28 de fevereiro de 2011

Verde que te quero verde


Roberto Numeriano

A bandeira ambientalista é uma das grifes mais atraentes para aquela parcela do eleitorado que pensa ser possível definir o seu voto num espaço acima de condicionantes político-ideológicas. Trata-se, esta idéia, de uma mistificação em si mesma ideológica, e com implicações políticas perigosas, na medida em que a retórica ambientalista tende a ler o universo dos problemas ambientais como fenômenos redutíveis a uma causa explicativa única. Esta causa seria o ser humano ou a humanidade, situados aqui como irracionais e predadores. Um ser interpretado “fora da história”, naturalizado ele próprio como um “espírito” que destroi a si e ao ambiente.

O efeito dessa mistificação é considerável como potencial desmobilizador e / ou bloqueador de uma crítica política aos graves problemas que afetam a natureza e o homem. Não é por acaso que, salvo raras exceções, os partidos “ecologistas” formulam seus programas sem uma central e fundamental crítica / denúncia ao modelo de produção capitalista, este sim degradante do ser do homem (dado que aliena-o de sua condição humana), e dos elementos da natureza (dado que tudo deve ser transformado em mercadoria).

Transformada, sob a percepção politicamente alienada, numa marca para consumo de gente bem intencionada, cheia de amor pra dar pelo bem da mãe-terra e de seus pobres habitantes irracionais, a causa ambientalista ganha então a simpatia geral dos que, aparentemente acima de quaisquer ideologias, seja o político ou o eleitor, estão prontos a apoiar iniciativas e planos com selos verdes, sustentáveis etc. E então, afinados num coro quase religioso, imbuídos de uma fé deslumbrada na ilusão de salvar a terra sem combater o modo de produção capitalista, parecem todos querer a mesma coisa – do empresário e sua cantilena da sustentabilidade ambiental (em geral, hipócrita) ao político verde e seu discurso cheio de soluções para os efeitos, mas nunca atacando as causas.

Esta atitude angaria simpatias, mas é inócua do ponto de vista prático. As justas e legítimas bandeiras do ambientalismo merecem o apoio de todos, mas e daí? Na prática, alguma vitória pontual pela preservação dos ecossistemas, se não articulada com o desmonte do modelo econômico cuja filosofia é a do lucro a qualquer custo (predando a natureza e o homem), significará nada, pois a cada “selo verde” correspondem dezenas de empresas com seus selos podres. Ou seja, o modo de produção vigente degrada a vida natural e o ser do homem numa progressão geométrica que os verbos e gestos do ambientalismo alienado jamais conseguirão bloquear.

Uma outra dimensão do ambientalismo como grife de consumo é operar simbolicamente a ideologia da participação: plantam-se árvores; o Greenpeace finca sua logomarca nos quatro cantos do mundo; parlamentares “verdes” são eleitos; salvam-se as ararinhas azuis e os micos-leões-dourados etc. Mas e daí? Se tudo se esgota no e pelo ambiente, do que participamos e o que pretendemos, objetivamente?

O curioso é que a própria dimensão política da ação dos ambientalistas é em si mesma uma camisa de força que estes, talvez sem perceberem, alimentam na medida em que a mídia repercute tais ações reativas. E assim o ambientalismo, cada vez mais, torna-se auto-referente, amestrando suas agendas segundo a boa recepção dos formadores de opinião das mídias. O círculo se fecha na forma de um discurso repetitivo e restrito, em cuja essência vê-se operando uma fraude ideológica. Esta fraude provoca graves efeitos: bloqueia a formação de uma consciência crítica que transcenda a retórica reducionista e ao mesmo tempo torna absoluta uma visão instrumental desse homem que, desnaturalizado, precisa de ecossistemas salvos e equilibrados, mas não precisa ser salvo para esses mesmos ecossistemas. O ser do homem do ambientalismo alienado é um ser também natural, quase um espírito hegeliano que sobrepaira a terra, alheio à história, imune às contradições e conflitos da ordem econômica capitalista.

Não admira que os partidos verdes, em quase todos os países onde estão organizados, cada vez mais perfilam com agrupamentos e partidos cujas agendas políticas são ideologicamente conservadoras, embora com discursos modernosos, fazendo juras de amor à mãe-terra. Por oportunismo político, derivada da degeneração ideológica, buscam o voto a qualquer custo, mesmo com grupos que simbolizam a defesa de um sistema econômico predador da vida humana e da natureza. O verde dos verdes é cada vez mais cinza...

Roberto Numeriano é cientista político (UFPE), jornalista, membro do Comitê Central do PCB e da direção estadual do PCB-PE.

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István Mészáros e a educação para além do capital


Demetrio Cherobini*

Um clássico, um engodo e uma aposta: tal é o que se encontra na edição brasileira de A educação para além do capital de István Mészáros, lançado primeiramente em 2005 e depois em 2008, pela Editora Boitempo. O clássico fica por conta do próprio texto de Mészáros, uma proposta consistente, coerente e radical a respeito de como os revolucionários do século XXI podem orientar seus esforços no campo da educação, a fim de superar a dominação exercida pelo capital sobre o sócio-metabolismo humano e realizar a "comunidade humana emancipada". O engodo, destaque negativo da publicação, cabe inteiramente ao prefaciador do livro, Emir Sader, que, desgraçadamente, tenta desviar a atenção do leitor para preocupações e objetivos diversos dos que estão contidos nas formulações do pensador húngaro. A aposta, o que resta disso tudo, é a de que os trabalhadores saibam ter a postura crítica necessária para perceber e superar as mistificações ideológicas que proliferam em nossos dias – até mesmo em torno das publicações progressistas - e tentam lhes perpetuar na condição de acomodação, entorpecimento e paralisia frente ao seu inimigo visceral.

Desde A teoria da alienação em Marx, escrito na década de 1960, até seus textos mais recentes, como O desafio e o fardo do tempo histórico, de 2007, o ponto-chave que orienta a reflexão filosófica de Mészáros é a realização da transcendência positiva da auto-alienação do trabalho. O mesmo se dá, evidentemente, em A educação para além do capital, concebido originalmente como uma conferência a ser proferida no Fórum Mundial de Educação, na cidade de Porto Alegre, em 2004. Nesse contexto, pode-se dizer que a crítica radical da alienação é o elemento decisivo para se entender não apenas a proposta, discutida nesse livro, de "contra-interiorização" da realidade histórico-social, que precisa se dar em ambientes formais e informais de aprendizagem, mas da teoria social e política do filósofo húngaro em sua totalidade.

Sem compreender isso, qualquer empreendimento que vise elucidar criticamente as proposições de Mészáros sobre as formas – atuais e vindouras - de mediar o sócio-metabolismo humano fica tremendamente prejudicado. A educação é importante para um projeto político-social alternativo porque a superação da alienação só pode ser feita por meio de uma atividade autoconsciente. Esta é, pois, a condição para passarmos de uma situação onde nos encontramos completamente fragmentados, cindidos, diminuídos, submissos às nossas próprias criações materiais e estranhos em relação aos nossos semelhantes, para uma outra, na qual poderemos nos desenvolver ao máximo e nos tornarmos ricos no sentido qualitativo da palavra: sujeitos que sentem intimamente a carência de uma multiplicidade de manifestações humanas de vida (Cf. Marx).

Mas quem lê desavisadamente o prefácio à edição brasileira de A educação para além do capital é induzido a crer que as preocupações de Mészáros são as mesmas de Sader, a saber: como fortalecer a esfera pública em contraposição ao domínio do privado. Vejamos, nesse sentido, o que afirma o politólogo brasileiro: "Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que ‘tudo se vende, tudo se compra’, ‘tudo tem preço’, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shoppings centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro. O enfraquecimento da educação pública, paralelo ao crescimento do sistema privado, deu-se ao mesmo tempo em que a socialização se deslocou da escola para a mídia, a publicidade e o consumo" (Cf. SADER, 2005, 16).

Uma leitura atenta, contudo, vai nos mostrar que os termos de referência de Mészáros são completamente outros. Em primeiro lugar, porque não é o neoliberalismo que mercantiliza tudo – inclusive a educação -, e sim, em nosso contexto, o sistema do capital. Em segundo lugar, a questão realmente importante não é exatamente o "enfraquecimento da educação pública" em comparação com o crescimento do ensino privado. Ao colocar as questões desse modo, Sader tenta fazer-nos crer que a preocupação de Mészáros seria com um eventual fortalecimento do setor público em contraposição ao setor privado – seria, portanto, combater precipuamente o "neoliberalismo".

Mas o filósofo húngaro não é tão ingênuo assim e não mistifica dessa maneira o setor "público" (o Estado). Antes disso, está muito mais interessado em demonstrar como é o sistema do capital – e não somente o "neoliberalismo" -, com todas as suas contradições, incluindo-se aí o próprio Estado, que faz parte de sua base material e que deve ser superado em concomitância com esse complexo mais amplo no qual está inserido. A educação pode contribuir com esse propósito, desde que não se limite apenas ao âmbito formal de ensino – note-se, então, que não se trata de colocar a questão em termos de "público" e "privado" - e se volte para a formação das mediações materiais não antagônicas de regulação do sócio-metabolismo humano. E isso só pode ser feito se a educação em questão for radicalmente crítica, isto é, articuladora teórico-prática de negação e afirmação no sentido da construção do socialismo – ponto importantíssimo que nem sequer é tocado no curioso prefácio.

A preocupação de Mészáros, portanto, é em firmar uma educação revolucionária, e não meramente "pública" (ademais, em Para além do capital, o filósofo húngaro deixa bem claro que o objetivo dos socialistas é a socialização do poder de decisão sobre todos os âmbitos da atividade humana, e não a mera estatização das coisas – porque isto não elimina, em definitivo, o problema da alienação).

Em terceiro lugar, é um equívoco completo afirmar algo parecido com "a socialização se deslocou da escola para a mídia, a publicidade e o consumo". Na verdade, a socialização - isto é, o aprendizado das relações, normas e valores sociais, a internalização do mundo humano, a apropriação ativa das produções histórico-culturais - nunca poderia ter feito esse percurso porque ela é, na verdade, como a educação, "a própria vida", ou seja, se confunde com a própria vida, seja na escola ou fora dela. O referido prefácio, portanto, desvia o foco da nossa atenção para pontos que não são preocupações centrais de Mészáros. Constitui, na verdade, um tragicômico registro de um caso de prefaciador que apresentou como se fossem do prefaciado idéias que na verdade não lhe pertenciam (acreditamos que mistificação seja um termo bastante apropriado para designar o sentido desse tipo de operação intelectual).

