28 de outubro de 2013

O PCB não se esquecerá de Mauricio Azedo!


Um jornalista militante; um militante jornalista

Neste 25 de outubro, morreu Mauricio Azedo, um dos maiores símbolos da imprensa brasileira e da resistência à ditadura. Era presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde havia sido reeleito há pouco tempo, por ampla maioria de votos. Nos últimos dias de sua vida, teve uma decepção que não merecia. À falta de votos, a chapa derrotada pelos jornalistas bateu às portas da Justiça, postergando a posse dos eleitos.

Desde cedo, Mauricio Azedo se colocou na linha de frente das lutas mais sentidas de  nosso povo, como membro da União da Juventude Comunista (UJC), na campanha do Petróleo é Nosso.

Na década de 60, liderou a primeira greve de jornalistas dentro do antigo Jornal do Brasil, já como militante do PCB.

Durante a ditadura militar de 64, continuou na luta. Em 1968, em uma de suas mais violentas ações, a PM invadiu a antiga Faculdade de Medicina, na Praia Vermelha, e fez mais de 500 prisões de estudantes de vários cursos que realizavam uma plenária, colocando todos os presos dentro do então campo do Botafogo, na Rua General Severiano. Essa violência gerou a maior passeata daquela época. 
Mauricio Azedo, rubro-negro apaixonado, foi o autor, no extinto Jornal dos Sports, da seguinte manchete acerca da passeata que respondia à violência policial: “100 mil vão às ruas pelo Botafogo”. A única manchete política em toda a história do Jornal dos Sports...

Na década de 1970, levou adiante uma ação dos comunistas na cidade do Rio de Janeiro que representava a resistência cultural à censura dos generais e coronéis de plantão. Fundou o Cine-Clube Macunaíma, na ABI, reduto de encontro de lideranças políticas na ilegalidade em que vivia o PCB.

Fruto desta constante luta política, Azedo foi preso, em 1976, e barbaramente torturado nas dependências do DOI-CODI, no Rio de Janeiro.

No início da década de 80, Mauricio Azedo se afasta do Partido, acompanhando o camarada Luiz Carlos Prestes em sua divergência com o então Comitê Central. Azedo sempre se manteve fiel aos seus princípios, firmando-se como uma das principais lideranças no campo da imprensa de esquerda no Brasil. No PDT, para onde migraram os camaradas que seguiram Prestes, foi vereador e presidente da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.

Desde o processo de reconstrução do PCB, a partir da década de 90, Mauricio Azedo se tornou um grande amigo do Partido, prestigiando-nos com sua presença em vários eventos, inclusive nas comemorações pelos 90 anos do PCB, em 2012, que se realizou exatamente na ABI.

Neste ano, o Comitê Central do PCB resolveu conceder a Mauricio Azedo a Medalha Dinarco Reis, uma homenagem a todos aqueles que honram a história do Partido. Mauricio ficou emocionado e honrado com a homenagem, que infelizmente não se concretizou ainda em vida, pela pendência judicial em relação às eleições na ABI. A homenagem será mantida, em memória, porque sua história é parte da nossa história.

O PCB se orgulha de Mauricio Azedo, sente-se gratificado por esse filho do povo brasileiro ter pertencido aos seus quadros. O PCB sempre esteve presente na vida de Mauricio Azedo, e a vida política do PCB estará sempre ligada a esta figura ímpar chamada OSCAR MAURICIO AZEDO.

Bancarrota em casa e pelo mundo: A Síria mostra que Washington é ator geopolítico exaurido

Mapa atualizado/legendado da Guerra na Síria até set/2013
[*] Finian CUNNINGHAM, Strategic Culture

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

A política dos EUA para a Síria poderia ser descrita como “uma comédia de erros”, se o custo, em sofrimento humano, não fosse tão brutal. Depois de criar um pandemônio de terrorismo e desrespeito à lei na Síria, com operações clandestinas de insurgência ao longo dos últimos dois anos e meio, o governo dos EUA parece agora um Dr. Frankenstein que perdeu o controle sobre a besta, ou, melhor dizendo, as bestas...

As criaturas, nascidas do laboratório norte-americanos de golpes para mudança de regime, têm várias formas, de selvagens esquadrões da morte em solo, a grupos de exilados políticos mantidos em hotéis 5 estrelas no Golfo Pérsico.

