Miguel Urbano Rodrigues
A difusão pelo mundo de uma realidade virtual é hoje uma arma decisiva no agravamento da medonha crise global que atinge a humanidade.
Comunicação apresentada no 90º aniversário do PCB, Rio de Janeiro, em 24 demarço de 2012.
A difusão pelo mundo de uma realidade virtual é hoje uma arma decisiva no agravamento da medonha crise global que atinge a humanidade.
O controle hegemónico do sistema
mediático permite ao imperialismo, através da palavra, enganar os povos
numa inversão do significado dos acontecimentos históricos que responde
aos seus objectivos. Umamáquina de desinformação planetária transforma a
mentira em verdade, inventa crises inexistentes, diaboliza líderes
políticos, empurra países para a bancarrota, mascara o crime de virtude.
Na estratégia de dominação planetária
hegemonizada pelos EUA, as guerras imperiais são agora precedidas de
gigantescas campanhas que visam a anestesiar a consciência dos povos,
impedindo a solidariedadecom as vitimas das agressões.
Essas campanhas, cientificamente
montadas, seriam ineficazes sem a cumplicidade do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, transformado em instrumento do imperialismo
colectivo.
Neste inicio do terceiro milénio da
Nossa Era, guerras interimperiais como as de 14-18 e 39-45 passsaram a
ser improbablilissimas. As contradições entre as grandes potenciais
ocidentais não desapareceram, mas não são hoje antagónicas porque a
crise estrutural do capitalismo as uniu numa santa aliança contemporânea
no saque aos recursos naturais de países do antigo Terceiro Mudo.
Sem a passividade da Rússia e da China,
também membros permanentes do CS da ONU com direito de veto, os EUA não
teriam tido as mãos livres para empreender guerras criminosas como as do
Iraque e doAfeganistão.
Na monstruosa guerra cujo desfecho foi a
recolonização da Líbia temos um exemplo expressivo do funcionamento da
estratégia imperial com participação activa da França e da Grã-bretanha.
A campanhamediática precedeu as manobras no Conselho de Segurança e o
início da agressão, preparada aliás com meses de antecedência. Projectos
elaborados em Washington, apoiados pelo Reino Unido e a França e, na
maioria dos casos, pela Alemanha, o Japão e aliados menores como a
Itália, a Espanha, o Canadá e a Austrália, são apresentadas como
decisões da «comunidade internacional», entidade inexistente, invocada
para dar respeitabilidade a iniciativas do imperialismo.
Cabe perguntar quem será a próxima vítima do imperialismo coletivo?
A ofensiva para derrubar o governo de
Bachar Al Assad prossegue. A Síria somente não foi ainda bombardeada e
invadida porque a Rússia e a China vetaram desta vez no Conselho de
Segurança da ONU aResolução que, se aprovada, seria o prólogo de uma
nova agressão. Mas o imperialismo não esconde que o objectivo principal
da sua estratégia na Região é o Irã, acusado de «ameaça à Paz» e
«inimigo da democracia».
No seu discurso sobre o Estado da União,
Obama voltou a afirmar que «todas as opções estão sobre a mesa» se
aquele país não se submeter às suas exigências O Pentágono elaborou nos
últimos anos sucessivosplanos bélicos de ataque, alguns divulgados pela
midia. A intervenção de tropas terrestres é hipótese excluída, mas o
bombardeio das instalações nucleares iranianas suscita também muitas
dúvidas. Os generais doPentágono admitem que bombas convencionais seriam
ineficazes contra os bunkers subterrâneos de Natanz. A retaliação
poderia provocar o encerramento do Estreito de Ormuz e os mísseis
iranianos poderiamatingir Israel.
O recurso a armas nucleares táticas- já
sugerido por Sarkozy e membros republicanos do Congresso - provocaria
uma onda de indignação mundial, ampliando o isolamento dos EUA.
A Somália e as tribos pashtun da
fronteira noroeste do Paquistão são com frequência bombardeadas por
drones, os aviões sem piloto assassinos, comandados de distantes bases
estadounidenses.
A recente intervenção norte-americana no
Uganda, realizada a pretexto de combater uma minúscula seita religiosa,
ficou a assinalar uma nova fase da estratégia dos EUA para o
Continente. O presidente Obama apressou-se a declarar que enviará tropas
para o Sudão do Sul, Congo e a Republica Centro-Africana se esses
países pedirem ajuda aos EUA para «o combate ao terrorismo».
Instalar em África um exército
permanente americano de 100.000 homens é a meta do AFRICA COMAND, que
está a operar a partir da sofisticada base aérea instalada em Djibuti,
na antiga Somália Francesa.
Afastar a China da África foi um dos
objectivos da agressão à Líbia. Mais de 30 000 chineses, tecnicos e
trabalhadores, foram retirados daquele pais onde a China tinha
importantes investimentos.
