Esta é a intervenção do PCB, através
do seu Secretário Geral, Ivan Pinheiro, no XIII Encontro Mundial de
Partidos Comunistas, que reúne 82 partidos de todos os continentes, em
Atenas (Grécia), sobre a conjuntura mundial e as perspectivas do
socialismo.
Intervenção do PCB no XIII Encontro Mundial dos Partidos Comunistas e Operários
O Comitê Central do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) saúda os partidos comunistas presentes, homenageando o
anfitrião, o Partido Comunista Grego, referência para todos os
revolucionários e trabalhadores do mundo, com seu exemplo de luta sem
tréguas contra o capital.
O aprofundamento da crise sistêmica do
capitalismo coloca para o movimento comunista internacional um conjunto
de complexos desafios.
Estamos diante de um estado de guerra
permanente contra os trabalhadores, uma espécie de “guerra mundial”, na
qual o grande capital busca sair da crise colocando o ônus na conta dos
trabalhadores. Esta é uma guerra diferente das anteriores, que tinham
como centro disputas interimperialistas.
Apesar de persistirem contradições
interburguesas e interimperialistas na atual conjuntura, as grandes
potências (sobretudo os Estados Unidos e os países hegemônicos da União
Européia) promovem hoje uma guerra de rapina contra todos os países
periféricos, sobretudo aqueles que dispõem de riquezas naturais não
renováveis e contra todos os trabalhadores do mundo.
A guerra é o principal recurso do
capitalismo para tentar sair da crise: ativa a indústria bélica e ramos
conexos, permite o saque das riquezas nacionais e a queima de capitais;
os capitalistas ganham também com a indústria da reconstrução dos países
destruídos.
Em meio à simultânea ocupação e
destruição de diversos países nos últimos anos (Iraque, Afeganistão,
Líbia), já começam a preparar as próximas agressões: a Síria e o Irã se
destacam na atual fila. Todos os países vítimas são criteriosamente
escolhidos segundo objetivos estratégicos hegemonistas.
Os métodos são sempre os mesmos:
satanização, manipulação, estímulo ao sectarismo e a divisões entre
nacionalidades, cooptações, criação ou supervalorização midiática de
manifestações e rebeldias, atentados de falsa bandeira.
Daqui a algum tempo, poderemos estar diante de uma invasão de um país que, no dia de hoje, pareça-nos improvável.
Na guerra permanente, pelo menos nesta
fase, têm sido poupados os chamados países emergentes, sócios
minoritários do imperialismo, que legitimam a política das grandes
potências, compondo, como atores coadjuvantes, o chamado Grupo dos 20.
Seus mandatários aparecem na fotografia que simboliza o consenso entre
os parceiros, mas as grandes decisões são tomadas em fóruns reservados,
de que nunca se tem notícia.
Estes países emergentes (os chamados
BRICS) se têm beneficiado da crise, na medida em que ajudam a superá-la;
em seguida, poderão ser as próximas vítimas tanto da crise como de
agressões militares. Fazem o jogo de linha auxiliar do imperialismo,
como na omissão vergonhosa em relação à invasão da Líbia. Só levantam a
voz quando algum interesse nacional é ameaçado. Caso contrário, lavam as
mãos.
Em nosso país, nunca os banqueiros, as
empreiteiras, o agronegócio e os monopólios tiveram tanto lucro. A
política econômica e a política externa do estado brasileiro estão a
serviço do projeto de fazer do Brasil uma grande potência capitalista
internacional, nos marcos do imperialismo. As empresas multinacionais de
origem brasileira, alavancadas por financiamentos públicos, já dominam
alguns mercados em outros países, notadamente na América Latina.
Já a guerra contra os trabalhadores
independe da classificação do país. É levada a efeito nas grandes
potências, nos países emergentes e nos periféricos.
Em meio a esta grave crise e sem
a consolidação ainda de um importante pólo de resistência proletária, o
capital realiza uma violenta ofensiva para retirar dos trabalhadores os
poucos direitos que lhes restam. Para fazê-lo, tentam cada vez mais
fascistizar as sociedades, criminalizar os movimentos políticos e
sociais antagônicos à ordem. A correlação de forças ainda nos é
desfavorável. Ainda sofremos o impacto da contra-revolução na União
Soviética e da degeneração de muitos partidos ditos de esquerda e de
setores do movimento sindical.
Analisando este quadro, o PCB tem feito algumas reflexões.
- A nosso juízo, não há mais espaço para
ilusões reformistas. Aliás, os reformistas, mais do que nunca, são
grandes inimigos da revolução socialista, pois iludem os trabalhadores e
os desmobilizam, facilitando o trabalho do capital. Em cada país, as
classes dominantes forjam um bipartidarismo – em verdade um
monopartidarismo bicéfalo – em que as divergências, cada vez menores, se
dão no campo da administração do capital. Como não conseguem gerenciar a
crise, aqueles que fazem o papel de oposição de turno invariavelmente
vencem as eleições seguintes. É o que chamam de “alternância de poder”.