Mas nenhuma das criaturas parece obedecer ao suposto patrão-criador. A situação está evidentemente fora de controle, e os EUA mostram-se ao mundo como idiotas, loucos, impotentes.

Primeiro, Washington repetiu o pedido, essa semana, para que suas criaturas ativas na oposição síria, a Coalizão Nacional Síria (CNS), participe das conversações políticas de Genebra-2. Mas a CNS fez que nem ouviu.

Então, uma declaração conjunta do bando de mercenários de vários países reunido na Síria, essa semana, tratou de repudiar, furiosamente, publicamente, o CNS e todos os demais grupos políticos.

Tendo visto o fracasso dos grupos políticos que dizem representar a oposição e os grupos revolucionários (...), nós, comandantes dos grupos militares nas províncias do sul, declaramos que não reconhecemos nenhum dos grupos políticos que dizem nos representar e lhes retiramos o nosso apoio.

Foi a segunda bofetada aplicada na chamada Coalizão Nacional que o ocidente tanto promoveu e apoiou. Mês passado, 13 organizações insurgentes nas províncias do norte da Síria também distribuíram declaração em que rejeitam a coalizão e a declaram ilegítima, como representante política.

Significativamente, dentre esses 13 grupos que repudiaram a CNS estava a Frente Al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda, e o Exército Sírio Livre. Os governos ocidentais dizem que apoiavam o Exército Sírio Livre, do general Salim Idriss, porque ele seria líder “moderado”, sem associação com as redes de extremistas takfiri, como a Frente Al-Nusra.

Estranhamente, para os propagandistas pró-ocidente, o Exército Sírio Livre parece já não estar lendo os manuais e memorandos “certos”, e já se aliou publicamente aos “extremistas”. Em outras palavras, não há diferença alguma entre “moderados” e “extremistas”; ou entre “rebeldes do bem” e “rebeldes do mal”.

Essa distinção sem qualquer fundamento na realidade já está sendo vista por todos, claramente, como ficção de propaganda, que governos ocidentais fabularam para criar, para eles mesmos, alguma cobertura política e moral para conseguirem inventar uma guerra criminosa de agressão à Síria – ocultados por trás da mentira de que estariam apoiando rebeldes “bons”, pró-democracia e pró-liberdade.

Vergonhosamente, a empresa-imprensa ocidental, chamada “indústria do jornalismo”, ajudou muito a armar essa fachada escandalosa, em vez de investigar rigorosamente os fatos e expor as mentiras.

A verdade é que governos ocidentais lançaram uma onda de terrorismo contra a Síria, desde março 2011, servindo-se como disfarce da “Primavera Árabe”, com vistas ao objetivo geopolítico de promover mais uma “mudança de regime”. Essa onda de agressão para desestabilizar o governo do presidente Bashar al-Assad sempre incluiu centenas de grupos de mercenários de variadas tendências extremistas, a maioria dos quais saídos de cerca de 30 países, dentre os quais Líbia, Tunísia, Egito, Arábia Saudita, Afeganistão e Rússia, além de estados ocidentais como Austrália, Grã-Bretanha, França e Canadá.

A ilusória divisão que o ocidente divulgou, entre “moderados” e “extremistas”, foi pelos ares nos massacres acontecidos na província de Latakia, no oeste da Síria, em agosto. Até a ONG Human Rights Watch, em geral muito atenta aos interesses da agenda política do ocidente, noticiou centenas de atrocidades contra civis em ataques a várias vilas na província de Latakia. Dentre essas atrocidades, o sequestro de mais de 200 mulheres e crianças, cujo destino ainda não se conhece até hoje. Há notícias, de fontes dignas de crédito, de que todos foram assassinados para “produzir” os cadáveres apresentados como vítimas do “ataque químico” de East Ghouta, dia 21/8. Durante o ataque em Latakia, o comandante do Exército Sírio Livre, general Idriss, foi filmado em campo, discursando sobre o sucesso da campanha que comandava.

