Da Secretaria Nacional do MST
18 de setembro de 2011
18 de setembro de 2011
A revista IstoÉ publica na capa da edição desta semana um boné do MST bem velho e surrado, sob terras forradas de pedregulhos.
Decreta na capa “O fim do MST”, que teria perdido a base de trabalhadores rurais e apoio da sociedade.
Premissa errada, abordagem errada e conclusões erradas.
A mentira
A IstoÉ informa a seus leitores que há 3.579 famílias acampadas no Brasil, das quais somente 1.204 seriam do MST.
A revista mente ou equivoca-se fragorosamente. E a partir disso dá uma capa de revista.
Segundo a revista, o número de
acampamentos do MST caiu nos últimos 10 anos. E teria chegado a apenas
1.204 famílias acampadas, em nove acampamentos em todo o país.
Temos atualmente mais de 60 mil famílias acampadas em 24 estados.
Levantamento do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) aponta que há 156 mil famílias
acampadas no país, somando todos os movimentos que lutam pela
democratização da terra.
A revista tentou dar um tom de
credibilidade com as visitas a uma região do Rio Grande do Sul, onde
nasceu o Movimento, e ao Pontal do Paranapanema, em São Paulo.
Se contassem apenas os acampados nessas duas regiões, chegariam a um número bem maior do que divulgou.
A reportagem poderia também ter ido à Bahia, por exemplo, onde há mais de 20 mil famílias acampadas que organizamos.
O repórter teve oportunidade de receber esses esclarecimentos e até a lista de acampamentos pelo país.
Mas não quis ou não fez questão, porque se negou a mandar as perguntas por e-mail para o nosso setor de comunicação.
Outra forma seria perguntar para o Incra
ou pesquisar no cadastro do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de
Reforma Agrária da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Tampouco isso a IstoÉ fez.
Se foi um erro, além de incompetente, a direção da IstoÉ é irresponsável ao amplificá-lo na capa da revista.
Se não foi um erro, há mais mistérios
entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia, como escreveu
William Shakespeare.
O desvio
A IstoÉ se notabilizou nos últimos
tempos nos meios jornalísticos como uma revista venal. A revista é do
tipo “pagou, levou”. Tanto é que tem o apelido de "QuantoÉ".
Governos, empresas, partidos, entidades
de classe, igrejas (vejam a capa da semana anterior) compram matérias e
capas da revista. E pagam por quilo, pelo “peso” da matéria.
A matéria da IstoÉ não é fruto de um
trabalho jornalístico, mas de interesses de setores que são contra os
movimentos sociais e a Reforma Agrária.
Não é de se impressionar uma vez que a
revista abandonou qualquer compromisso com jornalismo sério com
credibilidade, virando um “ativo” para especuladores.
Nelson Tanure e Daniel Dantas, do Grupo
Opportunity, banqueiro marcado por casos de corrupção, disputaram a
compra da revista em 2007.
Com o que esses tipos têm compromisso? Com o dinheiro deles.
Reação do latifúndio
A matéria é uma reação à nossa jornada de lutas de agosto.
Foram mobilizados mais de 50 mil trabalhadores rurais, em 20 estados.
Um acampamento em Brasília, com 4 mil
trabalhadores rurais, fez mobilizações durante uma semana e ocupou o
Ministério da Fazenda para cobrar medidas para avançar a Reforma
Agrária.
A jornada foi vitoriosa e demonstrou a
representatividade social e a solidez das nossas reivindicações na luta
pela Reforma Agrária.
O governo dobrou o orçamento para a
desapropriação de terras para assentar 20 mil famílias até o final do
ano, liberou o orçamento para cursos para trabalhadores Sem Terra,
anunciou a criação de um programa de alfabetização e a criação de um
programa de agroindústrias.
Interesses foram contrariados e se
articularam para atacar o nosso Movimento e a Reforma Agrária. Para
isso, usam a imprensa venal para alcançar seus objetivos.
Os resultados da jornada e a reação do
latifúndio do agronegócio, por meio de uma revista, apenas confirmam que
o MST é forte e representa uma resistência à transformação do Brasil
numa plataforma transnacional de produção de matéria-prima para
exportação e à contaminação das lavouras brasileiras pela utilização
excessiva de agrotóxicos.
A luta vai continuar até a realização da
Reforma Agrária e a consolidação de um novo modelo agrícola, baseado em
pequenas e médias propriedades, no desenvolvimento do meio rural, na
produção de alimentos para o povo brasileiro sem agrotóxicos por meio da
agroecologia.
Fonte: http://www.mst.org.br/O-fim-da-etica-da-Istoe-a-revista-que-vende-reportagens-por-quilo
O fim da ética da Isto É, a revista que vende reportagens por quilo E-mail
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Oleh
Rubens Ragone