26 de abril de 2013

Jovem brasileiro é preso acusado de atirar pedras em soldados israelenses


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O adolescente Majd Hamad, de 15 anos, filho de uma brasileira e que vinha sendo procurando pelo Exército israelense sob acusação de jogar pedras contra as tropas, se entregou neste domingo em uma delegacia de polícia na Cisjordânia.
Acompanhado pela mãe, Najat Hamad, que nasceu em Goiás, e pelo ministro-conselheiro do escritório de Representação do Brasil em Ramallah, João Marcelo Soares, ele chegou pela manhã ao posto policial Binyamin, perto de Ramallah.
Após cerca de uma hora de interrogatório, durante o qual as autoridades não permitiram a presença da mãe ou do diplomata, Majd ficou detido no local e, de lá, deverá ser transferido para a prisão de Ofer.
De acordo com a mãe, "quando saiu do interrogatório, ele estava muito nervoso e com olhos vermelhos, mas não me deixaram falar com ele".
O adolescente é acusado de jogar pedras contra soldados israelenses durante uma manifestação no dia 11 de abril, nas proximidades do vilarejo de Silwad, onde mora. Najat Hamad, nascida na cidade de Anápolis, afirma que seu filho não participou da manifestação em questão. "Naquele dia, eu e meu marido decidimos não deixar Majd sair de casa, pois a situação estava tensa em Silwad, depois que colonos de um assentamento próximo espancaram um agricultor palestino", disse a mãe à BBC Brasil.
Segundo o porta-voz do Exército israelense, capitão Barak Raz, "o Exército não prende ninguém à toa. Se foi preso, é sinal de que há provas contra ele", disse citando a possibilidade de haver vídeos, fotos ou depoimentos envolvendo o nome do adolescente.
Buscas
De acordo com o relato da mãe, soldados israelenses invadiram a casa da familia às 2 horas da manhã do sábado (13).
"A familia inteira estava dormindo quando ouvimos batidas muito fortes na porta", disse a brasileira. "Minha filha de 13 anos foi abrir e se deparou com um grupo de soldados com fuzis apontados para a cabeça dela."
"Eles entraram rapidamente e começaram a revistar a casa. Reuniram a nossa família na sala e começaram a procurar nos quartos", disse a mãe. "Eu tinha certeza de que eles estavam procurando meu marido e fiquei muito surpresa quando um dos soldados me disse que vieram prender Majd. Eu disse a ele que Majd tinha ido dormir na casa de parentes e que ele é muito pequeno, só tem 15 anos", afirmou.
Ao fim da operação de busca, a mãe prometeu aos militares que entregaria seu filho às autoridades israelenses neste domingo.
Fiança
O diplomata brasileiro João Marcelo Soares, que acompanhou a apresentação do adolescente à delegacia, disse à BBC Brasil que "as autoridades israelenses me informaram que os interrogatórios ainda estão em curso e, ao final, haverá uma decisão sobre o pedido de libertação sob fiança".
"Caso o pedido seja negado, amanhã (segunda-feira), os menores serão levados a um tribunal militar, que deverá reconsiderar o pedido", acrescentou.
Majd Hamad foi preso juntamente com mais quatro colegas da mesma classe, todos de 15 ou 16 anos. Sua mãe, Najat Hamad, que mudou-se para a Cisjordânia há 17 anos, disse que "não esperava que aqui prendessem crianças desse jeito".
"O que são pedras diante das metralhadoras e dos veículos blindados do Exército israelense?", perguntou. O Exército israelense define o lançamento de pedras como "atentados terroristas que podem matar".
Unicef
Em março, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) publicou um relatório acusando Israel de violar os direitos de crianças e adolescentes palestinos presos.
O relatório afirma que "menores de idade palestinos detidos por militares israelenses são sujeitos a maus tratos que violam a lei internacional".
De acordo com o Unicef, a cada ano cerca de 700 menores palestinos, entre 12 e 17 anos, são interrogados e detidos pelo Exército, pela polícia e por agentes de segurança de Israel.
Segundo o presidente da Associação dos Prisioneiros Palestinos, Kadura Farez, atualmente há cerca de 200 menores palestinos presos em cadeias israelenses.
Farez disse à BBC Brasil que, nas cadeias israelenses, os menores "têm o mesmo tratamento que os adultos, não há prisões especiais para as crianças".

25 de abril de 2013

Presidente da Nestlé diz que água deve ser privatizada

Presidente da Nestlé diz que água deve ser privatizada



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Na opinião de Peter Brabeck, a água deveria ser tratada como qualquer outro bem alimentício e ter um valor de mercado estabelecido pela lei de oferta e procura
24/04/2013
(Tradução de José Francisco Neto)
Peter Brabeck-Letmathe, um empresário austríaco que é presidente do grupo Nestle desde 2005, afirma que é necessário privatizar o fornecimento da água. Isso para que nós, como sociedade, tomemos consciência de sua importância e acabássemos com o subpreço que se produz na atualidade.
Palavras sujas que provocaram estupor, sobretudo quando se tem em conta que a Nestlé é a líder mundial na venda de água engarrafada. Um setor que representa 8% de seu capital, que em 2011 totalizaram aproximadamente 68,5 bilhões de euros.
Brabeker junta essa a outras críticas, destacando que o fato de muitas pessoas terem a percepção de que a água é gratuita faz com que em várias ocasiões não lhes dê valor e a desperdiçam.  Assim sustenta que os governos devem garantir que cada pessoa disponha de 5 litros de água diária para beber e outros 25 litros para sua higiene pessoal, mas que o resto do consumo teria que gerido segundo critérios empresariais.
Apesar das rejeições que sua posição provoca, faz tempo que ele defende, sem cerimônia, com entrevistas como esta que aparece no vídeo abaixo, que qualifica de extremistas as ONGs que sustentam que a água deveria ser um direito fundamental.
Em sua opinião, a água deveria ser tratada como qualquer outro bem alimentício e ter um valor de mercado, estabelecido pela lei de oferta e procura. Só desta maneira, aponta, empreenderíamos ações para limitar o consumo excessivo que se dá nesses momentos.
Foto: Reprodução
Índios foram roubados por agentes do governo depois de massacre

