Desastre ecológico na costa do Rio de Janeiro é fruto da lógica privada que só enxerga o lucro
Paulo Schueller(*)
Tentativa ilegal de chegar ao
pré-sal. Uso de mão-de-obra “importada”, burlando a legislação
trabalhista brasileira. Despreparo para identificar o vazamento e falta
de equipamentos para chegar até ele. Divulgação de números mentirosos
quanto à extensão do desastre, leniência para informar ao público e uso
de técnica equivocada para conter o vazamento. Cumplicidade com o
principal veículo de informação do país para “tranquilizar” – em
verdade, manipular – a sociedade.
O recente vazamento de óleo na Bacia de
Campos traz à tona algumas facetas da “gestão privada” na extração de
petróleo e serve como prova cabal de que este modelo, gerenciado pela
Agência Nacional do Petróleo, sob comando de um dirigente nacional do
PcdoB, Haroldo Lima, serve apenas aos interesses privados e envolve
enormes riscos para a saúde e a vida dos trabalhadores e o ecossistema.
A Polícia Federal (PF) já iniciou
investigações para comprovar que a Chevron estava tentando indevidamente
alcançar a camada pré-sal do Campo de Frade. O fato de a empresa usar
uma sonda com capacidade para perfurar a até 7,6 mil metros, quando o
petróleo no local podia ser retirado a menos da metade de tal
profundidade, é um indicativo de que a companhia estava burlando seu
contrato de exploração.
A PF também investiga os indícios de que
estrangeiros que entraram ilegalmente no Brasil estejam trabalhando em
plataformas localizadas no litoral brasileiro, para a Chevron e outras
empresas, sem direitos trabalhistas e previdenciários e alguns em regime
de semi-escravidão.
O órgão federal também instou a empresa a
parar de utilizar a técnica de jateamento de areia no óleo que vazou,
pois ao invés de ser retirado, ele vai afundar (limpando o espelho
d’água) e continuar a poluir o local. Trata-se do velho “esconder a
sujeira para debaixo do tapete”.
Além dos inquéritos na PF, outros itens
merecem ser destacados: a empresa não estava preparada para identificar o
vazamento de petróleo e seu plano de emergência para acidentes não vem
sendo cumprido. Foi a Petrobrás (que deveria ter o monopólio da
exploração do petróleo no país) que verificou a fonte de vazamento e
avisou à Chevron.
“Avisada”, ela tentou usar um robô para
identificar a origem do derrame mas o equipamento tinha capacidade
limitada e não conseguia fazer uma identificação precisa do local. E a
Petrobrás lhe emprestou dois robôs capazes de colher dados mais
precisos.
Tudo isso não é fruto do acaso. Tais
falhas e desrespeitos à legislação fazem parte da lógica privada de
busca pelo maior lucro possível, custe o que custar. O inusitado é que
esta vergonhosa exploração seja gerenciada e “fiscalizada” por um
dirigente de um partido que se intitula comunista, o PcdoB, e que
convoca e dirige os leilões de nosso petróleo, em que a Petrobrás
disputa em condições idênticas com as multinacionais como a Chevron e
tantas outras. A ANP só se pronunciou ontem, 15 dias depois do início do
vazamento, e assim mesmo por pressão da presidência da República.
Desastre ocorrido, restaram o
oportunismo político de alguns e a falta de vergonha de outros.
Explique-se: o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, aproveitou a
ocasião para defender seu cofre na discussão sobre os royalties do
pré-sal. Nada ofereceu à população que mora na região e que deverá
sofrer as consequências do desastre ambiental.
A Rede Globo, por sua vez, fez cobertura
jornalística no Jornal Nacional escamoteando muitas das informações que
constam nesse texto – e são de seu conhecimento. Afinal de contas, as
imagens aéreas mostradas no vídeo, por seu cinegrafista, foram feitas de
dentro de um jatinho “concedido pela Chevron”, como desavergonhadamente
disse a apresentadora do programa. Segundo o jornalista Ricardo
Boechat, esta foi a primeira vez que a Globo repassou suas imagens para
as outras emissoras, após tê-las exibido em primeira mão.
É preciso uma rigorosa apuração policial
para desvendar a teia de promiscuidade entre a ANP, a Rede Globo, a
Chevron, o governo do Estado, setores da Petrobrás e o Ministério das
Minas e Energia, dirigido por um apadrinhado do indefectível José
Sarney.
(*) Paulo Schueller é jornalista e membro do CC do PCB
22 de novembro de 2011
Chevron: a conta é da ANP, a “Agência Nacional da Privataria”
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Oleh
Rubens Ragone
1 comentários:
comentáriosCabral está pensando no interesses de nossa cidade no geral!! Estamos Juntos Cabral!!!!
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