balas disse que as tropas da ONU dispararam pelas costas quando caminhava pela avenida principal. Ele explicou, "A MINUSTAH dispara em pessoas todos os dias. Eles disparam para todos os lados e em quem querem, até mesmo em crianças, não importa."

Apesar desta carnificina, uma mensagem do Departamento de Estado, de junho de 2006, mostra que a elite haitiana pressionou os Estados Unidos e a ONU a continuar as blitzes militares nos bairros pobres. Timothy Carney, o então chefe da diplomacia dos Estados Unidos no Haiti, reconheceu que "uma operação deste tipo geraria de maneira inevitável vítimas civis não desejadas dada as condições de concentração da população e a débil construção das habitações amontoadas umas nas outras em Cité Soleil." Mas em vez de advogar para colocar fim a estas manobras sangrentas, Carney propôs recrutar "associações do setor privado" "para ajudar rapidamente nas sequelas da operação, por exemplo com apoio financeiro as famílias das vítimas potenciais."

A ONU prosseguiu a política sem piedade de incursões: meio ano mais tarde, uma blitz, em dezembro de 2006, deixou ao menos nove mortos. Uma residente do bairro, Rose Martel, disse: "vieram aqui aterrorizar a população, não creio que tenham matado os bandidos, a menos que nos considerem todos como bandidos."

Nenhum membro da ONU foi julgado pelo crime dessas ações.

Países como Brasil, Nepal, Jordânia, Uruguai, Sri Lanka, Argentina e Chile estão envolvidos numa ocupação militar profundamente ressentida. Nenhum ajuste pequeno ou redução simbólica enfrentaria a gravidade das críticas contra a MINUSTAH. A princípio, as tropas não deveriam nem estar no país e só têm aumentado os desastres que o povo haitiano tem que suportar.

A ONU tem que acabar com sua ocupação do Haiti.

* Greg Grandin é catedrático de história na Universidade de Nova Iorque.

Traduzido para a Revista Amauta por Keane Bhatt, músico e ativista em Nova Iorque.

Traduzido para o português por Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves (PCB – Partido Comunista Brasileiro).

23 de novembro de 2011

CADEIA PARA OS CHEFÕES DA CHEVRON NO BRASIL

PÁTRIA LATINA

Polícia Federal fala em vazamento criminoso e sugere penas que podem chegar a até cinco anos de prisão; presidente da ONG Sky Truth, John Amos, disse, em entrevista exclusiva ao 247, que o Brasil tem que endurecer com a multinacional americana; foi ele quem diagnosticou um vazamento dez vezes maior

Gisele Federicce e Diego Iraheta_247 – O clima esquentou para os dirigentes da Chevron, multinacional americana que provocou um vazamento de petróleo ainda não totalmente dimensionado na bacia de Campos. De acordo com o delegado Fábio Scliar, da Polícia Federal, que investiga o caso, as penas para os responsáveis pelo vazamento que ele classificou como "criminoso" variam de um a cinco anos de prisão. Em entrevista exclusiva ao 247, o presidente da ONG Sky Truth, que estima um vazamento 10 vezes maior do que vem sendo divulgado pela Chevron, diz que o Brasil deve sim endurecer o jogo contra a multinacional americana. "Quem for responsável deve ser punido", disse ele.

O vazamento de petróleo da Chevron na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, vem sendo mal explicado pela multinacional americana. A Polícia Federal já abriu inquérito sobre o caso e irá intimar representantes da petroleira para prestarem depoimento na próxima semana. A falta de transparência da empresa, que só se manifesta sobre o assunto por meio de notas e até agora – nove dias depois do vazamento – ainda não mostrou nenhum rosto para detalhar publicamente o problema, torna as coisas ainda mais difíceis. "O público merece ver tudo que aconteceu e motivou o vazamento e o que deve ser feito no futuro", afirma John Amos. Ele diz que gostaria de ver mais detalhes técnicos publicados sobre o acidente e o que vem acontecendo exatamente no local.

O comportamento lembra o caso da British Petroleum, que em abril de 2010 foi responsável por um vazamento de petróleo no Golfo do México, considerado um dos maiores desastres ambientais dos Estados Unidos. À época, a empresa também demorou a se manifestar e, quando o vazamento acabou, foi constatado que era 20 vezes pior do que o previsto pela empresa anteriormente. Para Amos, não detectar a gravidade do problema desde o início pode provocar dois tipos de consequências. A primeira é que seria necessário se certificar da dimensão para dar uma resposta adequada ao acidente. "Se você acha que o problema é de um tamanho X, você mobiliza todos os recursos que você efetivamente vai precisar para minimizar os danos desse problema X. Seja danos ambientais, para indústria, para o turismo e outras economias que dependem das atividades de prospecção. Se você subestimar o tamanho do problema, sua resposta será muito pequena, lenta e fraca". O outro resultado, conforme previsto por Amos, é a longo prazo. "Se você subestimar o volume de óleo derramado no oceano, você estará mal preparado no caso de um próximo incidente. Humanos são humanos, nós cometemos erros, há acidentes. Nós temos que nos certificar de entender quão ruim foi um vazamento. Assim, usaremos essa informação para entender como regular melhor a atividade de prospecção".

Na tarde desta sexta-feira, manifestantes do Greenpeace fizeram um protesto diante da sede da Chevron no Brasil. Os manifestantes, com uniformes da empresa, derramaram tinta preta em frente ao prédio, simbolizando o óleo vazado. Também foram pintadas pegadas de animais no chão, para lembrar como o vazamento de óleo poderá prejudicar a vida animal, na costa fluminense.

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=8924

Washington reprime os “Ocupe Wall Street” porque os teme




La Jornada


Nosso vizinho do norte se converteu em um Estado cada vez mais antidemocrático e repressivo também dentro de seu território. Isso pode ser confirmado pela brutal ação policial dos últimos dias em muitos dos acampamentos surgidos em importantes cidades a partir da fagulha acesa por Ocupe Wall Street.

O movimento parecia débil e solitário quando começou com umas 200 pessoas no Parque Zucotti (rebatizado de Parque Liberdade) porém rapidamente ganhou o apoio da maioria dos novaiorquinos, de sindicatos, inteletuais heterogêneos, artistas e empresários medianos e pequenos.

Em menos de dois meses se estendeu para mais de cem cidades, multiplicou sua popularidade e mudou a agenda do debate político nacional. Temas tabus como desigualdade de oportunidades, dominação da sociedade pelas corporações, ganância capitalista e os crimes do império agora são discutidos na sala de muitas casas e em páginas editoriais.

Por que surgiu este movimiento, tão temido pelo poder que não pára de reprimi-lo, até expulsando-os de seu acampamento mais emblemático perto de Wall Street? Como resposta tentarei resumir os questionamentos do movimento Ocupe o Sistema imperante nos Estados Unidos.