O que se vê, pois, são os planos tantas vezes requentados, em que os EUA e seus aliados regionais, inundam a Síria com terroristas, ao mesmo tempo em que obram para construir um governo-à-espera, constituído de exilados carreiristas e políticos oportunistas. Esses fantoches políticos deveriam ter-se mudado para Damasco, para assumir o governo, no instante em que a população abandonasse a defesa do governo de Assad, apavorada sob a ameaça dos terroristas e dos esquadrões da morte. Mas nada aconteceu conforme o ocidente planejara.

A “mudança de regime” planejada para a Síria foi plano absolutamente insustentável, porque não levou em consideração a legitimidade do governo do presidente Assad; o profissionalismo do exército sírio; a robusta aliança regional entre Síria, Rússia e Irã; e a competência da diplomacia russa, sobretudo no Conselho de Segurança da ONU, onde os russos fizeram gorar, uma a uma, as manobras dos EUA. Além do mais, o eixo dos EUA não levou em consideração a forte oposição da opinião pública ocidental, farta de guerras, e contra as sujas maquinações imperialistas dos EUA no Oriente Médio.

Condenada a esse seu jogo incompetente, Washington vê-se agora às voltas com uma total confusão, cercada de incoerências, das quais não consegue safar-se. Seus mercenários em campo estão sendo derrotados e voltam-se uns contra os outros, em furiosas disputas internas. A Frente Al-Nusra, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante/Síria [orig. Islamic State of Iraq and Shams, ISIS] e o Exército Sírio Livre são hoje maior ameaça uns aos outros, do que ameaçam o Exército Nacional Sírio.

Mas, seja lá o que for que organize ou venha a forjar-se entre esses grupos, todos os seus movimentos e pensamentos são de furiosa rejeição à oposição política inventada no ocidente e apoiada pelo ocidente.

Como já se sabe, a oposição política arquitetada pelo ocidente já se declarou completamente contra qualquer diálogo em Genebra, apesar das insistentes súplicas do secretário de estado dos EUA, John Kerry. Esses peões políticos reagem provavelmente, afinal, e com fúria, ante a percepção de que foram usados de fato, sim, como peões.

As conversações de Genebra que visavam a constituir um novo governo de consenso na Síria, estavam marcadas para junho de 2012, mas, desde então, foram várias vezes adiadas, porque EUA e seus aliados no golpe da “mudança de regime”, Grã-Breanha e França, precisavam de tempo para convencer seus clientes sírios exilados a não participar. E, agora, os EUA precisam de que seus peões participem das conversações – porque Washington já tem de trabalhar com o fato de que foi derrotada no campo militar.

Quando a Rússia jogou uma boia de salvação política aos EUA, mês passado, sob a forma de acordo com a Síria para o desarmamento químico dos sírios, para ajudar Washington a extrair-se do desastroso caminho da guerra, parte do acordo implicava apressar a realização das conversações de Genebra, marcadas para o mês seguinte, na capital da Suíça.

Há apenas um ano, Washington e seus aliados só investiam no golpe da “mudança de regime” na Síria. Para isso, fomentaram uma guerra suja, contratando legiões de grupos terroristas mercenários. Nenhuma diferença fazia que muitos daqueles “contratados” fossem de organização franqueada da Al-Qaeda e estivessem na lista oficial dos EUA de organizações terroristas.

Toda essa agenda militar clandestina resultou em rematado fracasso. O ponto de virada aconteceu há cerca de quatro meses, com a derrota dos grupos mercenários na região de Qusayr. Com a agenda militar clandestina fazendo água, o falso ataque químico encenado em East Ghouta foi a última esperança de Washington para conseguir atacar diretamente a Síria, em guerra aberta, tentando ainda forçar sua obsessiva “mudança de regime”.

Washington e seus aliados, contudo, não previram a oposição firme de suas próprias populações a mais essa ação de aventureirismo militar. O eixo de Washington tampouco avaliou corretamente a resistência internacional a mais esse surto de militarismo. O alerta do presidente russo Vladimir Putin, contra qualquer ataque que os EUA tentassem, ressoou fundo em muita gente comum em todo o mundo, inclusive na opinião pública nos EUA e Europa.

Tendo-se deixado prender nas cordas, Washington recebeu uma ajuda luxuosa, quando o ministro de 
Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, conseguiu arrancar de Kerry o acordo das armas químicas sírias, em Genebra, dia 14/9.