Índios foram roubados por agentes do governo depois de massacre

Relatório da década de 1960 sobre barbáries em tribos brasileiras mostra que terras e riquezas de aldeias foram saqueadas por agentes do governo que deviam protegê-las
Publicação: 21/04/2013 06:00Atualização: 21/04/2013 08:16
Documento revelado pelo Estado de Minas aponta uso de notas frias para arrendar áreas no interior do país
Passados 50 anos de uma batalha sangrenta entre fazendeiros locais e índios cadiuéus do Sul do Mato Grosso, uma pergunta inquietante ressuscita com o recém-redescobertoRelatório Figueiredo, que apurou em 1968 chacinas de tribos e torturas em índios de todo o país: o que aconteceu naquele conflito? Documento produzido pela Associação de Criadores do Sul do Mato Grosso, em 5 de janeiro de 1963, e anexado à extensa investigação feita pelo procurador Jader de Figueiredo para o Ministério do Interior relata pedido do mais famoso líder da repressão da ditadura de Getúlio Vargas, o então senador Filinto Müller, que rogava para que o general comandante da 9ª Região Militar fosse informado do conflito armado. Müller afirmou que trataria pessoalmente da situação com a direção do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), reportadamente suspeito, segundo Figueiredo em seu relatório, revelado pelo Estado de Minas.
Saiba mais...
As terras dos cadiuéus, 374 mil hectares em um local chamado Nabileque, foram usurpadas, assim como ocorreu com diversas outras tribos. Segundo aponta o inquérito de 7 mil páginas, que era tido como destruído em um incêndio no Ministério da Agricultura, os terrenos foram dados a eles por dom Pedro II, pela participação decisiva que tiveram na Guerra do Paraguai. No entanto, ele diz em outro trecho do texto que elas “foram invadidas por poderosos fazendeiros e é muito difícil retirá-los um dia”.
Matérias publicadas sexta-feira e ontem no Estado de Minas revelaram a surpreendente história do documento que estava em caixas do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, desde 2008, e passou mais de 40 anos com o paradeiro desconhecido. Somente no fim do ano passado um pesquisador paulista se deu conta de que as mais de 7 mil páginas guardadas entre um grande volume de papelada eram, na verdade, o inquérito e o relatório de 62 páginas produzidos a pedido do ministro do Interior, Albuquerque Lima. O único registro que se tinha desse material, que denuncia caçadas humanas de indígenas feitas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, trabalho escravo de índios, torturas, prostituição e incontáveis crueldades contra tribos brasileiras, eram matérias publicadas em março de 1968, quando o ministro concedeu entrevista que teve repercussão internacional.
Nas páginas amareladas pelo tempo, além das barbaridades recorrentes que indicam que o índio não era tratado como ser humano, uma preocupação constante do advogado que liderou as investigações é a usurpação indiscriminada de terras e riquezas indígenas, feita, inclusive, pelo próprio SPI. “Abatem-se florestas, vendem-se gados, arrendam-se terras, exploram-se minérios. Tudo é feito em verdadeira orgia predatória porfiando cada um em estabelecer novos recordes de rendas hauridas à custa da destruição das reservas do índio”, escreveu Figueiredo perplexo. “Basta citar a atitude do diretor major-aviador Luis Vinhas Neves”, ele prossegue, se referindo ao coordenador do SPI, que teria autorizado todas as inspetorias a vender madeira e gado, e a arrendar terras. “Aliás, esse militar pode ser apontado como padrão de péssimo administrador, difícil de ser imitado, mesmo pelos seus piores auxiliares e protegidos”, acrescenta o procurador.
Nova peça do quebra-cabeça
Telegrama anexado ao inquérito e assinado pelo então secretário do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, José Maria da Gama Malcher, endereçado ao deputado Valério Caldas Magalhães, que presidia uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre abusos contra indígenas, datado de 14 de maio de 1963, pode ser mais uma peça-chave no quebra-cabeça que busca desvendar as crueldades cometidas na história recente do país contra tribos brasileiras. José Maria pede ao deputado que solicite à Presidência da República o Processo 22.755/61, que estava arquivado desde outubro de 1961 e que seria de interesse dos índios. “É curioso que o segundo volume do relatório, onde essa documentação poderia estar anexada, sumiu”, afirma o vice-presidente do Tortura Nunca Mais de São Paulo, Marcelo Zelic, que foi quem descobriu o paradeiro do Relatório Figueiredo. Dos 30 tomos originais que compunham o documento, 29 foram encontrados quase intactos.
A coordenadora do núcleo da Comissão Nacional da Verdade responsável pela investigação de violações de direitos relacionados à luta pela terra, Maria Rita Kehl, sustenta que há tempo hábil para examinar todas as denúncias contidas no inquérito e que o papel da comissão é procurar casos exemplares. Ela comemorou a recuperação do relatório e o considerou um divisor de águas nas políticas indigenistas do país, pois pouco depois o antigo SPI foi extinto e foi criada a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Maria Rita informou que a comissão ainda aguarda a conclusão do trabalho de digitalização da papelada para então começar a estudá-la. “Não posso falar sobre o relatório porque ainda não o conheço, mas é um documento oficial importante. Posso adiantar que é impossível pesquisar todas as acusações contidas nele.” Já Marcelo Zelic, que colabora com os trabalhos da comissão, defende que todas as denúncias devem ser investigadas. “Se não temos tempo, vamos pedir a prorrogação do prazo. Vamos pedir mais estrutura para a apuração de todos esses casos, e não só os exemplares. Investigar casos exemplares não vai resolver. Imagine dizer isso para a família de um desaparecido político”, provoca.


Lula dará suas receitas de bolo para a exploração sem contestação no NYT

Lula dará suas receitas de bolo para a exploração sem contestação no NYT



Olhar Comunista dessa quarta comenta a notícia de que o ex-presidente Lula será colunista do New York Times. Agora, o burguês global que quiser aprender como elevar a exploração dos trabalhadores sem a contestação destes não precisará mais pagar US$ 200 mil ao pelegão, bastará ler o jornal nova-iorquino.
O ex-presidente está cheio de si, ferindo ainda mais o ego de seu antecessor FHC - que por ter servido tão bem à burguesia internacional deve estar se perguntando o porque dele não ter sido o escolhido. Simples, Fernandinho: Luis Inácio conseguiu o mesmo que você com o "plus" de ter colocado a maioria dos movimentos sociais no bolso. Convenhamos que para a burguesia é bem melhor explorar sem ter de ouvir reclamações, não é?
Agora, nosso "enfant terrible" fará parte do "jet set" burguês global com sua coluna no jornalão norte-americano. É a popularização dos ensinamentos de como manter os trabalhadores anestesiados, algo muito útil para o sistema em tempos de crise... Afinal de contas, nem todo banqueiro, empreiteira, enfim, burguês pode se dar ao luxo de pagar US$ 200 mil pelas "palestras" do ex-presidente. A burguesia global agradece aos proprietários do New York Times: ganharam um ótimo consultor ao módico preço de um jornal.

O novo que nasce velho

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Jacques Gruman
A juventude de hoje deseja um mundo mais justo, mas dentro da estrutura da sociedade em que vive. O que sinto nela é a falta de fé na História (Olivier Assayas, diretor de cinema)
O logotipo no envelope não deixava dúvidas. Justiça Eleitoral ? Véspera de eleições ? Claro que devia ser uma convocação para trabalhar como mesário. Não deu outra. 1989 era o ano e eu presidiria uma seção eleitoral, justamente no primeiro pleito direto para presidente depois da ditadura. Os votos ainda eram impressos e, no final do dia, entre orgulhoso e cansado, bati uma foto com meus auxiliares. Não é que tínhamos tirado uma casquinha acidental daquele momento histórico ?
O reinício de eleições diretas para a presidência da República teve uma novidade importante. Pela primeira vez em quase quarenta anos, o PCB, partido mais antigo do país, lançava candidato próprio. Em 1950, na sombra da ilegalidade e ainda na esteira da popularidade pós-Segunda Guerra Mundial e do carisma de Luiz Carlos Prestes, o partido tivera cerca de 10% dos votos, com um candidato desconhecido e inexpressivo: o engenheiro Yedo Fiúza. No final dos anos 80, era a vez de Roberto Freire.
Com discurso fluente, Freire recolocou os comunistas do PCB no mapa eleitoral do Brasil. Percorreu o país, sonhando aglutinar as forças de esquerda em torno de sua candidatura. Criticou duramente as fumaças de privatização que já começavam a vazar da burguesia, afirmando que, antes de tudo, era necessário “desprivatizar o Estado”. No fim, ganhou pouco mais de 1% dos votos. Foi a colheita da política desastrosa de conciliação de classes que o partido seguira dogmaticamente, quando as bases sociais da ditadura balançavam e as lutas populares acuavam a caserna.
Não demorou muito e as lutas internas do PCB, agravadas pelos acontecimentos do leste europeu, levaram a mais um racha. Em 1991, Freire estava alinhado aos que, no IX Congresso do partido, tentaram liquidá-lo. Encontrando severa resistência de dirigentes e militantes, parte do Comitê Central convoca, então, um Congresso Extraordinário, tendo como ponto único de pauta a criação de uma “nova formação política”. Para evitar surpresas, os liquidacionistas usaram um expediente malandro e inescrupuloso: não-filiados foram aceitos como delegados ao Congresso, com direito a voto. Cooptaram, assim, simpatizantes identificados com suas teses, garantindo tranquila maioria. Militantes e dirigentes que repudiaram essas manobras realizaram, de imediato, uma Conferência Nacional de Reorganização do PCB. Horácio Macedo e Ivan Pinheiro discursaram no Congresso liquidacionista e suas falas foram premonitórias. Do Congresso adulterado nasceu o PPS, que a imprensa, por má-fé ou ignorância, ainda chama de sucessor do PCB.
Não satisfeitos, os pepessistas tentaram transferir o que seria uma luta política para o terreno burocrático-estatal. Roberto Freire deu entrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial com um processo para, pasmem !, registrar a exclusividade do direito de uso da sigla e do símbolo do PCB. Seria risível se não fosse uma farsa abjeta, de coveiros de uma tradição que pedia debate, e não capitulação. Claro que os técnicos do INPI receberam o pedido com o desprezo que merecia. Compreenderam a patuscada e jogaram no lixo da História a tentativa vergonhosa.
Com um trabalho incansável, ativistas e militantes do PCB recuperaram o registro da sigla. Enquanto isso, os pepessistas, sempre sob a liderança de Roberto Freire, adernaram, lenta, gradual e consistentemente para a direita. Defenderam os processos de privatização, apoiaram o PROER (que salvou a cara dos banqueiros), aliaram-se, não raro, ao que há de pior na política nacional, aboliram o socialismo do discurso (embora o tenham conservado, cinicamente, na sigla). Anos antes da criação da Comissão da Verdade, foram descobertos corpos no cemitério de Perus, em São Paulo, suspeitos de serem os restos de militantes políticos assassinados pela ditadura. Freire criticou os que ousaram sugerir uma investigação do caso, alegando que o passado devia ... ficar no passado ! Enquanto isso, em épocas eleitorais, víamos um desfile de candidaturas Blairo Maggi, Sambariloves e Sardinha 88, desidratados em conteúdo e identidade ideológica.
O processo de degradação culmina agora com a fusão PPS-PMN. A nova sigla, Mobilização Democrática, nasce como negação da esquerda socialista. Sua bússola é eleitoral. Estou entre os seis ou sete que tiveram a curiosidade (e a paciência) de ler o manifesto e o programa do novo partido. Não há a menor referência ao capitalismo como raiz dos graves problemas estruturais que os documentos mencionam. A esquerda, e isso não se deve omitir, é necessariamente anticapitalista. O que a MD propõe são remendos, em quase nada diferentes dos propostos pelos partidos da ordem. É uma grande colcha de retalhos daqueles que desembarcaram do projeto socialista e enterraram conceitos e referências teóricas. Os “pós-comunistas” namoram um improvável (impossível ?) capital humanizado, desejam ser parceiros de um modo de produção que continua gerando guerras, destruição, fome, distúrbios globalizados, exploração dos mais vulneráveis. Falam em “reforma democrática do Estado” como se isso fosse independente da luta de classes. As grandes novidades que trazem são a exumação política de José Serra e a esperada adesão de parlamentares ligados ao ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
A esquerda não adesista enfrenta importantes desafios. As mobilizações de massa do passado, com intensa identificação partidária e capilarização social, são cada vez mais raras. Aparecem em situações de crise aguda, mas carecem de continuidade. Novas formas de participação, através de redes sociais e meios virtuais, ainda são pouco utilizadas e mal compreendidas. A experiência histórica do chamado socialismo real deixou feridas mal cicatrizadas e não substituídas por referências consistentes que ajudem a pavimentar caminhos anticapitalistas. Entretanto, todas essas e outras dificuldades não justificam a exaltação envergonhada dos cristãos-novos do reformismo filocapitalista. Há, certamente, gente honesta que acredita em propostas como as que a MD agora apresenta. Falo de instituições, não de pessoas. Nesse sentido, repito Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré: Cante lá, que eu canto cá.

