Implantação de polo aeroespacial no Rio Grande do Sul é justificativa para acordo polêmico.
À frente de uma delegação de autoridades regionais e empresários, o
governador gaúcho chegou ao Oriente Médio para uma inédita rodada de
negócios junto à Autoridade Palestina e a Israel.
Trouxe na sua pasta, ao desembarcar na capital israelense dia 26 de
abril, alguns projetos de impacto. A primeira etapa do périplo de Tarso Genro e convidados foi em Ramalah.
Assinou convênios para importar tecnologia palestina em cultivo de
oliveiras e agricultura familiar. Ofereceu, em contrapartida,
assistência para microcrédito, saúde da família e desenvolvimento de
projetos agroindustriais.
A reportagem é de Breno Altman e publicada pelo Opera Mundi, 29-04-2013.
A atividade mais esperada de sua primeira agenda, contudo, foi a doação de 11,5 mil toneladas de arroz para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA),
compradas pelo governo federal junto aos estoques reguladores
pertencente ao Rio Grande do Sul e que serão entregues ao longo dos
próximos doze meses.
Mas foi o programa do outro lado da chamada Linha Verde que provocou
rebuliço entre palestinos e israelenses críticos ao governo de Tel Aviv.
Na tarde desta segunda-feira, dia 29 de abril, o chefe do Palácio
Piratini assinou protocolo com aElbit, companhia
militar de Israel, para parceria no polo aeroespacial gaúcho. O
empreendimento deverá ser a segunda base nacional para lançamento de
satélites.
Várias entidades (entre as quais, Stop the wall e Coalition of Women for Peace) entregaram uma carta ao governador reclamando da iniciativa, que também constrangeu lideranças da AP. A Elbit,
afinal, é denunciada por sua colaboração na construção do muro que
segrega os territórios palestinos, além de fornecer equipamentos de
segurança para colônias judaicas consideradas ilegais pelas Nações
Unidas. Principal corporação bélica israelense, há estimativas de que
fature dois milhões de dólares ao dia com os contratos que detêm nessas
atividades.
A gravidade das denúncias contra essa companhia já provocou reação de
países europeus, incomodados com o desrespeito às resoluções
internacionais. O governo norueguês, por exemplo, obrigou seus fundos
públicos a venderem todas as ações da Elbit que tinham
em carteira. Processos semelhantes estão em curso na Alemanha e na
Holanda. A propósito, os três exemplos são de administrações controladas
por partidos de direita.
O governador Tarso Genro, em entrevista exclusiva a Opera Mundi,
momentos depois de colocar sua assinatura no criticado compromisso com a
empresa, refutou as restrições apresentadas. “Se isso é um problema,
não é do Rio Grande, mas do governo brasileiro”, afirmou. “A colaboração na área de defesa é uma pauta nacional.”
A Elbit, segundo informou, já é sócia da Embraer
em uma empresa de capital misto, que está renovando tecnologia dos
aviões Bandeirantes, utilizados pela Força Aérea Brasileira. “Nosso
estado tem o dever de estabelecer relações com quaisquer empresas em
função de seu projeto regional de desenvolvimento”, justifica.
Tampouco hesita quando confrontado pelo registro de que a Elbit
está envolvida com iniciativas consideradas ilegais pela comunidade
internacional. “Os Estados Unidos também violaram resoluções da ONU, na
guerra do Iraque. Nem por isso as empresas norte-americanas envolvidas
nessa ação deixaram de ser parceiras”, defende-se. “Não é possível fazer
opções tecnológicas, nacionais ou regionais, com base nesse critério.”
Mas não haveria uma questão ética envolvida nessa polêmica? Não seria uma contradição condenar a política expansionista de Israel
e abrir espaço para a maior corporação privada envolvida na ocupação
ilegal dos territórios palestinos? “A ética nas relações comerciais
mundiais é definida a partir do interesse nacional”, refuta Genro.
“Se esse raciocínio valesse, o Brasil não deveria se relacionar com
qualquer empresa ou banco do mundo capitalista, pois todas essas
companhias estão alinhadas aos interesses tanto econômicos quanto
militares de seus países.”
As reclamações talvez subam de tom nos próximos dias, inclusive
dentro do Brasil, onde a repercussão é polêmica. A combinação entre
arroz e Elbit parece ser indigesta entre os que
discordam do estrangulamento da autonomia palestina. Ainda mais por
estar envolvido o patrono do Fórum Social Mundial, considerado por muitos um tradicional defensor da causa do povo de Arafat.
Apesar de críticas, Tarso Genro assina convênio com empresa militar israelense
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Oleh
Rubens Ragone