O comportamento dos EUA traz à memória o
da Alemanha de Hitler nos anos 30 do século passado. Primeiro foi a
anexação da Áustria, depois Munich e a posterior destruição da
Tchecoslovaquia, finalmente aexigência da entrega de Dantzig, a invasão
da Polónia, a guerra mundial.
Não pretendo estabelecer analogias, mas o
desprezo pelos povos e pelo seu direito à independência é o mesmo.
Primeiro foi o Afeganistão, depois o Iraque, em seguida a Líbia, agora o
Uganda, amanha será aSíria, talvez o Irão.
A aproximação da Rússia e da China
traduz a consciência de que, se isoladas, seriam também, oportunamente,
declaradas potenciais «ameaças à segurança dos EUA». Putin, no seu
primeiro discurso após a reeleiçao, afirmou que enfrentará com firmeza a
politica imperial dos EUA.
CAMARADAS
A escalada de leis reaccionárias nos EUA
assinala o fim do regime democrático na grande república do Norte. A
chamada Lei da Autorização da Segurança Nacional, promulgada por Obama,
revoga na prática aConstituição bicentenária do país. A partir de agora
qualquer cidadão suspeito de contatos com o terrorismo pode ser preso
por tempo ilimitado e eventualmente submetido à tortura no âmbito de
outra lei aprovada pelo Congresso.
Os projetos SOPA E PIPA, em discussão na
Câmara dos Representantes, concebidos para controlar o Facebook, mas
levantaram tamanha indignação a nível mundial que o Legislativo recuou.
A fascizaçao das Forças Armadas dos EUA nas guerras imperiais é agora inocultável.
Comentando a justificação por Obama das
últimas leis, Michel Chossudovsky define os EUA como «Um Estado
totalitário com traje civil».
Os EUA estão a assumir o perfil de um IV
Reich. No Afeganistão, elementos do corpo de Marines exibiram
publicamente a bandeira das SS nazis e não foram punidos.
CAMARADAS
Perante a estratégia imperial que ameaça
a humanidade, patrocinada por um dos mais perigosos presidentes que o
povo dos EUA elegeu, a pergunta de Lenin, QUE FAZER? adquire uma
atualidade dramática.
A recusa da «nova ordem mundial» que o imperialismo pretende impor assumiu nos últimos anos proporções planetárias.
Seattle foi um marco histórico na
rejeição do sistema de dominação que utiliza o FMI, o Banco Mundial, a
OMC como instrumentos da política do grande capital.
De repente, milhões de homens e mulheres
começaram a sair às ruas em gigantescos protestos contra a religião do
dinheiro e as guerras de saque imperiais.
O lema do primeiro Foro Social Mundial,
«outro mundo é possível», traduziu esse descontentamento e a esperança
de uma mudança radical.
Mas, transcorrida mais de uma década, o próprio Foro transformou-se numa caixa de ressonância de discursos inofensivos.
No ano passado, o movimento dos
Indignados na Espanha e o Occupy Wall Street nos EUA mobilizaram
multidões expressando o desespero das massas oprimidas.
Mas, esses protestos, positivos, e
outros, promovidos por movimentos sociais, não abalam os alicerces do
poder do capital. Os jovens sobretudo sabem o que rejeitam, mas esbarram
com um muro intransponível na formulação de uma alternativa. Que querem
afinal?
O espontaneismo é como a maré oceânica, assim como sobe desce.
Mergulhado numa crise estrutural para a
qual não tem soluções, o capitalismo está condenado a desaparecer. Mas o
seu fim não tem data no calendário e a agonia pode ser muito
prolongada. Desencadeia guerras de saque monstruosas e continua a
manipular a consciência dos povos, através da midia e de governos de
fachada democrática que são na prática ditaduras de classe.
Que fazer então?
Não serei eu, nem outros comunistas como eu, a tirar do bolso do colete a receita magica.
É minha convicção inabalável que Lenin
enunciou uma evidência ao lembrar que não há revolução durável sem um
partido revolucionário que a promova e lidere as massas.
Para mal da humanidade, a destruição da
URSS e a implantação na Rússia do capitalismo permitiu ao imperialismo
desencadear uma tempestade contra- revolucionaria que atingiu os
partidos comunistas,semeando tremenda confusão ideológica. Alguns
partidos com grandes tradições, como o italiano, desapareceram após
varias metamorfoses. Outros, como o francês e o espanhol, social-
democratizaram-se,assumindo linhas reformistas.
A criação do Partido da Esquerda
Europeia contribuiu para aumentar a confusão. Não obstante a maioria dos
partidos que a ele aderiram serem nominalmente comunistas, defendem
estratégias reformistas. Batem-se dentro do sistema parlamentar,
concentrando-se em reivindicações sobre problemas imediatos, sem dúvida
importantes, mas secundarizam a luta pelo socialismo como objectivo
principal.