A educação para a superação da alienação é, de acordo com Mészáros, a que se insere conscientemente na luta de classes. Aí, ela se desenvolve a partir da adoção crítica de um ponto de vista estruturalmente antagônico em relação ao sistema do capital. Essa nova práxis compreende tal perspectiva, os interesses que lhe são inerentes, articula-os em torno de uma ideologia capaz de proporcionar os devidos "estímulos mobilizadores" para as ações sócio-políticas da "classe com cadeias radicais" rumo à sua emancipação. É uma educação que está, pois, consciente de que só uma revolução pode libertar os trabalhadores da prisão configurada pelos processos alienados e alienantes de produção e reprodução do capital.

Nesse contexto, todas as mistificações sobre as relações dos homens com os produtos do seu trabalho, onde estes lhes aparecem como auto-constituídos e dotados de propriedades humanas, devem ser combatidas. A educação socialista é, por definição, uma educação desmistificadora dos processos atualmente estabelecidos de controle sócio-metabólico, realizados de acordo com as exigências do capital. É, pois, numa palavra, crítica radical dos fetiches de um sistema que vive de produzir fetiches – incluindo-se aí, evidentemente, o próprio fetiche do Estado.

O projeto socialista requer, assim, que nos orientemos a partir de um quadro estratégico adequado, de atuação nacional e internacional, com vistas a irmos para além do capital, e não meramente do capitalismo e seu regime jurídico garantidor da propriedade privada. A educação para além do capital é aquela que, concebendo-se como mediação indispensável, se integra conscientemente nesse projeto de transição que deverá fazer vir à luz uma sociedade capaz de proporcionar tempo disponível para a realização das potencialidades humanas. A educação é, portanto, na visão de Mészáros, parte de um projeto político-social - mediação coadunada com outras mediações - que precisa progressivamente negar a forma de sociabilidade atualmente cristalizada e afirmar uma alternativa viável em relação a ela. É esse movimento que constitui, pois, a crítica radical, a práxis revolucionária rumo à comunidade humana emancipada, a sociedade regulada pelos produtores livremente associados de que falava Marx.

É importante ressaltar tais questões, pois Mészáros volta a elas freqüentemente. É a crítica da ordem do capital que deve constituir a forma da educação transformadora. Isto exige uma ampla e profunda modificação de práticas e relações materiais – ou seja, dos sistemas de mediações atualmente estabelecidos -, que deve se dar com base no objetivo de transferir o poder de decisão sobre os processos sócio-metabólicos da humanidade para os produtores associados. Por isso, a reflexão sobre educação não pode se realizar meramente tendo-se em vista os ambientes formais de ensino, mas sim, sobretudo, as esferas informais de apropriação dos produtos históricos. Nessas duas "frentes de batalha", ela necessita se estabelecer como prática que é, assim como a revolução, auto-determinada e permanente.

O filósofo húngaro frisa constantemente que as formas de apropriação do mundo que o capital controla não se dão somente na escola ou na universidade, mas na vida como um todo. Por causa disso, a educação revolucionária não pode visar apenas os ambientes formais de ensino, mas sim se voltar para todas as outras atividades em que a interiorização ocorre, a fim de produzir uma contra-interiorização (ou contra-consciência) radical. Não mais hierárquica, fetichista, perdulária, destrutiva, e sim sustentável, cooperativa, consciente, emancipada, numa palavra, socialista. Por tal razão, uma educação alternativa só pode ser bem fundamentada se estiver amparada por uma teoria política concretamente produzida para fins específicos de confrontação de um determinado sistema de relacionamento social. Isto deve estar claro para os sujeitos envolvidos com atividades formais de ensino, pois eles necessitam ser capazes de fazer com que a sua instituição específica se abra para toda a sociedade, a fim de poder se articular com os movimentos materiais que visam superar a ordem do capital rumo à "nova forma histórica".

A teoria de Mészáros é, portanto, uma defesa intransigente e sem concessões de que as instituições de ensino e seus participantes – educadores, educandos, trabalhadores da educação, comunidade escolar – entrem numa relação dialética com os processos políticos e sociais que, em nosso tempo, visam à construção do futuro emancipado da humanidade. Isto não significa, contudo, que tal teoria não diga algo digno de poder ser utilizado para orientar ações dentro do âmbito da escola ou da universidade. Por exemplo: se a atividade organizada pelo sistema fetichista de exploração de trabalho excedente – isto é, o sistema do capital - é estruturada hierarquicamente, a prática superadora de tal conjunto de relações precisa se ordenar de modo diverso. Isto pode ocorrer tanto no que toca à própria estrutura institucional como no interior da sala de aula: um movimento progressivo de transcendência da forma da interiorização que se dá de acordo com a lógica do capital (hierárquica), para uma outra, não fetichista, horizontal, cooperativa, auto-determinada. É esse novo tipo de prática social que torna possível a generalização do pensamento crítico e a formação da consciência socialista de massa de que fala Mészáros.

Uma forma revolucionária de educação é, pois, segundo o filósofo húngaro, imprescindível para as classes trabalhadoras na sua luta contra o capital. Não uma educação que, impregnada de retórica mistificadora, contemporize com interesses escusos de partidos que desejam se perpetuar nos postos mais altos do Estado a partir de uma engenharia política hábil na conciliação entre as classes. Não uma educação que se dê meramente no âmbito "público", mas que seja capaz de criticar os próprios fundamentos da divisão entre o público e o privado. Não uma educação que fetichize o Estado, considerando-o como panacéia para todos os problemas, mas que combata suas contradições lá onde elas se enraízam. Finalmente: não uma educação apenas contra o setor privado, o neoliberalismo, o partido X ou Y, e sim uma educação contra o capital, suas personificações e seus ideólogos de todos os tipos - principalmente, os que exercem sua influência deletéria no interior da própria esquerda...

Ficha

Título: A educação para além do capital

Autor: István Mészáros

Editora: Boitempo

Ano: 2008 (2ª edição)

Páginas: 124

Preço: R$ 25,00

Sobre o autor: István Mészáros nasceu em Budapeste, em 1930. Em sua juventude, trabalhou em fábricas de aviões, tratores, têxteis, tipografias e até no departamento de manutenção de uma ferrovia elétrica. Aos dezoito anos, graças ao fato de haver se formado com notas máximas, ganhou uma bolsa de estudos na Universidade de Budapeste, onde pôde conhecer o filósofo György Lukács, de quem foi grande amigo e discípulo. Da Hungria, Mészáros foi para a Itália, onde trabalhou na Universidade de Turim. A partir de 1959, seu destino foi a Grã-Bretanha, onde lecionou em vários lugares: no Bedford College da Universidade de Londres (1959-1961), na Universidade de Saint Andrews, na Escócia (1961-1966), e na Universidade de Sussex, em Brighton, na Inglaterra (1966-1971). Em 1971, trabalhou na Universidade Nacional Autônoma do México, e em 1972 foi nomeado professor de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade de York, em Toronto, no Canadá. Em janeiro de 1977, retornou à Universidade de Sussex, onde veio a receber o título de Professor Emérito de Filosofia em 1991. Afastou-se das atividades docentes em 1995 e atualmente vive na cidade de Rochester, próxima a Londres.

*Demetrio Cherobini é cientista social (UFSM) e mestre em Educação (UFSC).

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5496/166/

A Líbia e o imperialismo


Workers World

De todas as lutas que agora decorrem no Norte de África e no Médio Oriente, a mais difícil de deslindar é aquela na Líbia.

Qual é o carácter da oposição ao regime Kadafi, a qual consta que agora controla a cidade de Bengazi, no Leste do país?

Será apenas coincidência que a rebelião tenha começado em Bengazi, a qual é a norte dos mais ricos campos petrolíferos da Líbia bem como próxima da maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, refinarias e o seu porto de gás natural liquefeito (GNL)? Haverá um plano de partição do país?

Qual é o risco de intervenção militar imperialista, a qual apresenta grave perigo para o povo de toda a região?

A Líbia não é como o Egipto. Seu líder, Moamar Kadafi, não tem sido um fantoche imperialista como Hosni Mubarak. Durante muitos anos, Kadafi esteve aliado a países e movimentos que combatiam o imperialismo. Ao tomar o poder em 1969 através de um golpe militar, ele nacionalizou o petróleo da Líbia e utilizou grande parte do dinheiro para desenvolver a economia líbia. As condições de vida do povo melhoraram radicalmente.

Por isso, os imperialistas estavam determinados a deitar a Líbia abaixo. Os EUA em 1986 realmente lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi que mataram 60 pessoas, incluindo a menina filha de Kadafi – o que raramente é mencionado pelos media corporativos. Foram impostas sanções devastadoras tanto pelos EUA como pela ONU a fim de arruinar a economia líbia.

Depois de os EUA invadirem o Iraque em 2003 e arrasarem grande parte de Bagdad com uma campanha de bombardeamento que o Pentágono exultantemente chamou "pavor e choque", Kadafi tentou evitar a ameaça de outra agressão à Líbia fazendo grandes concessões políticas e económicas ao imperialismo. Ele abriu a economia a bancos e corporações estrangeiras; concordou com exigências do FMI quanto ao "ajustamento estrutural", privatizando muitas empresas estatais e cortando subsídios do estado a necessidades como alimentos e combustível.

O povo líbio está a sofrer dos mesmos preços elevados e desemprego que estão na base das rebeliões em outros lados e que decorre da crise económica capitalista mundial.

Não pode haver dúvida de que a luta que varre o mundo árabe pela liberdade política e a justiça económica também tocou um ponto sensível na Líbia. Não há dúvida de que o descontentamento com o regime Kadafi está a motivar uma secção significativa da população.

Contudo, é importante para gente progressista saber que muitas das pessoas que estão a ser promovidas no Ocidente como líderes da oposição são há muito agente do imperialismo. A BBC mostrou em 22 de Fevereiro filmes de multidões em Bengazi deitando abaixo a bandeira verde da república e substituindo-a pela bandeira do antigo rei Idris – que foi um fantoche dos EUA e do imperialismo britânico.

Os media ocidentais baseiam grande parte das suas reportagens sobre supostos factos fornecidos pelos grupo exilado Frente Nacional para a Salvação da Líbia (National Front for the Salvation of Libya), a qual foi treinada e financiada pela CIA estado-unidense. Pesquise no Google o nome da frente mais CIA e encontrará centenas de referências.