Aquele movimento dos russos repôs o processo político no centro do palco.

Esta semana, Lavrov disse que os EUA devem “usar todo o poder que tenham” para levar a oposição síria, com suas múltiplas facções, a fazer bom uso das conversações de Genebra-2.

O principal obstáculo nessa via política ainda é a incapacidade de nossos parceiros [os EUA] para conseguir que a oposição síria, sobre a qual os EUA sempre velaram, decida ir a Genebra e sentar para negociar com o governo.

Lavrov é um estadista e não usaria linguagem grosseira. Mas a essência do que disse pode ser facilmente traduzida: Washington criou tal monstruosidade na Síria, que agora já não tem poder para controlar seus próprios monstros.

Num mundo que já sabe que o governo dos EUA está quebrado, em total bancarrota financeira, já se vê também, claramente, que os EUA já são também força geopolítica falida. Em bancarrota em casa e pelo mundo, a Síria mostra que Washington é ator geopolítico exaurido.



[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish TimesThe Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.

Iraque: a maior não-história da era moderna

Iraque: a maior não-história da era moderna

Neil Clark

Os “neo-cons” e os imperialistas liberais não praticam nem a vergonha nem o remorso. O mesmo bando de intervencionistas “humanitários” e de falcões que pressionaram a invasão do Iraque em 2003 passou os dois últimos anos a fazer propaganda por um ataque contra a Síria.

A mais recente vaga de violência matou pelo menos 54 pessoas e feriu mais de 100 outras. Em Julho, mais de 1.000 pessoas foram mortas e mais de 2.300 foram feridas.

Pensarão provavelmente que estou a referir-me à Síria. Mas não. Estou a falar do Iraque. O país que George W. Bush e Tony Blair “libertaram” em 2003. Foi-nos dito que a intervenção militar ocidental iria abrir as portas a uma era maravilhosa de democracia, liberdade e direitos humanos. Em vez disso, abriu as portas a um aterrador banho de sangue já com mais de uma década de duração, com os iraquianos comuns a terem de suportar o pesadelo de viver naquilo que se tornou um dos mais perigosos países da terra.

Bastante à semelhança da história de Sherlock Holmes “O curioso incidente do cão nocturno”, o silêncio dos comentadores e políticos pró-guerra no que diz respeito ao derramamento de sangue em curso no Iraque é particularmente revelador.

Os mesmos figurões da elite que não paravam de escrever e de falar sobre o Iraque em 2002 e no início de 2003, dizendo quão terrível a ameaça das “armas de destruição massiva” de Saddam Hussein era para todos nós, e como necessitávamos de ir para a guerra com o Iraque não apenas para desarmar o seu perverso ditador mas também para “libertar” o seu povo, estão agora silenciosos perante o continuado derramamento de sangue e o caos provocado pela invasão ilegal. No decurso da invasão em Março de 2003, não se podia ligar um noticiário televisivo em Inglaterra ou na América sem que nos aparecesse um “neo-con” ou um “intervencionista liberal” obsessivamente fixado no Iraque. Na preparação para a guerra, estes grandes “humanitários” fingiam preocupar-se com a penosa situação dos iraquianos sob a ditadura de Saddam – mas nos dias de hoje manifestam pouca ou nenhuma preocupação pela penosa situação dos iraquianos regularmente esfacelados por bombas, a um ritmo quase diário. Não há apelos por parte dos “suspeitos do costume” a uma intervenção humanitária ocidental para deter a matança no Iraque. Para estes intervencionistas em série (serial interventionists) o Iraque, depois da invasão, tornou-se a maior não-história da era moderna. Em vez disso, a mesma gente que falava sem parar do Iraque em 2002-2003 hoje fala sem parar da Síria – fingindo preocupar-se com a penosa situação dos sírios da mesma forma que derramavam lágrimas de crocodilo sobre os iraquianos no início de 2003.

