31 de maio de 2012

JUIZ DE FORA – 162 ANOS

Fonte: Blog Maria do Resguardo
(http://mariadoresguardo.blogspot.com.br/2011/09/av-getulio-vargas-fabrica-bernardo.html)
O PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO – se forja na História como instrumento para o diagnóstico de nossas realidades. Uma delas é que as cidades são as realidades imediatas de cada um de nós.

Nascemos numa cidade no seio de uma família, crescemos, nos formamos e constituímos laços familiares, a nossa extensão, dentro de nossas cidades. É nas cidades que vendemos nossas forças de trabalho.

A cada dia dos que vivemos acordamos na cidade.

A História de Juiz de Fora está intimamente ligada à História do Brasil desde o período do Brasil colônia. Por aqui passavam as caravanas que levavam o ouro de outras cidades das Minas Gerais para a matriz, Portugal.

O próprio nome da cidade – JUIZ DE FORA – mostra esse caráter de local de trânsito em seus primeiros momentos. Um juiz de fora desembargava aqui as demandas do povoado.

Já fomos vila e em 1850 nos transformamos em cidade.

Rui Barbosa em sua campanha civilista de 1910, num comício na esquina de rua Fernando Lobo com rua de Santo Antônio chamou a cidade de MANCHESTER BRASILEIRA. Referia-se a nossa indústria têxtil e nos comparava à cidade de Manchester na Inglaterra, à época principal centro da indústria do império britânico.

Aos poucos nossas características foram sendo mudadas. A cidade que, originalmente, foi de trânsito das caravanas de ouro, se organizou em torno de empreendimentos industriais, foi a primeira na América do Sul a ter energia elétrica, para que, nos dias de hoje, segundo observamos, estar vestida de cidade de prestação de serviços, de estudantes e comércio.

A pujança industrial perdeu-se

Por quê? Para alguns a mudança da capital do Brasil, Rio de Janeiro, para Brasília foi um fator de esvaziamento econômico de Juiz de Fora.

O PCB entende que não. A Manchester que Rui Barbosa enxergou era produto dos investimentos de famílias tradicionais, fator de acumulação de riquezas, nascedouro da luta dos trabalhadores por direitos básicos e fundamentais.

Faliu na inconseqüência desses investidores, de olho em seu próprio benefício e sem visão seja de futuro, ou seja, de direitos da classe trabalhadora.

Foi em Juiz de Fora, segundo registra John Dulles em seu trabalho ANARQUISTAS E COMUNISTAS NO BRASIL – Volume 1, Ed. Nova Fronteira, que se editou o primeiro jornal de esquerda em toda a América do Sul. E foi em Juiz de Fora, em 1945, em seu breve período de legalidade, que o PCB elegeu um vereador à Câmara Municipal, o líder de trabalhadores da construção civil Lindolfo Hill.

Somos, por natureza, uma cidade de trabalhadores. As lutas do passado, muitas delas duras e reprimidas com violência pelas classes dominantes mostram isso.

É necessário retomar essa consciência. Conhecer a História para melhor conhecermos nossas origens e a nossa realidade.

É o debate que o PCB propõe aos trabalhadores, aos estudantes, a Juiz de Fora.

Com a convicção que esse debate, em tempos de neoliberalismo, é fundamental para a retomada da História e conseqüentemente a de Juiz de Fora, num caminho em que o progresso não apenas o privilégio de uns, mas o bem comum de todos, sempre escorado em ampla participação popular, do contrário não terá sentido.

O que vemos hoje é um crescimento desordenado, que favorece a grupos que nem têm raízes na cidade (as obras públicas, as terceirizações) e a classe trabalhadora cada vez mais relegada às periferias tanto no sentido físico, como político e social.

O PCB quer o debate, propõe o debate e traz consigo a idéia de reencontro do trabalhador com sua cidade. Do estudante com sua cidade. E a construção de uma cidade camarada.

Temos História de lutas para encontrar esse caminho. 

25 de maio de 2012

OTAN, AMEAÇA À PAZ MUNDIAL

Comunicado do Gabinete de Imprensa do PCP

Ameaça à paz mundial!

Segunda 21 de Maio de 2012

Por iniciativa do PCP, Partidos Comunistas e Operários de todos os continentes tornaram pública uma posição comum que alerta para os grandes perigos que a OTAN representa para a paz e em que se apela ao desenvolvimento da luta pela paz, contra a corrida aos armamentos, pelo fim das agressões e ingerências do imperialismo e pela dissolução da OTAN.

Numa situação internacional marcada pela agudização da crise do capitalismo e pela violenta ofensiva imperialista contra as conquistas e direitos dos trabalhadores e dos povos, realiza-se a 20 e 21 de Maio em Chicago, nos EUA, a Cimeira da OTAN.

No quadro do aprofundamento da crise do capitalismo, o imperialismo lança-se numa escalada militarista e intervencionista.

Depois de ter renovado o seu conceito estratégico em 2010, que representou um novo e perigoso salto qualitativo na sua ambição intervencionista – de que a agressão à Líbia foi exemplo –, os EUA e a OTAN, que tem a UE como seu pilar europeu, procuram alargar as suas zonas de influência, promovem a corrida aos armamentos e as despesas militares, o investimento em novas armas e a sua rede mundial de bases militares.

O imperialismo militariza as relações internacionais, prossegue a ocupação, lança ameaças de agressão, promove conspirações e manobras de ingerência contra países de todos os continentes e através de uma escalada armamentista permanente, viola os acordos internacionais de desarmamento existentes. Os princípios da Carta da ONU são postos em causa, acentua-se a instrumentalização da ONU para dar cobertura à violência imperialista. O processo de destruição do Direito Internacional resultante da derrota do nazi fascismo na Segunda Guerra Mundial abre as portas aos propósitos imperialistas de controlar recursos e de dominar o planeta no plano militar e geo-estratégico.

A NATO como principal instrumento do imperialismo no seu objectivo de domínio mundial, constituí uma enorme ameaça à paz e à segurança mundiais.

Mas, como a realidade está a comprovar, a resposta de força do imperialismo à crise do capitalismo confronta-se com a luta progressista e revolucionária dos povos que, em vários pontos do mundo, tomam nas suas mãos a defesa dos seus direitos e da soberania e independência dos seus países, resistindo das mais variadas formas e impondo revezes à estratégia de dominação imperialista.

Reafirmando o seu empenhamento na luta pela paz, pelo direito de cada povo a decidir livremente do seu destino, pelo progresso social e o Socialismo, os Partidos Comunistas e Operários signatários desta declaração:

- Exigem a retirada imediata de todas as tropas estrangeiras do Afeganistão, assim como de todas as outras intervenções imperialistas no Mundo.

- Rejeitam a escalada de guerra no Médio Oriente, nomeadamente contra a Síria e o Irão.

- Exigem a dissolução da OTAN e apoiam o direito soberano dos povos de decidir da desvinculação dos seus países desta aliança agressiva.

- Rejeitam a instalação do novo sistema antimíssil dos EUA e da OTAN na Europa e reclamam o fim das bases militares estrangeiras.

- Exigem o fim da corrida aos armamentos, o desarmamento nuclear começando pelas maiores potências nucleares do Mundo – como os EUA - e a completa destruição das armas químicas e biológicas.

- Expressam a sua solidariedade aos povos que resistem às ocupações, agressões e ingerências do imperialismo, nomeadamente no Médio Oriente, na Ásia, na América Latina e em África.