O Wall Street Journal de 23 de Fevereiro escreveu em editorial que "Os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubarem o regime Kadafi". Não há qualquer conversar nas salas das administrações ou nos corredores de Washington acerca de intervir para ajudar o povo do Kuwait ou da Arábia Saudita ou do Bahrain a derrubarem seus governantes ditatoriais. Mesmo com todos os falsos elogios às lutas de massas que agora sacodem a região, isso seria impensável. Em relação ao Egipto e à Tunísia, o imperialismo está a mover todas as alavancas que podem para tirar as massas das ruas.

Tão pouco houve qualquer conversa de intervenção dos EUA para ajudar o povo palestino de Gaza quando milhares morrerem por serem bloqueados, bombardeados e invadidos por Israel. Exactamente o oposto. Os EUA intervieram para impedir a condenação do estado colonizador sionista.

O interesse do imperialismo na Líbia não é difícil de descobrir. Em 22 de Fevereiro a Bloomberg. com escreveu: se bem que a Líbia seja o terceiro maior produtor de petróleo da África, é o país do continente que tem as maiores reservas provadas — 44,3 mil milhões de barris. É um país com uma população relativamente pequena mas com potencial para produzir enormes lucros para as companhias de petróleo gigantes. É assim que os super ricos a encaram e o que está por trás da sua apregoada preocupação com os direitos democráticos do povo da Líbia.

Obterem concessões de Kadafi não é suficiente para os barões imperialistas do petróleo. Eles querem um governo sob a sua dominação total, tudo do bom e do melhor. Eles nunca esqueceram Kadafi por derrubar a monarquia e nacionalizar o petróleo. Fidel Castro, em Cuba, na sua coluna "Reflexões" regista o apetite do imperialismo por petróleo e adverte que os EUA estão a lançar as bases para a intervenção militar na Líbia.

Nos EUA, algumas forças tentam mobilizar uma campanha a nível de rua promovendo uma tal intervenção estado-unidense. Deveríamos opor-nos a isto totalmente e recordar a qualquer pessoa bem intencionada os milhões de mortos e deslocados pela intervenção dos EUA no Iraque.

As pessoas progressistas têm simpatia com o que encaram como um movimento popular na Líbia. Podemos ajudar tal movimento principalmente pelo apoio às suas exigências justas mas rejeitando uma intervenção imperialista, seja qual for a forma que assuma. É o povo da Líbia que deve decidir o seu futuro.

Articles copyright 1995-2011 Workers World. Verbatim copying and distribution of this entire article is permitted in any medium without royalty provided this notice is preserved.

Ver também: Faut-il intervenir militairement en Libye ? , de Alain Gresh

O original encontra-se em http://www.workers.org/2011/editorials/libya_0303/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/africa/libia_23fev11.html .

20 de fevereiro de 2011

Punição Exemplar dos Responsáveis Pela Selvageria Policial Diante da Prefeitura de São Paulo

imagemCrédito: 4.bp.blogspot.com


(Nota Política do PCB)

O PCB, Partido Comunista Brasileiro, repudia com veemência a brutal repressão perpetrada pela Polícia Militar de São Paulo e pela Guarda Municipal da cidade de São Paulo contra os manifestantes que protestavam pelo aumento abusivo da tarifa dos ônibus da cidade.

Uma ação com violência desproporcional, que atingiu diversos manifestantes, em especial ao militante do PCB, Assistente Social e pós-graduando na PUC/SP, Vinícius Buim, operado esta manhã, em função de ferimentos graves provocados pelas agressões covardes feitas por policiais militares e guardas civis municipais, quando já estava dominado e imobilizado. A ação selvagem e extremada da tropa de choque da PM mais uma vez demonstra o despreparo e o desequilíbrio emocional presente nos policiais militares e em seus comandantes. Sabemos que esse é o comportamento corriqueiro e tresloucado dessa corporação, cotidianamente envolvida em denúncias de violações dos mais elementares direitos do cidadão.

O PCB exige do Sr. Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alkcmin, a rigorosa apuração desses atos de selvageria bestial por parte de uma autoridade policial que deveria primar pela sobriedade e pelo profissionalismo.

As imagens divulgadas pelas televisões de todo o pais demonstram os abusos e a brutalidade policial. Não bastasse a violenta agressão aos manifestantes, com espancamentos, balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, os policiais da PM de São Paulo também agrediram covardemente vereadores que lá estavam em apoio aos manifestantes e que tentaram dialogar com o comandante da operação.

Aguardamos um posicionamento do governador e do prefeito Kassab. Pedimos ao Ministério Público que acompanhe e que garanta as ações legais para punir exemplarmente os responsáveis por esses atos dignos dos tempos ditatoriais.

Repudiamos a postura do prefeito paulistano, que dialoga com a população através de cassetetes e balas de borracha da PM e de sua Guarda Civil Municipal. Repudiamos a atitude passiva do governador diante da bestialidade da polícia da qual é o comandante em chefe.

Não à criminalização dos Movimentos Sociais!

Pela Punição Exemplar dos Responsáveis!

Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2011.

Comitê Central do Partido Comunista brasileiro – PCB.


MOÇAO DE REPUDIO A REPRESSÃO POLICIAL POR PARTE DO ESTADO BRASILEIRO

A Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social historicamente vem na luta contra qualquer forma de repressão por parte do Estado brasileiro. O companheiro Vinicius agora Assistente Social, já foi um dos militantes da ENESSO em seu período de graduação em Serviço Social e demonstra todo o seu comprometimento na luta pelas transformações societárias.

A demonstração de violência por parte dos policiais na ultimo dia 17/02/2011 foi mais uma expressão explicita do que já ocorre com a juventude nos “bolsões de miséria” do nosso país, onde diariamente jovens são taxados de marginais e sofrem nas mãos da policia.

Os atos contra o aumento da tarifa é uma manifestação legitima contra toda esta lógica mercantil do transporte coletivo no Brasil, demonstra o quanto os nossos direitos estão sendo a cada dia mais submetidos à lógica do capital, onde as instituições tidas democrática não ouvem os pedidos da população, exceto as justificativas de um pequeno numero de empresários donos de companhia de transporte.

Repudiamos toda forma de violência por parte do Estado, esta violência não tem outra justificativa a não ser preservar apenas uma pequena minoria abastada do país.

O Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo repudia a violência da polícia de São Paulo no ato contra o aumento arbitrátio das passagens, que penaliza a população, e se solidariza inteiramente com o assistente social Vinícius e os vereadores agredidos em frente à prefeitura.

Exigimos a identificação e punição imediata de todos os que não hesitaram em agredir quem defendia, pacífica e democraticamente, os usuários do transporte público e a economia popular.

Grupo Tortura Nunca Mais

Rose Nogueira

Presidente


Nota de Solidariedade do MPL-SP sobre a violência policial na manifestação de 17/02:

O Movimento Passe Livre São Paulo considera desproporcional, violenta e despreparada a ação policial ocorrida na manifestação do dia 17/2 em frente a Prefeitura. O Comando da Operação se excedeu no uso da força, agindo violentamente contra manifestantes d esarmados e em protesto contra o aumento abusivo das tarifas de ônibus em São Paulo. As imagens da detenção de Vinicius Figueira, bem como a cena de policiais militares com suas armas de fogo em punhos e a repressão que se abateu também contra a mídia, somada as agressões aos vereadores que estavam presentes no local, deixam clara a desproporcionalidade e o absurdo da ação policial. Por esse motivo, manifestamos aqui nosso repúdio à essas ações conduzidas pela Polícia Militar de São Paulo Por fim, cabe destacar nossa preocupação com o estado de saúde atual de Vinicius. Nós, do MPL-SP, estamos sinceramente à disposição para apoiá-lo no que for preciso, desde a articulação para punir os policiais envolvidos na ação, bem como no auxílio com seus cuidados médicos. Acreditamos que a solidaredade militante se faz fundamental em momentos como esse, e é por esse motivo que estamos a qui!

Movimento Passe Livre São Paulo, 18 de fevereiro de 2011.

Por uma vida sem catracas!


NOTA PÚBLICA DO FÓRUM PAULISTA LGBT À MARCHA CONTRA A HOMOFOBIA

EM REPÚDIO ÀS AGRESSÕES A MANIFESTANTES PELA POLÍCIA EM SÃO PAULO

O Fórum Paulista LGBT vem a público, nesta Marcha contra a Homofobia que se realiza hoje, convocada em protesto contra os ataques homóficos ocorridos nos últimos tempos na cidade de São Paulo, manifestar antes de tudo nossa total adesão e compromisso com a mobilização para este importante ato, uma vez que entendemos que é somente expressando nossas demandas e fazendo pressão sobre as autoridades e os poderes constituídos que chegaremos ao pleno respeito à diversidade de orientação sexual e identidade de gênero. Por isso, nesta jornada de luta, queremos também manifestar nosso repúdio frente à truculência da Polícia de São Paulo em relação a militantes que foram às ruas para se opor ao abusivo aumento da tarifa de ônibus.

Em 17 de fevereiro, várias pessoas foram agredidas com gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetes pela PM em frente à Prefeitura de São Paulo. Entre elas, um jovem assistente social foi brutalmente espancado por vários policiais, com chutes e golpes de cassetetes, mesmo quando já estava imobilizado no chão, ação que foi documentada por fotos e vídeo. Encontra-se hospitalizado e deverá, inclusive, passar por cirurgia. Repudiamos esta e qualquer outra forma de violência e exigimos que os fatos sejam rigorosamente apurados e os responsáveis, punidos. Somos totalmente solidários a este militante e ao Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo, que está à frente do caso.

É um direito legítimo da população paulistana expressar sua discordância frente à elevação abusiva do preço da passagem ao valor de R$ 3,00, bastante superior até mesmo ao custo de um litro de gasolina, numa clara sinalização de não priorizar o transporte coletivo em detrimento dos automóveis como que se locomovem um número bem menor de indivíduos. Chega a ser criminoso o fato de a Prefeitura de São Paulo, com tal tarifa, privilegiar os ricos e a classe média, sacrificando em contrapartida os mais pobres.

Talvez alguns – que participam desta Marcha – se perguntem o que aquele protesto tem a ver com nós, LGBTs. A verdade é que, se nos calarmos diante das injustiças (tanto o aumento do ônibus quanto a repressão aos protestos legítimos), estaremos sendo coniventes com elas. Elas implicam no cerceamento de nosso direito de ir e vir, pois a passagem mais cara nos obriga a reduzir o número de viagens para ir ao trabalho, para estudar ou simplesmente circular pela cidade. De que adianta termos uma cidade sem homofobia se não podemos usufruir as possibilidades que ela nos oferece, se somos obrigados a ficar em casa por falta de dinheiro?