É interessante verificar que, no que diz respeito a dados sobre as baixas, os políticos pró-guerra são capazes de nos dizer exactamente quantas pessoas morreram na Síria desde que a violência teve início em 2011, (e está claro que para eles todas as mortes são da responsabilidade pessoal do Presidente Assad), mas quando a questão diz respeito ao Iraque e ao número de pessoas que aí foram mortas desde Março de 2003, a informação passa a ser muito mais vaga. “Não fazemos contagem de vítimas entre gente alheia” foi a notável declaração de Donald Rumsfeld em Novembro de 2003. Os iraquianos mortos desde Março de 2003 (e o número de baixas varia entre cerca de 174.000 e bastante mais de um milhão) são, para a nossa elite política, “não-gente”. Em 2013 apenas os sírios mortos (e sírios por cujas mortes as forças governamentais sírias possam ser responsabilizadas) contam – não os iraquianos mortos.

É por o Iraque ser apresentado como uma “não-história” e os nossos dirigentes nunca falarem da situação ali existente que não surpreende que a percepção pública acerca do morticínio se situe muito abaixo mesmo das estimativas mais conservadoras. Segundo uma sondagem realizada este ano, 66 por cento dos britânicos estimava que 20.000 iraquianos, ou menos, teriam morrido desde a invasão de 2003. Donald Rumsfeld ficaria sem dúvida encantado ao ouvir isso.

Se tivessem algum resto de vergonha, as pessoas que destruíram o Iraque podiam ao menos ter tido a gentileza de se retirar da vida pública. Mas os “neo-cons” e os imperialistas liberais não praticam nem a vergonha nem o remorso. O mesmo bando de intervencionistas “humanitários” e de falcões que pressionou a invasão do Iraque em 2003 passou os dois últimos anos a fazer propaganda por um ataque contra a Síria. Estes belicistas maníacos prefeririam que “virássemos a página” do Iraque para concentrar a atenção no próximo país do Médio Oriente da sua lista de objectivos a abater. Mas não devemos nunca “virar a página” do Iraque até que aqueles que destruíram esse país sejam levados a julgamento. O caos e o derramamento de sangue a que assistimos hoje no Iraque é consequência directa das desestabilizadoras e destrutivas políticas “neo-con” dos EUA e da Grã-Bretanha, e aqueles que são responsáveis pelo “supremo crime internacional” de infligir uma guerra de agressão contra um estado soberano devem prestar contas pela enorme desgraça humana que causaram.

*Jornalista e escritor. O endereço do seu blogue é www.neilclark66.blogspot.com.
Pela imediata libertação dos presos políticos nas manifestações

Pela imediata libertação dos presos políticos nas manifestações

Nota Política do PCB

O PCB vem a público exigir a imediata libertação dos presos políticos no Rio de Janeiro. O PCB se solidariza com os companheiros e companheiras presos de forma ilegal e ilegítima nas manifestações que tomaram conta do Brasil desde junho e que se mantêm vivas até hoje.

Somos solidários àqueles que, corajosamente, têm se mostrado como linha de defesa dos manifestantes contra a Policia Militar e seus desmandos autoritários. A atitude destes jovens honra a nossa mais cara tradição de luta, baseada na ousadia e determinação dos que se levantam contra a ordem do capital e não aceitam a acomodação dentro dos limites bem comportados impostos pela institucionalidade burguesa.

A Policia Militar, a mando do Governo Cabral, é apenas o instrumento a serviço do Capital, que não pode permitir que, das manifestações, venha a se constituir uma alternativa real e vigorosa de poder contra os interesses do grande capital monopolista, das empreiteiras, da saúde privada, do agronegócio, da especulação imobiliária, dos bancos e de seus capachos e aliados.

Os manifestantes presos são nossos militantes, independemente de nossas diferenças táticas e organizativas, pois na luta de classes não há fronteiras que nos dividam contra o inimigo comum. Eles estão presos porque reconhecem e lutam abertamente contra este inimigo, pedagogicamente atacando coisas e não pessoas.

Nas cadeias para onde estão sendo levados encontraram nossos irmãos de classe, muitos como eles, capturados arbitrariamente, com flagrantes forjados, arrastados para os porões deste ESTADO DEMOCRÁTICO de DIREITA. São todos vítimas da truculência policial e de um sistema judiciário que atua a favor da classe dominante, impedindo o acesso aos direitos a quem está muito longe da possibilidade dos recursos e embargos infringentes.

Os verdadeiros criminosos seguem no Estado sucateando a educação, privatizando a vida, entregando o petróleo aos monopólios privados. Nós, que estamos nas ruas, não somos criminosos, somos lutadores que denunciam este crime e por isso enfrentamos a ira do poder de estado burguês.