- Perdem sentido projetos
nacional-desenvolvimentistas, não só porque é impossível desligar as
economias capitalistas locais da esfera do imperialismo como também
porque há cada vez menos contradições entre este e o núcleo hegemônico
das chamadas burguesias nacionais.
- Cada vez também faz menos sentido a
“escolha” de aliados no campo imperialista e mesmo entre seus
coadjuvantes emergentes, como se houvesse imperialismo do “bem” e do
“mal”. A diferença é apenas na forma, não no conteúdo. Isto não
significa subestimar as contradições que vicejam entre eles.
- Não podemos conciliar com ilusões de
transição ao socialismo por vias fundamentalmente institucionais,
através de maiorias parlamentares e de ocupação de espaços
governamentais e estatais. O jogo da democracia burguesa é de cartas
marcadas. A luta de massas, em todas as suas formas, adaptada às
diferentes realidades locais, é e continuará sendo a única arma de que
dispõe o proletariado.
- Por mais bem intencionados que sejam,
correm risco de esgotamento político os processos de mudanças
progressistas baseados em líderes populares carismáticos, se esses
processos não avançarem na construção do duplo poder, na destruição
gradual do estado burguês e na autodefesa popular e de massas.
Temos avaliado também que o atual modelo
de encontros de partidos comunistas e operários, que vêm cumprindo
importante papel de resistência, precisa se adaptar às complexas
necessidades da conjuntura mundial, com suas perspectivas sombrias no
curto prazo e suas possibilidades de acirramento da luta de classes, com
a emergência das lutas operárias.
Pensamos que é preciso romper com o
“encontrismo” em que, ao final dos eventos, nossos partidos decidem a
sede do próximo encontro e se despedem até o ano seguinte, inclusive
aqueles dos países da mesma região.
Para potencializar o protagonismo dos
partidos comunistas e do proletariado no âmbito mundial, é necessária e
urgente a constituição de uma coordenação política que, sem funcionar
como uma nova internacional, tenha a tarefa de organizar campanhas
mundiais e regionais de solidariedade, contribuir para o debate de
ideias, socializar informações sobre as lutas dos povos.
Mas, para além da indispensável
articulação dos comunistas, parece-nos importante a formação de uma
frente mundial mais ampla, de caráter antiimperialista, onde cabem
forças políticas e individualidades progressistas, que se identifiquem
com as lutas em defesa da autodeterminação dos povos, da paz entre eles,
da preservação do meio ambiente, das riquezas nacionais, dos direitos
trabalhistas, sociais e políticos; contra as guerras imperialistas e a
fascistização das sociedades. Em resumo, as lutas em defesa da
humanidade.
Deixamos claro que o nosso Partido
valoriza qualquer forma de luta. Não podemos cair no oportunismo de
fazer vistas grossas ao direito dos povos à rebelião e à resistência
armada. Em muitos casos, esta é a única forma de fazer frente à
violência do capital e de superá-lo. Os povos só podem contar com sua
própria força.
Neste marco, concluímos nossa
intervenção saudando os povos que hoje enfrentam as mais duras batalhas.
Saudamos os trabalhadores gregos e portugueses que já se levantam em
greves nacionais e grandes jornadas e os demais trabalhadores da Europa,
que enfrentam terríveis planos do capital para tentar superar a crise,
hoje mais acentuada no continente europeu e que poderá agravar-se e
espalhar-se para outros países e regiões.
Saudamos o povo palestino, em sua saga
duradoura e dolorosa no enfrentamento ao sionismo que o sufoca e
reprime, ocupa seu território, derruba suas casas, prende seus melhores
filhos e impede seu direito a um Estado soberano.
Da mesma forma, saudamos os também
sofridos povos do Iraque, do Afeganistão, da Líbia. Saudamos os povos do
Egito, do Iêmen e de vários países árabes, em sua luta contra a tirania
e a opressão.
Saudamos os sírios e iranianos, contra
os quais já batem os tambores de guerra do imperialismo. Sua resistência
pode barrar os planos do sinistro consórcio EUA/OTAN/Israel para o
Oriente Médio, a África, a Ásia e o mundo em geral.
Chegando até nossa América Latina,
saudamos nossa querida Cuba Socialista em sua luta contra o cruel
bloqueio ianque. Saudamos nossos Cinco Heróis. Saudamos os processos de
mudanças concretas na América do Sul (Venezuela, Bolívia e Equador),
neste momento decisivo, uma encruzilhada entre o avanço dos processos ou
sua derrota.
Saudamos o povo colombiano que, nas
cidades e nas montanhas, resiste, através de variadas formas de luta,
contra o estado terrorista de seu país, a grande base militar
norte-americana na América Latina, um dos regimes mais sanguinários do
mundo.
Concluímos nos associando à proposta de
realização de nosso próximo encontro anual no Líbano, em pleno Oriente
Médio, palco principal das guerras imperialistas neste período.
Desde já, reiteramos nossa proposta de
criação de coordenações políticas internacionais e regionais dos
Partidos Comunistas, tendo como princípio fundamental o
internacionalismo proletário.
Atenas, 10 de dezembro de 2011
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Intervenção do PCB no XIII Encontro Mundial dos Partidos Comunistas e Operários
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Oleh
Rubens Ragone