Devemos nos opor contra tudo aquilo que limita a nossa liberdade, afinal a luta contra a opressão vai muito além do direito – que hoje aqui reivindicamos – de andar de mãos dadas, beijar ou manifestar afeto por alguém do mesmo sexo. Liberdade de caminhar pelas ruas e usar o transporte coletivo do jeito que somos, com nossos corpos, sem ter de esconder nada de ninguém, pois temos orgulho de sermos lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

FÓRUM PAULISTA LGBT

São Paulo, 19 de fevereiro de 2011


MANIFESTAÇÃO CONTRA A AÇÃO VIOLENTA DA POLÍCIA MILITAR E PREFEITURA DE SÃO PAULO: PELO DIREITO DA LIVRE MANIFESTAÇÃO

Desde o início de 2011, quando fomos surpreendidos pelo aumento abusivo da tarifa de ônibus municipal em São Paulo, a população e muitos movimentos, entidades, militantes em geral, estiveram articulados em manifestações contra esse aumento, buscando, assim, um canal de diálogo com o Poder Público.

Contudo, tais manifestações tem sido repreendidas duramente via ação truculenta da Polícia Militar e sua Tropa de Choque, como o que ocorreu durante a sexta manifestação realizada neste ano (17/02/2011), em que mais uma vez houve espancamentos, causando graves ferimentos nos manifestantes do Movimento Passe Livre, militantes de vários segmentos e vereadores que apóiam a luta pela redução do valor da passagem em São Paulo. Um dos atingidos pela violência do Estado foi o assistente social Vinícius Boim, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/SP, com o qual nos solidarizamos publicamente.

Em um município que vem, declaradamente, militarizando seus espaços, o Núcleo São Paulo ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) vem denunciar a covarde e violenta ação de impedir as manifestações populares, bem como o fato de vários postos da prefeitura (sub-prefeituras, secretarias, como a de Transporte, a CET, o SAMU, Serviço Funerário e Defesa Civil, entre outros) estarem sob o comando de cerca de 40 oficiais da Polícia Militar. Vivenciamos ainda o modelo autoritário militarizado herdado da ditadura ao vermos que direitos e espaços conquistados pela luta democrática estão hoje nas mãos de generais e oficiais da Polícia Militar.

Apoiamos a luta pela mobilidade urbana, para que todos nós tenhamos um transporte público de qualidade, digno, a partir da migração do sistema de transporte privado para um sistema público, bem como a livre manifestação popular!

CONTRA A VIOLÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR! CONTRA O COMANDO MILITARIZADO DA PREFEITURA DE SÃO PAULO! PELO DIREITO DA LIVRE MANIFESTAÇÃO POPULAR! PELA REDUÇÃO DA TARIFA DE ÔNIBUS! PELO SISTEMA PÚBLICO DE TRANSPORTE! PELO DIREITO À MOBILIDADE URBANA!

São Paulo, 18 de fevereiro de 2011.

NÚCLEO SÃO PAULO ABRAPSO


Nota de repúdio à truculência policial

Nesta quinta-feira, 17/02/2011, um ato pacífico contra o aumento da passagem do ônibus em São Paulo sofreu uma dura repressão policial. A polícia militar mais uma vez lançou mão de sprays de pimenta, bomba de gás e balas de borracha contra manifestantes desarmados. Desta vez foram ainda mais longe: um militante do PCB foi espancado por 8 policiais e teve seu nariz quebrado, chegando a ficar inconsciente e passando por operação nesta sexta-feira. É com muito pesar que nós acompanhamos a recuperação de nosso camarada, e por horas mobilizamos toda nossa organização para garantir segurança, advogado e nos mantemos informados sobre o estado de saúde de nosso camarada e amigo. Agora, é dever de nossa organização e de todo o movimento ficar atento, pois sabemos que a repressão política não ocorre só nos espancamentos nas ruas. Sabemos que pessoas perdem seus empregos por participar de manifestações, ainda mais quando pela irresponsabilidade de algumas organizações a pessoa torna-se o símbolo do movimento. Não queremos símbolos e não admitiremos nenhuma forma de personalismo em atos que são construídos de maneira coletiva e ampla. É nossa obrigação ainda lembrar que, pela estrutura da polícia militar, tais casos são julgados em foro militar, o que é inaceitável, pois provavelmente os policiais responsáveis sairão impunes por espancar um civil. Por isso, nós, da União da

Juventude Comunista, afirmamos: Não podemos deixar a repressão continuar! Não podemos nos assustar diante da truculência e nem permitir perseguições políticas. Não só continuaremos na luta pelo passe-livre, como estaremos atentos para qualquer sinal de perseguição política não só no local de trabalho de nosso camarada, mas de qualquer um que se manifesta politicamente. A UJC continuará na luta, atuando contra a perseguição política.

Contra toda e qualquer perseguição política!

Contra a truculência da polícia.

Por condições de Trabalho, Estudo e Vida!

União da Juventude Comunista / SP - Ousar Lutar, Ousar Vencer!


Nota de Repúdio Contra Violência por parte do Estado

Em 17/02/2011, foi realizado na cidade de São Paulo ato contra o aumento da tarifa de ônibus e mais uma vez o Estado mostrou sua função social.

O protesto contou com a participação de diversos movimentos sociais e organizações de esquerda, composto por jovens estudantes e trabalhadores.

No primeiro ato (13/01/11), os manifestantes já foram recebidos com toda a repressão do Estado, que viola e nega os direitos civis, usando como ferramenta e órgão opressor a policia com práticas truculentas agredindo com gás lacrimogêneo, balas de borracha, cassetetes, spray de pimenta.

Um jovem assistente social foi brutalmente espancado por vários policiais que continuaram desferindo chutes e golpes de cassetetes quando a vítima estava imobilizada no chão. Ele está hospitalizado tendo passado por uma cirurgia de aproximadamente 7 horas, fora as quase as 24 horas que aguardou no corredor do Hospital Servidor Público para liberação de um leito. Cabe lembrar que enquanto aguardava no corredor do hospital ainda sofria ameaça da policia militar em ser detido.

Devido ao fato ocorrido, o Centro Acadêmico de Serviço Social da PUC-SP (A Retomada...) e o corpo discente repudiam qualquer ato por meio do Estado que viole nossos direitos como também qualquer atitude violenta. Exigimos que seja imediatamente apurados os atos cometidos e que o Estado responda por sua atitude covarde e repressora.

Solidarizamos e apoiamos nosso jovem companheiro Assistente Social, e dizemos: “Basta a este Estado opressor”.

Centro Acadêmico Serviço Social PUC-SP

Gestão “A Retomada...”

Flavio

Serviço Social PUC-SP / Gestão CASS PUC-SP "A Retomada..."/ Núcleo de Relações do Trabalho da PUC-SP 2011 / Militante MESS/ENESSO / Cine Clube Itinerante Gianfrancesco Guarnieri / Blog CASS PUC-SP: www.casspucsp.blogspot.com / Blog pessoal: www.oolhoemeu.blogspot.com / Blog Cine Clube Itinerante Gianfrancesco Guarnieri: www.ccigianfrancescoguarnieri.wordpress.com


O Curso de Serviço Social da PUC-SP alinha-se a todas as manifestações de repúdio ao espancamento sofrido por Vinicius, assistente social há pouco formado pela PUC-SP, sempre presente nas manifestações populares de luta por direitos. Repudia-se principalmente a ação truculenta e covarde da Policia Militar e a omissão do Prefeito de São Paulo.

Assistentes Sociais são formados para trabalhar sempre em busca de Justiça e Liberdade.

Para Vinicius e Vanessa todas a nossa solidariedade e apoio.

Prof. Isaura Isoldi de Mello Castanho e Oliveira

Coordenadora do Curso de Serviço Social

PUCSP


O repúdio da APROPUC pela violência da PM contra os manifestantes

APROPUC-SP 18.02.11

A APROPUC repudia a violência das forças policiais de São Paulo aos manifestantes que protestavam, dia 17/02, contra o aumento das passagens de ônibus da cidade de São Paulo.

Desde que o prefeito Gilberto Kassab decretou o aumento das passagens de ônibus em 2011, com um índice acima da inflação, vários questionamentos estão sendo realizados por toda a cidade. Não se conhece as reais planilhas de custo e subsídio das empresas operadoras do sistema, que inclusive contém várias denúncias de irregularidades trabalhistas e salários arrochados contra os seus motoristas, cobradores e mecânicos. Oneram o bolso dos moradores de São Paulo ao imporem uma das tarifas mais caras do país atrelada à uma concepção higienista de cidade.

O Movimento pelo Passe Livre está organizando, com o apoio de outras dezenas de entidades, uma série de protestos questionando esse aumento abusivo e a realidade do transporte de São Paulo. No entanto, a reação do poder público é o descaso e a violência. Na quinta-feira, 17/02, presenciamos mais cenas de selvageria e truculência por parte da PM de São Paulo dirigida à centenas de manifestantes que protestavam pacificamente na sede da Prefeitura de São Paulo. Dezenas de pessoas entre manifestantes e transeuntes sofreram violência com tiros de borracha, gás lacrimogênio e golpes de cassetete no Viaduto do Chá. O assistente social da prefeitura de São Paulo Vinícius Boim, estudante de mestrado em Serviço Social da PUC-SP, foi barbaramente agredido pelos policiais, sofrendo inúmeros ferimentos pelo corpo. Mesmo hospitalizado, havia a ameaça de ser preso enquanto aguardava a realização de uma cirurgia de emergência. Repudiamos a violência contra a população de São Paulo. Exigimos a punição dos responsáveis pelas agressões dos policiais contra a população. A violência do Estado é parte da criminalização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora que está sendo implementada pela elite dominante.

Repudiamos também a violência contra toda a população pelo abuso do poder econômico nas tarifas de transporte público.

Diretoria da APROPUC-SP


O Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-SP vem a público informar que o assistente social Vinicius Boim, mestrando do nosso Programa, foi violentamente espancado por policiais militares na manifestação ocorrida ontem contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo , quando tentava defender uma vereadora da truculência policial a que estava sendo submetida.

Vinícius chegou algemado ao Hospital do Servidor Público Municipal, com ferimentos generalizados no rosto e no corpo, e deverá ser submetido a uma cirurgia no nariz.

Professores e alunos do Programa vêm a público manifestar sua indignação frente a este ato de violência injustificada diante de um protesto estudantil, que reivindicava das autoridades públicas municipais melhores condições de vida na cidade de São Paulo, no uso do direito legítimo de livre expressão e manifestação.