Partidos signatários do Apelo Comum de Partidos Comunistas e Operários

Partido Comunista Sul Africano

Partido Comunista da Argentina

Partido Comunista Azerbaijão

Partido Comunista da Austrália

Partido do Trabalho da Bélgica

Partido Comunista da Bielorússia

Partido Comunista Brasileiro

Partido Comunista do Brasil

Partido Comunista de Espanha

Partido Comunista dos Povos de Espanha

Partido Comunista dos EUA

Partido Comunista da Finlândia

Partido Comunista Francês

Partido Comunista Unificado da Geórgia

Partido Comunista da Grécia

Novo Partido Comunista da Holanda

Partido do Povo do Irão

Partido Comunista da Índia

Partido Comunista da Índia (Marxista)

Partido Comunista da Irlanda

Partido dos Trabalhadores da Irlanda

Partido dos Comunistas Italianos

Partido Comunista Libanês

Partido Comunista Luxemburguês

Partido Comunista de Malta

Partido Comunista de México

Partido Comunista Palestiniano

Partido Comunista Peruano

Partido Comunista da Polónia

Partido Comunista Português

Partido Comunista Britânico

Partido Comunista da Boémia e Morávia

Partido Comunista da Federação Russa

PC Operário Russo – Partido dos Comunistas Revolucionário

Partido Comunista Sírio (Unificado)

Partido Comunista da Ucrânia

Investigar “outro lado” na ditadura: seria igualar nazistas à Resistência Francesa





publicada quarta-feira, 16/05/2012 às 11:18 e atualizada quarta-feira, 16/05/2012 às 15:04

No Brasil, tentariam igualar Aubrac a nazistas?

por Rodrigo Vianna

Raymond Aubrac morreu no mês passado. Tinha 97 anos, viúvo. Na França, era tratado como herói. Lutou de armas na mão contra os nazistas e contra os franceses colaboracionistas, que aceitaram manter um regime fantoche em apoio a Hitler.

Aubrac e a mulher, morta há uma década, foram líderes da Resistência Francesa. Se morassem no Brasil, parte dos comentaristas e colunistas da direita brazuca certamente diria que eles tinham sido ”terroristas”. Sim, Aubrac lançou bombas, deu tiros. Foi preso, escapou milagrosamente dos nazistas. Tinha inimigos. E lutou. E não deixou de lutar. Depois da Guerra, tornou-se amigo de Ho-Chi-Min. E na última campanha eleitoral francesa, chegou a declarar apoio a Hollande, do Partido Socialista. Ele tinha um lado.

Um homem precisa ser “neutro” pra lutar por Justiça? Tolice. Mais que tolice. Argumento falacioso a proteger criminosos de guerra. Seja na Europa ou na América do Sul. Aqui,  às vezes cola. Lá, não cola…

No Brasil, Aubrac e a mulher talvez fossem chamados de “petralhas”. Mais que isso. Talvez aparecesse um ex-ministro tucano dizendo que “os dois lados” precisam ser investigados. Sim! Não é justo julgar (ou relatar os crimes, que seja) apenas dos pobres nazistas. E as “vítimas inocentes” do “outro lado”? Essa Resistência Francesa era “criminosa”…

Aubrac seria exercrado, ofendido. Pela internet, circulariam e-mails idiotas chamando o sujeito de “terrorista”, talvez achassem uma foto dele com  fuzil pra dizer: olha só, o “outro lado” era adepto da força bruta, não era bonzinho, também precisa ser investigado…

Isso me lembra o título daquele livro: “Falta Alguém em Nuremberg!” Sim, para a direita brasileira (e os apavorados que se acham de esquerda e têm medo de enfrentá-la) seria preciso enviar a Resistência Francesa a julgamento! Afinal, a Resistência pegou em armas, cometeu “crimes”.

No Brasil, por hora, nem se fala em julgamento. Mas numa simples Comissão a relatar os crimes cometidos por agentes do Estado. Crimes contra a Humanidade. Não se fala em execrar soldados, sargentos ou oficiais que, eventualmente, tenham matado guerrilheiros em combate. Da mesma forma, nunca ninguém se atreveu a “condenar” soldados alemães que lutaram nas trincheiras ou nas ruas.

O que se pretende é relatar crimes de tortura, desaparecimento, assassinatos cometidos a sangue frio… Ah, mas estávamos numa “guerra”, dizem militares brasileiros (secundados por civis perversos, e até por gente de boa fé mas desinformada)  que atacam a Comissão. Há controvérsias se aquilo que ocorreu no Brasil foi uma “guerra”…

De todo jeito, na Europa houve “guerra”. Pra valer. Nem por isso, crimes contra a Humanidade deixaram de ser julgados. Nazistas e seus colaboradores que torturaram, assassinaram e incineraram gente indefesa foram a julgamento. A Resistência Francesa não foi a julgamento. Nem irá.

O resto é invenção do conservadorismo mais matreiro do mundo, porque dissimulado: o conservadorismo brasileiro. Nesse debate sobre a Comissão da Verdade, é preciso derrotá-lo. Com inteligência, moderação. Mas com firmeza.

http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/investigar-o-outro-lado-na-ditadura-seria-como-igualar-nazistas-a-resistencia-francesa.html

PCB e UJC se solidarizam com Piedad Córdoba e a Marcha Patriótica

O  Partido  Comunista Brasileiro (PCB) e a União da Juventude Comunista (UJC) se solidarizam de forma militante  com a senadora colombiana Piedad Cordoba diante das ameaças que vem sofrendo por parte de grupos paramilitares de extrema-direita. É necessario que todas as forças comprometidas com a solução do conflito colombiano com justiça social repudiem e denunciem mais esta ação das forças reacionárias, que mais uma vez se manifestam na Colômbia sob o beneplácito do Estado terrorista - com o qual o governo brasileiro, cabe ressaltar, mantém acordos militares.

Por mais que as classes dominantes de nossos países tentem, elas não podem impedir os reclames  das massas.

Fiéis a nossa tradição de internacionalismo proletário, estivemos (PCB e UJC) presentes na Marcha Patriótica que se deu em Bogotá nos dias 21, 22  e 23 de abril. E mais uma vez pudemos conferir isso, de forma compartilhada com o povo colombiano, nesta ação histórica.

Oferecemos todo apoio e solidariedade militante a senadora Piedad Cordoba e a todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa, para avançar na conquista da segunda e definitiva independência - com o socialismo nos países latino-americanos.

23 de maio de 2012
Partido Comunista Brasileiro e Uniao da Juventude Comunista

Uma greve em defesa da Universidade Pública: pela carreira docente, por salários e por melhores condições de trabalho




(Nota Política do PCB)
O Partido Comunista Brasileiro apóia, de forma militante, a Greve Nacional dos docentes das IFES deflagrada pelo ANDES-SN desde o dia 17 de maio. A greve, que hoje conta com a adesão de mais de 42 Universidades, é produto direto da intransigência do governo Dilma, que se recusa a negociar de maneira séria e responsável o projeto de carreira apresentado pelo Andes há mais de um ano.

O governo, mesmo tendo apresentado, diante da pressão exercida pelos professores, uma proposta de acordo emergencial no qual se comprometia a pagar uma recomposição, ainda que insuficiente e parcial, de 4% nos salários a partir de março de 2012, incorporando parte das gratificações ao vencimento básico (a GEMAS e a GEDBT), só cumprida em maio de 2012, com muitos meses de atraso, não cumpriu o compromisso de criar um grupo de trabalho para, finalmente, começar a discussão da carreira docente e buscar a equiparação com os docentes das universidades dos profissionais com nível de formação equivalente que atuam no Ministério de Ciência e Tecnologia.