Pela imediata libertação dos presos políticos nas manifestações.

Pela anulação dos processos arbitrários contra manifestantes.

Pelo Fim da Policia Militar.

Abaixo o Capitalismo.

Lutar, criar o Poder Popular.

Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Difamação contra o PCB

Difamação contra o PCB

Foi publicada, no último domingo, entrevista com o delegado Oslain Santana, Diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal. Diz o mesmo que a corrupção está entranhada nas práticas partidárias, principalmente nos financiamentos de campanha, e que tais condutas "não são privilégio desse ou daquele partido", e sim que "todos os partidos" estão envolvidos ("Financiamento de campanha atual estimula a corrupção", Jornal "O Globo", 20/ 10/ 2013).

Como se vê, tal declaração joga, na mesma vala, todo o espectro político partidário brasileiro, como se os partidos sem exceção fosse idênticos em suas práticas. Trata-se de uma declaração leviana, que ecoa o discurso antipartidário que apareceu no bojo das manifestações a partir de junho. Essa hostilidade aos partidos faz parte da pauta da direita mais reacionária, interessada no esvaziamento do debate político -do qual os partidos são em tese instrumento- e em soluções autoritárias, como quarteladas e golpes de Estado.

Quando diz que "todos os partidos" são corruptos, o ilustre delegado mostra, também, profundo desconhecimento da história recente do Brasil. O Partido Comunista Brasileiro- PCB, desde sua fundação no longínquo ano de 1922, jamais, em toda sua existência, esteve envolvido em qualquer escândalo ou episódio que pudesse macular seu nome. Fiel aos princípios do marxismo e do leninismo, repudia e sempre repudiou as práticas nefastas da democracia burguesa, com seus conchavos, compadrios e jogos de interesse.

Não temos ilusões no sistema vigente, com todas as vicissitudes inerentes ao capitalismo. Concordamos que é preciso repensar o atual modelo de gastos de campanha, sendo o financiamento público, nesse sentido, fundamental. Mas não é porque os diversos partidos do institucionalismo burguês têm atitudes espúrias, do ponto de vista legal e político, que se pode dizer, de forma difamatória e caluniosa, que todos (sic) os partidos têm o mesmo proceder.

PCB - Secretariado Nacional
Resultados do ENEM refletem a desigualdade da sociedade brasileira

Resultados do ENEM refletem a desigualdade da sociedade brasileira


Os números divulgados hoje pelo jornal O Globo referentes aos resultados do Exame Nacional de Ensino Médio revelam o alarmante quadro geral da Educação brasileira.

Analisando as informações de questionários respondidos por 3, 87 milhões de candidatos da versão 2011 do ENEM, constatou-se que a nota média obtida na prova de redação – a prova mais importante do exame – entre os estudantes cujas famílias tem renda de até 1 salário mínimo foi 460, sendo de 597 anota média dos estudantes oriundos de famílias com renda entre 5 e 7 salários mínimos e de 642 a nota média dos estudantes pertencentes a famílias com renda entre 15 e 30 salários mínimos.

A média de notas também varia bastante de acordo com a rede de ensino à qual os estudantes pertencem: os alunos da rede federal (menos numerosa) tiveram média de 623 na redação; em segundo lugar vêm os estudantes da rede privada, com 612; em terceiro vêm os da rede municipal, com 498 e, em quarto, os da rede estadual, com 486.

Além de refletir o perverso perfil de distribuição da renda no Brasil, os números, mostram com destaqu,e as condições em que funcionam as redes públicas, com condições materiais bastante precárias, no caso geral. Os baixos salários pagos aos  profissionais de Educação – hoje mobilizados e em greve em muitas cidades do país, e com toda a razão nas suas reivindicações –, além de levá-los à exaustão física pelo elevado número de aulas que têm que dar para garantir, ao menos, o seu sustento, geralmente mais de 40 por semana e em mais de 3 escolas, realimenta um círculo vicioso em que cada vez menos estudantes secundaristas se interessam pela carreira do magistério, gerando uma crônica escassez além de professores.