Exigimos das autoridades municipais a imediata apuração dos fatos e responsabilização dos policiais agressores que, ao invés de zelarem pela segurança pública e integridade física dos cidadãos paulistanos, fazem uso da violência e da força arbitrárias contra a luta legítima pelo direito de tornar acessível a toda a população bens e serviços públicos de qualidade, como dever do Estado para com a população da cidade.

Profa. Dra. Raquel Raichelis Degenszajn

Coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP


FACULDADE PAULISTA DE SERVIÇO SOCIAL DE SÃO CAETANO DO SUL se solidariza com o profissional assistente social Vinicius, violentamente espancado pela PM em São Paulo, dia 17/02/2011, motivando sua hospitalização e séria cirurgia.

Repudia a violência, solicitando averiguação do fato e daqueles que assim procederam , não garantindo ao profissional o direito de exercer sua cidadania.

Prezados Colegas

A ABEPSS vem se posicionar repudiando veementemente qualquer forma de violência, expressão da onda de criminalização que a sociedade brasileira vive.

Lamentavel!

Cláudia Mônica


O Tribunal Popular, repúdia a violência do estado na Manifestação contra o aumento da passagem!

O Tribunal Popular, vem denunciando a violência do estado brasileiro e o agravamento da violência estatal como parte de um processo de uma política higienista que se coloca a serviço dos interesses do capital e contra a maioria da população brasileira. Nesse ultimo período em decorrência dos megaeventos que ocorrerão no país, vem acontecendo um processo de reconfiguração das cidades que atinge perversamente a população empobrecida, que se expressa nas desocupações arbitrárias , na expulsão de trabalhadores informais do centro, na violência contra a população moradora de rua, na perseguição aos artistas de rua e a comunidade LGBTT e no aumento das tarifas de transportes, que impossibilita o deslocamento da população, valorizando cada vez mais os interesses dos empresários.

Ontem (17/02) a prefeitura de São Paulo demonstrou mais uma vez a sua face fascista, frente a uma manifestação ocorrida em frente a sua sede, quando de forma violenta através do aparato policial , reprimiu violentamente o 6º ato contra o aumento, uma manifestação dos diversos movimentos sociais, estudantes e partidos de esquerda e covardemente espancou barbaramente um dos manifestantes (Vinicius), que provocou diversos hematomas e seqüelas a sua saúde.

O Tribunal Popular empenha toda a sua solidariedade ao companheiro Vinicius e repudia veementemente a ação da Policia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, que atuaram de forma truculenta, estúpida e a

serviço da ordem burguesa.

Chega da violência do estado!

Fim da política fascista higienista!

Pelo fim da política de remoções de habitações em área de ocupação!

Pela não criminalização dos lutadores sociais e população empobrecida!

Contra a criminalização das comunidades tradicionais e povos originários!

Por uma política de transporte gratuita para a classe trabalhadora!

Pela unificação das lutas populares!

Contra toda forma de opressão!

Tribunal Popular: o estado brasileiro no banco dos réus

Abraço fraterno,

Giva

Blog: http://infanciaurgente.blogspot.com/

Militante do PCB é espancado pela polícia de SP

PM reprime protesto contra o aumento das tarifas

Um jovem foi espancado e preso por policiais ao tentar proteger a vereadora Juliana Cardoso (PT) de uma agressão

18/02/2011

Michelle Amaral
da Redação

O sexto protesto do ano contra o aumento das tarifas dos ônibus municipais em São Paulo, ocorrido nesta quinta-feira (17) foi violentamente reprimido pela Polícia Militar. A manifestação foi realizada em frente à prefeitura, no centro da capital paulista, e teve início às 17h.
A PM não divulgou informação sobre detidos e feridos entre os manifestantes, apenas que cerca de 400 pessoas participaram do protesto e um policial teve ferimentos leves.
No entanto, o Movimento Passe Livre, que encabeça as ações contra o aumento das passagens em São Paulo, afirma em nota que participaram da manifestação em torno de mil pessoas. Alguns estudantes ficaram feridos por balas de borracha.
Para dispesar a manifestação, a PM utilizou gás lacrimogênio, bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha. Além dos estudantes, três vereadores do PT – Antonio Donato, José Américo e Juliana Cardoso -, saíram feridos do confronto com a polícia. “Eu, os vereadores Zé Américo e Juliana fomos agredidos por policiais sem identificação, vamos representar contra o comandante da tropa de choque [Amarildo Garcia]”, disse o verador Antonio Donato em seu Twitter.
O assistente social Vinícius Figueira, que participava do protesto, ao tentar proteger a vereadora Juliana de uma agressão, acabou sendo espancado e preso pelos policiais. “Ele tinha acabado de chegar na manifestação, fazia uns 20 minutos. E, no que ele foi proteger a vereadora Juliana, vieram os policiais em cima dele”, conta Vanessa Faro, esposa de Figueira. Ela relata que o esposo foi agredido por oito policiais e teve o nariz quebrado, além de várias lesões pelo corpo.
Figueira foi levado algemado pela PM ao Hospital do Servidor Público Municipal, onde aguarda até o momento por uma cirurgia no nariz. “Ele está no corredor do hospital desde ontem, por volta das 19h30”, afirma a esposa do assistente social.
Segundo Faro, os médicos do hospital haviam informado que não disponibilizam de equipe para fazer a cirurgia de Figueira. No entanto, com a pressão exercida por advogados que dão apoio ao assistente social, os médicos disseram que a cirurgia será realizada ainda nesta sexta-feira (18).
Figueira é servidor público, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e mestrando em Serviço Social pela Pontífica Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
O protesto em frente à prefeitura havia sido agendado na semana passada e faz parte da jornada contra o reajuste das tarifas, em vigor desde o dia 5 de janeiro. O primeiro protesto do ano, realizado no dia 13 de janeiro, também foi duramente reprimido pela PM e resultou em 30 estudantes detidos e 10 feridos.

Reunião
Estava agendada para a manhã desta quinta-feira uma reunião sobre o valor das passagens com militantes do MPL e representantes do Executivo, no Museu do Transporte, zona norte da capital. Mas, segundo o MPL, nenhum representante da prefeitura compareceu.
A reunião foi acertada durante uma audiência pública, no último sábado (12), na Câmara dos Vereadores. Na audiência estiveram presentes militantes do MPL, estudantes, vereadores e secretário de Transportes, Marcelo Cardinale Branco.
Os militantes seguiram para a Secretaria Municipal de Transportes. Lá, foram recebidos pelo secretário-adjunto de Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado, que afirmou considerar remota a possibilidade de revisão do reajuste. Conforme o movimento, Machado informou que o aumento das passagens foi uma decisão política da administração municipal, e não técnica.
Após terem recebido a informação do secretário-adjunto, seis militantes resolveram se acorrentar às catracas no saguão da prefeitura. Eles chegaram ao prédio ao meio dia e só puderam sair às 23h30, após liberação da PM.

Mais protestos
Também nesta quinta-feira (17) houve protestos contra o aumento das passagens dos ônibus em Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS).
Na capital gaúcha, estudantes realizaram uma mobilização na avenida João Pessoa. Eles protestaram contra o reajuste, em vigor desde o dia 9, que fez com que as tarifas dos ônibus passassem de R$ 2,45 para R$ 2,70.
Já em Curitiba, o protesto foi realizado na praça Tiradentes e culminou na sede da Urbanização de Curitiba S/A, que gerencia o transporte na cidade. Os estudantes exigem o congelamento da tarifa em R$ 2,20 e a reabertura da CPI do transporte público na capital paranaense.
Para a próxima semana, o MPL de São Paulo convoca o sétimo grande ato contra o aumento das passagens dos ônibus municipais. “Em Florianópolis e Vitóra, a população organizada e mobilizada conseguiu barrar o aumento! A luta tem se mostrado forte e podemos estar prestes a conseguir o mesmo em São Paulo!”, afirma nota do MPL-SP. A manifestação será na quinta-feira (24), em frente ao Teatro Municipal de São Paulo.
A primeira grande vitória do povo egípcio

A primeira grande vitória do povo egípcio

imagemCrédito: PRCF


A primeira grande vitória do povo egípcio, a luta vitoriosa dos povos árabes mostra o caminho para todos os oprimidos do Sul e do Norte do Mediterrâneo!

Após o tirano Benali ser "derrubado" pela classe trabalhadora, pela juventude e pelo povo tunisiano, agora, foi a vez do tirano Mubarak “cair”. Quem será o próximo amanhã, em ambos os lados do Mediterrâneo?

O PRCF congratula-se com a vitória do povo egípcio, que pagou com sangue para que o primeiro passo em direção à liberdade fosse dado. Felicitamos os comunistas e os militantes do movimento operário egípcios que estão à frente das greves e protestos, apesar da ilegalidade declarada pelo o regime de Mubarak, apoiado pelas "democracias ocidentais", com os EUA e Sarko-Land à frente, que haviam condenado, sem dúvida, em nome do "anti-totalitarismo". É bom notar o constrangimento dos líderes da extrema-direita que lidera Israel, e Sarkozy que, em vez de saudar o povo egípcio, prefere saudar a "decisão corajosa" do seu amigo Mubarak ...

Ninguém pode esquecer que o regime de Mubarak não foi apenas um regime despótico, mas totalmente subserviente ao imperialismo dos EUA, às transnacionais, defensor das piores desigualdades sociais, um traidor da causa palestina e da revolução anti-imperialista dirigida por Nasser nos anos 50, uma revolução traída por Sadat e depois por Mubarak.

Ninguém pode esquecer que os palestinos na Faixa de Gaza estão famintos e sofrem bloqueios, não só pelo Estado predatório de Israel, mas pelo governo egípcio com o total apoio de seu exército.

Naturalmente, nós não somos enganados pela manobra de Obama que, depois de tanto tempo apoiando o tirano, esperava a sua saída a fim de preservar o essencial: a dominação imperialista do Egito, a "aliança" entre o governo egípcio e o Estado de Israel para trair o povo palestino, mantendo o mundo árabe no sistema capitalista.E não temos dúvida de que a parte mais avançada do povo egípcio verá claramente estas manobras destinadas a privá-lo de sua revolução popular em marcha; a partida de Mubarak é apenas o primeiro ato. Sim, é bom que o povo egípcio tenha sido capaz de usar as contradições no seio da classe dominante, incluindo as contradições entre o regime e os seu guardião americano para obter a liberdade: todos a favor do movimento insurgente, a classe trabalhadora egípcia, principalmente nos principais portos do Delta entrou em greve para exigir, não só as liberdades democráticas, mas o direito ao trabalho, salários mais elevados, redução acentuada das desigualdades de classe. Em suma, mais uma vez, aqueles que negavam a existência da luta de classes estão desiludidos, pois a classe operária não se contenta com promessas vagas, ela procura ter um papel central nesta revolução, que será do povo. Mais do que nunca, o povo da França pode orgulhar-se do que está acontecendo em todo o Mediterrâneo e é uma derrota direta para Alliot-Marie e outros Fillon, que eram "unha e carne" com esses regimes podres e sangrentos.