23 de abril de 2013

Entre a foice e o martelo

Marx vive
 
Pável Blanco Cabrera*

Se a obra de Marx se limitasse ao Manifesto do Partido Comunista ou a O Capital seria já uma realização gigantesca. Mas é muito mais ampla, porque nada de humano lhe era estranho; cada descoberta científica, cada argumento levantado por ele arma os explorados e todas as classes oprimidas contra os exploradores, contra a classe dominante, a classe burguesa. Estudar a sua obra integralmente, assimilar a dialéctica, é uma obrigação para os revolucionários que aspiram a mudar o mundo.

“A 14 de Março, às quinze para as três da tarde, deixou de pensar aquele que foi o maior pensador do nosso tempo. Deixámo-lo apenas dois minutos sozinho e, quando voltámos, encontrámo-lo dormindo suavemente na sua cadeira, mas para sempre.”
Friedrich Engels

As contribuições de Karl Marx são actuais; a sua obra, elaborada em conjunto com o seu íntimo camarada F. Engels, desenvolvida e enriquecida por V. I. Lenine, é o guia para a emancipação do proletariado e de toda a humanidade.

Marx foi um homem de teoria e acção; com ele, a dissociação entre ser e pensar, velho problema da filosofia, foi superada pela primeira vez, pois, como afirmou nas Teses sobre Feuerbach, não se trata apenas de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.

A sua obra não se limita ao Manifesto do Partido Comunista, ou a O Capital, é muito mais ampla, porque nada de humano lhe era estranho; cada descoberta científica, cada argumento levantado por ele, arma os explorados e todas as classes oprimidas contra os exploradores, contra a classe dominante, a classe burguesa. Estudar a sua obra integralmente, assimilar a dialéctica, é uma obrigação para os revolucionários que aspiram a mudar o mundo.

Surpreende a actualidade da sua conclusão científica, ao estudar o modo de produção baseado na propriedade privada e no trabalho assalariado, de que o «sórdido segredo da exploração capitalista é a mais-valia».

O marxismo é o materialismo dialéctico, o materialismo histórico, a economia política, o socialismo científico, e deve ser integralmente assimilada pelos trabalhadores do mundo. Houve tendências positivistas, dogmáticas, mecanicistas, que, pondo de parte o materialismo dialéctico, corromperam a teoria revolucionária.

Marx integrou de forma contundente no seu trabalho a ditadura do proletariado, a violência revolucionária como parteira da história, a classe trabalhadora como sujeito da História, coveira do capitalismo. Quão surpreendente é que alguns dos que se dizem seus seguidores neguem qualquer um desses elementos essenciais. Marx voltaria a sua pena afiada contra esses “académicos” que o negam, que procuram suavizá-lo, convertendo-o em “teoria crítica”, anulando o seu carácter subversivo, partidário, determinado a não se deixar acorrentar às paredes da universidade. Que falácia a dos que querem limitá-lo a um democrata, um humanista, um sonhador. O Prometeu de Tréveris foi um homem de partido, um militante, um conspirador e escreveu, não para a carreira, não para obter um mestrado ou um doutoramento, mas para dar elementos à luta de classes. Não fez da academia o abrigo confortável, assumiu as consequências de ser revolucionário profissional: a perseguição, o exílio, a fome.

Quanto dano fazem aqueles que negam a teoria nos factos, esses pragmáticos que não têm a disciplina e a abnegação que o estudo e a produção teórica requerem, mas também aqueles que produzem uma “teoria” que não contribui nada, procurando emendar o marxismo-leninismo, que, pelo ego, procuram publicar textos ininteligíveis para a nossa classe. Há que enriquecer o marxismo, estreitamente vinculado ao conflito social, ao fortalecimento dos partidos comunistas, tendo em conta a evolução da ciência, as experiências do proletariado.

Marx e Engels sempre observaram a necessidade de o proletariado se tornar classe, mas também o carácter internacionalista da sua luta; a senha lançada no início da Revolução de 1848 está tão viva como sempre: Proletários de todos os países, uni-vos! Para enfrentar o capital internacional, o imperialismo eufemisticamente chamado de globalização ou mundialização. Não importa se é mexicano, ou alemão, ou americano, venezuelano, colombiano, cubano ou grego, hoje a luta dos trabalhadores é contra o poder dos monopólios, classe contra classe; hoje, a luta é entre capital e trabalho.

Na Crítica ao Programa de Gotha e em vários outros textos, Marx definiu uma alternativa anticapitalista, o socialismo-comunismo, não andou pela rama do tacticismo. Desde o Manifesto insistiu, com Engels, que os comunistas devem apresentar-se com o seu programa, com franqueza, sem o esconder, dados os limites históricos do capitalismo. Hoje alguns dizem-se marxistas, mas quando se fala sobre a alternativa ao capitalismo, chamam-lhe pós-capitalismo, ou dizem que é uma questão para discussão posterior. Marx deu-lhe nome e conteúdo, chama-se socialismo-comunismo e é baseado na ditadura do proletariado, na socialização dos meios de produção.

Marx continua em vigor nos dias de hoje, em que a economia segue ciclos descobertos por ele e está em crise. Em vão o mataram tantas vezes, pois sempre regressa à consciência da classe operária e de todos os oprimidos.

Marx, o comunista, o homem de Partido, jornalista de classe e democrata, o revolucionário, o internacionalista, o homem da teoria e da prática, Marx vivo.