As condições de trabalho oferecidas aos professores são, em geral, ruins, e vêm se agravando, entre outras razões, pela expansão universitária implementada recentemente, que, não tendo sido acompanhada dos recursos necessários, causa a intensificação do trabalho docente, a precariedade das instalações, salas superlotadas, falta de laboratórios e de equipamentos, e deficiências sérias na assistência estudantil, entre outras distorções.

Para nós, comunistas, a situação das Universidades é resultado das características do desenvolvimento capitalista em geral, da formação social brasileira e da clara opção dos últimos governos de criar uma economia de mercado capitalista e monopolista, integrada internacionalmente, que exige o sacrifício no altar do capital das políticas públicas e sociais em uma verdadeira contra-reforma do Estado, o que exige uma adequação da forma de universidade que vinha sendo construída na resistência à ditadura empresarial - militar implantada em 1964 e que culmina no artigo 207 da Constituição Federal que consagra a autonomia universitária (financeira, de gestão e acadêmica) e a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão.

Para os burocratas do governo, serviçais eficientes dos interesses do capital, a Universidade deve ser pensada como uma empresa que forma mão-de-obra, presta serviços e disputa o mercado e, para tanto, deve ser eficaz na administração dos recursos escassos de que dispõe, buscando complementá-los com parcerias público-privadas, projetos, financiamentos alternativos e venda de serviços. A melhor prova disso é que as negociações sobre a carreira se deram, principalmente, com o Ministério do Planejamento e não com o MEC, solenemente ausente e omisso em todo o processo até aqui desenvolvido.

O resultado de todo esse quadro é a descaracterização e degradação da Universidade Pública, o que incide sobre as condições de trabalho e de remuneração dos profissionais do ensino publico federal.

O PCB, por seu Comitê Central e seus professores universitários, engajados diretamente na construção dessa greve nacional, declara integral e ativo apoio ao movimento dos professores em defesa da Universidade Pública de qualidade, pela carreira docente apresentada pelo ANDES-SN, pela defesa dos salários dos professores federais do ensino superior e do ensino básico, técnico e tecnológico.

Ressaltamos que a luta por uma Universidade Pública gratuita e de qualidade é condição necessária, ainda que insuficiente, para a produção e socialização do conhecimento contra e para além da ordem do capital. Por isso seguimos em nosso firme propósito de lutar por uma Universidade Popular, de acesso universal, que expresse as demandas e os valores da  classe trabalhadora brasileira.

Todo apoio à Greve Nacional dos Professores do Ensino Público Federal

Em defesa da Universidade Pública

Por uma Universidade Popular

Pela imediata abertura de negociações

Em defesa da Carreira Docente apresentada pelo ANDES-SN

Por melhores condições de trabalho

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)
Comissão Política Nacional

A política da linguagem e a linguagem da regressão política

por James Petras

O capitalismo e os seus defensores mantêm a dominação através dos "recursos materiais" sob o seu comando, especialmente o aparelho de estado, e suas empresas produtivas, financeiras e comerciais, bem como através da manipulação da consciência popular via ideólogos, jornalistas, académicos e publicitários que fabricam os argumentos e a linguagem para enquadrar as questões do dia.

Hoje as condições materiais para a vasta maioria dos trabalhadores deterioram-se drasticamente pois a classe capitalista descarrega todo o fardo da crise e da recuperação dos seus lucros sobre as costas das classes assalariadas. Um dos aspectos gritantes deste contínuo rebaixamento de padrões de vida é a ausência até agora de um grande levantamento social. A Grécia e a Espanha, com mais de 50% de desemprego na faixa etária dos 16-24 anos e aproximadamente 25% de desemprego geral, experimentaram uma dúzia de greves gerais e numerosos protestos nacionais com muitos milhões de pessoas; mais não provocou qualquer mudança real de regime ou de políticas. Os despedimentos em massa, os salários penosos, os cortes em pensões e serviços sociais continuam. Em outros países, como a Itália, França e Inglaterra, protestos e descontentamento manifestam-se na arena eleitoral, com governantes afastados e substituídos pela oposição tradicional. Mas no decorrer da agitação social e da profunda erosão sócio-económica das condições económicas e de vida, a ideologia dominante que informa os movimentos, sindicatos e oposição política é reformista:Apelos para defender benefícios sociais existentes, aumentar despesas públicas e investimentos, pela expansão do papel do estado onde a actividade do sector privados deixou de investir ou empregar. Por outras palavras, a esquerda propõe conservar um passado em que o capitalismo estava arreado com o estado previdência.

O problema é que este "capitalismo do passado" foi-se e um novo capitalismo mais virulento e intransigente emergiu forjando uma nova estrutura mundial e um poderoso aparelho de estado obstinado e imune a todos os apelos por "reforma" e reorientação. A confusão, frustração e má direcção da oposição popular de massa é, em parte, devido à adopção por escritores, jornalistas e académicos de esquerda dos conceitos e linguagem adoptados pelos seus adversários capitalistas: linguagem concebida para obscurecer as verdadeiras relações sociais de exploração brutal, o papel central das classes dominantes na reversão de ganhos sociais e as ligações profundas entre a classe capitalista e o estado. Publicitários, académicos e jornalistas elaboraram toda uma litania de conceitos e termos que perpetuam o domínio capitalista e desviam seus críticos e suas vítimas dos que perpetram o seu drástico deslizamento rumo ao empobrecimento em massa.

Mesmo quando formulam suas críticas e denúncias, os críticos do capitalismo utilizam a linguagem e os conceitos dos seus apologistas. Na medida em que a linguagem do capitalismo entrou no linguajar geral da esquerda, a classe capitalista estabeleceu a hegemonia ou dominação sobre os seus antigos adversários. Pior, a esquerda, ao combinar alguns dos conceitos básicos do capitalismo com a crítica aguda, cria ilusões acerca da possibilidade de reformar "o mercado" para servir objectivos populares. Isto faz com que falhe a identificação das ideias mestras das forças sociais que devem ser expulsas dos comandos da economia e do imperativo de desmantelar o estado dominado pela classe. Enquanto a esquerda denuncia a crise capitalista e os salvamentos do estado, a sua própria pobreza de pensamento mina o desenvolvimento da acção política de massa. Neste contexto a "linguagem" da ocultação torna-se uma "força material" – um veículo do poder capitalista, cuja utilização primária é desorientar e desarmar seus críticos intelectuais através do uso de termos, estruturas conceptuais e linguagem que dominam a discussão da crise capitalista.

Eufemismos chave ao serviço da ofensiva capitalista 

Os eufemismos têm um duplo significado: O que os termos implicam (connote) e o que eles realmente significam. Concepções eufemísticas sob o capitalismo implicam uma realidade favorável ou comportamento aceitável e actividade totalmente dissociada do engrandecimento da riqueza da elite e da concentração de poder e privilégio. Os eufemismos disfarçam o impulso das elites do poder para impor medidas específicas de classe e para reprimir sem serem adequadamente identificados, responsabilizados e opostos pela acção popular de massa.

O eufemismo mais comum é a palavra "mercado", a qual é dotada de características e poderes humanos. Como tal, dizem-nos que "o mercado exige cortar salários" desligado da classe capitalista. Mercados, intercâmbio de mercadorias ou compra e venda de bens, têm existido há milhares de anos em diferentes sistemas sociais em contextos altamente diferenciados. Eles têm sido globais, nacionais, regionais e local. Envolvem diferentes actores sócio-económicos e compreendem unidades económicas muito diferentes, as quais vão desde casas comerciais gigantes promovidas pelo Estado até ao nível de aldeias camponesas de semi-subsistência e praças de cidades. Existiram "mercados" em todas as sociedades complexas: escravocratas, feudais, mercantis e em primitivas ou tardias sociedades capitalistas competitivas, monopolistas industriais e financeiras.