Para todos os povos, inclusive o nosso, que teve a sorte de se deixar dormir na quinta-feira pelo monólogo de um "presidente da República”" que se isola cada vez mais, inclusive de alguns setores do aparelho do Estado, e que não tem mais nada a “propor” que o total desmantelamento da nação francesa, de suas liberdades democráticas e as suas conquistas sociais. Para todos os trabalhadores da França, que lutaram no outono, a lição é clara: este não é um compromisso a la Chérèque com um poder fascista que conduz à vitória, é a luta, especialmente a luta de classes levada até o fim!

Para todos os povos do mundo, surge a pergunta agora: o momento em que termina a era das contra-revoluções que deu início ao reacionário desmantelamento da URSS e do campo socialista, o tempo das revoluções vai superar isso? As pessoas estão prontas para a luta. Resta aos militantes revolucionários e aos verdadeiros comunistas em todo o mundo se unirem em ação, em nível nacional como internacional, para garantir que a primavera dos povos árabes remeta á ordem do dia para todos os povos a frase imortal de Robespierre presente na primeira constituição republicana da França: "Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é para o povo e para qualquer parte do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais essencial dos deveres”. "

PRCF - Pólo de Renascimento do Comunismo Francês

Os presos políticos e de guerra se pronunciam ante o gesto unilateral das FARC-EP

imagemCrédito: Carlos Lozano Guillen


Prisioneiros e prisioneiras políticos e de guerra - FARC-EP

@s prisioneir@s politic@s e de guerra saudamos a decisão das FARC-EP de liberar unilateralmente o Cabo do exército Salín San Miguel, o infante de marinha Henry López Martínez, ao major da Polícia Guillermo Javier Solórzano - prisioneiros de guerra - assim como os políticos do sistema - o ex-presidente do Conselho de Garzón-Huila, Armando Acuña e o ex-presidente do Conselho de San José del Guaviare, Marcos Vaquero.

Entendemos isso como um gesto humanitário e de acordo com a natureza política de nossa organização. Esperamos que o Governo colombiano traduza este feito na abertura de novos caminhos para uma paz dialogada.

Também apreciamos o forte papel desempenhado pela ex-senadora PIEDAD CORDOBA e dos COLOMBIANOS E COLOMBIANAS PELA PAZ a favor do intercâmbio humanitário de prisioneiros e prisioneiras das duas partes em contenda, saudamos também os bons ofícios do governo brasileiro e da Cruz Vermelha Internacional na conclusão bem sucedida deste ato humanitário.

A longa existência do conflito social e armado interno na Colômbia, aflora entre suas consequências não desejadas, a existência de prisioneir@s, alguns nas mãos da insurgência, e muitos outros nas mãos do Estado colombiano.

O Estado, a mídia oficial e alguns setores da sociedade nacional reagiram e exigiram a libertação dos prisioneiros de guerra e dos políticos tradicionais que se encontram nas selvas da Colômbia, e em troca, muito pouco ou nada dizem da existência de mais de 7.000 prisioneir@s polític@s (de consciência e de guerra), que hoje se encontram nos “panteões” carcerários do Estado. Inclusive, alguns como a jornalista SALUD HERNANDEZ, ousam negar nossa existência e a nossa condição de prisioneir@s politic@s (de consciência e de guerra), pois segundo sua "objetiva" sapiência jornalística, somos apenas um bando de "terroristas", e ficam horrorizados porque na legislação colombiana existe o DELITO POLÍTICO DE REBELIÃO. Nada diferente se pode esperar dos notáveis representantes da mídia oficial e do pensamento reacionário. Para sua informação, senhora jornalista SALUD HERNANDEZ, a REBELIÃO é um direito que assiste aos povos do mundo quando somos submetidos por estados e governos vergonhosos e injustos, ainda que em nosso país esse DIREITO tenha se convertido em um delito.

Se mais além de suas ácidas opiniões disfarçadas de jornalismo, se dispuser a conhecer diretamente a realidade, tal como ela é, e não como você gostaria que conservadoramente fosse, se perguntaria porque os governantes colombianos se ajoelham ao império, hoje criminalizando, perseguindo e aprisionando milhares de homens e mulheres, sindicalistas, ativistas dos direitos humanos, acadêmicos, estudantes, campones@s, indígenas, afro-colombian@s, os moradores de áreas de conflito civil, todos eles vítimas da caça às bruxas da suposta guerra contra o “terrorismo" e da paranoica "segurança democrática". Todos eles e elas, juntamente com centenas de insurgentes, somos uniformemente acusados de "rebelião", e agora "terrorismo" para tornar as nossas condenações mais longas.

Sim, jornalista SALUD HERNANDEZ, na Colômbia há pres@s polític@s (de consciência e de guerra), e para vergonha do Estado colombiano são milhares de homens e mulheres, que apesar de estarem sujeitos a situações de completa indignidade e todos os tipos de vexame, perseveramos em nossos princípios e com a cabeça erguida, porque estamos convencid@s da justeza de nossa luta por uma nova nação, verdadeiramente democrática e em paz para tod@s e não apenas para alguns "privilegiados".

Apoiamos a demanda dos colombianos e colombianas pela paz de solicitar ao governo um relatório sobre a nossa situação nas prisões do Estado, e instamos os colombianos e colombianas pela paz e as organizações nacionais e internacionais de direitos humanos que façam parte de uma comissão que visite diretamente os estabelecimentos prisionais onde nos encontramos e verifiquem nossas condições de detenção.

Sabemos que as FARC-EP têm mantido no alto as bandeiras da TROCA e que não se esqueceram dos outros pres@s polític@s que se encontram junto a nós na prisão. Não sucumbiremos à chantagem, ou a indignidade da traição, ou a dureza da prisão. Nossa lealdade, firmeza e compromisso de luta está com as FARC-EP e com nosso povo.

Aos nossos camaradas do secretariado das FARC-EP, GUERRILHEIR@S e demais integrantes da nossa organização e a nosso povo, um BOLIVARIANO E REVOLUCIONÁRIO ABRAÇO.

PRISIONEIR@S POLITIC@S E DE GUERRA

FARC-EP.

Fevereiro de 2011

18 de fevereiro de 2011

A UNIDADE CLASSISTA E O XX CONGRESSO DO ANDES-SN


Diante de um quadro político que apresenta sinais que apontam, simultaneamente, para o possível aprofundamento da aplicação de políticas neoliberais no Brasil, reveladas, entre outras manifestações, no anúncio de cortes no orçamento e de congelamento de realização de concursos – afetando diretamente as universidades federais –, e, simultaneamente, para a retomada da mobilização e da luta dos trabalhadores, em diversas áreas, entendemos que é necessária uma reflexão sobre nossa entidade que permita a correção de rumos e o seu fortalecimento.

O Andes-SN exerceu e ainda exerce uma importância fundamental na construção do sindicalismo combativo de nosso país. Desde o enfrentamento contra a ditadura militar que culmina nas primeiras greves de 1980 e 1981 bem como na incansável luta pela construção da universidade pública, gratuita, democrática, laica e socialmente referenciada, como foi formulado no Caderno 2 do Andes-SN, a entidade tem se caracterizado como vanguarda na luta pelas liberdades democráticas e pela construção de uma Universidade de cunho popular.

Nos embates mais recentes, o Andes-SN tem tido posturas corretas, de maneira geral, quanto ao enfrentamento de ações do governo Lula, como o Reuni, que amplia o acesso à universidade sem, no entanto, garantir as condições para sua manutenção; o Prouni, que transfere recursos públicos para as universidades privadas ao invés de assegurar o financiamento necessário para as universidades públicas; nas denúncias contra as ditas “fundações de apoio”, verdadeiras caixas secretas dentro das universidades públicas e que recentemente foram desnudadas com acusações de enriquecimento ilícito envolvendo entes privados e dirigentes de universidades que se nutriam de recursos públicos. Também no terreno da luta sindical mais específica, o Andes SN vem demonstrando uma aproximação maior com o professorado, como no caso da recém divulgada nova proposta de Carreira, que contém, além de uma estrutura muito bem construída, propostas concretas que reúnem as condições de se transformarem em referências de mobilização e luta de toda a categoria.

No entanto, entendemos que alguns aspectos devem ser problematizados nesta trajetória que inclusive culminam com a crise que o Andes-SN está vivendo atualmente. Desde o seu nascimento as direções que se sucedem, sob a justificativa de defender a liberdade de organização sindical, insistiram na tese do “pluralismo sindical” em contraposição à “unicidade sindical”. A unicidade sindical é uma questão de princípio para um movimento sindical que se queira transformador da realidade e representativo dos trabalhadores. A pluralidade sindical é um desserviço à luta dos trabalhadores e o exemplo é a situação criada com o surgimento da entidade pelega denominada “Proifes”.

Todos sabemos que a grande arma do trabalhador é a sua unidade, e como grande parte dos integrantes do anterior e do atual governo são ex-dirigentes de sindicatos de trabalhadores (estando muitos destes hoje a serviço do capital), sabem muito bem como enfraquecer uma categoria: ferindo sua unidade de ação. Desta forma, o governo Lula, juntamente com seu braço sindical, a CUT, estimulou o nascimento do Proifes, com o único intuito de enfraquecer o movimento docente representado pelo Andes-SN.

Com a certeza de que a divisão do movimento docente seria benéfica ao governo federal, o Proifes, em nome de nossa categoria, negocia, faz acordos e, desta maneira, confunde e contribui para a desmobilização do movimento docente, sendo participante de várias reuniões em que o Andes-SN sequer foi convidado. Um exemplo dessas negociações sem o apoio da categoria pôde ser observado em 2008 com o “Termo de acordo” assinado com o governo federal (que se transformou na Medida Provisória 431/08) e que não contou com o apoio do Andes-SN e nem da maioria das assembléias gerais realizadas em todo o país.

Apesar do surgimento do Proifes, a partir de brechas e ações junto ao Ministério do Trabalho que levaram o Andes-SN a dificuldades financeiras, justamente no momento em que mais precisava dinamizar a luta dos docentes, em junho de 2009, o registro do Andes-SN foi restabelecido pelo MTE, mas uma nova luta começa com a tentativa de rejeitar o pedido de registro sindical do Proifes. Esta “entidade” defende que as próprias seções sindicais escolham a qual sindicato querem ficar filiadas. Isso demonstra, na prática, a ação nociva do pluralismo sindical, já que divide a categoria e enfraquece o movimento.