Os EUA atravessam uma colossal crise econômica sem fim aparente devido ao sistema capitalista, o governo do capital e as constantes guerras. O desemprego alcança 25 milhões, e entre eles muitos jovens. O país que mais riqueza acumulou tem cinquenta milhões na pobreza, um número maior sem serviços de saúde e as escolas públicas estão em ruínas. Milhões perderam suas casas, o patrimônio de uma toda a vida. Enquanto isso, segundo dados oficiais, a riqueza dos mais ricos cresceu 275 por cento.

Mas também existe uma crise de valores devido ao descrédito dos governantes, das oposições consentidas e das instituições perante o povo. Não se sentem representados por estes, porque são as grandes corporações e os bancos que pagam as milionárias campanhas políticas, e que recebem os privilégios, políticos como o presidente Barak Obama e todo o executivo federal, ou os integrantes de ambas câmaras do Congresso.

Estes últimos nunca haviam tido um nível tão baixo de aceitação junto à opinião pública. Estão em crise os desígnios de hegemonizar o mundo e o ciclo de guerras imperialistas em que se envolveu a potência imperial, e que já não mais podem sustentar. Isto só tem exacerbado os conflitos que supostamente solucionaria.

A isto está unida a ameaça de incendiar a humanidade em um holocausto nuclear se os governantes medíocres e oportunistas da Casa Branca e seus satélites aliados insistirem no seu plano de atacar o Irã (aqui uma afirmação muito pessoal: se alguém quiser encontrar hoje exemplares dessa espécie em extinção conhecidos como homens e mulheres de Estado, busquem-nos primeiramente nos países latino-americanos que tomaram um rumo independente).

A crise estadunidense se extende desde a forma implacável e já intolerável de exploração e pilhagem da grande maioria (99 por cento de sua própria população) e de imensos contingentes humanos no mundo por uma ínfima minoria (1 por cento) através de um paradigma de produção e consumo consolidado nos anos cinquenta e sessenta com o desenvolvimento pleno do consumismo. Uma medida da tragédia que se seguiu a este fenômeno é o fato de que se os 7 bilhões de seres humanos existentes no planeta tivessem o mesmo consumo per capita dos Estados Unidos, poderíamos viver apenas se contássemos com cinco vezes os recursos naturais presentes em todo o mundo.

Isso é a causa do aquecimento global que já origina alterações climáticas, cada dia mais intensas e cada vez mais frequentes, e que está extinguindo rapidamente numerosos ecossistemas indispensáveis para a sobrevivência do ser humano. Decorre disso também o envenenamento dos rios e mares, onde em algumas décadas não mais existirá vida. Nada permanecerá como está, e é preciso mudar radicalmente. O primeiro a ser transformado é que as decisões que nos afetam devem ser tomadas pelos cidadãos e não pelo capital e seus politicos subordinados. Tudo isso e muito mais nos dizem os Ocupas.

Frente à repressão, que certamente continuará, Ocupe Wall Street respondeu sabiamente: “Não podes expulsar uma ideia cujo momento há chegado”.

(Tomado da La Jornada)

Traduzido por Daniel Oliveira – PCB Brasil

Discurso (proibido) de Vera Paiva na sansão da Lei da Comissão da Verdade

"Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011, 11:00.  Palácio do Planalto, Brasília.

Excelentíssima Sra. Presidenta Dilma, querida ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário. Demais ministros presentes. Senhores representantes do Congresso Nacional, das Forças Armadas. Caríssimos ex-presos políticos e familiares de desaparecidos aqui presentes, tanto tempo nessa luta.

Agradecemos a honra, meu filho João Paiva Avelino e eu, filha e neto de Rubens Paiva, de estarmos aqui presenciando esse momento histórico e, dentre as centenas de famílias de mortos e desaparecidos, de milhares de adolescentes, mulheres e homens presos e torturados durante o regime militar, o privilégio de poder falar.

Ao enfrentar a verdade sobre esse período, ao impedir que violações contra direitos humanos de qualquer espécie permaneçam sob sigilo,  estamos mais perto de enfrentar a herança que ainda assombra a vida cotidiana dos brasileiros. Não falo apenas do cotidiano das famílias marcadas pelo período de exceção. Incontáveis famílias ainda hoje, em 2011,  sofrem em todo o Brasil com prisões arbitrárias, seqüestros, humilhação e a tortura. Sem advogado de defesa, sem fiança. Não é isso que está em todos os jornais e na televisão quase todo dia, denunciando, por exemplo, como se deturpa a retomada da cidadania nos morros do Rio de Janeiro? Inúmeros dados indicam que especialmente  brasileiros mais pobres e mais pretos, ou interpretados como homossexuais, ainda são cotidianamente agredidos sem defesa nas ruas, ou são presos arbitrariamente, sem direito ao respeito, sem garantia de seus direitos mais básicos à não discriminação e a integridade física e moral que a Declaração dos Direitos Humanos consagrou na ONU depois dos horrores do nazismo em 1948.

Isso tudo continua acontecendo, Excelentíssima Presidenta. Continua acontecendo pela ação de pessoas que desrespeitam sua obrigação constitucional e perpetuam ações  herdeiras do estado de exceção que vivemos de modo acirrado de 1964 a 1988.

O respeito aos direitos humanos, o respeito democrático à diferença de opiniões assim como a construção da paz se constrói todo dia e a cada geração! Todos, civis e militares, devemos compromissos com sua sustentação.

Nossa história familiar é uma entre tantas registradas em livros e exposições. Aqui em Brasília a exposição sobre o calvário de Frei Tito pode ser mais uma lição sobre o período que se deve investigar.

Em Março desse ano, na inauguração da exposição sobre meu pai no Congresso Nacional, ressaltei que há exatos  40 anos o tínhamos visto pela última vez. Rubens Paiva que foi um combativo líder estudantil na luta “Pelo Petróleo é Nosso”, depois engenheiro construtor de Brasília, depois deputado eleito pelo povo, cassado e exilado em 1964. Em 1971 era um bem sucedido engenheiro, democrata preocupado com o seu país e pai de 5 filhos. Foi preso em casa quando voltava da praia, feliz por ter jogado vôlei e poder almoçar com sua família em um feriado. Intimado, foi dirigindo seu carro, cujo recibo de entrega dias depois é a única prova de que foi preso.  Minha mãe, dedicada mãe de família, foi presa no dia seguinte, com minha irmã de 15 anos. Ficaram dias no DOI-CODI, um dos cenário de horror naqueles tempos. Revi minha irmã com a alma partida e minha mãe esquálida. De quartel em quartel, gabinete em gabinete passou anos a fio tentando encontrá-lo, ou pelo menos ter noticias. Nenhuma noticia.

Apenas na inauguração da exposição em São Paulo , 40 anos depois, fizemos pela primeira vez um Memorial onde juntamos família e amigos para honrar sua memória. Descobrimos que a data em que cada um de nós decidiu que Rubens Paiva tinha morrido variava muito, meses e anos diferentes...Aceitar que ele tinha sido assassinado, era matá-lo mais uma vez.

