16 de agosto de 2011

“Comoção e pavor” nos Estados Unidos pelo ataque dos talibãs


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Crédito: Nordeste1.com.br
Pepe Escobar (Asia Times Online)

Traduzido do inglês para Rebelión por Germán Leyens

É preciso falar de um duplo golpe. Não bastou a Standard Poor's rebaixar a qualificação creditícia dos Estados Unidos; com uma sincronização impecável e aparentemente de um só tiro, os talibãs, no Afeganistão, diminuíram simultaneamente o valor da colossal maquinaria bélica do império.

Por mais que a elite do poder dos Estados Unidos se negue a aceitar que sua crise financeira foi causada por anos de cortes tributários de George W. Bush para os ricos e para as megacorporações, massivos resgates de bancos e companhias seguradoras e astronômicas despesas militares no declínio do Pentágono da Guerra Prolongada, a elite também se negará a reconhecer que a “nova” estratégia da guerra no Afeganistão também é um fracasso.

Chinook derrubado

O ruído desse helicóptero de transporte Chinook CH-47 derrubado por uma granada propulsada por foguete (RPG) na província de Wardak, ao sudoeste de Kabul, na sexta-feira, matando 38 pessoas, incluindo 19 SEAL (tropas especiais) da Armada norte-americana e sete comandos afegãos, foi o som digital full do império comovido e intimidado até à incredulidade; não importa quantos esforços faça o Pentágono para ordenar praticamente aos meios que “não dêem demasiada importância” à derrubada.

Wardak, junto com a vizinha Logar, é agora um terreno de primeira de "Talibanistão". Estão arraigados, conhecem o terreno em detalhes e, inclusive, têm tempo para preparar operações complexas. Além disso, os talibãs estão “conseguindo progresso” (jargão do Pentágono) não só em sua perícia nas relações públicas e na adaptação de novas armas para o campo de batalha, mas também na mecânica de dar um importante golpe psicológico nas forças ocupantes ocidentais.

Os SEAL fazem parte de uma enorme força de tarefas de 10.000 homens do Comando Conjunto de Operações Especiais (JSOC, suas siglas em inglês), com base no Afeganistão, que participou em até 70 incursões diárias em AfPak, capturando – segundo relato do Pentágono – 2.900 “insurgentes” e matando mais de 800 entre abril e julho. O alcance global do JSOC foi analisado em um artigo de Nick Turse (ver Rebelión de 7 de agosto “Uma guerra secreta em 120 países”)

Os SEAL mortos em Wardak faziam parte da mesma unidade, a Equipe 6, envolvida no ataque a Abbottabad, que matou o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, a princípios de maio. Mas em vez de voar em um dos helicópteros ‘ocultos’ de última tecnologia do 160º Regimento de Operações Especiais de Aviação do exército, os SEAL em Wardak faziam parte de uma operação de resgate, e viajavam em um Chinook da Guarda Nacional.

Enquanto decolavam, caíram em uma armadilha dos talibãs e foram atingidos por uma RPG – o que o blog detalhista Danger Room no site Wired identificou como um obus com apoio improvisado de morteiro (IRAM) - que levava uma ogiva maior que uma RPG disparada do ombro.

Segundo o porta-voz talibã Zabiullah Mujahid, foi certamente “uma arma similar a uma RPG… e estamos tentando conseguir mais”.

Portanto, supondo que o IRAM – que emigrou dos campos de batalha iraquianos – é agora, também, um protagonista no Afeganistão, poderia ser qualificado como retorno de um remix do Stinger. Durante os anos 80 na jihad afegã contra a União Soviética foi um importante fator que mudou as regras do jogo quando os Estados Unidos forneceram centenas de letais Stinger aos mujahideen, causando estragos entre os helicópteros do poderoso Exército Vermelho.