Ao discutir e analisar "mercados" e compreender as transacções (quem beneficia e quem perde), deve-se claramente identificar as classes sociais que dominam as transacções económicas. Escrever na generalidade acerca de "mercados" é enganoso porque os mercados não existem independentemente das relações sociais que definem o que é produzido e vendido, como é produzido e que configurações de classe modelam o comportamento dos produtores, vendedores e do trabalho. A realidade do mercado de hoje é definida por corporações e bancos multinacionais gigantescos, os quais dominam o trabalho e os mercados de commodities. Escrever de "mercados" como se operassem numa esfera acima e para além das brutais desigualdades de classe é esconder a essência das relações de classe contemporâneas.

Fundamental para qualquer entendimento, mas ignorado pela discussão contemporânea, é o poder incontestado dos proprietários capitalistas dos meios de produção e de distribuição, a propriedade capitalista da publicidade, os banqueiros capitalistas que concedem ou negam crédito e os responsáveis do estado nomeados pelos capitalistas que "regulamentam" ou desregulamentam relações de troca. Os resultados das suas políticas são atribuídos às eufemísticas exigências do "mercado" as quais parecem estar divorciadas da realidade brutal. Portanto, como insinuam os propagandistas, ir contra "o mercado" é opor-se ao intercâmbio de bens. Isto é claramente absurdo. Em contraste, identificar exigências capitalistas sobre o trabalho, incluindo reduções em salários, bem-estar e segurança, é confrontar uma forma exploradora específica de comportamento de mercado onde capitalistas procuram ganhar lucros mais altos contra os interesses e o bem-estar da maioria dos trabalhadores assalariados.

Ao confundirem relações de mercado exploradoras sob o capitalismo com mercados em geral, os ideólogos alcançam vários resultados: Eles disfarçam o papel principal dos capitalistas quando evocam uma instituição com conotações positivas, isto é, um "mercado" onde pessoas compram bens de consumo e "socializam-se" com amigos e conhecidos. Por outras palavras, quando "o mercado", o qual é retratado como um amigo e benfeitor da sociedade, impõe políticas presumivelmente penosas é para o bem-estar da comunidade. Pelo é o que os propagandistas dos negócios querem que o público acredite ao mercadejarem sua virtuosa imagem do "mercado"; eles mascaram o comportamento predatório do capital na caça por maiores lucros.
Um dos eufemismos mais comuns lançado em meio a esta crise económica é "austeridade", um termo utilizado para encobrir as duras realidades de cortes draconianos em salários, pensões e bem-estar público e o aumento drástico de impostos regressivos (IVA). Medidas de "austeridade" significam políticas para proteger e mesmo aumentar subsídios do estado a negócios, criar lucros mais altos para o capital e maiores desigualdades entre os 10% do topo e os 90% da base. "Austeridade" implica auto-disciplina, simplicidade, parcimónia, poupança, responsabilidade, limites em luxos e gastos supérfluos, evitar a satisfação imediata em benefício da segurança futura – uma espécie de calvinismo colectivo. A conotação da palavra é o sacrifício compartilhado hoje para bem-estar futuro de todos.

Contudo, na prática "austeridade" descreve políticas que são concebidas pela elite financeira para implementar reduções no padrão de vida de uma classe específica e em serviços sociais (tais como saúde e educação) disponíveis para trabalhadores e empregados assalariados. Significa que fundos públicos podem ser desviados numa extensão ainda maior para pagar altos juros a possuidores de títulos ricos enquanto sujeitam a política pública aos ditames dos senhores do capital financeiro.

Ao invés de falar de "austeridade", com sua conotação de severa auto-disciplina, os críticos de esquerda deveriam descrever claramente as políticas da classe dominante contra o trabalho e as classes assalariadas, as quais aumentam desigualdades e concentram no topo ainda mais riqueza e poder. Políticas de "austeridade" são portanto uma expressão de como as classes dominantes utilizam o estado para comutar o fardo do custo da sua crise económica para cima do trabalho.

Os ideólogos das classes dominantes apropriaram-se de conceitos e termos, os quais a esquerda originalmente utilizou para o avanço de melhorias em padrões de vida e que se voltaram contra si. Dois destes eufemismos, tomados da esquerda, são "reforma" e "ajustamento estrutural". "Reforma, durante muitos séculos, referia-se a mudanças, as quais diminuíam desigualdades e aumentavam a representação popular. "Reformas" eram mudanças positivas que promoviam o bem-estar público e a restrição do abuso de poder por regimes oligárquicos ou plutocráticos. Ao longo das últimas três décadas, contudo, importantes académicos, economistas, jornalistas e responsáveis da banca internacional subverteram o significado de "reforma" transformando-o no seu oposto: agora refere-se à eliminação de direitos do trabalho, ao fim da regulamentação pública do capital e à redução de subsídios públicos que tornavam a alimentação e o combustível acessíveis aos pobres. No vocabulário capitalista de hoje "reforma" significa reverter mudanças progressistas e restaurar os privilégios de monopólios privados. "Reforma" significa acabar com a segurança de emprego e facilitar despedimentos maciços de trabalhadores pelo rebaixamento ou eliminação da indemnização por despedimento. "Reforma" já não significa mudanças sociais positivas; agora significa reverter aquelas mudanças arduamente conquistas e restaurar o poder irrestrito do capital. Significa um retorno à fase primitiva e mais brutal do capital, antes de existirem organizações de trabalhadores e quando a luta de classe era suprimida. Portanto "reforma" agora significa restaurar privilégios, poder e lucro para os ricos.

De um modo semelhante, os cortesãos linguísticos da profissão económica puseram o termo "estrutural", como em "ajustamento estrutural", ao serviço do poder desenfreado do capital. Ainda na década de 1970 a mudança "estrutural" referia-se à redistribuição da terra dos grandes latifundiários para os destituídos de terra; uma mudança de poder dos plutocratas para as classes populares. "Estruturas" referia-se à organização do poder privado concentrado no estado e na economia. Hoje, contudo, "estrutura" refere-se às instituições e políticas públicas, as quais tiveram origem nas lutas do trabalho e da cidadania para proporcionar segurança social, para proteger o bem-estar, saúde e aposentação de trabalhadores. "Mudanças estruturais" são agora o eufemismo para esmagar aquelas instituições públicas, acabar com os constrangimentos ao comportamento predatório do capital e destruir a capacidade do trabalho para negociar, lutar ou preservar seus avanços sociais.

O termo "ajustamento", como em "ajustamento estrutural" (AS), é em si próprio um eufemismo suave que implica sintonia fina, a modulação cuidadosa de instituições e políticas públicas que apoiam a saúde e o equilíbrio. Mas, na realidade, "ajustamento estrutural" representa um ataque frontal ao sector público e um desmantelamento geral de legislação protectora e de agências públicas organizadas para proteger o trabalho, o ambiente e os consumidores. "Ajustamento estrutural" mascara um assalto sistemático aos padrões de vida do povo em benefício da classe capitalista.

A classe capitalista tem cultivado uma safra de economistas e jornalistas que apregoam políticas brutais em linguagem suave, evasiva e enganosa a fim de neutralizar a oposição popular. Infelizmente, muito dos seus críticos "de esquerda" tendem a apoiar-se na mesma terminologia.