Essa cicatriz fica menos dolorida hoje, diante de mais um passo para que nada disso se repita, para que o Brasil consolide sua democracia e um caminho para a paz.

Excelentíssima Presidenta: temos muitas coisas em comum, além das marcas na alma  do período de exceção e de sermos mulheres, mãe, funcionária pública. Compartilhamos os direitos humanos como referência ética e para as políticas públicas para o Brasil.  Também com 19 anos me envolvi com movimentos de jovens que queriam mudar o pais. Enquanto esperava essa cerimônia começar, preparando o que ia falar, lembrava de como essa mobilização começou. Na diretoria do recém fundado DCE-Livre da USP,  Alexandre Vanucci Leme, um dos jovens colegas da USP sacrificados pela ditadura, ajudei a organizar a 1a mobilização nas ruas desde o AI-5, contra prisões arbitrárias de colegas presos e pela anistia aos presos políticos. Era maio de 1977 e até sermos parados pelas bombas do Coronel Erasmo Dias, andávamos pacificamente pelas ruas do centro distribuindo uma carta aberta a população cuja palavra de ordem era

HOJE, CONSENTE QUEM CALA.

Acho essa carta absolutamente adequada para expressar nosso desejo hoje, no ato que sanciona a Comissão da Verdade. Para esclarecer de fato o que aconteceu nos chamados anos de chumbo, quem  calar consentirá, não é mesmo?

Se a Comissão da Verdade não tiver autonomia e soberania para investigar, e uma grande equipe que a auxilie em seu trabalho, estaremos consentindo. Consentindo, quero ressaltar, seremos cúmplices  do sofrimento de milhares de famílias ainda afetadas por essa herança de horror que agora não está apoiada em leis de exceção, mas segue inquestionada nos fatos.

A nossa carta de 1977, publicada na primeira página do jornal o Estado de São Paulo no dia seguinte, expressava a indignação juvenil com a falta de democracia e justiça social, que seguem nos desafiando. O Brasil foi o último país a encerrar o período de escravidão, os recentes dados do IBGE confirmam que continuamos uma país rico, mas absurdamente desigual... Hoje somos o último país a, muito timidamente mas com esperança, começar a fazer o que outros países que viveram ditaduras no mesmo período fizeram. Somos cobrados pela ONU, pelos organismos internacionais e até pela Revista Economist, a avançar nesse processo. Todos concordam que re-estabelecer a verdade e preservar a memória não é revanchismo, que responsáveis pela barbárie sejam julgadas, com o direito a defesa que os presos políticos nunca tiveram, é fundamental para que os torturadores de hoje não se sintam impunes para impedir a paz e a justiça de todo dia. Chile e Argentina já o fizeram,  a África do Sul deu um exemplo magnífico de como enfrentar a verdade e resgatar a memória. Para que anos de chumbo não se repitam, para que cada geração a valorize.

Termino insistindo que  a DEMOCRACIA SE CONSTRÓI E RECONSTRÓI A CADA DIA. Deve ser valorizada e reconstruída a CADA GERAÇÃO.

E que hoje, quem cala, consente, mais uma vez.

Obrigada."

Vera Paiva  (filha de Rubens Paiva)

Tomei conhecimento agora da mensagem postada pela Vera Paiva (que reproduzo a seguir), onde ela comenta o fato de não lhe ter sido dada a palavra na cerimônia de sanção da lei que criou a Comissão Nacional da Verdade e divulga as anotações do que seria sua fala.

Estou inteiramente solidária com a Vera Paiva e concordo com os termos de sua fala não falada. Não afirmo, mas acho que todos os familiares de mortos e desaparecidos e ex-presos que estiveram presentes (e os que estiveram ausentes, mas assinaram a Nota dos Familiares de 18/11/2011) também estão solidários com ela.

Aliás, acho muito estranho o episódio: não falou nem a representante dos familiares nem a Ministra dos Direitos Humanos. Mal sinal!

A explicação dada a Vera, de que tiveram que encurtar a cerimônia não me parece adequada. Pior e mais grave é a versão que circulou na imprensa (19/11/2011) de que Genoino teria influenciado no sentido de não se conceder a palavra a uma representante dos familiares porque isto poderia ser mal recebido pelos comandantes militares. Inaceitável, tanto o argumento quanto o papel de Genoino!

Concluo dizendo: a Presidenta Dilma precisa ouvir os familiares de mortos e desaparecidos políticos; e nós precisamos nos unir para derrotar o obscurantismo, conquistar a  Verdade e a Justiça (como bem afirmou a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos).

Iara Xavier Pereira

“Depois de saber que fui impedida de falar ontem, lembro  de um texto de meu irmão Marcelo Paiva em sua coluna, dirigida aos militares:”

“Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura (…)Por que não limpar a fama da corporação?
Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas.

Vera Paiva
Universidade de São Paulo - PST & NEPAIDS

A história é escrita com a luta de classes







(Nota do Partido Comunista Grego)

18/11/2011

Trinta e oito anos após o levante dos estudantes da Politécnica e dos trabalhadores de Atenas contra a ditadura militar, dezenas de milhares de trabalhadores, estudantes, jovens, desempregados fizeram um demonstração, ontem, numa grande marcha antiimperialista, desde o centro de Atenas até a embaixada dos EUA. O mesmo ocorreu em dezenas de cidades por toda a Grécia. Os manifestantes mandaram uma clara e ruidosa mensagem contra o governo da frente dos partidos da plutocracia, PASOK-ND-LAOS, que já procedeu às medidas bárbaras de profundos cortes no orçamento, de criação de impostos pesados, de privatizações, tudo as expensas das  famílias e do povo trabalhador.

No grande comício que foi convocado pela PAME, pela Frente de Luta Estudantil, PASEVE, PASY, OGE, uma palavra de ordem prevaleceu e deu o tom da saída (da crise): “Trabalhador, sem você, eles não podem movimentar os mecanismos de mudança. Você pode, sem os patrões.”

Uma delegação do CC do KKE, encabeçada pela Secretária-Geral, Aleka Papariga, esteve à frente da manifestação.

Um exemplo característico de solidariedade de classe foi o fundo criado na “Planta Siderúrgica Grega” para dar suporte econômico à justa luta dos trabalhadores metalúrgicos que continuam sua greve, já em seu 18º dia, contra as demissões e as intimidações patronais.

Fonte: http://inter.kke.gr/News/news2011/2011-11-18-politexneio

Traduzido por: Humberto Carvalho, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e de seu CC.

PCB mais preparado para encarar os desafios da luta de classes






Partido aprofunda linha do XIV Congresso em sua Conferência Política Nacional

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) realizou no Rio de Janeiro, no último final de semana, sua Conferência Política Nacional. O encontro, que contou com a participação de militantes de todos os estados onde o partido está organizado, aprofundou a linha política definida no XIV Congresso do PCB, no sentido de adequar a tática à estratégia socialista.