Uma comparação minuciosa entre as operações de Abbottabad e de Wardak poderá causar muito assombro, além de reinventar o mito dos SEAL da Armada como formidáveis caçadores-assassinos invencíveis. Em Abbottabad, enquanto entregavam uma versão atrás da outra do ataque aos meios, finalmente estabeleceu-se que um helicóptero ‘oculto’ simplesmente “se estilhaçou”. Ninguém sabe se foi um erro do piloto ou se dispararam no helicóptero.

O fato é que a “queda” deixou uma parte da cauda intacta do helicóptero ‘oculto’ dentro do complexo. Esse pedaço de cauda fez com que o Pentágono temesse que o mesmo pudesse ser “vendido” pelos paquistaneses aos chineses. É um pouco demais achar que a queda não causou vítimas, como o Pentágono e a Casa Branca fazem crer.

E como a narrativa do ataque a Bin Laden se modificou mais de uma vez, as mentes febris já vinculam essas vítimas com as baixas de Wardak, implicando que os SEAL que realmente morreram na queda em Abbottabad "voltaram a morrer" em Wardak. Não ajuda em nada que as versões iniciais do ataque de Wardak (posteriormente corrigidas ou modificadas) identificassem os SEAL como os mesmos que participaram no ataque para “matar Obama”.

Passa-me o joystick

Após o ataque de Wardak, o novo chefe do Pentágono apareceu com o usual discurso no Afeganistão de “manter o curso”, enquanto os meios corporativos vomitavam que “está sendo programado para que todas as tropas de combate estrangeiras partam antes do final de 2014”. Porém todos sabem que o Pentágono nunca voltará atrás, morrerá e aceitará esse tipo de saída.

O que Wardak fez foi reforçar a ideia do Pentágono de que o governo de Kabul carece totalmente de preparo para manter a segurança em todo o país, sem importar o fato de que a maioria dos afegãos quer que os estrangeiros saiam para sempre. Enquanto a Casa Branca e o Pentágono cantam sua versão num remix de “Should I Stay or Should I Go” (Fico ou vou) do The Clash, tudo o que os talibãs têm de fazer é esperar pacientemente em silêncio (odeiam a música pop). Sabem que o fato de Kabul se fazer cargo da segurança nacional só reforçará sua posição estratégica.

É surpreendente (ou talvez não o seja) que a elite do poder de Washington simplesmente não se dê conta de que o império foi impiedosamente golpeado pelos talibãs durante o último mês. Os talibãs mataram o meio-irmão do presidente Hamid Karzai, senhor da droga e agente da CIA, Ahmad Wali. Mataram pessoas em seu funeral. Mataram o chefe de relações tribais de Karzai e um membro do Parlamento. E mataram o prefeito de Kandahar, Ghulam Hamidi.

Não faz muito tempo – no outono de 2010 – falava-se que os Estados Unidos e a OTAN se ocupariam de Kandahar em uma grande ofensiva de contrainsurgência e que ganhariam para sempre a guerra contra os talibãs.

Agora deixaram de lado essa afirmação devido aos fatos ocorridos. No entanto, seu artista conceitual – de forma típica para Washington – foi chutado. No Iraque, o general David Petraeus apresentou um truque de ilusionista e convenceu a todos em Washington de que sua ofensiva repentina e a contrainsurgência de 2007 foi um sucesso.

No Afeganistão, caiu uma rocha do Hindu Kush na cabeça de Petraeus. Em todo caso, foi promovido a chefe da CIA, de modo que outros serão os culpados. E enquanto caem mais Chinook no Afeganistão, pelo menos poderá ser divertido com o joystick, concentrando-se divertidamente em atacar mortalmente com drones as áreas tribais do Paquistão.

Pepe Escobar é correspondente itinerante do Ásia Times On-line e autor de “Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War” (Nimble Books, 2007) e “Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge”. Seu último livro foi “ Obama does Globalistan” (Nimble Books, 2009). Pode ser contatado através do e-mail: pepeasia@yahoo.com .

Fonte: http://www.atimes.com/atimes/South_Asia/MH10Df01.html

Traduzido do espanhol por Valeria Lima

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