A forma como a Educação vem se desenvolvendo revela a mercantilização do setor, onde, no ensino médio, além das poucas escolas federais de alta qualidade existentes, têm grande peso as escolas privadas, dentre as quais uma parte, com mensalidades mais elevadas, responde pela maioria das notas mais elevadas do ENEM. E demonstra, claramente, o desprezo dos governos, que não hesitam em gastar bilhões com obras faraônicas e supérfluas em detrimento da Educação e outras áreas de interesse direto da maior parte da população.

Educação não é mercadoria. Somente com a universalização do acesso ao ensino público, gratuito e de alta qualidade, com escolas bem equipadas e bons salários  para os profissionais de Educação poderemos superar o quadro atual e avançar na construção de uma sociedade justa e igualitária.
 Sobre "regimes" e governos

Sobre "regimes" e governos


The Obama regime

por Atilio A. Boron

È uma prática profundamente arraigada que os governos adversos à dominação americana sejam habitualmente caracterizados como "regimes", pelos grandes meios de comunicação do império, pelos intelectuais colonizados da periferia e por aqueles que o grande dramaturgo espanhol Alfonso Sastre magistralmente qualificou como "intelectuais bem pensantes". A palavra "regime" adquiriu na ciência política uma conotação profundamente negativa ainda que esta não existisse na sua formulação original. Até meados do século XX falava-se do "regime feudal", do "regime monárquico", ou do "regime democrático" para aludir a leis, instituições e tradições políticas e culturais que caracterizavam cada sistema político. Contudo com a Guerra-fria e depois com a contra-revolução neoconservadora este vocábulo mudou completamente o seu significado. No seu uso actual a palavra é empregada para estigmatizar governos ou estados que não se ajoelham perante as ordens de Washington, que por isso mesmo os caracteriza como autoritários e, em não poucos casos, como tiranias sangrentas.

Contudo, um olhar sóbrio sobre este assunto comprovaria a existência de estados abertamente despóticos que, apesar disso, os arautos da direita e do imperialismo jamais qualificariam como "regimes". Na conjuntura actual proliferam analistas políticos e jornalistas (incluindo alguns "progressistas" um tanto ou quanto distraídos) que não encontram inconveniente em aceitar o uso da linguagem estabelecida pelo império. O governo sírio é o "regime de Bashar Al Assad"; e a mesma classificação é utilizada para falar dos países bolivarianos. Na Venezuela o que existe é um "regime chavista"; no Equador é o "regime de Correia" e a Bolívia está submetida aos caprichos do "regime de Evo Morales". O facto de se terem desenvolvido nesses três países instituições e formas de protagonismo popular e funcionamento democrático, superiores aos existentes nos Estados Unidos e na maioria dos países capitalistas desenvolvidos é olimpicamente ignorado. Como não são amigos dos Estados Unidos o seu sistema político é classificado como "regime".

O duplo critério que se aplica nestes casos fica em evidencia quando se observa que as infames monarquias petrolíferas do golfo, muito mais despóticas e brutais do que o "regime sírio", nunca são estigmatizadas com a palavrinha em questão. Fala-se por exemplo, do governo de Abdullah bin Abdul Aziz mas nunca do "regime saudita", apesar de este país não ter sequer um parlamento mas sim uma "Assembleia Consultiva" cujos membros são escolhidos pelo monarca entre os seus parentes e amigos; de os partidos políticos estarem expressamente proibidos e de o poder ser exercido por uma dinastia que se perpetua há décadas no poder. Exactamente o mesmo sucede com o Qatar a quem nem por rebate de consciência ao New York Times ou aos media hegemónicos da América Latina e do Caribe ocorre tratarem-nos por "regime saudita" ou "regime qatari". A Síria, ao contrário, é um "regime" – apesar de ser um estado laico no qual até há bem pouco tempo conviviam diversas religiões, onde existem partidos políticos legalmente reconhecidos e um congresso com representação da oposição. Mas nada lhe tira a alcunha de "regime". Por outras palavras, um governo amigo, aliado ou cliente dos Estados Unidos, por mais violador que seja dos direitos humanos, nunca será caracterizado como um "regime" pelo aparato propagandístico do sistema. Por outro lado os governos do Irã, Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador e outros mais são invariavelmente caracterizados dessa maneira. [1]