Divididos em grupos de discussão (e depois reunidos em Plenária), os delegados eleitos em seus estados debateram as teses da Conferência Nacional, processo iniciado nas bases partidárias. Entre as principais resoluções, podem-se destacar o fortalecimento da Unidade Classista, a prioridade do trabalho de base no movimento estudantil, o fortalecimento dos coletivos Minervino de Oliveira e Ana Montenegro, o reforço da solidariedade internacionalista e, como destaque, a necessidade de estreitar  a relação das bases do PCB com o movimento de massas.

Após o encerramento da conferência, o PCB e a União da Juventude Comunista (UJC) prestaram homenagem póstuma ao comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Alfonso Cano.

Da masmorra em Caracas, Julián Conrado homenageia com seu canto o camarada Alfonso Cano!


Por Voz Bolivariana/ Solidaridad internacionalista

Julián Conrado está há mais de cinco meses e meio em cativeiro ilegal. Espera-se que lhe seja outorgado o asilo e não seja entregue à tortura

Desde sua masmorra em Caracas, Julián Conrado homenageia com seu canto o camarada Alfonso Cano



Apenas tomou conhecimento da morte de Alfonso Cano no dia 04 de novembro, Julián Conrado, através de sua poesia e seu canto oferece esta homenagem ao camarada, o patriota colombiano, o filósofo bolivariano.

Preso ilegalmente na Venezuela, o cantor insurgente colombiano Julián Conrado,conta cantando como assassinaram Cano, uma mostra mais da secular barbárie belicista da oligarquia colombiana e do império dos EUA que participou do assassinato do revolucionário. As FARC-EP expressaram de maneira reiterada e com o aval dos fatos,sua vontade de chegar à saída política do conflito social e armado na Colômbia, necessidade que se ratifica hoje com o digno exemplo de coerência e abnegação que Cano sempre manifestou, e que Julián ainda preso, segue cantando.

Hoje se espera que as autoridades venezuelanas recobrem o sentido da coerência revolucionária  e não entreguem à tortura certa o cantor Julián Conrado. Se espera que seja outorgado o asilo político e humanitário ao cantor Julián Conrado, ou que, em sua defesa, seja remetido a um terceiro país que seja neutro, como estipula a Carta de Direitos Humanos que ampara o cantor. Julián Conrado está gravemente enfermo e é um perseguido político que solicitou asilo.

Desde su mazmorra en Caracas, Julián Conrado homenajea con su canto al camarada Alfonso Cano

Apenas supo de la muerte de Alfonso Cano el pasado 04 de noviembre, Julián Conrado, a través de su poesía y su canto ofrece este homenaje al camarada, el patriota colombiano, al filósofo bolivariano.

Preso ilegalmente desde hace más de 6 meses en Venezuela, el cantor insurgente colombiano Julián Conrado, cuenta cantando cómo asesinaron a Cano, una muestra más de la secular barbarie guerrerista de la oligarquía colombiana y del imperio EEUU que participó en el asesinato del revolucionario. Las FARC-EP han venido expresando de manera reiterada y con el aval de los hechos, su voluntad de llegar a la salida política del conflicto social y armado en Colombia, necesidad que se ratifica hoy con el digno ejemplo de coherencia y tesón que Cano siempre manifestó, y que Julián aún preso, sigue cantando.

Hoy se espera que las autoridades venezolanas recobren el sentido de la coherencia revolucionaria y NO entreguen a una tortura segura al cantor Julián Conrado. Se espera que le sea otorgado el asilo político y humanitario al cantor Julián Conrado, o que, en su defecto, sea remitido a un tercer país que sea neutral, como lo estipula el DIH que ampara al cantor. Julián Conrado está gravemente enfermo y es un perseguido político que ha solicitado asilo.

Recomendamos leer la carta que está circulando a nivel mundial para el presidente Hugo Chávez y su gobierno:http://www.kaosenlared.net/noticia/carta-abierta-chavez-gobierno-venezolano-a..

Para ampliar la información sobre la situación concreta de Julián Conrado:

VIDEO Desde su mazmorra en Caracas, Julián Conrado homenajea con su canto a Alfonso Cano

más VIDEOS: Entrevista a Julián Conrado desde la cárcel, a 4 meses de su injusto e ilegal cautiverio:  http://www.youtube.com/watch?v=I5-ZJunC2ps&feature=channel_video_title
Conozca al Cantor Julián Conrado, objeto de tan cruel persecución que incluye expedientes amañados y procederes sombríos. Canta y cuenta la persecución política sufrida por la oposición en Colombia, y su compromiso social: http://www.dailymotion.com/video/xjfbwi_julian-conrado-habla-y-canta_news

18 de novembro de 2011

O relógio que você tem no pulso. Por: Laerte Braga

Laerte Braga
Fonte: Diário Liberdade

É possível encontrar uma variedade incrível de relógios de pulso em oferta nas várias lojas do ramo. O distinto cidadão pode encontrar relógios com aparência de Cartier vendidos no camelô da esquina e autênticos Bugati onde ele cidadão distinto não tem acesso.

Há alguns anos atrás havia nos relógios movidos a corda uma peça chamada cabelo. Sensível, a peça era responsável pelo tic tac e deveria estar sempre regulado. Uma queda, por exemplo, poderia entortar o cabelo e pronto, era preciso trocá-lo.

Não sei se os relógios de hoje têm cabelo, acredito que não. Na era digital uma parte é fabricada na China por empresas que usam trabalho escravo, outra na Indonésia, com o mesmo perfil, algumas no Timor, enfim, a junção é feita num porto livre qualquer, Manaus por exemplo.

Em tempos passado um trabalhador de uma fábrica de relógios olhava o produto final na vitrine de uma loja e sabia que determinada peça fora posta por ele. Hoje não. Sumiram as referências, desapareceu a identidade do produto, sumiu a do trabalhador.

O PCB – Partido Comunista Brasileiro – (nada a ver com o PC do B S/A, empresa que atua no Ministério dos Esportes, em ONGs, UNE e outros departamentos), em sua Conferência Nacional realizada no fim de semana passada no Rio de Janeiro reafirmou a importância de um pacto de solidariedade internacional contra o imperialismo e o capitalismo.

É fácil entender isso, é necessário perceber o sentido desse pacto para o dia a dia do processo político e do seu papel na construção de outro processo maior, o da revolução socialista.

Longe de retomar uma linguagem que insistem em dizer superada – e o fazem exatamente para alienar, vender a ideia do espetáculo como modo de vida (e o espetáculo pode ser degradante e o é) – traz de volta o debate da essência do ser humano como tal.

Ser ou não rês. É o dilema.

Roger Noriega é um funcionário da diplomacia norte-americana especialista em golpes de estado, terrorismo de Estado, e chegou a ocupar o cargo de subsecretário do Departamento de Estado no governo de George Bush. Nesse mesmo período foi embaixador de seu país na OEA – Organização dos Estados Americanos.

A história do Brasil registra, pouco antes do golpe militar de 1964, a descarada tentativa dos Estados Unidos de intervir nas eleições de 1962 em nosso País. Foram eleitos senadores, deputados federais e estaduais, alguns governadores, prefeitos e vereadores.