Dada a corrupção generalizada da linguagem, tão difusa nas discussões contemporâneas acerca da crise do capitalismo, a esquerda deveria cessar de se apoiar neste conjunto enganoso de eufemismos apropriados pela classe dominante. É frustrante ver quão facilmente as expressões seguintes entram no nosso discurso:

"Disciplina de mercado" – O eufemismo "disciplina" denota uma fortaleza de carácter séria e consciente em face de desafios em contraposição a comportamento irresponsável, escapista. Na realidade, quando vai a par com "mercado", refere-se a capitalistas a aproveitarem-se de trabalhadores desempregados e utilizarem sua influência política e o poder de despedirem massas de trabalhadores e intimidar os empregados remanescentes para maior exploração e excesso de trabalho, produzindo portanto mais lucro por menos pagamento. Ela também cobre a capacidade de grandes senhores capitalistas elevarem sua taxa de lucro cortando os custos sociais de produção, tais como protecção ambiental e do trabalhador, cobertura de saúde e pensões.

"Choque de mercado" – Refere-se a capitalistas ocupados com maciços e abruptos despedimentos brutais, cortes em salários e eliminação de planos de saúde e pensões a fim de melhorar cotações de acções, aumentar lucros e assegurar maiores bónus para os patrões. Ao ligar o termo suave e neutro de "mercado" com "choque", os apologistas do capital disfarçam a identidade dos responsáveis por tais medidas, suas consequências brutais e os imensos benefícios desfrutados pela elite.

"Exigências do mercado" – Esta frase eufemística é destinada a antropomorfizar uma categoria económica, afastar a crítica de proprietários reais de carne e osso, dos seus interesses de classe e do seu despótico estrangulamento do trabalho. Ao invés de "exigências de mercado", a frase deveria ser lida: "a classe capitalista ordena aos trabalhadores que sacrifiquem seus próprios salários e saúde para assegurar mais lucro para as corporações multinacionais" – um conceito claro que provavelmente despertará a ira daqueles adversamente atingidos.

"Livre empresa" – Um eufemismo que é a combinação de dois conceitos reais: empresa privada para lucro privado e competição livre. Ao eliminar a imagem subjacente do ganho privado para os poucos contra o interesse dos muitos, os apologistas do capital inventaram um conceito que enfatiza as virtudes individuais de "empresa" e "liberdade" em oposição aos vícios económicos reais da cobiça e da exploração.

"Mercado livre" – Um eufemismo que implica competição livre, justa e igual em mercados não regulados encobrindo a realidade da dominação de mercado por monopólios e oligopólios dependentes de maciços salvamentos do estado em tempos de crise capitalista. "Livre" refere-se especificamente à ausência de regulamentações públicas e intervenção do estado para defender a segurança dos trabalhadores bem como a do consumidor e a protecção ambiental. Por outras palavras, "liberdade" mascara a destruição desumana da ordem cívica por capitalistas privados através do seu exercício desenfreado do poder económico e político. "Mercado livre" é o eufemismo para o domínio absoluto de capitalistas sobre os direitos e meios de vida de milhões de cidadãos, na essência uma verdadeira negação da liberdade.

"Recuperação económica" – Esta frase eufemística significa a recuperação de lucros pelas grandes corporações. Ela disfarça a ausência total de recuperação de padrões de vida para as classes trabalhadora e média, a reversão de benefícios sociais e as perdas económicas de detentores de hipotecas, devedores, os desempregados a longo prazo e proprietários de pequenos negócios em bancarrota. O que é encoberto na expressão "recuperação económica" é como a pauperização em massa se torna uma condição chave para a recuperação de lucros corporativos.
"Privatização" – O termo descreve a transferência de empresas públicas, habitualmente aquelas lucrativas, para capitalistas de grande escala privados, bem conectados, a preços bem abaixo do seu valor real, levando à perda de serviços públicos, emprego público estável e custos mais elevados para os consumidores pois os novos proprietários privados elevam preços e despedem trabalhadores – tudo em nome de outro eufemismo: "eficiência".

"Eficiência" – Eficiência aqui refere-se apenas ao balanço de uma empresa; não reflecte os custos pesados da "privatização" arcados por sectores relacionados da economia. Exemplo: "privatizações" dos transportes aumentam custos de negócios a montante a jusante tornando-os menos competitivos em comparação com competidores em outros países; "privatização" elimina serviços em regiões que são menos lucrativas, levando ao colapso económico local e ao isolamento dos mercados nacionais. Frequentemente, responsáveis públicos, que estão alinhados com capitalistas privados, desinvestem deliberadamente em empresas públicas e nomeiam compadres políticos incompetentes como parte da política clientelista, a fim de degradar serviços e fomentar descontentamento público. Isto cria uma opinião pública favorável a "privatização" da empresa. Por outras palavras, a "privatização" não é um resultado das ineficiências inerentes das empresas públicas, como os ideólogos do capital gostam de argumentar, mas um acto político deliberado destinado o ganho do capital privado à custa do bem-estar público.

Conclusão
Linguagem, conceitos e eufemismos são armas importantes na luta de classe "dos de cima" concebidos por jornalistas e economistas capitalistas para maximizar a riqueza e o poder do capital. Na medida em que críticos progressistas e de esquerda adoptam estes eufemismos e seu quadro de referência, as críticas e alternativas que propõem são limitadas pela retórica do capital. Colocar "aspas" em torno dos eufemismos pode ser um sinal de desaprovação mas isto não promove o quadro analítico diferente que é necessário para o êxito da luta de classe dos "de baixo". Igualmente importante, deixa de lado a necessidade de uma ruptura fundamental com o sistema capitalista incluindo sua linguagem corrompida e seus conceitos enganosos. Os capitalistas subverteram em grande medida ganhos fundamentais da classe trabalhadora e estamos a cair outra vez em direcção ao domínio absoluto do capital. Isto deve relançar a questão de uma transformação socialista do estado, da economia e da estrutura de classe. Uma parte integral desse processo deve a rejeição total dos eufemismos utilizados pelos ideólogos capitalistas e a sua substituição sistemática por termos e conceitos que verdadeiramente reflictam a implacável realidade, que claramente identifiquem os perpetradores deste declínio e que definam as agências sociais para a transformação política.

18/Maio/2012

O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/?p=1898
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

24 de maio de 2012

A DITADURA MILITAR E AS CIDADES – O QUE A EUROPA TEM A VER COM ISSO


À época da ditadura militar foi criado o Conselho Interministerial de Preços. Os governantes militares perceberam que os movimentos de reação à ditadura nasciam nas cidades e a partir das cidades construíam suas teias de resistência, dificultando a ação predatória dos que governavam em funções de interesses de potência e grupos econômicos nacionais e estrangeiros.

O papel do Conselho Interministerial de Preços era estabelecer mecanismos de controle sobre preços de produtos ou serviços que pudessem afetar a população e assim aumentar a resistência à ditadura.

E que preços eram esses? Havia preocupação com o bem estar das pessoas? Claro que não.

Os militares, através de desse Conselho definiam o preço do cafezinho que se toma na rua e dos transportes coletivos. As prefeituras eram obrigadas a remeter as planilhas de custos para eventuais aumentos nas tarifas e o cafezinho tinha o preço imposto aos comerciantes.

No período anterior à ditadura militar o preço das tarifas de transportes coletivos urbanos eram decidido em discussão pública através de mensagem do Poder Executivo (Prefeito) à Câmara Municipal com participação popular, ou seja, aberta à presença popular, o que, muitas vezes, inibia aumentos extorsivos em favor de empresas e da costumeira “gratificação” aos que concedem aumento (temos um exemplo vivo disso no governo do ex-prefeito Alberto Bejani, recebendo essa “gratificação” de um empresário).

