Nesta quarta-feira, dia 21, o segundo
dia do seminário “PCB 90 anos de lutas”, em comemoração ao aniversário
do Partido, a primeira palestra foi A Resistência Contra a Ditadura com
Muniz Ferreira, professor da Universidade Federal da Bahia e Marcos Del
Roio, professor da Unesp. Em seguida, a professora Anita Prestes e o
secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, debateram o reformismo e a
tentativa de liquidação do Partido.
Para Muniz Ferreira, a atuação política
do PCB de 1965 a 1979 é importante, complexa e problemática, já que a
sua formulação política é essencialmente vitoriosa. Mas, por outro lado,
o Partido tem uma perda determinante, pois sai desse período sem o
monopólio da representação de esquerda e com problemas políticos e de
organização que resultaram no que houve na década de 80 - tratado na
mesa seguinte.
Para ele, a declaração de Março de 1958
redefiniu a política do Partido e o V Congresso a reafirmou, com ênfase
no protagonismo das massas no processo revolucionário. Destacou que o
caminho das transformações pacíficas é o que mais interessava ao povo
brasileiro naquele período, porém se a resistência da elite impusesse
outra forma, ou seja a resistência armada, seria de sua responsabilidade
o que viesse a ocorrer.
Explicou que em momento algum houve no
interior do Partido a rejeição ao processo de enfrentamento armado para a
revolução, bem como o movimento comunista internacional jamais disse
que a transformação ocorreria apenas pela via pacífica.
“Até 1964 o PCB era a principal força da
esquerda brasileira, apesar de existirem outras organizações, que
tendiam a discordar pela esquerda”, seja pelo caráter da revolução, seja
pela contundência da defesa da via pacífica, relembrou ao enfatizar que
não apenas o Partido, mas todas as organizações de esquerda “entraram
em crise após o golpe de 64”, com rachas e divisões internas.
Para ele, a crise do PCB se manifesta a
partir de sua avaliação do golpe, em reunião realizada em abril/maio de
1965, quando foram apontados desvios de direita – crença excessiva no
dispositivo militar de Jango e em articulações políticas de cúpula – e
desvios de esquerda – discurso político de confrontação e prática de
agitação que não correspondia a real correlação de forças.
Lembrou Carlos Marighella, que sai do
Partido não por discordar do seu programa, mas por discordar da sua
aplicação prática, da sua ação política.
Destacou que em seu VI congresso, em
1967, o Partido reafirma sua decisão de resistir à ditadura e vencê-la
através da “ação das massas”, o que acabar por ocorrer e confirmar
historicamente o acerto da direção na ocasião.
Criticou, entretanto, a mudança do “tom”
político a partir da segunda metade dos anos 70, quando os militantes,
por orientação da direção, passam a ser por demais moderados em suas
intervenções e ações políticas.
A greve dos 300 mil em São Paulo, ponto de inflexão?
O professor da Unesp voltou à década de
50 para destacar alguns marcos na história do Partido, como o manifesto
influenciado pela vitória da revolução chinesa, que chegou a resultar em
duas revoltas camponesas no Brasil, em Goiás e no Paraná. Disse,
entretanto, que a famosa greve de 300 mil trabalhadores em São Paulo
mudou a linha da direção partidária, que passou a priorizar a unidade da
classe operária.
Para ele, a crise internacional da
segunda metade da década de 50 originou a declaração de Março, que
“tirou muita gente do Partido”.
Já no começo dos anos 60, começa a
ocorrer no país uma revolução democrática, concomitante com um movimento
reacionário, de manutenção do poder da elite. Vem o golpe de 64, a
reorganização da classe dominante e uma derrota do PCB.
Lembrou o antigo jornal “Voz Operária”, o
grande instrumento de resistência à ditadura, apesar de no VI
Congresso, em 1967, cerca de 40% dos militantes terem deixado o PCB e
criado organizações de esquerda a favor da luta armada.
Com a derrota da guerrilha, a repressão
contra o Partido Comunista e a reação no Chile os comunistas ficaram
dispersos, alguns na França, outros na Itália, em Portugal, na URSS etc.
Essa dispersão aliada ao afastamento da
classe operária, até mesmo pelo exílio de um terço do Comitê Central,
levaram aos problemas que começam a pipocar em todo o Partido,
agravando-se com a volta do exílio em 1979 e abrindo caminho para o que
viria a ser o PT ocupar.
Reformismo e tentativa de liquidação
Tal período histórico também esteve
presente na mesa seguinte, sobre o período de 1980 a 1992. De acordo com
Anita Prestes, o reformismo esteve presente nas formulações do PCB
desde os finais dos anos 1920, e em grande parte de sua trajetória o
Partido se subordinou a estratégia nacional-libertadora, de revolução em
duas etapas, o que teria causado profundas divergências no interior do
Comitê Central ao longo das décadas de 1960 e 1970, culminado com a
saída de Luiz Carlos Prestes da organização.
Por sua vez, o secretário-geral do PCB,
Ivan Pinheiro, deixou claro para o público presente que as divergências
no interior do Partido eram, desconhecidas pela maioria da militância,
que com a chegada dos membros do CC que estavam no exílio começam a
perceber a luta interna que já estava instaurada.
Ivan lembrou situações como a do dia da
volta de Prestes ao Brasil, durante o qual foi impedido pela direção
partidária de aparecer no saguão do Aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro, para saudar a chegada do "Cavaleiro da Esperança".
Durante a mesa, foram levantadas
questões sobre as quais há carência de documentos para comprovação, como
a de que a legalidade conquistada pelo PCB em meados dos anos 1980
tenha sido "negociada" pela então direção direitista do Partido junto a
setores de uma Ditadura já em processo de decomposição.
Ao mesmo tempo, como contribuição ao
caráter que o Comitê central do PCB tomou ao longo dos anos 1980,
lembrou-se que importantes dirigentes, ligados ao movimento operário e
que não saíram do país para o exílio, estão até hoje desaparecidos -
como o 1/3 do Comitê Central que caiu nos anos de 1974 e 1975.
Seminário dos 90 anos debate resistência contra Ditadura e tentativa de liquidação do PCB
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Oleh
Rubens Ragone