*Primeiro Secretário do Partido Comunista do México

Traduzido por André Rodrigues P. da Silva

Paraguai: venceu o que comprou mais votos

 
Martin Almada*

No bojo do triunfo da Associação Nacional Republicana (Partido Colorado), uma “sociedade anônima de delinquentes”, podemos afirmar que a sociedade política paraguaia é complacente com seus ladrões e verdugos e implacável com seus sonhadores

Em 22 de dezembro de 1992, descobrimos três toneladas de documentos da política secreta de Alfredo Stroessner que levou a hoje encurralar aos genocidas da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai (Operação Condor). Resulta paradoxal que estes arquivos tenham sido considerados desde o primeiro momento como um acontecimento histórico nacional e internacional que provocou inúmeras publicações. A Promotoria Geral não investigou o conteúdo deste arquivo até hoje, consolidando a impunidade.

Em 28 de agosto de 2008 a Comissão de Verdade e Justiça entregou aos Poderes do Estado o Informe Final com suas respectivas conclusões e recomendações. Antigos funcionários de destaque e repressores da ditadurastroessnista passaram a ser funcionários do Estado. Tampouco foram investigados pela Promotoria Geral os personagens da ditadura que atuavam através das seccionais do Partido Colorado governante durante os 35 anos da ditadura.

O terrorismo de Estado tem impressa as impressões digitais de Alfredo Stroessner e de seus sequazes. Hoje como ontem, os promotores, juízes, policiais e militares arremessam contra os defensores dos direitos humanos em vez de escutá-los e protege-los.

A eleição de 21 de abril de 2013 é simplesmente a legitimação do golpe de Estado ocorrido no 22 de junho de 2012. O triunfo dos nostálgicos da ditadura permitirá a reinserção do Paraguai no concerto das nações na qualidade de Cavalo de Troia para obstaculizar a Unidade Latino-americana.

No Paraguai, uma vez mais a esquerda foi derrotada. O novo “patrão” dessa sociedade feudal é Horácio Cartesque durante a ditadura e depois na democracia cconquistou uma imensa fortuna “não santa”. Competiu com ele pelo cargo presidencial Efraín Alegre, também de tendência de direita que, para fortalecer sua intenção de voto, se aliou ao partido criado pelo também golpista general Lino Oviedo. Esta aliança resultou num tiro pela culatra.

Como há um profundo descrédito no sistema político, grande parte da população compareceu a votar por que foi paga por seu voto utilizando para isso modernas tecnologias. Ganhou o que comprou mais votos ou seja, o que ocorreu em Assunção dia 21 de abril foi uma burla eleitoral.

Os graves problemas sociais não foram motivo de preocupação dos candidatos golpistas. Continuam os latifúndios, a corrupção, injustiça, o modelo político de propinas, continua em vigência a doutrina de segurança nacional, falta de atenção médica, educação. Stroessner e sucessores escravizaram o povo paraguaio por meio do analfabetismo etc. Ademais se seguirá aplicando a receita neoliberal do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. O Comando Sul estadunidense seguirá com suas manobras "anti-subversivas" em um país que se faz chamar democrático. É a prova de que o Condor continua voando.

Tampouco se preocuparam com o que ocorreu em Curuguaty, onde foram assassinados policiais e camponeses inocentes onde os conspiradores foram o Vaticano, os fazendeiros do gado e plantadores de soja vinculados às multinacionais como Monsanto, a petroleira estadunidense Dahiva e a multinacional canadense Rio Tinto Alcan, que explora o alumínio. A demanda por terra pelos sem terra permitiu a direita desalojar sem violência do poder a esquerda, com a cumplicidade do Congresso Nacional.

Só uma transformação radical da base cultural e moral da juventude permitirá ao Paraguai enfrentar o “retorno dos bruxos”.

* prêmio Nobel alternativo da paz, colaborador de Diálogos do Sul. http://www.dialogosdosul.org.br/websul/paraguai-venceu-o-que-comprou-mais-votos/

PCV denuncia plano para deslegitimar o governo com objetivos golpistas de direita

Tribuna Popular

Carlos Aquino, membro do Birô Político do Partido Comunista da Venezuela

Caracas, 22 de abril. 2013, Tribuna Popular TP - O Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV) denunciou hoje que a direita pró-imperialista venezuelana tenta deslegitimar o governo nacional usando como pretexto a auditoria ampliada que será conduzida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre 46% das mesas de votação da eleição presidencial do último 14 de abril.

Todas as ações que vem sendo impulsionadas pela liderança da oposição tem uma intenção tática e estratégica de construir um quadro de deslegitimação do governo nacional para buscar uma situação de instabilidade e ingovernabilidade no país, enfatizou Carlos Aquino, membro do Birô Político do PCV, em coletiva de imprensa.

O dirigente destacou que a oposição sabe muito bem que o resultado da auditoria que teria início nesta semana não indicará qualquer erro nos resultados divulgados no último 14 de abril pelo corpo diretivo das eleições na Venezuela.

Eles possuem as atas e, como anunciado dois dias antes da eleição, eles possuíam fiscais em todas as 39.018 mesas e não há nenhuma denúncia que afete o resultado das eleições, assinalou o líder comunista.

Aquino destacou o quanto é falsa a afirmação do ex-candidato presidencial da direita, a respeito de que 46% das mesas teriam os problemas indicados nas denúncias, uma vez que nos 54% das mesas já auditados não houve nenhum erro.

O Galo Vermelho (PCV) alerta a comunidade nacional e internacional de que a direita pró-imperialista fomenta um clima de instabilidade e ingovernabilidade ao qual nós devemos estar atentos, alertas e organizados para derrotá-los.

Caçada humana, espetáculo em cinco atos (ou, cinco dias)

ESPETÁCULO EM CINCO ATOS (OU, CINCO DIAS)

Roteiro, Direção e Sonoplastia – CIA, FBI, POLÍCIA DE BOSTON

Participação Especial – Sociedade Americana

Narração – Fox News

Memélia Moreira

Era Boston, início da tarde de 15 de abril, numa primavera sonolentae e ainda fria, quando dois irmãos sairam de casa. Nas costas carregavam um elemento cada dia mais demonizado pela sociedade americana: mochila. E essa tinha seus perigos. Ela transportava uma bomba. Caseira, rudimentar, de baixo impacto, de fácil feitura, feita em panela de pressão.  Mas continuava sendo uma bomba. E bombas, de nêutrons ou caseiras, são construídas com o mesmo objetivo. Para matar.  Sempre.

Os jornais da cidade de Boston naquela segunda-feira, dia da “segunda maratona do mundo” (a primeira continua sendo a grega) trazem notícias corriqueiras., além do assunto do dia, a maratona . Nas primeiras páginas do jornais de Boston, New York, Washington, Chicago, Miami, nenhuma linha sobre o que acontecera na véspera, domingo, 14 de abril. Naquele dia, 30 pessoas, entre elas oito crianças, foram mortas por um drone no Afeganistão. A máquina da morte confundiu uma cerimônia de casamento com ato terrorista. Há quem concorde.

São 2h17 minutos da tarde de 15 de abril na bela e culta cidade de Boston. Correrias, sirenes, multidão em polvorosa.  A bomba havia explodido. Quatro pessoas são envolvidas em sacos plásticos. Mortas. Outras 160  se espalham pela rua interditada e pelas calçadas. Feridas. Comoção nacional. Não pelo drone que matou 30 pessoas inocentes. Mas pelo “ato terrorista” que matou quatro pessoas, inocentes, entre eles um garoto,  e mais 160 feridos. Um deles, com pernas amputadas.

24 horas do atentado, nenhum suspeito. Nada.  Nenhuma testemunha mas (as conjunções adversativas sempre mudam a história do mundo), surge a primeira imagem, um primeiro suspeito. Alguém que andava sobre os telhados na hora da maratona.

As especulações qual coriscos ensandecidos, riscam os céus de Miami, Chicago, Washington, New York e Boston.  “Isso é coisa do Tea Party”, reclamam uns. “Parece que foi ação de quem é contra a alta de impostos”, bradam outros. Ninguém se lembra de que o Congresso dos EUA está, nesse momento, discutindo uma Lei de Migração menos draconiana. A discussão arrepia e traz pesadelos para a  extrema direita e seu atual líder, senador pela Flórida, Marco Rúbio. Filho de cubanos fugidos da ilha nos 60.

Quarta-feira, 17 de abril. A câmera de um “anônimo” traz, finalmente, aquilo que mais de 300 milhões de americanos esperavam. A imagem de dois rapazes. Eles e suas e suas mochilas.  Os dois próximo à lixeira onde a bomba fora deixada.