A discussão sobre o custo das tarifas de transportes coletivos mesmo com o fim da ditadura ficou restrita ao Poder Executivo (Prefeito) e seus secretários, além, evidente, dos empresários.

A população não tem idéia, não divulgam esses dados, de quantas pessoas numa cidade como Juiz de Fora fazem uso do transporte coletivo urbano, por mês, por exemplo. Em 1990 uma pesquisa apontou dez milhões de usuários mensais. É simples, as pessoas usam o transporte coletivo diariamente.

O cálculo do faturamento das empresas é fácil também de ser imaginado.

Transportes coletivos urbanos é um direito do cidadão e um dever do Estado.

Mas o que a Europa tem a ver com isso? O Partido Socialista Irlandês denunciou o Tratado de Austeridade Fiscal imposto pela União Européia, hoje sob controle de bancos e grandes corporações empresariais. É a mesma tarefa do Conselho Interministerial de Preços, noutra dimensão, muito maior e muito mais grave, pois interfere na própria soberania das nações membros, como na vida de cada um.

O desemprego na Espanha, em Portugal, a crise na França, na Inglaterra, na Irlanda, fatos que a mídia de mercado não anuncia, pois é parte desse jogo e seu papel é distrair o cidadão dos assuntos que lhe dizem respeito diretamente, afetam nossas vidas diretamente.

Esse fenômeno começa a acontecer em todo o mundo capitalista. As cidades asfixiadas por tratados nacionais, não é diferente no Brasil, onde o governo federal segue a risca as políticas de austeridade com cortes orçamentários na saúde, na educação, elevados custos dos serviços públicos, em detrimento de políticas de transformações sociais, que sempre chegam como paliativo, nunca como mudança da estrutura perversa sob a qual vivemos.

Desde a ditadura militar vivemos – em nossas cidades – submetidos ao controle da União e do estado, sem independência para as decisões que dizem respeito direto às nossas vidas. Transportes, saúde, educação, meio-ambiente, enfim, o que nos afeta diretamente, pois a vida começa nas cidades.

Prevalecem os interesses das grandes corporações e governos como o que temos (Custódio Matos) servem a essas corporações, dentre as quais os bancos, as mais perversas dentre elas.

O que são as “obras” realizadas pelo atual governo de Juiz de Fora?

São cosméticas, como que aplicações de um creme sobre o rosto para disfarçar rugas, no caso da cidade, obras que não modificam a essência dos problemas que nos afligem, que nos desafiam e impedem o bem estar pleno.

É o controle que o capitalismo estabelece em todo o mundo dentro das políticas neoliberais e do qual só sairemos se formos capazes de abrir espaços para a participação popular e mudanças estruturais – que são exigidas até nos EUA – para a construção da CIDADE CAMARADA.

A que significa bem estar, progresso comum a todos e tudo construído a partir das decisões populares.

O que o PCB defende é isso, democracia. Porque isso é democracia e não a farsa que vivemos hoje.

Democracia não se restringe a eleições de tempos em tempos, mas a participação popular em todo o processo de decisões. E nem o agente público detentor de mandato, qualquer que seja, recebe um cheque em branco do eleitor/cidadão.

Se olharmos com atenção que os fatos merecem, dizem respeito ao nosso dia a dia, aqui, na Grécia, onde os trabalhadores resistem em todas as cidades, iremos constatar que não vivemos numa democracia, mas numa farsa democrática conduzida pela “sociedade do espetáculo”, onde os valores reais da classe trabalhadora são substituídos pelo show, em detrimento do que é realidade.

21 de maio de 2012

A PRIVATARIA TUCANA EM JUIZ DE FORA

Fonte: Blog do Miro
O prefeito Custódio Matos quer privatizar o Restaurante Popular. Demagogo, além de deixar a obra – com verba federal – para ser inaugurada em ano de eleições como se fosse um feito seu, quer beneficiar empresas amigas em cima de direitos básicos da classe trabalhadora.

A Prefeitura privatiza, o cidadão paga a privatização através do subsídio que a empresa vai receber e imagina que está tendo um restaurante de fato popular, a baixos custos.

É o jeito tucano de governar. Privatizar direitos essenciais dos trabalhadores. Fazer com que esses direitos, na mágica perversa do neoliberalismo, sejam pagos pelo cidadão duas vezes, enquanto vende o marketing que se trata de um governo popular.

A administração Custódio Matos tem privatizado todos os serviços fundamentais da Prefeitura. Uma força tarefa para investigar esses contratos – a Câmara Municipal está longe de cumprir o seu papel fiscalizador – é fundamental. A participação popular para evitar que esses desmandos permaneçam é essencial.

Se olharmos a cidade vamos perceber sem muito esforço que a saúde está uma lástima por conta da privatização. Que a educação sucateada com professores sem condições de trabalho à altura da função que exercem e com salários baixíssimos. Que os transportes públicos se transformaram num exercício de sobrevivência do cidadão. Que as obras feitas em ano eleitoral têm um único objetivo, já que nos anteriores o prefeito não apareceu para trabalhar, qual seja o de buscar a reeleição e assim manter-se e a seu grupo no poder, enquanto vai privatizando a cidade.

A segurança pública hoje é caso de calamidade e a insegurança aumenta dia a dia.

Quem lucra com isso? Empresas, corporações, como no caso do lixo, que chegam de outros lugares (os tucanos operam em equipe até a DELTA ganhou licitações aqui em Juiz de Fora) e tiram seus lucros às custas do suor da classe trabalhadora.

Não há cidade que possa ser construída sem participação popular e com espírito camarada.

Custódio não tem menor a idéia do que seja isso, pois despreza e tem medo do povo. Exceto na hora de comprar votos.