Uma organização de nome INSTITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA se estruturau de uma forma impressionante (revistas, jornais, comprou boa parte da nossa mídia privada, juntou empresários arrecadando fundos a fundo perdido) e tocou as campanhas eleitorais da extrema-direita, tudo no afã de preparar o caminho para afastar o então presidente constitucional do Brasil, João Goulart.

As formas de assim o fazê-lo eram as de sempre. Escorados em mentiras e fatos que criavam, infundiam o medo e o alvo era o comunismo (comunistas comiam crianças e matavam idosos). Tinham a cumplicidade de boa parte da cúpula da Igreja Católica, ainda preponderante em nosso País. Num certo olhar perderam as eleições, noutro não. Aquilo era só um primeiro ato do golpe militar.

Roger Noriega deu uma entrevista para a revista VEJA, as tais página amarelas. Aquelas que no catálogo telefônico ou em VEJA vendem e compram tudo em função de interesses das elites políticas e econômicas do País.

Segundo Noriega e isso é uma patologia clássica dos norte-americanos e da extrema-direita, escolher um alvo, demonizá-lo e abrir espaços para intervenções que tanto podem ser no controle de governos (o governo Dilma oscila entre ser e não ser, a presidente é menor que o cargo que ocupa, foi a opção que restou ao PT, hoje um partido recheado de pelegos), mas escolhem um alvo e criam “realidades fantasmagóricas” em cima desses “fatos”, dessas “realidades” e deitam e rolam no que é de fato verdade. A ação imperialista e capitalista de um complexo militar e industrial associado ao setor financeiro, com o qual dominam o mundo.

Segundo Noriega, num delírio pensado, estudado, existem ligações entre o narcotráfico e o governo do Irã e por conta disso o Brasil não está imune a atentados terroristas, principalmente à época da Copa do Mundo, em 2014.

Noriega fala da “ação terrorista” na chamada Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Uruguai), mostra os riscos cada vez maiores diante da “teimosia” do governo brasileiro em não aceitar políticas conjuntas de combate a esse “terrorismo” e vai mais além.

Estende-se à Venezuela ao dizer que o presidente Hugo Chávez está doente, vai morrer em seis meses e os conflitos que se seguirão à “morte” de Chávez serão fatores determinantes para a intervenção militar dos EUA (petróleo).

Os EUA são uma grande mentira na megalomania de potência capaz de destruir o mundo cem vezes se necessário for com seu arsenal nuclear. É um arremedo de nação, um complexo terrorista associado e hora dominado por Israel.

Colocam seus coturnos fascistas na Comunidade Europeia a partir de colônias como a Grã Bretanha, a Alemanha e a França, subjugam gregos, italianos, portugueses e quem mais se opuser a seus apetites imperiais. Estendem esses tentáculos a África, ao Oriente Médio em ações de guerra fundadas em mentiras como no caso do Iraque, da Líbia, tanto quanto sustentam ditaduras como a da Arábia Saudita, do Iêmen e têm seu principal parceiro na região, Israel, enfim, a patologia capitalista não tem limites em sua insânia.

Nero quando quis um bode expiatório para suas loucuras tocou fogo em Roma, foi tocar harpa e culpou os cristãos. O que se seguiu foi a barbárie que a história registra. Hitler tascou fogo no Parlamento e culpou os comunistas. Foi o pretexto que necessitava para controle absoluto da Alemanha e mais tarde uma guerra que dizimou a Europa, matou milhões de pessoas.

Os EUA tanto inventam armas químicas e biológicas no Iraque, como “intervenção humanitária” na Líbia, suposto terrorismo no Brasil, numa espécie de rede que lhes permita manter o controle dos “negócios” e continuar sobrevivendo às custas da exploração sobre povos de todo o mundo.

VEJA, como a mídia privada brasileira (GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, RBS, ESTADO DE MINAS, ÉPOCA, etc) são apêndices, braços desse processo. Não têm escrúpulos, compromisso algum com o Brasil e os brasileiros. Mas com os que pagam.

Tanto faz que seja William Waack apontado pelo WIKILEAKS como agente norte-americano, ou o Bonner, que só disfarça essa característica, até porque, como disse a estudantes e professores de jornalismo que visitaram a redação do JORNAL NACIONAL, o telespectador “é um idiota”. Usou o eufemismo Homer Simpson.

E deve ter alguma razão, pois os índices de audiência a despeito de uma queda continuam altos e lhe permitem manter a liderança.

Do Brasil querem a água, o petróleo, o nióbio, todas as riquezas minerais, o controle total e absoluto, que significam em submissão plena de nossos governos, caso do governo FHC. Tomava broncas homéricas de Bil Clinton quando não fazia as “coisas certas”.

Dos brasileiros querem nos transformar em zumbis caminhando pelas ruas sem vontade, sem espírito crítico, medrosos e aceitando todo o poderio dos tênis NIKE, ou das mais variadas marcas de chicletes, acreditando que somos uma potência.

O desejo real é que sejamos a grande base dos EUA para toda a América Latina.

Nossas forças armadas em sua imensa e esmagadora maioria são subordinadas a Washington.

Não têm a menor preocupação com a soberania e a independência do Brasil, o discurso patriótico é canalha como afirma Samuel Johnson (o golpe de 1964 destruiu o que havia de digno nas forças armadas e a reconstrução é lenta).

Os braços desse complexo terrorista – EUA e ISRAEL – são muitos. O tratado de livre comércio assinado por Lula com Israel abriu as portas do Brasil a agentes da MOSSAD – serviço secreto de Israel, especialista em assassinatos, extorsões, tortura, etc – e permite que se infiltrem, a guisa de orientação, treinamento, etc, em instituições como a Polícia Federal, polícias estudais (militar e civil), em todos os setores chaves da economia (Israel controla a nossa indústria de armas), numa grande rede que vai se fechar quando submeterem o Brasil a seus interesses.

O caso do combate à corrupção, arma que usam sem pejo, mesmo sabendo que a corrupção é parte do capitalismo e do imperialismo. Investigações simples levariam para a cadeia figuras como José Sarney, José Serra, FHC, Aécio Neves, Geraldo Alkcimin, boa parte doa grandes banqueiros e empresários brasileiros, enfim, só não o fazem porque não o querem, são controlados, digamos assim, por esses interesses.

Roger Noriega lembra a figura sinistra de Dan Mitrione. O agente da CIA que em tempos de ditadura veio ensinar aos militares e aos grupos de repressão métodos de tortura, de investigação recheados de brutalidade e violência.

VEJA é o instrumento midiático usado para veicular e gerar esse medo, criar essa falsa realidade. Como o grupo GLOBO e toda a grande mídia.

O governo Dilma é só um amontoado de meu Deus me ajuda, tonto e perdido em meio a estatura política da presidente, menor que o cargo que ocupa, cheio de inconsequentes como o tal Lupi – Ministro do Trabalho – e que a cada dia serve-se em bandeja de alumínio, nem de prata é, a esses interesses e propósitos.