Ainda é 17 de abril. A voz da âncora da Fox News ecoa pelos ares de um país em pânico. Mas, antes de qualquer pronunciamento oficial, a âncora da Fox News canal de televisão de Rupert Murdoch  (a mesma que se recusou a acreditar na reeleição de Obama) deixa escapar o cheiro da panela. Um cheiro de Islam servido num samovar.

17 de abril, em Boston, a câmera com imagem dos dois irmãos, de nomes impronunciáveis no Ocidente, se junta a outras câmeras. A CIA entra em ação para ampliar as imagens que mais a interessavam A dos dois irmãos.  A Polícia de Boston nega ter feito a captura de qualquer suspeito.

Já é quinta-feira, 18 de abril. CNN, com seu noticiário desbotado e Fox News exigindo vingança passam a centralizar o noticiário na busca dos “terroristas”. Às nove da noite desse dia, as imagens dos dois irmãos surge nas telas das redes sociais com a tarja “Wanted” (Procurados). A mesma tarja utilizada na colonização da costa Oeste do país para encontrar pistoleiros ou ladrões de gado, de banco…

Ainda é quinta-feira. Dez da noite. O lado Leste dos EUA   já se entregou ao sono.  A sociedade estadunidense dorme cedo. Mantém até hoje hábitos rurais, com algumas exceções. Na Fox News, uma voz embargada de emoção anuncia que uma loja de conveniências foi assaltada. Eram os dois irmãos. Eles também fizeram um refém, o dono de uma Mercedes SUV (Sport Utility Vehicule), um jeep possante. O refém escapa enquanto os irmãos assaltam a loja. Nem o FBI, nem a CIA, nem a Polícia de Boston mostra a loja do assalto e muito menos o cidadão sequestrado.

A partir daí, a tarja “Wanted” pode ser substituída pela tarja “Fiction”. Ou, com o aviso de acredite, se quiser. Porque, nessa tragédia, com cinco mortos (os quatro pela bomba e um dos irmãos pela polícia) a verdade de substantivo abstrato, torna-se substantivo volátil.

10h30 minutos da noite de quinta-feira, os dois irmãos, mesmo num carro possante, não tinham se afastado tanto do local do sequestro seguido de roubo. A Polícia cerca o carro. Uma câmera imóvel filma o tiroteio. O som dos tiros são nitidamente de armas do mesmo calibre.  Mas a versão oficial informa que a polícia foi recebida com bombas, embora o vídeo de câmara parada não mostre nenhuma explosão.

O mais velho dos irmãos é preso (ou se entrega, ninguém sabe). E morre “a caminho do hospital”. Ou vocês pensavam que só bandido brasileiro morre a caminho do hospital depois de “intensa troca de tiros”.

O irmão caçula, ferido, consegue escapar. Deixa um rastro de sangue, mas a polícia não segue as pegadas frescas. Desloca-se para uma pacata cidadezinha, Watertown para vasculhar a casa onde, afirmam as autoridades, viviam  os irmãos. A essa altura, o telespectador já sabe que eles são estrangeiros. Vieram da sofrida Chechênia, país localizado numa região onde a morte chega pelas mãos das tropas de ocupação estacionadas no Afeganistão, pelos russos ou, pela arma mais abjeta criada pela indústria armamentista dos Estados Unidos, o drone.

Os repórteres, âncoras e comentaristas se entreolham decepcionados. Por que Chechenia? Afinal de contas,  Chechenia, é um país invadido pela Rússia. Seus imigrantes têm direito ao status de “refugiados”. Ou seja, os dois estavam fugindo do antigo inimigo número um dos EUA, a poderosa União Soviética. Um fantasma que por mais de cinco décadas povoou os pesadelos dos americanos. Não fazia sentido, bradavam os analistas e especialistas em Segurança e Terrorismo.

Helicópteros, carros anti-bomas, agentes com colete do FBI, Polícia de Boston, sirenes incessantes. A casa é cercada. São 10h30 da manhã de 19 de abril. A caçada fora iniciada doze horas antes. O movimento é acompanhado por centenas de jornalistas e canais de TV. As ruas da cidade foram fechadas. Ninguém entra ou saí. Os vôos, cancelados. Boston e seus arredores transformam-se em cidades sitiadas. “Estou no meio da guerra” dizia ao microfone um repórter da Fox News num cenário onde não se via carros ou pessoas.
 
Pé ante-pé, rodeados por câmeras de grandes e pequenos canais de TV, batalhões de policiais, agentes do FBI, especialistas em desarmar bombas, helicópteros de guerra sobrevoam a pacata Watertown.

A âncora da Fox News baixa o tom de voz dramaticamente para dizer, “o procurado é uma pessoa de extrema periculosidade”. Ela está rouca e muito excitada. A polícia, qual seriado de TV, põe a arma em diagonal (nunca entendi porque as armas ficam na diagonal da mão quando a polícia busca criminosos). Chegam à casa onde viveriam os dois irmãos. Não se ouve nada. Nenhum som.

Frustração. Os policiais abandonam a busca. E saem declarando que havia um verdadeiro arsenal dentro da casa vazia. E muitas bombas, algumas delas de alto poder destrutivo e que “exigem treinamento para sua fabricação. . ,Não há imagens do arsenal.

Só um protesto diante da cena. A tia dos dois irmãos é advogada. Sem papas na língua. E vive no Canadá. Quando uma jornalista lhe pergunta o que acha do fato de seus sobrinhos terem bomba em casa, ela, voz firme, com forte sotaque do Leste europeu, responde “Evidências. Quero evidências de que havia bombas. Quem está está informando sobre as bombas é o FBI e a CIA. Mas não há evidências”. E até agora as evidências continuam no anonimato.

Ninguém contesta a informação. Ninguém se pergunta porque os dois irmãos, “pessoas de extrema periculosidade” deixaram em casa bombas potentes e usaram uma outra de baixo impacto.

“Necessidade de treinamento para a fabricação”. A frase, parece solta ao acaso. Mas não se iludam. É o primeiro passo, o primeiro elo com o “terrorismo” (leia-se “terrorismo islâmico”).

14h30 minutos de 19 de abril. A caçada continua sem pistas da pessoa de “extrema periculosidade”. A essa altura, na cozinha da Fox News, a panela de pressão assovia. Na tela o sinal de “Alert”, ou seja, vem notícia bombástica (sem trocadilhos).
E, para um público que, passivamente se deixa impregnar pelo noticiário como se fossem gansos alimentados para que seus fígados engordem e se transformem em paté de “foie gras”, a voz que alicia multidões diz que…tchan…tchan…tchan, o mais velho dos irmãos passou “seis meses na Chechenia.

Que absurdo! Como é que um checheno tem a ousadia de passar seis meses na Chechenia, mesmo morando no país mais rico e poderso do planeta? Isso é crime. É sinal explícito de militância terrorista.

Mas ainda não era tudo. Os ponteiros do relógio avançavam. A caçada ia a passos de um velho celacanto. Nessa época do ano, o dia invade a noite. Só se deixa vencer quando não mais consegue provar o poder do sol.

As tropas tomam outra direção. Agora procuram um barco ancorado na terra. Lá está um adolescente. Ferido. Sangrando.

São 19h30 em Boston e seus arredores. A claridade é suficiente para encontrar filhotes de esquilo em mata fechada. Os helicópteros continuam vasculhando céu, terra. As tropas do país mais armado do mundo  parecem perdidas. O bombardeio da Fox News sobre os gansos repete exaustivamente as mesmas informações.  Em tons de filme macabro ou novela policial, os âncoras se revezam em adjetivos. Os gansos estão quase a ponto de virar paté de foie gras, explodindo de ódio contra os seguidores do Alcorão.

A luminosidade cede lugar às primeiras escuridões. A Fox News, num tom solene anuncia que o aparato policial “avança com cautela” porque quer pegar o irmão sobrevivente “vivo”. Como se fosse uma grande concessão.

21 horas. Já é noite de 19 de abril em Boston, em Watertown, Miami, New York e Washington. Em Chicago ainda há luz. A escuridão impede imagens nítidas mesmo para câmeras poderosas. E…”cantemos ao senhor”, a pessoa de “extrema periculosidade” é capturada. Está ferida. Perdeu muito sangue por quase 24 horas. Debruçados sobre um corpo magro, os paramédicos impedem telespectadores de olhar a cara do “terrorista” que é levado para o hospital. Os helicópteros com luzes infra-vermelho retornam à base.