Para comprovar rotundamente a tergiversação ideológica subjacente a esta caracterização dos sistemas políticos basta recordar a forma como os publicitários da direita caracterizam o governo dos Estados Unidos, considerando-o o "non plus ultra" da realização democrática. Isto apesar de o antigo presidente Jimmy Carter dizer que o seu país "não tem uma democracia que funcione". O que há é um estado policial muito habilmente dissimulado, que exerce uma vigilância permanente e ilegal sobre os seus próprios cidadãos, e cujo feito mais importante que realizou nos últimos trinta anos foi permitir que apenas 1% da população enriqueça como nunca até aqui, à custa do estancamento dos rendimentos recebidos por 90% da população. Na mesma linha crítica da "democracia" estado-unidense (na realidade uma cínica plutocracia) encontra-se a tese do grande filósofo Sheldon Wolin, que caracterizou o regime político imperante no seu país como "um totalitarismo invertido". Segundo ele, "o totalitarismo invertido… é um fenómeno…que representa fundamentalmente a maturidade política do poder corporativo e a desmobilização política da cidadania". [2] Por outras palavras, a consolidação da dominação burguesa nas mãos dos oligopólios, por um lado, e a desmobilização política das massas, devido à apatia política, abandono e mesmo desdém pela vida pública, e a fuga individual no sentido de um consumismo insano sustentado pelo endividamento galopante, por outro. O resultado: um "regime" totalitário de novo tipo. Um democracia "peculiar", em suma, sem cidadãos nem instituições, e na qual o peso esmagador do "establishment" esvazia de todo conteúdo o discurso e as instituições democráticas, convertidas por isso num esgar sem gosto nem graça, e absolutamente incapaz de garantir a soberania popular. Ou seja, de tornar realidade a velha fórmula de Abraham Lincoln quando definiu a democracia como "o governo do povo, pelo povo e para o povo".

Em resultado desta gigantesca operação de falsificação da linguagem, o estado norte-americano é concebido como uma "administração", ou seja, uma organização que em função de regras e normas claramente estabelecidas gere a coisa pública com transparência, imparcialidade e apego ao mandato da lei. Na realidade, como afirma Noam Chomsky, nada disso é verdade. Os Estados Unidos são um "estado canalha" que viola como nenhum outro a legalidade internacional bem como alguns dos mais importantes direitos e leis do seu próprio país. Assim o demonstram, no caso interno, as revelações sobre a espionagem que a NSA e outras agências têm feito contra o próprio povo americano, já para não falar de atropelos ainda piores como os que se produzem diariamente na prisão de Guantanamo, ou a persistente ferida aberta do racismo. [3] Proponho por isso que se abra uma nova frente da luta ideológica e se comece a falar sobre o "regime de Obama", ou do "regime da Casa Branca" cada vez que tenhamos de nos referir ao governo dos Estados Unidos. Será um acto de justiça que melhora a capacidade de análise, e contribui para higienizar a linguagem política, emporcalhada e abastarda pela indústria cultural do império e a sua inesgotável fábrica de mentiras.

[1] Convém recordar que esta dualidade de critérios morais tem uma longa história nos Estados Unidos. É célebre a piada que narra a resposta do presidente Franklin D. Roosevelt perante alguns membros do partido democrata horrorizados pelas brutais políticas repressivas de Anastazio Somoza na Nicarágua. FDR limitou-se a escutá-los e rematou: "sim é um filho da puta. Mas é o "nosso" filho da puta". O mesmo poderia dizer-se dos monarcas da Arábia Saudita ou do Qatar, entre outros. Acontece que Bashar Al Assad não é o seu filho da puta. Daí a caracterização do seu governo como "regime".
[2] Cf. sua Democracia Sociedad Anónima (Buenos Aires: Katz Editores, 2008) p. 3.
[3] Para um exame da sistemática violação dos direitos humanos por parte do governo dos Estados Unidos, ou do "regime" norte-americano, ver: Atilio A. Boron e Andrea Vlahusic, El lado oscuro del imperio. La violación de los derechos humanos por Estados Unidos (Buenos Aires: Ediciones Luxemburg, 2009)

O original encontra-se em www.atilioboron.com.ar/2013/09/sobre-regimenes-y-gobiernos.html . Tradução de PM.

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