12 de maio de 2012

SEMINÁRIO: A CRISE DO CAPITALISMO: A OFENSIVA IMPERIALISTA E A LUTA PELO SOCIALISMO



imagemCrédito: 3.bp.blogspot
Semana dos 90 Anos do PCB (Partido Comunista Brasileiro) – Rio de Janeiro
“Europa: Crise, retirada de direitos e resistência popular”
Brasil, Março de 2012
Os comunistas espanhóis perante o atual momento da crise capitalista.
Severino Menéndez
Membro do Comitê Executivo do PCPE
Estimados camaradas:
Em nome do Comitê Central do Partido Comunista dos Povos da Espanha, gostaria de agradecer ao Partido Comunista Brasileiro o convite para estar presente nestes atos de celebração de seu 90º aniversario, assim como neste seminário internacional sobre a crise do capitalismo. Ao mesmo tempo, quero estender a mais fraternal saudação internacionalista e proletária a todos os demais partidos presentes no restante das atividades desta semana.
A classe operária e os setores populares estão vivendo um período tremendamente duro nos países dos quais vieram os três convidados que estão hoje presentes nesta mesa. A brutalidade e a rapidez com que estão sendo retirados direitos históricos da classe trabalhadora, com que estão desmontando os restos daquele modelo de gestão do capitalismo que se conheceu como Estado de bem-estar social, não fazem senão demonstrar que a oligarquia e seus representantes políticos têm um plano muito claro para solucionar sua crise: a intensificação da exploração da classe trabalhadora, a diminuição do preço da força de trabalho como via para conter a tendência decrescente da taxa de lucro e tratar de reiniciar um novo ciclo de reprodução do capital.
Este brutal ataque contra os direitos, não apenas trabalhistas, mas também sociais, da classe operária e dos setores populares, não é exclusivo de nossos países, nem é uma consequência exclusivamente do início da crise estrutural do capitalismo. O PCPE, junto com outros partidos irmãos, analisa que estas medidas continuam a linha anti-operária que a UE vinha aplicando antes do início da crise, mas que agora se acelerou e multiplicou ante o perigo da queda do modelo capitalista. Ou seja, as medidas anti-operárias não se devem a uma concreta gestão da crise capitalista, senão ao fato de que são a continuação acelerada do que já estava escrito no Tratado de Maastricth, no Pacto de Estabilidade e na própria natureza da União Econômica e Monetária e o Mercado Único.
Do desenvolvimento atual da crise capitalista em nosso país e em nosso entorno mais próximo, o PCPE extraiu uma série de conclusões que consideramos muito úteis e que queremos compartilhar com os demais partidos e pessoas presentes:
1) O ataque se centra fundamentalmente nos direitos trabalhistas, econômicos e sociais da classe operária e dos setores populares, sem tocar em nenhum dos privilégios da oligarquia.
Os governos desmontam os serviços públicos, como a saúde e a educação, rebaixam os salários e as ajudas sociais, aumentam os impostos indiretos, tudo isso com a intenção de abrir novos mercados à acumulação capitalista e de aumentar a extração de mais valia aos trabalhadores. Não apenas fica demonstrado, assim, o caráter de classe do Estado burguês, bem como se confirma novamente a análise marxista sobre a gestão da crise sob o capitalismo. Com maior clareza que nunca se coloca hoje a disjuntiva entre capitalismo ou barbárie.
2) O ataque contra a classe operária e setores populares é executado indistintamente por governos de centro-direita ou de centro-esquerda, social-democratas ou liberais.
É indiferente a denominação que tenha um governo ou outro, as políticas a aplicar são essencialmente do mesmo tipo, posto que são políticas ditadas pela oligarquiaem seu próprio benefício. No caso espanhol, após o irromper da crise em 2007, foi o governo do Partido Socialista Obreiro Espanhol que aprovou a primeira contra-reforma trabalhista, e é agora o Partido Popular de Mariano Rajoy que executa a segunda, que aprofunda na mesma linha que a anterior.
3) A batalha ideológica se intensifica diante da demonstração evidente dos limites do capitalismo.
A classe operária e os setores populares começam a visualizar que o capitalismo só vai gerar mais miséria para eles, mais desproteção social e mais incertezas. Por isso os ideólogos da oligarquia se esforçam por lançar constantemente mensagens para desmobilizar e atemorizar as massas que a muitos dias vêem como seus níveis de vida pioraram. A intensificação da histeria anticomunista e a criminalização das lutas operárias e populares são aspectos dessa ofensiva ideológica do capital.
4) O reformismo se oferece como gestor dos interesses da oligarquia.
Um dos elementos mais preocupantes, expressão dessa luta ideológica, é que no seio do movimento operário e popular as posições hegemônicas, atualmente, promovem uma posição de compromisso e pacto pela gestão do modelo capitalista, e fomentam reivindicações de caráter idealista, distraindo à maioria social das verdadeiras causas da crise capitalista, assinalando possíveis vias de saída que favorecem aos interesses da oligarquia e não aos da classe operária e setores populares.
5) A necessidade que tem a oligarquia de destruir forças produtivas acrescenta o perigo de uma guerra imperialista.
O sistema imperialista necessita da guerra e da destruição para garantir a rentabilidade do capital. Em um cenário de crescentes disputas interimperialistas pelo controle dos recursos e dos mercados, a opção pela guerra está sempre presente. Isso temos visto nos Bálcãs, Iraque, Afeganistão e Líbia, e ameaçam agora a Síria e o Irã. Consideramos fundamental que a classe operária volte a levantar firmemente a bandeira da luta contra a guerra imperialista, que não deve se deixar envolver pelos conflitos entre potências imperialistas e deve buscar a alternativa socialista, única que permitirá aos povos conviver em paz.
6) A alternativa socialista se apresenta como a única saída útil para os interesses do povo trabalhador em seu conjunto.
As dinâmicas próprias do capitalismo estão demonstrando que não há marcha atrás possível, que se o capitalismo sobrevive a esta crise, será somente sob a premissa de que as condições de vida e trabalho do povo trabalhador não serão como no período após a II Guerra Mundial, mas que serão muito piores. Em função da capacidade dos destacamentos de vanguarda da classe operária para aplicar corretamente as conclusões práticas que se extraem do desenvolvimento da crise, cada vez mais e mais setores da classe operária elevarão sua consciência e reconhecerão sua tarefa histórica como coveiros do capitalismo.
Camaradas, a realidade está confirmando nossas análises e a justeza das posições marxistas-leninistas. Porém, o elemento determinante é nossa capacidade prática de combater nas muitas frentes que hoje temos aberto, no campo ideológico, político e organizativo. O PCPE reivindica uma série de eixos básicos para esta etapa das lutas na Espanha:
- lograr a mais ampla unidade da classe em torno dos Comitês para a Unidade Operária (CUO): em um momento de intensificação dos ataques, a classe operária não pode responder desunida e dispersa em distintos guarda-chuvas organizativos, cujas cúpulas dirigentes aceitaram o modelo do pacto social e o compromisso. Para o PCPE a constituição de Comitês para a Unidade Operária (CUO) é uma tarefa prioritária nestes momentos. Supõe uma aposta por estruturar uma frente classista no seio do movimento operário e sindical desde uma tripla perspectiva: a organização nos centros de trabalho, a assembleia como órgão decisório e a unidade, independentemente das siglas sindicais às quais cada trabalhador ou trabalhadora possa pertencer. As experiências que até agora temos tido nesta tarefa são esperançosas, porém, os desafios e as dificuldades também são grandes.
- reivindicar a saída imediata de todas as estruturas de caráter imperialista: não apenas o movimento operário e sindical, senão toda a classe operária e os setores populares deverão ter uma correta orientação de suas lutas, e poderão caracterizar autonomamente as estruturas que o inimigo de classe utiliza contra eles mesmos e contra os povos. No caso da Espanha, assim como no resto dos países aqui representados. Hoje, a caracterização da União Europeia é um assunto crucial que determina a orientação correta das lutas operárias e populares. Não se pode negar que a União Europeia é uma união imperialista a serviço dos monopólios, e que este caráter não é modificável, não é reformável. Sob condições de capitalismo monopolista, toda união interestatal se faz no interesse do capital, não dos povos. É esta uma parte básica da análise leninista sobre o imperialismo que nunca podemos esquecer, e que está completamente vigente. A necessidade de melhorar a posição relativa na cadeia imperialista mundial não é uma necessidade da classe operária, é uma necessidade dos capitalistas.
- fortalecer o Partido Comunista, reforçando seu caráter bolchevique e sua unidade ideológica em torno do centralismo democrático e do marxismo-leninismo, como únicas garantias do desenvolvimento de uma política autônoma dos e das comunistas. A corrente eurocomunista impregnou de uma maneira ampla as fileiras comunistas de nosso país, levando a boa parte dos setores mais conscientes da classe a essas posições subsidiárias da ideologia dominante. A crença na democracia burguesa como democracia abstrata e despojada do caráter de classe; o conceito de violência desde a visão da burguesia, invisibilizando a violência da exploração do proletariado como violência diária e intrínseca do sistema; e, em última instância, a renúncia à tomada do poder como uma ação revolucionária fora dos consensos do sistema dominante, foram os eixos fundamentais para o desarme político e ideológico da ação revolucionária.
-redobrar a luta ideológica em todas as frentes: as medidas promovidas pela UE e aplicadas pelos distintos governos têm que ser quebradas também no âmbito ideológico. É essencial que as massas entendam que estes tipos de medidas não são a única alternativa possível, senão que esta é a possibilidade de lutar pela tomada do poder, a derrocada do capitalismo, a construção do socialismo-comunismo. A elevação do nível de consciência da classe operária e dos setores populares depende também da capacidade com que os comunistas sejamos capazes de confrontar com as expressões políticas e organizativas da pequena-burguesia e das camadas medias que, em pleno processo de proletarização, reagem mediante mecanismos pouco efetivos para uma luta sem quartel contra o capitalismo, e geralmente em contradiçãocom as ferramentas clássicas do movimento operário: o Partido Comunista e o sindicato.
Camaradas, para finalizar, permitam-me assinalar outro elemento que é hoje de uma importância capital nas lutas que temos por diante. É necessário que o Movimento Comunista Internacional se fortaleça. É essencial que os partidos comunistas e operários desenvolvam ao máximo nosso exercício do internacionalismo proletário e nos apoiemos mutuamente nas duras situações que enfrentam nossa classe e os setores populares de nossos respectivos países.
Para o PCPE, a reconstrução do Movimento Comunista Internacional desde a ótica do marxismo-leninismo passa invariavelmente pela superação das dinâmicas de rigidez e paralisia que hoje sufoca a muitos dos partidos comunistas e operários, e que impedem que sejamos capazes de avançar mais rápido do que poderíamos na reconstrução da Internacional Comunista, verdadeira arma internacional da classe operária revolucionária para confrontar-nos com um inimigo de classe que atua cada vez mais com menor respeito pelas fronteiras dos Estados.
O triunfo das posições revisionistas e oportunistas no seio de muitos partidos comunistas e operários levou à perda de sua capacidade de análise autônoma, e ao encobrimento dos mesmos sob o manto da retórica para deter a necessária unidade do Movimento Comunista Internacional. O PCPE participa ativamente em todas aquelas iniciativas encaminhadas para fortalecer e desenvolver o MCI desde uma perspectiva revolucionária, assumindo que no passado nosso movimento cometeu graves erros. Este fortalecimento e desenvolvimento do MCI exige reconhecer que o mesmo se foi fracionando devido à operatividade de posicionamentos contrários ao marxismo-leninismo, anti-científicos ou diretamente contra-revolucionários, operatividade essa hoje já escassa, porém tendente sempre a causar dano aos que lutam honestamente pela construção do socialismo-comunismo nos planos teórico e prático.
Camaradas, a resposta operária e popular na Espanha é crescente. Para o próximo dia 29 de março está convocada a segunda Greve Geral em um ano e meio, que as cúpulas sindicais do pacto social atrasaram todo o tempo que puderam. Para o PCPE é uma oportunidade de redobrar a dinâmica de luta, e assim se trabalha por toda nossa militância, assim como é uma oportunidade de ajudar a articular a Frente Operária e Popular pelo Socialismo, que abrirá o caminho para a Revolução Socialista na Espanha, única saída para nossa classe e nosso povo.
Tradução: PCB – Partido Comunista Brasileiro
Entrevista com o secretário de Solidariedade Internacional do PCB, José Renato