Cai a cortina.  E, como em qualquer espetáculo teatral, o público aplaude os atores. Eles desfilam em seus carros com luzes que piscam vermelhas e azuis, os tanques anti-bombas passam sob um frenesi de uma sociedade que,  desde 11 de setembro de 2001 vive a frustração por não ter conseguido caçar os terroristas que abalaram o orgulho nacional quando explodiram as Torres do WTC.
 
O espetáculo se encerra com os habitantes de toda uma cidade. Carregando  flores ou velas protegidas por saco de papel cantam God save America. My home, sweet home/ God save America/ my home sweet home, numa verdadeira catarse nacional.

Dos 30 mortos no Afeganistão, entre eles, oito crianças, nenhuma linha até domigo, 21 de abril, uma semana depois do massacre.

VENEZUELA E A DEMOCRACIA DOS OUTROS

Por Mauro Santayana, em seu blog:

Vamos aceitar o fato de que a vitória de Nicolas Maduro sobre Henrique Capriles, domingo, na Venezuela, foi muito apertada. É preciso recordar as evidentes fraudes na Flórida, em favor de Bush, em 2000, e a decisão da Suprema Corte confirmando a sua espúria vitória – sem a devida recontagem dos votos. O governo norte-americano agora se nega a reconhecer o resultado do pleito na Venezuela e anuncia “consultas” com a OEA e a União Européia, enquanto exige a recontagem estrita dos sufrágios.

A Espanha, que continua com a presunção de que os latino-americanos são seus súditos, contestou os resultados eleitorais, exigindo também a recontagem e colocando em dúvida a lisura do pleito, em pronunciamento de sua chancelaria. Maduro, em reação explicável diante da crônica das tumultuadas relações recentes entre Caracas e Madri, mandou chamar seu embaixador na Espanha para consultas, e ameaçou tomar todas as medidas contra a ingerência espanhola - o que levou o Ministro de Relações Exteriores da Espanha, Garcia Margallo, a amenizar suas declarações e a declarar que houvera um mal entendido. Na realidade, a Espanha espera ganhar algum tempo, enquanto aguarda as ordens de Washington.

Em Madri houve quem se lembrasse da vitória de Aznar sobre Felipe González – que conduziu o país à guinada para a direita – por apenas 300.000 votos, quase a mesma diferença entre Maduro e Capriles, sem esquecer que a população espanhola é de 47 milhões de habitantes e, a da Venezuela, de cerca de 30 milhões. Ninguém, em nenhuma “democracia” ocidental, contestou a vitória de Aznar sobre Gonzalez.

Na Espanha é comum que, nas municipalidades, de cinco a dez votos decidam as eleições.

Se os Estados Unidos e a OEA persistirem na mesma atitude de contestar o resultado eleitoral e de apoio incondicional a Capriles, estaremos diante de uma crise diplomática complicada. O Brasil, que, como outros países do mundo, acompanha as eleições na Venezuela de perto, com os seus observadores, reconheceu o novo governo, em manifestação pessoal da Presidente Dilma Roussef, em telefonema a Maduro. A Colômbia e o México também o fizeram no primeiro momento. A Unasul também o fez.

O sistema eleitoral na Venezuela se faz com os votos eletrônicos sendo impressos e colocados em uma urna. De acordo com a lei, 54% dos votos impressos são contados – se a relação corresponder aos votos eletrônicos, considera-se legítimo o resultado total.

De que autoridade ética dispõem os Estados Unidos, para avaliar a democracia alheia, quando mantêm o campo de concentração de Guantánamo, em que há prisioneiros, sem julgamento, há quase tanto tempo quanto durou o regime de Hitler?

Os “caprilistas” começaram a matar nas ruas de Caracas. O que ocorrer, depois disso, será responsabilidade daqueles que os açulam.

O terrorismo de Guantánamo

O Olhar Comunista inicia a semana comentando a greve de fome dos prisioneiros da base militar de Guantánamo, que, iniciada há 60 dias, já atinge mais da metade dos presos – grande parte sem julgamento ou sequer uma acusação formal.

Dos 166 presos neste verdadeiro campo de concentração, 84 se recusam a alimentar-se como forma de protesto contra a sua prisão e as condições no centro. A greve de fome, iniciada em 6 de fevereiro, ganha força  a cada dia: desde quarta-feira, mais 32 prisioneiros se juntaram à iniciativa.

Um dos prisioneiros, preso há 11 anos sem acusação ou julgamento é o árabe Shaker Aamer, o último prisioneiro britânico da ilha. Ele disse ao jornal Observer que tinha perdido um quarto do seu peso desde o início da greve.

Os EUA, ao que tudo indica, continuarão mantendo o desrespeito à dignidade humana e ao Direito Internacional, numa posição arrogante que confirma suas práticas de terrorismo de Estado frente aos direitos humanos.

Campanha Nacional pela Anulação da Reforma da Previdência e marcha em Brasília contra o Acordo Coletivo Especial

O SEPE, juntamente com o Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais, as entidades representativas de Servidores Públicos Estaduais e Municipais, a CSP- CONLUTAS, a CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e a Auditoria Cidadã da Dívida estão promovendo a Campanha pela Anulação da Reforma da Previdência de 2003.

A campanha disponibiliza um abaixo-assinado eletrônico e outro de papel com o objetivo de coletar o maior número possível de assinaturas, sem prazo definido para acabar. Está previsto também um ato público nacional, ainda sem data definida, para a entrega dos abaixo-assinados.

A orientação é de que as organizações viabilizem locais de coletas e incorporem a campanha em cada uma das atividades realizadas pela entidade. O roteiro com as principais informações sobre os procedimentos para a coleta de assinaturas de papel pode ser visto aqui: http://portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-ult-1440388399.pdf

O abaixo-assinado eletrônico encontra-se alojado na internet no site Petição Publica Brasil que disponibiliza um serviço público gratuito para (abaixo-assinados petições públicas) online e pode ser assinado acessando o link: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=emenda41

A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em condenar aqueles que se utilizaram do poder para a compra de votos no Congresso Nacional provam a inconstitucionalidade e ilegalidade da reforma da previdência de 2003.

Essa reforma reduziu direitos previdenciários dos servidores ao instituir a taxação de aposentadorias e pensões,aumentou o tempo necessário para a requisição da aposentadoria e pôs fim ao benefício integral. É importante que os movimentos levem em cada local de trabalho, atividade, seminário, plenária esse debate e procurem fazer a coleta dessas assinaturas, dando ampla divulgação em sites e redes sociais.

o modelo de abaixo-assinado para impressão pode ser obtido pelo link abaixo:

Protesto em Brasília no dia 24/04 vai denunciar o Acordo Coletivo Especial (ACE)
O Sepe, juntamente com o Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais, as entidades representativas de Servidores Públicos Estaduais e Municipais, além de outras entidades como centrais sindicais mobilizadas na campanha contra o Acordo Coletivo Especial (ACE) organizarão uma grande marcha a Brasília no dia 24 de abril. Os profissionais que desejarem participar do movimento devem entrar em contato com o Sepe Central, núcleos e regionais - o ônibus fretado pelo sindicato sairá da sede (Rua Evaristo da Veiga, 55), às 9h do dia 23.

O ACE é uma proposta defendida pelo governo federal, empresas e algumas entidades representativas dos trabalhadores que prega a conciliação, retirada e flexibilização dos direitos trabalhistas, com a proposta de que aquilo que for negociado entre empregados e empregador prevaleça sobre as leis trabalhistas, ou seja, que os sindicatos possam fechar acordos com as empresas que valham sobre os direitos contidos na CLT. Dessa forma, com a sua aprovação estariam legalizados acordos que, por exemplo, permitem a divisão das férias em mais de dois períodos; o pagamento parcelado do 13º salário, até mesmo em parcelas mensais; a ampliação do banco de horas sem limites; contratação temporária; a terceirização dentro das empresas sem nenhum limite, além de outras manobras.

Fonte : SEPE/RJ

19 de abril de 2013

Armas e terror*



Jorge Cadima

A intervenção imperialista na Síria acumula crimes. E acompanha-os com uma campanha diária global de desinformação e mentira. É nesse sentido que se pode dizer que todos os órgãos de informação que aceitam participar de tal campanha – incluindo os do nosso país, naturalmente – têm as mãos tão sujas de sangue como aqueles que participam directamente nessa criminosa escalada.

