31/6/2010, Uri Avnery, Gush Shalom [Bloco da Paz] Telavive (Press-release)
http://zope.gush-shalom.org/
“Só um governo que já tenha perdido toda a capacidade de se autoconter e toda a conexão com a realidade comete tal crime. Atirar contra ativistas pacifistas, agentes de obra de auxílio humanitário, de várias nacionalidades, tomá-los como inimigos e enviar força militar massiva, em águas internacionais, atirar para matar e matar, é inconcebível!”
“Ninguém no mundo acreditará nas desculpas e mentiras do governo de Israel e dos porta-vozes do Exército” – disse o ex-deputado Uri Avnery, do movimento “Bloco da Paz”. Os ativistas do “Bloco da Paz”, com vários outros grupos, reuniram-se hoje em Ashdod, Tel-Aviv, Haifa e Jerusalem.
Hoje é dia de desgraça para o Estado de Israel. Dia de ansiedade, em que os israelenses descobrimos que nosso futuro está entregue a um bando de alucinados, todos de armas engatilhadas, atirando sem qualquer senso de responsabilidade. Hoje é dia de desgraça e loucura e estupidez sem limites. Dia em que o governo de Israel enlameou o nome do país ante todo o mundo, juntou mais provas, a comprovar que a imagem de uma Israel brutal, agressiva, não é invenção de propaganda. Hoje Israel dá um passo gigantesco afastando-se dos poucos amigos que nos restam no mundo.
Sim, houve ato de provocação no litoral de Gaza. Mas os provocadores não foram os ativistas pacifistas convidados a vir à Palestina e que tentavam chegar. Provocação houve, isso sim, praticada pelos comandos armados e encapuzados dos barcos de guerra, a mando do governo de Israel, que, para bloquear o avanço dos barcos dos pacifistas, não vacilou em atirar para matar, e matar!
É hora de levantar o sítio que sufoca a Faixa de Gaza e que tanto sofrimento causa aos palestinos. Hoje, o governo de Israel arrancou a máscara da face – com as próprias mãos – e mostrou a verdade: Israel jamais “desengajou-se” de Gaza. Nenhum desengajamento há, se Israel bloqueia o acesso à área ou manda soldados com ordem para matar e ferir quem tente chegar a Gaza.
Pelos Acordos de Oslo, há 17 anos, o Estado de Israel comprometeu-se a permitir e estimular a construção de um porto de águas profundas em Gaza, pelo qual os palestinos pudessem importar e exportar livremente seus produtos e o que necessitassem comprar, para desenvolver livremente sua economia. É hora de cumprir o acordado e abrir o Porto de Gaza. Só depois que o porto de Gaza estiver aberto, para livre movimentação, como acontece nos portos de Ashdod e Haifa, então sim, Israel ter-se-á “desengajado” da Faixa de Gaza. Até lá, o mundo continuará – com razão – a considerar a Faixa de Gaza como território ocupado por Israel; e Israel, responsável pelo destino dos seres humanos que vivem lá.
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Hebrew in Haaretz today, June 1
O que aconteceu ontem foi um crime. Um crime contra o Estado de Israel.
Um bando de irresponsáveis e pessoas embreagadas pelo poder, decidiu por uma ação que estava fadada a resultar em pessoas mortas e feridas.
Nenhuma pessoa sensata em Israel ou no exterior vai comprar a coleção de mentiras e pretextos com os quais os responsáveis estão tentando justificar-se. Tanto que nenhuma das vítimas tenha sido autorizadas a falar.
Esta operação não foi apenas imoral, mas também voltará contra nós o último dos nossos simpatizantes em todo o mundo e adicionando força para aqueles que pedem um boicote a Israel.
Há apenas uma maneira de limitar o dano:
- Convocar a nomeação imediata de um conselho internacional de inquérito para investigar o caso.
- Levantar de uma vez o bloqueio imoral e ilegal contra o milhão e meio de habitantes da Faixa de Gaza.
- Implementar a proposta de troca de prisioneiros e libertar Gilad Shalit.
Enormes danos foram feitos. Temos de tentar repará-los da melhor forma possível.
(Large special ad published in Hebrew in Haaretz today, June 1)
Fotos: http://zope.gush-shalom.org/