18 de julho de 2009

HONDURAS – UMA LUTA DOS POVOS LATINO-AMERICANOS - Por: Laerte Braga [*]

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Milhares de manifestantes bloquearam as principais estradas de Honduras em protesto contra o golpe militar que derrubou o presidente Manuel Zelaya. Desde o golpe mais de cem pessoas já morreram assassinadas nas ruas e nas prisões do regime de Roberto Michelletti.

O golpista – presidente nominal do país, os militares comandam em parceria com empresas e o embaixador dos Estados Unidos –, segundo as principais agências de notícia do mundo (mas você não vai ver na GLOBO) “cogitou” de abandonar o cargo impondo como condição que o presidente constitucional deposto não volte.

A idéia foi rechaçada pelo presidente da Costa Rica que disse ter um mandato de trinta e quatro países para negociar o retorno de Honduras à ordem constitucional e negou-se a aceitar a proposta de Michelletti.

Oscar Árias, prêmio Nobel da paz e presidente costarriquenho foi encarregado pela OEA de negociar a retomada do processo democrático em Honduras.

Caminhões tiveram que parar em vários pontos do país depois que milhares de manifestantes fecharam as estradas bloqueando todas as vias de exportação por terra. O governo golpista depende visceralmente dessas exportações em sua maioria de café, tecidos e bananas. A maioria das empresas exportadoras é de cubanos anti-castristas e norte-americanos associados a empresários e militares hondurenhos.

Os cerca de 500 militares norte-americanos sediados numa base em Honduras têm negócios no país, inclusive tráfico de drogas. O governo golpista está se valendo de um esquadrão da morte para assassinar líderes da resistência. O chefe desse esquadrão é o ministro da “justiça” dos militares.

“Se for preciso paralisar o país, nós o faremos”. Foi a declaração de Yadira Marroquin, funcionário de um hospital em Honduras. Um dos líderes das manifestações Juan Barahona, da FRENTE NACIONAL DE RESISTÊNCIA disse que “estamos dispostos a quebrar a economia dos golpistas”.

Militares a princípio observaram os manifestantes à distância, fotografaram e no velho estilo covarde e desumano que caracteriza esse tipo de “democrata”, valem-se dessas fotos para buscar prender os principais líderes da resistência. Para isso foi imposto, novamente, o toque de recolher.

Residências são invadidas, pessoas são presas sem mandados judiciais, num país dominado por quadrilhas de militares e empresários hondurenhos, cubanos de Miami (tráfico de drogas e mulheres, prostituição e jogo). O estranho silêncio da Igreja Católica que parece começar a entender o equívoco do apoio ao golpe diante de tanta barbárie praticada pelos golpistas começa a ter efeitos negativos. O principal líder católico do país apoiou abertamente o golpe há dezoito dias.

Manifestantes em todo o país estão saindo às ruas diariamente a despeito da violência dos militares e das polícias. “Queremos Mel” é o grito de guerra dos grupos que resistem ao golpe e defendem o mandato constitucional do presidente Manuel Zelaya.

Numa comparação das duas fotos acima é possível distinguir seres humanos de primatas. Os primatas usam câmeras naturalmente importadas para escolher vítimas na desenfreada boçalidade de militares golpistas.

O presidente Hugo Chávez disse hoje em La Paz que a situação em Honduras é grave e que uma guerra civil no país pode ter alcance regional colocando em risco a segurança e a paz na região. Chávez voltou a afirmar que os militares e empresários tiveram apoio dos Estados Unidos e o presidente Barak Obama ou não está encontrando forças dentro do seu país para transformar suas declarações em fato, a condenação do golpe, ou é cúmplice e vive apenas uma farsa.

“Garoto propaganda de uma realidade que é tão somente um espetáculo”.

Observadores internacionais dão conta que a participação de empresários e militares ligados ao tráfico de drogas dificultam qualquer negociação. Michelletti, presidente golpista é um dos sustentáculos dessas quadrilhas. Nos EUA os principais pontos de apoio dos golpistas são o ex-vice-presidente de Bush, Dick Chaney (envolvido em acusações de tortura, seqüestros e negócios ilícitos) e o senador John MaCain, candidato republicano derrotado por Obama nas eleições presidenciais do ano passado.

Os milhares de manifestantes em todo o país carregavam cartazes pedindo a renúncia de Michelletti, acusando os militares de assassinato e protestando contra a interferência dos porões do governo dos EUA em Honduras.

A maior parte da luta do povo hondurenho está sendo ignorada pela grande mídia no Brasil e nos países onde esses veículos são controlados por grupos privados, caso da REDE GLOBO aqui. São empresas de comunicação que integram o amplo espectro neoliberal e golpista em todo o sub-continente latino-americano.

Os golpistas, por sua vez, admitem que não vai ser possível governar um país nesse clima de manifestações diárias e estariam procurando exatamente o que Michelletti propôs. Um retorno disfarçado à democracia, mas sem o presidente constitucional do país Manuel Zelaya. É que o que antes era incerteza, a perspectiva de uma ampla vitória de Zelaya num referendo, tornou-se uma certeza.

Ou seja, procurando garantias para seus “negócios” através de um eventual presidente fantoche.

A reação do presidente da Costa Rica Oscar Árias surpreendeu. Nos termos em que colocou publicamente o assunto, o costarriquenho foi enfático ao dizer que seu mandato e a negociação em San José têm mão apenas para um caminho – a volta da legalidade com o retorno de Zelaya à presidência do país.

Cientistas políticos, observadores, jornalistas e líderes de movimentos populares em toda a América Latina assinalam que a luta do povo hondurenho é de todos os latinos. Um triunfo definitivo dos golpistas abriria as portas das catacumbas onde se abrigam os velhos golpistas do final do século XX, inclusive no Brasil. Já se fala na candidatura presidencial do general Augusto Heleno (ex-comandante militar da Amazônia, ligado à CIA VALE, privatizada no governo FHC e aos arrozeiros de Raposa Serra do Sol).

A candidatura é apenas um pretexto para reaglutinar velhos golpistas e torturadores dentro das forças armadas.

A luta dos hondurenhos é a luta de todos os povos latino-americanos contra a barbárie a boçalidade dos regimes militares. O nacionalismo e o patriotismo na forma mais calhorda possível, na verdade a entrega dessa parte do mundo ao complexo conhecido como EUA (militares, empresários, banqueiros).

E o estilo de sempre. Defender a soberania (que vendem, como já venderam) e a integridade de territórios nacionais que permitem seja controlado de fora. No caso do Brasil a Polícia Federal afasta o delegado Protógenes Queiroz que prende um banqueiro corrupto e aceita agentes de Israel para controlar a tríplice fronteira no Sul do país usando aviões sem piloto.

Honduras, neste momento, é toda a América Latina.

[*] Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

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