Neutralizar a combatividade das massas,
orientando as lutas no quadro institucional para o «aperfeiçoamento» do
sistema é o objectivo do Partido da Esquerda Europeia.
O Partido Comunista da Grecia-KKE surge
hoje no panorama europeu como a grande excepçao à tendência maioritária
que privilegia a linha reformista sobre a opção revolucionária.
A sua contribuição-mais de uma dezena de
greves gerais no ano passado- para a heróica luta dos trabalhadores
gregos contra as politicas impostas pelos governantes dos grandes países
da zona Euro - a Alemanha e a França tem sido decisiva.
Julgo útil, camaradas, afirmar neste
Seminário que acompanhar os acontecimentos da Grécia, reflectir sobre
eles e apoiar o combate dos comunistas gregos passou a ser um dever
revolucionário para os comunistasda América Latina.
O KKE defende a criação e o
fortalecimento de uma Frente Democrática anti-imperialista e
anti-monopolista, uma aliança entre trabalhadores e pequenos e médios
agricultores.
Num contexto histórico muito diferente, o projecto do Partido Comunista Brasileiro tem afinidades com o formulado pelo KKE.
Permitam-me, camaradas, que cite um parágrafo do artigo da camarada Aleka Paparigas, secretária geral do KKE, publicado na Revista Comunista Internacional (Numero 2):
Desenvolvimento desigual quer dizer
desenvolvimento político e social desigual, o que significa que as
condições prévias para o início da situação revolucionária podem surgir
mais cedo num país ou num grupo de países que, sob condições
específicas, pode constituir «o elo mais fraco» do sistema imperialista.
Isto é particularmente importante hoje em dia em que o desenvolvimento e
as remodelações têm lugar no sistema imperialista e se intensificam as
contradições tanto nos países como no sistema imperialista, portanto,
entendemos que cada partido comunista e os trabalhadores de cada país
têm o dever internacionalista de contribuir para a luta de classes ao
nível internacional, mobilizando e organizando a luta contra as
consequências das crises nacionais, com vista ao derrubamento do poder
burguês, àconquista do poder pelos trabalhadores e à construção do
socialismo.
Insistindo na denúncia do oportunismo, a
camarada Paparigas lembra também que as reformas, por importantes que
sejam, não podem conduzir ao socialismo sem uma confrontação final com a
burguesia cujo desfecho seria a destruição das instituições do Estado
capitalista.
A questão é fundamental. A chamada via
pacifica para o socialismo foi ensaiada no Chile com o desfecho que
conhecemos. Hoje, a tese é retomada na Europa por alguns partidos
comunistas e na América Latina é defendida pelos teóricos do Socialismo
do século XXI, nomeadamente na Venezuela bolivariana e na Bolívia.
Em textos que publiquei após
participação no VI Foro de Maracaibo, em novembro do ano passado,
critiquei essas posições, reafirmando a convicção de que a destruição do
Estado capitalista, em choque com o poder burguês, terá de preceder a
construção do poder popular. Trata-se, insisto numa questão estratégica
fundamental para o movimento comunista internacional.
Este tema merecerá, estou confiante, uma
atenção especial dos participantes do nosso Seminário. Na Europa o
oportunismo semeia a confusão através do Partido da Esquerda Europeia.
Na América Latina, tentapromover a social-democracia no Brasil, na
Argentina
e no Uruguai e semeia ilusões na Venezuela, na Bolívia, no Equador e na Nicarágua.
No cerne do grande debate ideológico
travado no âmbito do movimento comunista internacional uma questão
continua a suscitar debate permanente: a transição do capitalismo para o
socialismo. Já Lenin dizia que ela seria infinitamente mais difícil do
que a tomada do poder em Outubro de 17. Até hoje não encontramos
respostas satisfatórias.
Camaradas:
Há muito que não participava de um Seminário Internacional promovido por um Partido Comunista tão aberto e fascinante como este.
O Partido Comunista Brasileiro traz à
memória a lenda da Fénix Renascida. Desempenhou um papel fundamental nas
lutas do povo brasileiro durante mais de meio século. Uma direcção em
que prevaleceu o oportunismo e o revisionismo conduziu – o nos anos 80 a
um processo de auto-destruição.
Militei no PCB quando era um partido
revolucionário. E é com alegria e orgulho que acompanho o seu explosivo
renascimento num momento histórico em que uma crise devastadora ameaça a
própriacontinuidade da humanidade. O PCB volta a situar-se na vanguarda
das lutas revolucionárias no Brasil e na América Latina.
Parabéns, queridos camaradas.
O IV REICH, SOB A MÁSCARA DO IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO, AMEAÇA A HUMANIDADE
4/
5
Oleh
Rubens Ragone