O Brasil cresce? Claro, mas como rabo de cavalo, para baixo, pois os donos de crescimento não são os brasileiros, com todo o argumento diminuição das camadas mais pobres ou excluídas.

Não somos senhores do nosso progresso que resta privilégio de grupos empresariais nacionais e internacionais. E esses não têm nem pátria e nem compromisso com a classe trabalhadora.

O pacto proposto pelo PCB em sua Conferência Nacional, o diagnóstico feito no evento, é perfeito em todos os sentidos e o tratamento só resultará em cura com a luta nas ruas, a organização popular, a construção do processo revolucionário. Um pacto de solidariedade anti capitalista e anti imperialista.

E esse não será com alianças espúrias em função de eleições. O mundo institucional está falido.

Será nas ruas, mas longe de ser viável sem organização e diretrizes claras. Do contrário acontece o que aconteceu no Egito. Sai Mubarak, ficam os generais de Mubarak. Não muda nada.

A peça de relógio produto de trabalho escravo na China tem a ver com cada um de nós quando escolhemos um deles na vitrine. Ou compramos um “Cartier legítimo” no camelô.

Muito mais da metade das bolsas das madames paulistas que discutiram a USP num chá de fofocas é falsificada, a despeito das marcas pomposas. É a hipocrisia das elites, outra patologia do capitalismo.


Saudação ao Povo Negro

Saudação ao Povo Negro

imagem
Minervino de Oliveira
O Partido Comunista Brasileiro associa-se às celebrações pela passagem do Dia da Consciência Negra

O comprometimento de nosso partido para com as lutas pela valorização do negro brasileiro vem de longa data. Já em julho de 1930 denunciávamos a persistência de elementos de escravidão na situação real experimentada pelos negros do país, não obstante a tão propalada Abolição da Escravatura. Neste mesmo ano, nas eleições presidenciais, apresentamos ao povo a candidatura de Minervino de Oliveira, militante de nosso partido, que se tornou então o primeiro negro e o primeiro operário a disputar a presidência da república.

Em nossa Primeira Conferência Nacional de julho de 1934, realizada na mesma época em que se iniciava a propagação da tese da “democracia racial brasileira”, denunciávamos o racismo das classes dominantes e nos comprometíamos a apoiar todas as lutas pela igualdade de direitos econômicos, políticos e sociais de negros e índios.

Ainda em meados da década de 30, o intelectual comunista baiano Edison Carneiro iniciava uma vasta e significativa obra de investigação e resgate da cultura afro-brasileira, tornando-se um dos pioneiros em tal campo de estudos e uma referência fundamental até os dias de hoje. Este mesmo Edison Carneiro, com o apoio de outros intelectuais comunistas como Jorge Amado e Aydano do Couto Ferraz, criava, no ano de 1937, a União de Seitas Afro-Brasileiras, a primeira entidade criada no país com o objetivo de proteger e cultivar os valores e as tradições religiosas de matriz africana.

Na década de 1940, o PCB solidificou seu engajamento na luta contra o racismo e em defesa da cultura afro-brasileira. Sob sua legenda elegeu-se, em 1945, Claudino José da Silva, primeiro negro a exercer mandato parlamentar e primeiro constituinte negro da história do Brasil. Durante os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte de 1946, coube ao escritor e deputado comunista Jorge Amado a elaboração do projeto da primeira lei federal que estabeleceu a liberdade para a prática das religiões afro-brasileiras. Este período registra também a criação do Teatro Experimental do Negro, que tem como um de seus principais expoentes o ator, poeta e teatrólogo comunista Francisco Solano Trindade, que marcaria com sua atividade intensa a arte popular brasileira das décadas seguintes. Alguns anos mais tarde, apareceram os primeiros trabalhos de Clóvis Moura, então vinculado ao PCB, cuja produção aportaria uma importante contribuição aos estudos históricos e sociológicos sobre o negro no Brasil.

Se no passado nós comunistas estivemos presentes em praticamente todos os momentos relevantes da trajetória do povo negro brasileiro, no presente continuamos a apoiar e nos envolver com essas lutas. Apoiamos as reivindicações imediatas e conquistas parciais do movimento negro como a titulação das terras das comunidades remanescentes de quilombos e o Estatuto da Igualdade Racial. No entanto, compreendemos que nenhuma destas conquistas estará assegurada no futuro enquanto perdurarem: a) o esvaziamento e sucateamento das universidades públicas, a privatização e a mercantilização do ensino; b) o controle do Estado pelos grandes proprietários fundiários e a subordinação da política agrária do governo aos interesses do agro-negócio; c) a hegemonia dos interesses do grande capital nacional e internacional no interior da sociedade brasileira e a subordinação das necessidades do povo à lógica da acumulação capitalista.

Para que as atuais conquistas sejam mantidas e aprofundadas e para que novas sejam alcançadas é essencial que as lutas do povo negro, sem prescindir de sua especificidade, estejam combinadas às lutas gerais do povo e dos trabalhadores brasileiros. É necessário somar esforços aos movimentos em defesa de uma universidade pública gratuita e de qualidade, voltada para a resolução dos problemas nacionais e para a promoção social das classes populares, apoiar as ações contra o monopólio da propriedade da terra pelos grupos latifundiários e por uma reforma agrária ampla e radical, mobilizar-se enfim, por um poder político que seja a encarnação da vontade de negros e negras, trabalhadores das cidades e dos campos, pequenos proprietários urbanos e rurais, artistas e intelectuais avançados.

Salve o Dia da Consciência Negra!

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

A prostituição da Liga Árabe e a conspiração em torno da Síria, não se engane o alvo é o Irã

imagem
Crédito: 4.bp.blogspot

É nojenta e imoral a relação política que os Estados Unidos mantêm com a Liga Árabe.

A propósito, a Liga Árabe nunca foi exemplo de organismo idôneo. Suas ações desde sempre se basearam em decisões políticas que beneficiaram posições ditatoriais e interesses externos.

Antes que você pense que estou perseguindo os Estados Unidos, posso afirmar que SIM, declaradamente.

Havíamos dito aqui que o Governo Sírio firmou acordo com a oposição. Contudo, Estados Unidos, descontente com os novos direcionamentos, tratou de fomentar a violência e provocar o fim do pacto. Comenta-se que a porta-voz norte-americana, Victoria Nuland, encorajou os grupos armados a não entregar suas armas e a seguir com os confrontos até que Bashar al-Assad saísse do poder. Uma manobra para boicotar o acordo do Governo firmado com a liga árabe. Deu certo.

A liga árabe é formada por todos os países árabes dos quais destacam-se: Arábia Saudita, Bahrain, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Kuwait, Líbano, Líbia, Omã, Qatar, Síria.

Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Qatar, são países ricos e possuem as maiores reservas de petróleo do mundo. São, além dos principais fornecedores de petróleo dos Estados Unidos, também fortes aliados deste. Todos votaram a favor da suspensão da Síria.