Entrevista com o secretário de Solidariedade Internacional do PCB, José Renato



imagemCrédito: Flickr
O Portal do PCB entrevista Jose Renato André Rodrigues, membro do Comitê Central do PCB que esteve presente na Marcha Patriótica, na Colômbia. Nessa conversa, José Renato explica as reivindicações da Marcha e fala um pouco sobre a realidade colombiana.
- Qual sua percepção sobre esses dias na Colômbia? Como se desenvolve a luta de classes no país, pelo que você pode observar?
Pude ver muita mobilização e ação das forças anticapitalistas da cidade e do campo, além do movimento estudantil.
- A violência estatal se faz presente nas cidades?
Sim.Há muitos policiais nas ruas, me parece que a polícia é subordinada ao Exército e funciona como uma Guarda Nacional. Talvez por isso os camaradas colombianos tenham tido muito cuidado com nossa segurança, os estrangeiros que ali estávamos, principalmente com os europeus. Nós brasileiros, e outros latino-americanos, nos confundíamos com os colombianos. O Estado colombiano é um estado militarizado, e as burguesias o olham como modelo de segurança publica.
- A Marcha Patriótica abarcou que setores da sociedade?
Indígenas, afrodescendentes, mulheres, estudantes, camponeses e outros. Nas cidades ocorre o problema da criminalização e perseguição das lideranças sindicais, além da cooptação de parte do movimento sindical urbano. A CUT, central unitária dos trabalhadores, está cooptada pelo governo, o atual vice-presidente foi do movimento sindical. As medidas de impacto, que prometem emprego, habitação e consumo, conseguem confundir uma parcela das classes trabalhadoras urbanas.
- Quais as principais reivindicações da Marcha? E os encaminhamentos por ela tirados?
A Marcha aponta para a solução dos reais problemas econômicos das grandes massas trabalhadoras colombinas, a ampliação de direitos sociais, o fim da política privatista como a expansão do ensino privado e a demarcação das terras indígenas. Além disso, pede o fim das discriminações de todo tipo, liberdade para os presos políticos, respeito aos Direitos Humanos, a construção de habitações populares e a remoção de famílias das regiões de risco, além da ampliação dos serviços médicos, de transportes, o crédito ao pequeno agricultor.
Há ainda a cobrança de uma solução política para o conflito colombiano e o reconhecimento das FARC-EP como força beligerante. Somado a tudo isso o pedido de retirada das bases dos Estados Unidos e o fim dos acordos militares da Colômbia com o imperialismo.
- De que forma o capitalismo brasileiro está presente na Colômbia?
Através de um acordo militar, o Brasil vem fornecendo armas como os aviões Tucano às Forças Armadas colombianas, que utilizam o equipamento para assassinar trabalhadores. Há ainda acordos e troca de informações nas áreas de segurança, como entre o Estados do Rio de Janeiro e as cidades de Medellín e Bogotá.
Basta ver a proliferação das milícias no Grande Rio, e grupos de extermínio na Baixada Fluminense. São exemplos desta mesma "política" de segurança que é aplicadas lá. Não há ausência e sim conivência do Estado com estes grupos, tanto lá quanto aqui.
Pelas informações divulgadas na imprensa, podemos saber ainda de contratos com empresas brasileiras e muitos acordos entre os empresários dos dois países para expandir os interesses comuns e fortalecer ambas as burguesias.
- Houve algum tipo de repressão ou represália? E intimidações de forças paramilitares?
Sim. Enquanto estivemos lá um dirigente da Marcha Patriótica desapareceu, e pelo que sei continua desaparecido. Além disso, assassinaram um dos seguranças do camarada do Partido Comunista Colombiano, o Carlos Lozano.
- De que forma o PCB pode contribuir para a luta por paz com justiça social na Colômbia?
O PCB possui um longa tradição internacionalista. Roberto Morena,David Capistrano, Dinarco Reis e outros saíram do Brasil para lutar na Guerra Civil Espanhola contra os fascistas. De lá lutaram na Resistência Francesa. O nosso partido esteve na linha de frente contra o envio dos soldados brasileiros à Guerra da Coréia. Temos ainda nossa participação na solidariedade ao Vietnã, Cuba e Nicarágua.
Agora, na questão colombiana, não podíamos estar de fora, mesmo que custe a imprensa burguesa nos acusar por conta de nossa solidariedade ao povo colombiano, como acontece muitas vezes. Estamos construindo com outros segmentos a Agenda Colômbia-Brasil, estamos lutando para articular os diversos segmentos para sensibilizar a opinião publica a buscar uma solução política para o conflito colombiano, estamos de corpo e alma com a nossa militância na solidariedade internacionalista ao povo colombiano.