O debate sobre a unicidade e pluralismo sindical deve ser enfrentado com seriedade junto a nossa categoria, já que a prática tem demonstrado os efeitos deletérios que, tanto o pluralismo, como a falta de debate sobre o tema, tem gerado.

Além disso, percebemos que a questão da filiação à Conlutas no 26° Congresso, em Campina Grande, mostrou-se precipitada e que hoje nos têm colocado numa posição de isolamento. Se a desfiliação da CUT foi uma medida acertada, devido àquela central sindical não mais representar os interesses da classe trabalhadora, de maneira geral, e dos funcionários públicos, de forma particular, por ter se transformado em um órgão de conciliação de classes e em uma correia de transmissão das políticas neoliberais do governo Lula, a filiação à então recém criada Conlutas em 2007 foi uma medida que se mostrou açodada e não representativa da unidade da classe.

Na verdade, o quadro político e sindical brasileiro naquele momento ainda estava em um processo de grandes mudanças com repercussão de novas tendências no movimento sindical, a exemplo do surgimento da Intersindical. Por outro lado, a imediata filiação à Conlutas, sem a antecedência de um amplo e constante debate, sobre o papel e o caráter da Conlutas, que ainda estava no seu nascimento, demonstra uma tendência ao aprofundamento da estreiteza política que funcionou como um mecanismo de aparelhamento do movimento.

Nos opomos à concepção de organização proposta pela Conlutas por entendermos que necessitamos de uma verdadeira central sindical que expresse a intervenção dos trabalhadores enquanto classe, em que a centralidade da luta se manifeste na contradição capital-trabalho. É fundamental que todas as demais manifestações de movimentos organizados, seja anti-racismo, gênero, diversidade sexual, estudantil, devam ser interpretados do ponto de vista de classe, pois, sem essa compreensão, se tornam movimentos de busca por melhores condições de participação na dinâmica do sistema capitalista.

Entendemos que, no atual estágio de conformação das políticas que possam alicerçar a base social do Andes-SN, o debate e o aprofundamento sobre o papel das universidades estaduais têm que ser mais efetivo dentro do nosso sindicato. As universidades estaduais têm sido um estuário para aplicação de políticas neoliberais e dos moldes propostos pelo Banco Mundial e organismos nacionais e internacionais que visam ao desmonte de um projeto de universidade popular. O mesmo se pode dizer quanto ao caso das universidades particulares, que em grande medida submetem os professores à condição de trabalhadores precarizados e superexplorados e sempre colocados à mercê das leis do mercado.

Assim, entendemos que este Congresso do Andes-SN deve ser aberto à discussão dos mais variados temas, mesmo alguns que nos últimos anos têm sido preteridos sob a justificativa de ser matéria vencida e que tem feito com que medidas estreitas fossem adotadas levando ao isolamento da entidade. Desta forma, estaremos certos de buscar superar nossos erros e construir a Universidade pela qual lutamos: uma Universidade como instrumento de transformação da realidade social, uma Universidade popular que contribua efetivamente para o acesso de todos à ciência e à formação superior.

Entendemos que o Andes-SN deve participar também das lutas gerais da sociedade, a exemplo da campanha do Petróleo – Petrobrás 100% estatal –, na defesa do Aqüífero Guarani, na solidariedade internacional, bem como na defesa da manutenção e expansão dos direitos conquistados pela classe trabalhadora. É necessário mais do que nunca a unidade dos trabalhadores para vencer os desafios que virão a partir do governo Dilma, já que a crise econômica tende a se alastrar e a receita do capital para minimizar os efeitos da crise é jogar a conta para os trabalhadores através do aumento do desemprego, da diminuição dos salários, da piora das condições de trabalho e por parte dos governos, mesmo dos países centrais, através do corte dos gastos públicos e da reforma da previdência social.

A Universidade brasileira é um projeto em disputa e, mesmo entendendo que a Universidade que queremos é um projeto da sociedade socialista, compreendemos que mediações devem ser feitas na luta cotidiana de nossa categoria. Cabe a nós discuti-la e construí-la em fóruns como esse e na sociedade como um todo.



Uberlândia (MG), 17 de fevereiro de 2011

UNIDADE CLASSISTA (Corrente Sindical ligada ao PCB)

17 de fevereiro de 2011

Bush pode ser processado por autorizar tortura: Anistia Internacional (AI)

Bush pode ser processado por autorizar tortura: Anistia Internacional (AI)

imagemCrédito: Indymedia.org


Bush admitiu que ele havia autorizado pessoalmente técnicas de tortura contra detidos. Anistia Internacional (AI) disse hoje que o ex-presidente estadunidense George W. Bush pode ser processado em qualquer país depois de admitir publicamente em novembro passado que havia autorizado as torturas nos interrogatórios dos serviços de segurança dos Estados Unidos.

Bush acaba de cancelar uma visita privada a Suíça, prevista para a próxima semana, em meio às pressões de grupos de ativistas que haviam convocado um protesto e pedido ao Governo suíço que abra um processo judicial contra o ex-presidente, segundo a imprensa helvética.

A Anistia Internacional entregou um extenso informe ao Ministério Público e ao Governo suíços no qual solicita que Bush seja detido se viajar ao país e que seja investigado seu papel na execução da torturas.

Nesse dossier, recordam o compromisso da Suíça na prevenção da tortura e assinalam os pontos da legislação internacional que forçaram o país helvético a atuar contra o ex-presidente, incluindo ainda centenas de documentos públicos que ilustravam as supostas infrações cometidas pelos serviços de segurança estadunidenses. O organismo afirmou que, dado que a Administração dos EUA ignorou seus repetidos apelos para que se investigue Bush, “a comunidade internacional deve assumir este assunto”. “Bush enfrenta uma investigação e possível processo criminal por sua responsabilidade em torturas e outros delitos conforme a legislação internacional, particularmente nos 147 países que assinaram a Convenção da ONU contra a tortura”, segundo um comunicado da AI.

Matthew Pollard que elaborou o informe entregado às autoridades suíças assinalou que a situação mudou quando, em novembro passado, Bush “admitiu na TV e em suas memórias, sem desculpar-se, que ele, pessoalmente, havia autorizado a técnica de tortura denominada 'waterboarding'”. Este procedimento, conhecido com “submarino” ou “asfixia simulada” em outros países, consiste em submeter o detido à asfixia por imersão ou derramamento de água sobre boca e nariz.

Pollard assinalou que desde 2004 a AI reclama às autoridades estadunidenses que abram uma investigação criminal que chegue às altas instâncias do Governo, de acordo com as numerosas provas de tortura e violações da legislação internacional cometidas sob a Administração Bush.

No entanto, embora processado soldados de baixa patente no caso de tortura na prisão iraquiana de Abu Ghraib, nunca foi aberta uma investigação sobre a responsabilidade dos altos cargos do Governo dos EUA.

Segundo Pollard, “a admissão pública (de Bush) de que autorizou atos de tortura” muda a situação e permite que tanto nos Estados Unidos quanto no exterior se possa processá-lo diretamente. A Anistia sublinha que os países assinantes da convenção contra a tortura têm a obrigação de investigar, deter se for necessário e, havendo provas, processar ou extraditar suspeitos da comissão ou autorização desses maus tratos.

“O que está claro, declarou Pollard, é que, depois da confissão, qualquer país para onde viaje (Bush) agora terá a obrigação de detê-lo segundo a convenção da ONU sobre a tortura”. O secretário geral da Anistia, Selil Shetty, assinalou hoje que até o momento não havia “nenhum processo judicial contra os delitos cometidos no programa de detenções secretas da Agência Central de Inteligência (CIA), autorizados pelo então presidente George W. Bush”.

Fonte: http://www.eltiempo.com/mundo/estados-unidos/bush-puede-ser-procesado-por-autorizar-tortura-amnistia-internacional_8830420-4

Traduzido por Dario da Silva.

PRISIONAM E TENTAM EXTRADITAR LEYLA ORDOÑEZ PARA COLÔMBIA

PRISIONAM E TENTAM EXTRADITAR LEYLA ORDOÑEZ PARA COLÔMBIA

imagemCrédito: kaosenlared.net


Colômbia

Ante a detenção de nossa companheira Leyla Ordóñez Mera, os coletivos sociais e políticos abaixo assinados, manifestam:

1.- Leyla possui o status de refugiada política reconhecida pela ONU e pelo Governo Espanhol, pelo fato de ser perseguida pelo Estado colombiano, por conta de sua atividade política em defesa dos Direitos Humanos (DDHH).

2.- É prática habitual do Estado colombiano perseguir dentro e fora do país todas as pessoas que denunciam a situação de violação sistemática dos DDHH na Colômbia. São inúmeros relatos de perseguição e assassinato de sindicalistas, deslocamentos maciços de populações campesinas, assassinato de profissionais e candidatos eleitorais, desaparecimentos, etc. É ostentando por este país o recorde de sindicalistas assassinados no mundo.

3.- A prisão de Leyla corresponde a uma tentativa do governo colombiano de calar as vozes que denunciam no exterior o verdadeiro caráter do Estado colombiano.

4.- No caso de ser extraditada, responsabilizamos o governo e a justiça espanhola pela sorte de Leyla, pois sua vida corre perigo na Colômbia.

5.- Também denunciamos o julgamento paralelo e a campanha midiática de criminalização da solidariedade com os povos que lutam por sua libertação.

6.- Exigimos a libertação imediata de Leyla, sem as acusações e com o arquivamento de todas as suas atuações.

16 de fevereiro de 2011

Plataforma de Solidariedade com a Colômbia, Coordenadora Estatal de Solidariedade com Cuba-Madrid, Coletivo 26 de Julho, Associação de Cultura Popular Estrela Vermelha, Nodo50, Ateneo Popular de Solidariedade entre os Povos, Coordenadora Antifascista de Madrid, Iniciativa Comunista, Corrente Vermelha, Partido Comunista Marxista-Leninista (PC-ML), Partido Comunista dos Povos da Espanha (PCPE), Círculos Jovens Comunistas (CJC), Esquerda Castelhana (IzCa), Movimento Caamañista (MC) da República Dominicana-RD, Juventude Rebelde-RD, Narciso Isa Conde (Coordenador da Presidência Coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB), Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Fonte: http://www.kaosenlared.net/noticia/urgente-apresan-intentan-extraditar-colombia-leyla-ordonez-urge-solida

Pólo Patriótico

Pólo Patriótico

imagemCrédito: ABP


por Luis Alberto Nieto

2011-01-31 - abpnoticias - Luis Alberto Nieto- O comandante Hugo Rafael Chávez conclama todos os setores que apóiam o processo revolucionário para constituírem o Pólo Patriótico e a unidade de todos os revolucionários. Essa unidade não se deu anteriormente, pois setores, pessoas e grupos que não acreditam na revolução e no socialismo se omitiram perante o chamado do presidente.