Do grupo, apenas Líbano e Iêmen votaram contra. Líbano porque sabe das reais intenções da proposta e Iêmen porque foi abandonado pelos Estados Unidos diante da revolta popular que ocorre no país. Assim como ocorreu com a Tunísia, Egito e líbia, o Governo americano “exigiu” (ele exige!) que o Presidente do Iêmen saia do poder. A propósito, até pouco tempo eram grandes aliados.

Porque desestabilizar a Síria?

Porque atacar o Irã será mais fácil. A Síria faz fronteira com o Estado sionista (Israel) e em inúmeras vezes Ahmadinejad afirmou que acabaria com Israel caso sofresse alguma ofensiva. Síria e Irã são aliados. Ou seja, com Bashar al-Assad fora, e claro, tendo a Síria sob domínio externo, direta ou indiretamente, tal qual fizeram com o Iraque, o ataque ao Irã é praticamente certo.

Essa semana Rússia e China já se adiantaram e afirmaram que, caso o Conselho de Segurança da ONU proponha a votação para um possível ataque ao Irã, vetarão. Com pelo menos um veto qualquer medida é suspensa.

Obviamente que estão sendo, por hora, sensatos. Mas não me iludo. As artimanhas do imperialista norte-americano e do Estado sionista são muitas e eles não medirão esforços para provocar o consentimento desejado.

http://orient-se.blogspot.com/
A Comuna de Paris, a Revolução Russa e a indignação

A Comuna de Paris, a Revolução Russa e a indignação

imagem
Crédito: PCB



Por Mauro Iasi.

isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

Paulo Leminsky

Outubro veio e passou nos deixando em novembro de mais um ano no sistema capitalista. Neste ano lembramos os 140 anos da Comuna de Paris e muitas atividades pipocaram por todo o Brasil e pelo mundo saudando a ousadia operária que assaltou os céus em 1871. Recentemente, em 2007, comemoramos os 90 anos da revolução russa. Enquanto isso, jovens e trabalhadores tomam as ruas em várias partes do mundo e se declaram indignados.

O sentido mais comum da palavra refere-se à revolta diante de uma injustiça ou afronta, sentimento contrário ao ato que se caracteriza como desumano, cruel, injuriante, ultrajante. Também associado ao ato de raiva e exasperação, irritação intensa.

O movimento que se autodenominou como Occupy Wall Strett (ocupem Wall Street) e que se alastrou por mais de 25 cidades norte-americanas desde setembro deste ano tem sido identificado como um bom exemplo desta indignação que parece tomar conta de algumas pessoas antes tão pacatas e acomodadas nas benesses do chamado primeiro mundo. Tentando acalmar a ordem, o senhor Richard Locke (não sabemos se carrega além da coincidência do nome algum parentesco com o famoso John Locke, mas certamente algumas de suas ideias) afirma que tais manifestações não podem ser identificadas com nenhuma intenção extremista contra o sistema vigente, completando: “é apenas uma manifestação difusa em torno da profunda infelicidade diante das condições econômicas dos Estados Unidos”.

O chefe da cadeira de Ciência Política do MIT (Massachusetts Institut of Technology) acredita que aqueles que estão ocupando as ruas e praças buscam apenas um “sistema econômico menos ganancioso e corrupto”. Estamos diante de dois fenômenos que nos chamam a atenção: primeiro a tendência de alguns analistas em atribuir sua intencionalidade aos fenômenos que estudam; segundo o persistente equívoco na compreensão das ações de massa e sua relação com a intencionalidade dos processos históricos.

Enquanto alguns se animam mais do que devem com as manifestações acreditando que ali já emerge um questionamento societário de caráter socialista, o que de fato não é, outros procuram se acalmar, como Locke, acreditando que não passa de uma “manifestação difusa” de descontentamento.

Quando os trabalhadores de Paris, em 1871, tomaram a cidade, não o fizeram para iniciar a transição socialista ou inventar a nova forma do Estado que nos levaria ao comunismo, da mesma forma as mulheres e os operários russos que marcharam na greve geral de fevereiro de 1917 foram certamente movidos por uma grande insatisfação com as condições econômicas e, principalmente, com os efeitos da Guerra. Se o senhor Richard Locke estivesse por lá com seus incríveis cabedais científicos do MIT diagnosticaria que não traziam a intenção definida de uma ação extremista contra o sistema vigente e almejavam apenas um sistema menos ganancioso e corrupto, ou mais precisamente, um sistema que não os deixasse tão infelizes.

Os trabalhadores russos, anos antes da epopéia revolucionária, em janeiro de 1905, marcharam ao Palácio do Czar em São Petersburgo para entregar um abaixo assinado à Nicolau II no qual diziam:

“Estamos numa situação miserável, somos oprimidos, sobrecarregados co excesso de trabalho, insultados, não nos reconhecem como seres humanos, somos tratados como escravos. Para nós, chegou aquele momento terrível em que a morte é melhor do que a continuidade do sofrimento insuportável.”

Mesmo diante de tal situação eram certamente poucos aqueles que tinham a clareza que na base de seus sofrimentos se encontrava uma forma histórica de organização social que precisava ser superada e, um número infinitamente menor daqueles que já lutavam com a intencionalidade de ir além da forma histórica que se preparava para substituir as ruínas da autocracia czarista. Reagiam à fome, à miséria, a indignidade. Quem lhes explicou claramente do que se tratava foi a guarda czarista que atirou nos mais de cem mil manifestantes e depois sufocou a rebelião operaria de 1905 a golpes dos sabres cossacos.

Na Paris operária tratava-se, como sabemos de defender a nação contra os invasores prussianos, depois defender a cidade contra os traidores de Versalhes e inicialmente conquistar, finalmente, apenas o direito de eleger seu próprio governo sem as mediações do voto censitário, do veto à participação das mulheres e estrangeiros, ou seja, de todas as limitações que buscam garantir que os pobres e trabalhadores não participem da democracia. Quando Thiers massacrou os rebeldes e afirmou que “a ordem, a justiça, a civilização alcançaram finalmente a vitória”, é possível que muitos começassem a duvidar do que exatamente seria a “civilização” e o tipo de “justiça” que a embasava.

Por isso a frase do senhor Locke, segundo a qual não se trata de um questionamento do sistema vigente, mas só de uma “profunda infelicidade diante das condições econômicas dos Estados Unidos”, expressa, como muitas das grandes constatações da chamada “ciência política”, um juízo perfeitamente correto que não nos serve de nada. A verdadeira questão estaria na busca da compreensão do porque e contra o que se expressa a indignação dos manifestantes.

Quando o senhor Locke lê os cartazes dos manifestantes afirmando que “somos 99% da população que não toleramos mais a ganância e a corrupção dos 1% restantes”, vê apenas uma vaga intencionalidade por um regime menos corrupto e ganancioso. Ele percebe bem esta dimensão e procura se manter neste nível da aparência. Os participantes e o próprio cientista político partilham de um elemento do senso comum que afirma que o problema do capitalismo não é a acumulação privada da riqueza socialmente produzida, mas o exagero ganancioso da acumulação, ou seja, se os capitalistas tivessem o bom senso de acumular menos e com isso garantir uma boa qualidade de vida, todos sairiam ganhando.

