31 de julho de 2009

HONDURAS IMERSA EM SANGUE - Por Laerte Braga [*]


Os velhos filmes de western volta e meia mostravam cidades controladas por bandidos. Indicavam o xerife, seus auxiliares, o juiz, tinham o controle dos “negócios” e se sustentavam em operações tais como assaltos a trens, bancos e diligências. Controlavam grandes extensões de terra, onde criavam gado, lucravam com a chegada das estradas de ferro e no final viravam respeitáveis senhores e senhoras, montados em montanhas de dólares, isso incluía o pastor para as orações de domingo.

Esse tipo de bandido contratava legiões de pistoleiros. Os caras rápidos no gatilho eram os encarregados de manter a ordem, impedir a concorrência e assegurar que a “lei” fosse cumprida.

Um dos mais famosos “heróis” nesses moldes foi Wyat Earp. Foi xerife de importantes cidades dos EUA, é lendário o duelo do OK Coral, uma batalha com os rivais Clanton pelo controle dos “negócios”. Earp, associado a Doc Holliday, um pistoleiro/jogador com diploma de dentista, tinha parceria no jogo, no saloon como um todo, vale dizer a prostituição, na segurança que assegurava aos rancheiros, o dono, ou donos já que formavam uma família ora literalmente, os Earp e ora o agregado Holliday.

Noutros lugares, noutras plagas tinham outros nomes, outras formas de ser. Seguiam à risca o diagnóstico de Darcy Ribeiro. O mais inteligente transformava-se no rei, o mais esperto no sacerdote, um e outro através dos sinais divinos interpretados pelo sacerdote ditavam as leis, os costumes, as ordens e, por via das dúvidas, o mais boçal era investido do poder de polícia ou de militar. O homem da borduna. Nasce aí o Estado segundo dizia Darcy.

Hoje os “negócios” se diversificaram, se entrelaçaram e os bandidos travestem-se de banqueiros, empresários, latifundiários, traficantes de drogas, mulheres, de órgãos (nova modalidade de crime), uns protegidos diretamente pela lei, outros protegidos pelos protegidos pela lei. O crime organizado e o crime legalizado. Beira-mar é do organizado, Daniel Dantas do legalizado.

Não há necessariamente golpistas no governo de Honduras, embora tenha sido dado um golpe de estado naquele país da América Central. Quadrilhas assumiram o governo e se personificam no traficante mafioso Roberto Michelletti.

O país está imerso em sangue na ordem garantida e assegurada pelos “pistoleiros” de Michelletti – a síntese das quadrilhas – os tais homens encarregados de garantir a “segurança nacional”, a “soberania” e a “integridade do território hondurenho”, a “lei” a partir de seus interesses.

Vendem o que chamam de pátria, se arrostam patriotas para tentar encobrir o que são, quadrilheiros canalhas e matam a torto e a direito a quem quer que se oponha aos “negócios”. Têm o controle sobre os tribunais, sobretudo a corte suprema (parece que tem Gilmar Mendes no mundo inteiro), formam a elite hondurenha, igualzinha a qualquer elite. Seja ela FIESP/DASLU, seja ela moradora das mansões de Hollywood em Los Angeles, ou LA como gostam de dizer os mais “íntimos”.

O mundo, a maior parte dos países cristãos, ocidentais e democráticos, faz de conta que combate o golpe, se opõe à barbárie, mas sua eminência o cardeal de Honduras não concorda, tem sua parte no grande latifúndio, logo, inventam a bênção divina para a boçalidade que os caracteriza.

Vai ter que abrir o olho, não demora muito Edir, o Macedo, chega lá e enche o país de mesas de sinuca, encaçapando todas as bolas possíveis em shows montados no milagre da tecnologia sei lá de que. De bestialidade. De fotos montagens.

Como são senhores das empresas de comunicação na imensa e esmagadora maioria dos países do mundo, na América Latina por exemplo, no Brasil para dar um destaque específico, decidem que essas realidades não serão mostradas, afinal como é que GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE MINAS, RBS, etc, etc, vão sobreviver sem o espetáculo fascinante de transformar o humano em zumbi teleguiado e com placa de validade, para o gáudio dos shoppings da vida?

Os que se intitulam militares e mantenedores da constituição hondurenha são como quaisquer quadrilheiros semelhantes em outros países (a turma de 64 aqui, ou a do Pinochet no Chile, do Videla na Argentina). Colocam a tropa nas ruas, os tanques, prendem, torturam, estupram mulheres, matam, mas garantem os negócios.

Israel faz isso desde que apareceu em 1948 com os palestinos.

A culpa é do Irã, se não for do delegado Protógenes Queiroz.

Por aqui têm o hábito de culpar o presidente da Venezuela Hugo Chávez, um dos alvos dessas quadrilhas com sede em Wall Street/Washington.

Honduras está imersa num banho de sangue. A estupidez dos quadrilheiros que derrubaram o presidente Manuel Zelaya não tem limites e nem limites a falta de escrúpulos da turma.

Há notícias de um manifesto de militares revoltados com o comportamento dos quadrilheiros fardados associados a elites. Não basta um manifesto. É preciso bem mais que isso contra generais ligados ao tráfico. A todos os tráficos.

Os resultados do golpe, do comportamento animalesco dos militares e dos policiais podem ser vistos em http://www.hondurasurgente.blogspot.com/. E a resistência também.

Contam com apoio ostensivo do governo dos EUA, se levarmos em conta que Barak Obama é tão somente um figurante nessa história toda. Não manda nem no cachorrinho que levou para a Casa Branca. E figurante por opção. De maneira deliberada. O que é bem mais vergonhoso que se possa imaginar.

A luta dos trabalhadores é pacífica. Resistem entre outras virtudes com a dignidade estampada nos rostos, nas mãos calejadas dos que são explorados pelos Ermírio de Moraes de lá. São iguais aos daqui.

Resistem.

É uma luta para a qual os povos latino-americanos não podem voltar as costas. Não é uma questão de marca de tênis, ou modelo de vestido da senhora Obama, tampouco da entrevista de uma ex-BBB sobre fotos retocadas.

Leonardo Boff escreveu num dos seus últimos artigos que para atingirmos o consumo de cidadãos norte-americanos hoje seriam necessários pelo menos cem planetas iguais ao nosso. Nós os sustentamos. Nossas elites prostituídas e fétidas são os cúmplices.

Querem cinco bases militares na Colômbia para melhor controlar tudo e todos.

Os homens da lei são os bandidos como nos antigos western. Se não são e prendem um Daniel Dantas viram réus.

É aqui. Em Honduras. A resistência é bem mais que a um golpe. É pela sobrevivência em todos os sentidos, pela própria essência do ser humano.

Os que estão no poder em Honduras não são humanos. São bestas feras e entre nós existem muitos deles.

Honduras é só uma ponta.

Você pode acordar na ponta de uma baioneta se não perceber as hordas que avançam sobre cada povo latino-americano. Ou tangido e moído como gado se não reagir.

[*] Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

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