
José Francisco Neres, conhecido durante a clandestinidade na ditadura de 64/85 como Pinheiro, ou, para todos nós, simplesmente o camarada Neres, foi o último preso político a ser posto em liberdade em Minas Gerais.
Neres foi vereador em Sabará, e foi cassado não pelo governo federal ditatorial, mas pela própria câmara municipal de Sabará, que se aproveitou do golpe para tirar o mandato conseguido nas urnas.
Em 2012, décadas depois da covardia legislativa, a câmara em sessão solene devolveu simbolicamente o seu mandato.
Neres está produzindo um documento sobre suas vida e sua luta. Abaixo, reproduzimos trecho dessa obra. Sabará também tem seus heróis, abnegados na resistência à ditadura empresarial/militar. Boa leitura!
Interrompe-se bruscamente o sol; das flores só o cheiro cada vez mais distante. Da música os acordes mais dissonantes, depois estridentes até desaparecerem os acordes; a melhodia foi vencida.
Resta o barulho ensurdecedor tentando ofuscar a lembrança, as vozes de crianças, as vozes do povo, as vozes do novo, o barulho contra o grito.
Gritos, urros, homem contra maquina de dor, a maquina contendo refinada tecnologia, manejada com arte sinistra.
Homem no escuro, o ar cada vez mais fragmentado. Sombra da noite, enfim a noite. As asas do pássaro o carregam para a noite.
Mas não... é proibido anoitecer. Aqui também a medicina tem seu lugar, encobre a noite mas reforça a escuridão.
Nos raros intervalos em que se pode lembrar, explode o canto novo. É preciso ocupar todas as horas do dia, todos os dias da noite. Som, barulho, dança macabra, onde o velho e o filho bastardo descarregam sua ira como que vingano sua decadência.
Como pode o passado se atirar com tanta força contra o presente e o futuro? O velho foi ferido de morte em 1917. De lá para cá sobrevive sugando força de sua filha bastarda – a classe média, e se alimentando da bestialidade, do obscurantismo que tembém são sub produto do velho.
Agora a dança é mais feroz; não conta horas. O dia se perdeu, o ar ficou mais escasso, os combústiveis para vida foram cortados. Em lugar o seu terror, o delírio, as alucinações; o encontro com a noite se faz urgente antes que se apague da mente as cores, as lembranças e a força do novo.
Até a noite foi acorrentada, passou a ser jogada contra a escuridão. A força nova se mantém por um fio, comprida, reprimida. Momentos de refluxo: momentos em que o velho se impõe e festeja a vitória que antevê.
Mas, um rasgo de sopro passa pelo fio e arromba a janela. Impõe de novo o novo, de a lembrança, de novo a herança, e lá fora se distingue a cor vermelha, a tocha de luz que avança nas mãos da classe operária.
“Pensamento passado para fora da prisão por Neres clandestinamente, no mês de Junho de 1976.”
VEJA O VÍDEO DA SESSÃO DE RESTITUIÇÃO SIMBÓLICA DO MANDATO DE JF NERES
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