O presidente constitucional de Honduras Manuel Zelaya voltou a dizer que só não permaneceu em território hondurenho, para atender a um pedido do presidente Oscar Árias da Costa Rica, mediador designado pela OEA para a crise que resultou no golpe de estado que colocou no poder Roberto Michelletti.
Zelaya entende que o golpe se sustenta na ação tíbia do governo Obama que enfrenta forte oposição interna para transformar em realidade ações políticas que se somem às decisões da OEA - ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS - e da Assembléia Geral das Nações Unidas. Essas organizações deram um ultimato aos golpistas para que o governo seja devolvido ao presidente constitucional do país.
Segundo o presidente deposto enquanto Obama fala numa direção, senadores e diplomatas dos EUA, associados a chefes militares e remanescentes do governo Bush, a CIA principalmente, falam noutra e agem de forma concreta para consolidar o governo de Michelletti.
Zelaya reiterou que terminado o prazo pedido pelo presidente da Costa Rica vai retornar a Honduras e assumir a luta de resistência. Segundo ele e seus principais assessores, a idéia de antecipar as eleições de novembro pode ser um ponto de partida para um acordo, desde que o presidente retome o governo e seus partidários possam participar do pleito. A idéia dos golpistas é realizar eleições sem Zelaya e seu grupo, o que, na prática, legitimaria o golpe.
Os protestos continuam por todo o território hondurenho, mas neste momento a luta assume características diversas daquelas que seguiram aos primeiros dias do golpe. As idas e vindas de golpistas, o confronto entre as duas forças políticas nos Estados Unidos, o governo Obama e o que chamam de "governo invisível", formado pela CIA, militares e empresários norte-americanos e hondurenhos debilita a posição da OEA diretamente envolvida no assunto.
A avaliação de setores que atuam diretamente no conflito é a de que os golpistas procuram transformar a situação de fato em única alternativa e buscar em novas eleições sufocar toda e qualquer pretensão de Zelaya, excluindo a ele e seus partidários da disputa.
Já existem críticas ao presidente deposto no âmbito dos movimentos de resistência. Para alguns Zelaya deve tomar atitudes mais enérgicas e menos teatrais, assumindo de fato o comando da resistência e permanecendo em território hondurenho quaisquer que sejam os riscos. Do contrário, as entradas e saídas que o presidente deposto tem usado para falar aos hondurenhos dentro do território de seu país serão inócuas e não chegarão a resultado algum.
O desafio da comunicação está sendo perdido pelo controle que os norte-americanos exercem sobre a grande mídia. As principais redes de tevê norte-americanas e de toda a América Latina estão associando o golpe a uma medida de defesa contra a expansão do que chamam de chavismo" em países da América Central. A presença de dois governos populares na região, o de Ortega na Nicarágua e o de El Salvador, além da situação na Guatemala, próximo alvo desses grupos e que muitas vezes é representado por um absoluto silêncio sobre os fatos contribuem para os golpistas. Todos esses fatores servem para consolidar o golpe, marchar para soluções alternativas que excluam Zelaya e abrir perspectivas para ações futuras contra o próprio governo de Chávez. Toda a resistência midiática ao golpe está concentrada em sites e blogs na rede mundial de computadores, em listas de discussão e nos protestos realizados em países latino-americanos contra o golpe, mas excluída das pautas dos grandes veículos que vendem essa idéia de intervenção do presidente Chávez.
A volta definitiva de Zelaya é considerada primordial se existir, por parte do presidente deposto, vontade efetiva de enfrentar os golpistas. Para tanto existem condições objetivas tanto na resistência, que é surpreendente e na opinião pública a despeito do noticiário tendencioso da grande mídia.
Esse tipo de trabalho orquestrado pelo chamado governo invisível que, em países como o Brasil por exemplo, controla o noticiário de redes como a Globo e jornais francamente favoráveis ao golpe, como a Folha de S. Paulo, determina uma certa perplexidade até em grupos de luta popular. O caso dos massacres de civis nas primeiras manifestações em Tegucigalpa e a ação brutal dos militares no domingo que Zelaya tentou aterrissar no aeroporto da capital, está gerando confusão entre forças latino-americanas que apóiam a volta de Zelaya.
Os próximos momentos serão decisivos.
A luta em Honduras tem um caráter emblemático, estende-se a todo o conjunto de governos bolivarianos da América Latina. Um vacilo de Zelaya neste momento vai significar que outras formas de enfrentar os golpistas serão postas em prática, mesmo com o risco real de intervenção de forças militares dos EUA sob a bandeira da OEA, como fazem no Haiti e historicamente o fizeram em vários países da região.
E é o que parece estão procurando fazer acontecer.
O presidente prometeu que esta noite entra em Honduras e não sai mais. É a expectativa do movimento de resistência. Temos que aguardar e torcer para que isso realmente aconteça.[*] Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.