O desenrolar dos fatos pode contribuir decisivamente para superar em parte o senso comum dos participantes, embora seja um pouco mais pessimista quanto as possibilidades do cientista político do MIT. Quando os manifestantes se aglomeram nas praças e atacam os banqueiros e financistas, a polícia prontamente vem para desalojá-los e as prisões começam (só em outubro foram mais de 700 presos). Ficamos sabendo por um artigo de Amy Goodman noDemocracy Now que J.P. Morgam e o Chase Mahatan Bank doaram U$ 4,6 milhões de dólares à Fundação da Polícia da Cidade de New York, ao mesmo tempo em que os banqueiros receberam cerca de 1 trilhão de dólares para aliviar seus problemas com a crise.

Às vezes a realidade assume contornos didáticos. Mesmo para um povo submetido ao mais aprimorado e eficiente controle ideológico, certas coisas começam a ficar claras. Antes, entretanto, vejamos porque aquelas pessoas estavam profundamente infelizes.

Existiria hoje no país mais rico do mundo cerca de 43, 6 milhões de pobres, algo em torno de 14,3% da população, cerca de 50 milhões de pessoas não tem acesso a nenhum tipo de seguro de saúde, 16 milhões de pessoas passam fome e 49 milhões só não passam fome porque tem precários vales de alimentação. O desemprego oficialmente está sondando os 10% (entre os negros os números oficiais são de 16% de desempregados) da população, dizem que as cifras reais chegam aos 17 % e a crise afetou uma questão básica que é a moradia.

Para tentar sair do desespero os trabalhadores norte-americanos estão trabalhando 100 horas a mais do que há 20 anos (as mulheres 200 horas a mais). Tudo isso em um mundo onde se profetizou o fim do trabalho!

Ao mesmo tempo, entre 1979 e 2006, 1% da população mais rica passou de 10% da concentração da riqueza produzida para 23% (mesmo índice que estava presente em 1929). Esta concentração indica que 90% do total da riqueza produzida nos 25 anos de euforia foi parar na mão de menos de 10% da população mais rica e concentrou-se em 1% dela.

Marx e Engels, na obra A ideologia alemã, diziam o seguinte:

“Quanto mais as formas normais das relações sociais e, com ela, as condições de existência da classe dominante acusam a sua contradição com as forças produtivas avançadas, quanto mais nítido se torna o fosso cavado no seio da própria classe dominante, fosso que separa esta classe da classe dominada, mais natural se torna, nestas circunstâncias, que a consciência que correspondia originalmente a esta forma de relações sociais se torne inautêntica; dito por outras palavras, essa consciência deixa de ser uma consciência correspondente, e as representações anteriores, que são tradicionais deste sistema de relações, aquelas em que os interesses pessoais reais, etc. eram apresentados como interesse geral, degradam-se progressivamente em meras fórmulas idealizantes, em ilusão consciente, em hipocrisia deliberada.”

É natural que em uma situação como essa os norte americanos que pensavam yes we can, passem a pensar: we cannot accept this! É de se esperar que as palavras entorno das quais se estruturava uma visão de mundo sob a qual se ocultava os interesses de classe da burguesia monopolista se tornem inautênticas e assumam feitio de pura hipocrisia deliberada.

Quando Roma estava para cair, os bárbaros se amontoavam em seus portões, não para invadi-la militarmente, há muito estavam militarmente derrotados, mas para tentar passar seus muros buscando sobreviver como escravos. No final do feudalismo o poder dos senhores que um dia se legitimara pelo dever de proteger os servos atrás dos muros de seus castelos, assumia cada vez mais a forma do direito de massacrá-los.

O paradoxo que se esconde nas formas aparentes do senso comum liberal é que esta doutrina política se funda na crença do protagonismo do indivíduo ao mesmo tempo que está convicta de que os indivíduos se inserem em um todo que caminha por seus próprios desígnios, ou seja, o mercado. Dessa maneira cada um busca seu interesse egoísta, mas magicamente desta soma de egoísmos resulta o chamado bem comum. A solução liberal do paradoxo está na noção de grandes homens, personalidades excepcionais que vem além dos homens comuns e dirige a história para a intencionalidade desejada.

Norbert Elias trata desta maneira a questão:

“Pelo menos é impossível constatarmos que qualquer pessoa dos séculos XII ou mesmo XVI tenha conscientemente planejado o desenvolvimento da sociedade industrial dos nossos dias. Que tipo de formação é essa, esta ‘sociedade’ que compomos em conjunto, que não foi pretendida ou planejada por nenhum de nós, nem tão pouco por todos nós juntos? Ela só existe porque existe um grande número de pessoas, só continua a funcionar porque muitas pessoas, isoladamente, querem e fazem certas coisas, e, no entanto, sua estrutura e suas grandes transformações históricas independem, claramente, das intenções de qualquer pessoa em particular.”

Em outra passagem o mesmo autor diria: “de planos emergindo, mas não planejada / movida por propósitos, mas sem finalidade”. Elias, apesar de captar bem um momento do real contra as pretensões ideológicas mais grosseiras do pensamento liberal, tem uma certa dificuldade em encontrar um finalidade histórica além daquela atribuída aos indivíduos e a substitui pela ideia de “processo”. Nós, os marxistas, estamos convictos que por trás desta aparente caótico choque de vontades individuais encontra-se um complexo de ações e determinações recíprocas que constitui uma totalidade que é muito mais que a soma das partes.

Poucos naquelas praças, ou mesmo ninguém, deseja o fim do capitalismo, mas ao se colocarem em luta movidos por uma materialidade que transforma em pó os véus ideológicos que encobriam os interesses da grande burguesia monopolista, ao se chocarem na prática com estes interesses se produz uma fusão que os leva além de suas vontades individuais ou mesmo coletivas que os moveram até aquele momento e se tornam, na prática, parte de uma ação que assume contornos anticapitaistas, não por seus desejos e intenções originais, mas pela natureza das forças contra as quais se chocam e os interesses materiais contra os quais se defrontam.

No que tudo isso vai dar? Ainda não sabemos, mas que o mundo está ficando muito mais interessante do que o senhor Richard Lock imagina, temos certeza. Como diz uma música do Zé Pinto (compositor de várias das músicas cantadas pelo pessoal do MST), “se não houver amanhã, brindaremos o ontem”, então viva a Comuna de Paris, viva a Revolução Russa. Estamos convencidos de que haverá um amanhã, único problema é que talvez seja muito ruim, mas aí as pessoas vão ficar profundamente infelizes e quem sabe saiam às ruas e formem algo além da mera indignação.

Sugestões de leitura:

Elias, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

Marx, K. e Engels, F. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, presidente da ADUFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

Fonte: http://boitempoeditorial.wordpress.com/category/colunas/mauro-iasi/