Enquanto na ONU votam um Tratado alegadamente para controlar o comércio de armas, as principais potências imperialistas asseguram uma «catarata de armas» para os rebeldes sírios, através duma «ponte aérea secreta» que «começou em pequena escala no início de 2012» e deu um salto «em Novembro, após as eleições presidenciais» dos EUA. O ex-Director da CIA, General Petraeus, «foi decisivo para assegurar o arranque das ligações aéreas» que levam as armas para a Síria. Grande parte vêm da Croácia (que adere à UE a 1 de Julho) e são canalizadas pelas monarquias ditatoriais da Arábia Saudita e Qatar, pela Jordânia e Turquia. O relato acima é de fonte insuspeita (NewYork Times, NYT 24.3.13). Em Março Hollande e Cameron apelaram publicamente ao levantamento do embargo de armas da UE para a Síria (BBC,14.3.13). Mas «sabe-se que conselheiros militares britânicos estão [já] em acção nos países fronteiriços da Síria, ao lado de franceses e americanos, dando formação aos dirigentes rebeldes […].Crê-se que os americanos também estão a dar formação sobre o controlo de locais com armas químicas» (Telegraph, 8.3.13). O comércio de armas está “controlado”.

A máquina de guerra imperialista tem efeitos tenebrosos. A 20 de Fevereiro, a explosão de carros armadilhados no centro de Damasco matou «pelo menos 72 pessoas, a maioria civis» (NYT,21.2.13). Os EUA recusaram-se a condenar esse acto de terrorismo (Russia Today,22.2.13) e houve mesmo quem justificasse que era preciso «enfraquecer o argumento de que o governo garante a segurança» (NYT, 21.2.13). Rebeldes sírios detiveram 20 capacetes azuis da ONU junto aos territórios dos Montes Golã ocupados por Israel (BBC, 6.3.13). Talvez para esconder mais tráficos de armas? A Rússia deu crédito às acusações do governo sírio de que os rebeldes terão usado armas químicas, matando 25 pessoas. O jornal inglês Telegraph (19.3.13) escreve: «Um ataque ao início da manhã sobre as zonas sob controlo do governo em Kahn al-Assal, uma vila nos arredores ocidentais de Aleppo,deixou as vítimas com falta de ar e espumando pela boca.Grande parte das vítimas eram soldados governamentais». Os EUA de imediato «recusaram a acusação de que os rebeldes tenham usado armas de destruição em massa» – como sabiam? – para no dia seguinte (Telegraph, 20.3.13) insinuarem que seria obra do «regime» (contra soldados seus, em território sob seu controlo?!). A Rússia acusa a ONU de, sob pressão de «certos Estados», travar a investigação do facto (RIA Novosti, 6.4.13).

Entretanto, «o principal comandante militar dos EUA na Europa afirmou que vários países da NATO estão a preparar planos de contingência para uma possível acção militar […] na Síria» (Telegraph, 20.3.13), tendo Obama já dito que o uso de armas químicas seria a “linha vermelha” para um ataque. Um Ministro israelita afirmou que «armas químicas foram recentemente usadas na Síria, ou pelos rebeldes ou pelo governo» (Telegraph, 20.3.13). Ou terá sido por Israel, que bombardeou a Síria em Janeiro (NYT, 30.1.13)? Em 21 de Março uma bomba explode na mesquita Al Imã de Damasco matando o «principal clérigo sunita da Síria» que era «pró-Assad» (NYT, 21.3.13) e mais 42 pessoas. O atentado matou também o mito de que o conflito na Síria era uma revolta de sunitas discriminados. Em 28 de Março morteiros atingiram a Universidade de Damasco, matando 15 estudantes (BBC, 28.3.13).

O banho de sangue na Síria (e no vizinho Iraque) torna claro que, como em todas as guerras imperialistas, a violência mais brutal vai de mãos dadas com as mais descaradas mentiras e falsificações. Um dado importante a reter, quando o imperialismo prepara novas e perigosas guerras no Extremo Oriente.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº2054, 11.04.2013

Psicopatologia do godo imperialista

TEODORO SANTANA

A ideologia dominante na Espanha (isto é, a ideologia de sua classe dominante) ainda permanece possuída por sua visão imperial, por sua própria mitologia de como, graciosamente, levaram “a língua, a civilização, a religião e a cultura” aos esfarrapados do terceiro mundo, sejam eles amazigh das Canárias, indígenas americanos, “mouros” ou filipinos. Dentro de suas cabeças, o sol continua brilhando eternamente em seus domínios.

Por isso, o imperialista espanhol, o godo, erigido em supremo estandarte da “mãe pátria” e dos “valores ocidentais” do homem branco, continua considerando-se superior a esses “atrasados” latino-americanos, aos quais pode explorar e impor uma direção, rumo ao “bom caminho”.

Por conta disso, um rei espanhol imposto pelo ditador fascista Franco, se considerou com o direito de mandar calar publicamente um presidente eleito de uma nação soberana, com o regozijo e o aplauso dos meios de comunicação imperialistas. Daquele império espanhol, apenas ficaram as Canárias e as praças militares de Ceuta e Melilla. São brancos, são europeus, são superiores.

Essa mentalidade imperialista não decai pelo fato de a Espanha ser um simples apêndice subordinado ao imperialismo euro-norte-americano, submerso em uma brutal recessão, com um sistema político pós-fascista em decomposição e devorado pela corrupção. Mantendo o arquétipo fidalgo que Quevedo descreve em “La vida del buscón llamado Don Pablos”, o brega imperialismo espanhol continua atuando com erros sobre erros.

Dessa forma, o godo ministro de Relações Exteriores, José Manuel García Margallo, se atreve a exigir outra recontagem dos votos na Venezuela antes de reconhecer o presidente eleito e “aconselha” abrir negociações com uma oposição lançada ao golpismo e aos atentados terroristas.

Assim, a goda Secretária Geral do partido governante, María Dolores de Cospedal, ante a “onda” esquerdista da América Latina, anuncia um plano para montar um “PP em toda a América Hispânica”. É que a estes índios não podem deixar sozinhos.

O mal é que muitos espanhóis, ainda que passem misérias, assumem como própria essa ideologia imperial de seus exploradores. E o patético é que, como demonstração patente da síndrome do colonizado, muitos canários o fazem também.

Até a esquerda canária, tão pequeno-burguesa, sempre disposta a apoiar os processos de independência de qualquer país, reluta em pensar a descolonização de seu próprio país, assumindo as posições imperialistas do espanholismo, como se esperasse outra coisa.

O paradoxo é que, enquanto o caminho da história continua se afunilando, os godos imperialistas nem sequer se dão conta do ridículo que fazem, do que reflete sua atitude prepotente e chula, do tão próximo que andam do abismo. Todos os meios de comunicação os conservam e os envolvem em um mundo virtual no qual acreditam serem importantes. Espanhóis, nem mais nem menos, “onde vamos comparar”.

É que lá eles são brancos.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

A ilusão do meta-controle imperial do caos

A mutação do sistema de intervenção militar dos Estados Unidos

Jorge Beinstein*

Este importante artigo traça uma larga perspectiva da evolução dos meios militares da intervenção imperialista. Do “Keynesianismo militar” ao cunho actual de carácter claramente privado-clandestino, funcionam cada vez mais à margem dos códigos militares e das convenções internacionais, na base uma estratégia centrada na eliminação física de «inimigos», no uso dominante de mercenários, de campanhas mediáticas, redes sociais, tudo isto destinado a desestruturar organizações e sociedades consideradas hostis. O imperialismo - e os EUA em particular – assume-se como uma colossal máquina criminosa de destruição global.

 Paraguai exige a devolução de “troféu” de guerra

Paraguai exige a devolução de “troféu” de guerra



O Paraguai está exigindo a devolução de um canhão, feito do ferro de sinos de igrejas de Assunção (e por isso batizado como “El Cristiano”), que é considerado um símbolo da resistência paraguaia e foi trazido para o Brasil, à época, como um "troféu" de guerra.

Encerrada em 1870, a guerra, de seis anos, entre o Paraguai e a chamada Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai, com apoio direto da Inglaterra, matou 300.000 paraguaios e 50 mil brasileiros e deixou marcas ainda presentes no Paraguai, como a relativa desproporção entre homens e mulheres e a condição de pobreza em que vive grande parte de sua população.

