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OperaMundi 23/07/2010 - 07:54 | Marina Terra | Redação
Após o anúncio do rompimento das relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia, o ex-presidente Nestor Kirchner, atual secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), o presidente temporário da organização, o equatoriano Rafael Correa e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começaram a costurar um plano para a crise sul-americana.
O desejo é o de debater na Unasul a situação, anunciada na tarde de ontem (22/7) pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, após o embaixador colombiano na OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Alfonso Hoyos, fazer uma série de acusações contra a Venezuela, que estaria abrigando guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ELN (Exército de Libertação Nacional).
Ontem, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, pediu que a Unasul convoque "de maneira imediata" uma reunião de seu Conselho Político para que avalie a crise. "Solicitamos de maneira imediata" que se reúnam os chanceleres do bloco para que o governo venezuelano "denuncie e leve ao debate esta agressão para que a Unasul dê uma resposta", declarou Maduro.
O próprio Chávez, conforme noticiou o jornal argentino Página 12, telefonou a Kirchner e aos presidentes Correa e Lula para comentar a situação. O cenário indica que o presidente venezuelano não quer mais qualquer envolvimento da OEA, que ontem aceitou escutar as denúncias colombianas e cujo presidente, José Miguel Insulza, foi criticado pelo Equador, por meio de seu chanceler, Ricardo Patiño. "Insulza tem agora a responsabilidade pelo que ocorreu na região por não ter atendido as consultas que nós pedimos."
Patiño sustentou que a Unasul tem mais capacidade de lidar com a crise. “A Unasul tem mais capacidade de diálogo”, afirmou, porém, sem detalhar os próximos passos que o bloco daria, explicou, para não “cair nos mesmos erros” de Insulza. “Consultarei o presidente (Correa) para que me dê coordenadas a respeito do tema. Sequer quero adiantar a possível data de uma reunião de emergência. Não quero me precipitar, acredito que deveríamos consultar os governos da América do Sul”, explicou Patiño.
Retrospecto de Uribe
Resta agora conhecer a disposição do presidente colombiano, Álvaro Uribe, em participar de um debate na Unasul. Uribe passará a faixa presidencial para o presidente eleito, Juan Manuel Santos, no próximo dia 7 de agosto.
Em agosto do ano passado, após a Colômbia anunciar a instalação de mais bases militares em cooperação com os Estados Unidos, Uribe aceitou a convocatória para uma reunião da Unasul em Bariloche, Argentina, e evitou um rechaço generalizado das nações sul-americanas.
O rompimento dos laços diplomáticos foi anunciado por Hugo Chávez na tarde de ontem. Na ocasião, acompanhado de Diego Maradona, ele disse ter sido "obrigado" a tomar tal atitude frente às acusações colombianas. Autoridades de Bogotá denunciam que guerrilheiros estariam escondidos em seu país com o consentimento de Caracas.
A decisão foi tomada no momento em que o Conselho Permanente da OEA se reunia em Washington para analisar a crise. Perante os membros da entidade, a representação colombiana fez uma série de ataques, denunciando a presença de guerrilheiros das Farc e do ELN em ao menos 87 acampamentos em cidades venezuelanas. Foram apresentados documentos, imagens, vídeos e coordenadas de onde estariam instalados os criminosos.
A Venezuela, por meio do diplomata Roy Chaderton Matos, repudiou as declarações e negou que estas fossem novas denúncias, esclarecendo que em 2005 já foram feitas inspeções nas regiões citadas.
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/noticias_ver.php?idConteudo=5216
POR QUE CHÁVEZ ROMPEU RELAÇÕES COM A COLÔMBIA
Breno Altman*
Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
*Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1186