A devolução do canhão será um gesto simbólico importante. Mas o Brasil deve também, aos paraguaios, o reconhecimento de que aquela foi uma guerra fraticida, gerada pela disputa entre os interesses econômicos e políticos das oligarquias brasileira, argentina, uruguaia e paraguaia (e, também, do imperialismo inglês). Deve  reconhecer também o caráter claramente genocida das ações do exército brasileiro, notadamente no último período do conflito, quando os rumos da guerra já estavam decididos. Mais ainda, como maior economia da região, o Brasil tem o dever de contribuir mais efetivamente, com investimentos e cooperação, para o pleno desenvolvimento econômico e social do Paraguai e para o fim das seqüelas deixadas pela guerra.

Selvageria capitalista em tempos de colonização do outro Cabral: como recomeçar (mais uma vez)?

Rodrigo Castelo
militante da Base ANDES/ FASUBRA do PCB-RJ abril/ 2013

"Se, então, fomos batidos, não temos outra coisa a fazer senão começar de novo desde o princípio" (Friedrich Engels)

Em 1851, sob as brasas das lutas revolucionárias e contrarrevolucionárias da Primavera dos Povos que ardiam em toda a Europa, Friedrich Engels escreveu, no jornal New York Daily Tribune, algumas linhas que podem servir para algumas reflexões dos militantes cariocas e fluminenses: “Não se pode imaginar uma derrota mais assinalável do que a sofrida pelo partido – ou antes: partidos – revolucionário continental em todos os pontos da linha de batalha. Mas, e daí? A luta das classes médias britânicas pela sua supremacia social e política não abarcou 48 anos e a das classes médias francesas 40 anos de lutas sem exemplo? E esteve alguma vez o seu triunfo mais próximo do que no preciso momento em que a monarquia restaurada se julgou mais firmemente estabelecida do que nunca?”.

É possível que muitos concordem que estamos diante de um bloco social dominante que goza de uma sólida supremacia no Rio de Janeiro. No plano econômico, o estado é atualmente uma das principais fronteiras da acumulação capitalista nacional, recebendo investimentos na casa da centena de bilhões de dólares nos setores de energia, infraestrutura, turismo/entretenimento, metal-mecânico e siderúrgico, dentre outros. A Cidade Maravilhosa foi escolhida como palco de megaeventos de entretenimento e de esportes, gerando um dinamismo para setores da burguesia local e internacional. Não é à toa que um dos principais empresários da lista dos mais ricos da revista Forbes, Eike Batista, seja um residente da cidade. 

O capital demanda garantias políticas e jurídicas do Estado para a acumulação ampliada dos seus investimentos, assim como toda uma infraestrutura nos territórios a serem ocupados. Aqui no Rio de Janeiro, os governos estaduais e municipais, com apoio integral da União, cumpre com zelo o papel demandado pelo grande capital financeiro. Além de uma generosa política de concessões de benefícios fiscais e isenções tributárias para os empreendimentos capitalistas, as diversas esferas do Estado promovem um reordenamento da geografia urbana para os interesses de ocupação dos negócios capitalistas, em uma autêntica política de “higienização social” dos espaços públicos. Este é o caso, por exemplo, da Aldeia Maracanã, alvo da ação truculenta da Polícia Militar, sem mencionarmos remoções e despejos arbitrários de moradores na zona portuária e comunidades populares da cidade inteira.

No plano político, também estamos diante de uma dominação sem igual nos últimos tempos. Sérgio Cabral e Eduardo Paes reelegeram-se com facilidade, e contaram com o apoio de tradicionais partidos políticos e grupos sociais conservadores e até mesmo de agremiações que outrora foram progressistas, como PT, PCdoB e outros. Grande parte da legitimidade política dos governantes do PMDB deriva, inclusive, do apoio popular, costurado com a ocupação militar das comunidades populares, políticas sociais de transferência de renda, emprego formal (de baixa qualidade e remuneração e com altíssima rotatividade) e ações midiáticas.

Diante deste quadro de fortalecimento da supremacia das forças dominantes, não é incomum constatarmos um desânimo nos militantes que ainda resistem à política de transformação da nossa cidade e do nosso estado em uma fronteira avançada de acumulação imperialista. Todavia, a história das lutas de classes prega peças em seus combatentes e analistas. Se tivermos uma perspectiva dialética desta história, vamos lembrar, de acordo com Hegel, que o momento de auge de uma época histórica já se configura, contraditoriamente, com o seu momento de decadência.

Embora se reafirme aqui que nos encontramos em uma conjuntura histórica de descenso da força da classe trabalhadora e de ascensão da alta burguesia, é possível destacarmos alguns elementos presentes na atual conjuntura que nos permita vislumbrar fissuras no bloco dominante. Vamos aos fatos:

(1) No plano nacional, a queda nas taxas de crescimento econômico durante todo o governo Dilma resulta em maior dificuldade na redistribuição de parte do excedente econômico para as distintas classes. Em momento de crise, setores das classes dominantes, dado o seu poder econômico, político e cultural, conseguem abocanhar fatias maior do fundo público, restando menos para o atendimento das necessidades dos trabalhadores. Este problema se reflete também em termos regionais, como a partilha dos recursos do petróleo. Se estivéssemos em período de crescimento econômico, com maior arrecadação de tributos, o governo federal poderia disponibilizar recursos extras para os estados produtores de petróleo, compensando-os eventualmente pelas suas perdas;

(2) No plano regional, a coalização governista formada por PMDB e PT, até então sólida e segura, avaliada pelos mandarins do PT, desmancha-se com a briga pela indicação do senador Lindbergh Farias para a candidatura de governador ao estado em 2014. O atual residente do Palácio das Laranjeiras empurra goela abaixo a indicação do seu vice, um candidato sem expressão;

(3) O governo estadual usa crescente e intensivamente a coerção do aparato militar para dar garantias aos investimentos capitalistas e debelar manifestações contrárias aos seus interesses, como remoções arbitrárias, usuários indignados com os serviços prestados na área de transporte público etc. Aparentemente, a coerção militar dispersa focos de contestação e demonstra a força estatal, mas, no fundo, é uma demonstração de fraqueza política do Estado. Em tempos de crise estrutural, percebe-se o aumento da coerção como tática de conservação do poder, justamente com o objetivo de contrabalancear a perda de hegemonia do bloco dominante, tática menos custosa e mais sutil de manutenção da ordem.

No texto citado acima, Engels escreveu que, em tempos de derrotas históricas, o movimento revolucionário deve se recolher ao gabinete de estudo e pesquisar os motivos da derrota e planejar a sua reorganização política. Está na hora de começarmos a estudar o novo padrão de reprodução do capital implementado no Brasil nos últimos anos, bem como a nova pedagogia da hegemonia (o chamado social-liberalismo e suas imbricações com o novo-desenvolvimentismo) e o transformismo de grupos dirigentes da classe trabalhadora. A boa notícia é que não partiremos do zero, pois temos um acúmulo considerável nesta área, como as pesquisas desenvolvidas por coletivos marxistas presentes, em sua maioria (mas não somente), nas universidades públicas brasileiras e que começam a traçar projetos em comum com movimentos sociais, como as parcerias estabelecidas com o MST no Brasil inteiro.

Há, entretanto, uma segunda boa notícia no ar, que nos impulsiona para além dos gabinetes de estudo. O bloco dominante costurado pelo PT no plano nacional, talvez o mais forte constituído na Nova República, começa a mostrar sinais de desgaste com a crise capitalista mundial, a resistência dos subalternos e o aumento dos conflitos internos. Mesmo que tais fissuras no bloco dominante não sejam capazes de abalar a estrutura de poder montada pela alta burguesia no Rio de Janeiro (e no Brasil), elas já são perceptíveis e cada vez maiores. Abrem-se, assim, múltiplas possibilidades históricas para a atuação dos movimentos contestatórios à ordem, que precisam ter, além de uma excelente análise concreta da situação concreta, uma capacidade organizativa, de agitação e propaganda para atuar nas brechas abertas pelas falhas do sistema e aprofundar a crise do bloco dominante, disputando a direção intelectual-moral da sociedade brasileira e se mostrando como uma real alternativa de poder.

Esta é a nossa aposta! Esta é a nossa luta!