A aplicação das 3R, tão mencionada pelo presidente que ordenou a sua prática, foi apenas considerada. Somente se falou e se pensou o seu princípio. Poucos funcionários e dirigentes políticos, que dizem ser revolucionários, apoiaram de fato o relançamento das 3R e a sua execução.

Quando falamos que a unidade dos revolucionários não se concretizou, é preciso considerar que a unidade existente é eleitoral. Foram poucas as organizações políticas, sociais, culturais, frentes e movimentos que avançaram numa autêntica unidade revolucionária. Acreditamos que a mesma deva ocorrer em diferentes áreas: defesa do processo revolucionário, do social, da organização, da formação, da comunicação. Esse novo chamado, assim como a formação do pólo, não deve ficar só no aspecto eleitoral. É o erro que vem se cometendo por muito tempo e que não foi corrigido.

Entendemos que o PSUV, sendo uma organização política, partido de militância do presidente Chávez e com o maior número de militantes, consequentemente com a maior soma de votos, precisa olhar além do seu horizonte. É necessário respeitar as organizações aliadas ao processo revolucionário, zelar pelas possibilidades de que estas se desenvolvam, levando em conta seus projetos, apontamentos, críticas e observações. É preciso que tais organizações não sejam diminuídas em sua importância, mas sim que suas contribuições sejam consideradas para que se realize o processo.

Esse é o momento para os pequenos grupos infiltrados nas fileiras do PSUV e das demais organizações políticas desapareçam, dando espaço aos revolucionários. Estes sim possuem toda a intenção de atuar e trabalhar por esta revolução e este país. A aliança que hoje necessitamos deve ser dirigida, em todos os aspectos, com base nos preceitos revolucionários e socialistas, principalmente com ética e moral. A finalidade é blindar a revolução com uma base sólida, com parâmetros delimitem o horizonte da nova pátria que queremos e o homem que queremos.

Não pode existir mesquinhez entre os revolucionários. O protagonista de todo esse processo é o povo. Por isso suas bases devem ser sólidas. É certo que se aproxima um processo eleitoral importantíssimo, sendo fundamental a reeleição do comandante Chávez. Não escutarmos os conselhos do presidente, seus chamados, suas observações, suas correções e suas análises críticas da situação, nos divorcia do processo. O mesmo ocorre quando não consideramos o comentário do povo, a crítica do povo, o sentir do povo. O que se vê em alguns dirigentes da revolução é a pouca confiança e credibilidade.

PCV, MEP, UPV, TUPAMARO e PSUV são organizações empenhadas na construção da unidade revolucionária, sendo esta última com a maior força e grande máquina eleitoral a trabalhar nos interesses do coletivo e da revolução, do povo, do país, com o intuito de afinar estratégias, planos, projetos e objetivos. Estaremos presentes em todos os locais de atuação e de vida capazes de trilhar um caminho, uma brecha, que conduzirá ao socialismo, dando o valor merecido ao ser humano. No entanto, esse processo deve nascer internamente para, depois, ser colocado em prática, deixando de lado as mesquinharias e ambições pessoais.

Unidade, unidade deve ser nossa divisa. A unidade nos blindará ante a metralhadora cruel do inimigo que busca acabar com nossos sucessos no processo revolucionário. Não conseguirão pôr fim ao processo revolucionário e nem matar o sonho socialista. O caminho é longo e os obstáculos são inúmeros. Muitas pedras no caminho, muitos tropeços. Porém, nada deve deter o avanço da unidade revolucionária, que vai mais além dos estudantes e jovens, donas de casa, camponeses, trabalhadores, comerciantes, artistas, esportistas, frentes, coletivos, movimentos. A tarefa apenas começou! É como começar do zero. É preciso avaliar e corrigir, mas sem perder tempo. Existe uma tarefa, existe um trabalho que precisa ser cumprido.

A unidade não se decreta. Ela se constrói a partir das bases, considerando todos os nossos aliados, companheiros de luta e companheiros de vida. Também temos que considerar os prós e os contras, inclusive a situação atual, o nosso tempo. Daí, colocar em marcha o grande veículo, o grande tanque da unidade revolucionária. A hora é agora. Não podemos esperar mais tempo! O chamado já foi feito e o projeto formulado!

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Fonte: http://www.abpnoticias.com/index.php?option=com_k2&view=item&id=303:polo-patri%C3%B3tico

Parem o massacre no Haiti!  - Por: Caio Dezorzi

Parem o massacre no Haiti! - Por: Caio Dezorzi

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Na mesma semana em que se comemora no Haiti a festa nacional Jean Jacques Dessalines (17/10) – um dos líderes da independência da primeira república negra (1804) – a ONU renova a permanência das tropas militares no país por mais 1 ano.

Quando se fala sobre o Haiti, grande parte dos brasileiros logo lembra da canção de Gil e Caetano. Aquela que faz uma analogia: “O Haiti é aqui!”. Mas poucos sabem que já há mais de 4 anos essa analogia tem se tornado assustadoramente cada vez mais real. Não que o Brasil tenha ficado mais parecido – do que já é em alguns aspectos e em certas regiões – com o Haiti. Mas sim que nas favelas do Haiti, como nas do Brasil, homens, mulheres e crianças têm sido atingidos por balas perdidas – e outras nem tão “perdidas” assim – disparadas por armas nas mãos de um agente comum: o soldado brasileiro!

É... isso mesmo! As forças armadas brasileiras, o exército verde e amarelo – anos depois de a luta do povo trabalhador brasileiro ter enterrado a ditadura militar – está reprimindo e assassinando o povo irmão do país mais pobre das Américas. E o mais assombroso: quem enviou as tropas pra lá, a mando de Bush, foi o companheiro presidente Lula!

Alguns argumentam que se trata de uma “missão de paz” da ONU. Mas a verdade é outra. Iniciada a partir de um golpe militar no qual tropas estadunidenses raptaram o então presidente eleito do Haiti, a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti) nada mais é do que uma ocupação militar repressora que impede o povo haitiano de se manifestar e de lutar por melhores condições de vida, por mudanças, garantindo assim o controle do imperialismo na região.

Assim como planejou e financiou ditaduras militares em toda a América Latina nas décadas seguintes à 2ª Guerra Mundial para conter o avanço das idéias socialistas e reprimir o movimento operário, agora o imperialismo do “Tio Sam” utiliza forças armadas de diversos países – principalmente do Brasil – para fincar suas garras na ilha da América Central cuja história de luta do seu povo já foi exemplo para os povos oprimidos de todo o continente.

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Clique aqui e assista a um vídeo de 2007 que mostra a ação assassina das tropas da ONU comandadas pelo Brasil no Haiti.

Se pudéssemos retroceder no tempo e contar isso ao Lula sindicalista, aquele do final da década de 70, que foi preso pela ditadura, qual seria sua reação? Nos EUA, o povo americano já se habituou a exigir: “Sr. Presidente, traga os soldados pra casa!”. Uma potência imperialista como os EUA precisa promover guerras o tempo todo para defender os interesses econômicos dos capitalistas. Mas quem imaginaria o povo brasileiro tendo que exigir a mesma coisa daquele que foi eleito justamente para defender os interesses dos trabalhadores? A frase: “Lula, traga os soldados pra casa!” parece vinda de um pesadelo de mau gosto! Pois é... a história dá voltas e tudo pode se transformar em seu contrário!

As raízes da histórica luta do povo haitiano

Há mais de 5 séculos, com a chegada dos europeus à América, a segunda maior ilha do Caribe que era chamada de Ayiti ou Quisqueya pelos índios, foi batizada de Hispaniola por Cristóvão Colombo, que estabeleceu ali, em 1493, a primeira colônia na América. Depois do genocídio que em menos de duas décadas reduziu a população nativa a 12% dos cerca de 500 mil indígenas que habitavam a ilha, os espanhóis levaram quase todo o ouro. À medida que os espanhóis abandonavam parte do território onde o ouro ficava escasso, os franceses começavam a ocupá-lo pelo norte da ilha. Até que em 1697, os espanhóis reconhecem a parte ocidental da ilha como colônia da França e os franceses a batizam de São Domingos (Saint-Domingue). Quase sem ouro, os colonizadores franceses apostam na cana-de-açúcar e no café produzidos com mão-de-obra de escravos trazidos da África.

São Domingos torna-se uma potência produtora de açúcar e fonte de altíssimos lucros para o tráfico negreiro. Foi a colônia francesa mais próspera na América e o açúcar de boa qualidade concorria com o que era produzido no Brasil. Já pouco antes de 1770 a colônia exportava 35 mil toneladas de açúcar bruto e 25 mil toneladas de açúcar branco ao ano. Entre 1764 e 1771, a média anual era de 10 mil novos escravos comprados, trazidos pelos navios. No fim dos anos 1780, a produção de açúcar quase dobrou na ilha e de 1787 em diante, eram mais de 40 mil novos escravos comprados por ano! A pequena ilha foi “colonizada” com escravos africanos. E estes recebiam o pior tratamento imaginável por parte de seus “donos” franceses.

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“Os africanos que chegavam escravizados eram sobreviventes: os negros enfrentavam uma viagem transatlântica pela Rota do Meio como cargas selvagens de um traficante. Não raro, quase um quarto dos escravos transportados morria dentro dos navios pelas péssimas condições de alimentação e higiene. Quando chegavam aos portos, eram examinados, comprados e queimados com ferro em brasa em cada lado do peito para identificar seu dono. Os maus tratos que se seguiam estimulavam juras de contra-ataque. Algumas delas eram proferidas nos rituais noturnos de vodu, sincretismo dos rituais africanos com o catolicismo.” (Aloisio Milani, Revolução Negra, Revista História Viva nº 51, Jan/2008).

Uma massa numerosa de escravos - que falavam crioulo e francês - foi colocada a trabalhar em toda a extensão da colônia (parte ocidental da ilha). Com cargas desumanas de trabalho, torturas e punições, os escravos se revoltavam. Assim como no Brasil chegaram a se organizar em quilombos. Aloisio Milani escreve:

“Em creoule, dançavam e gritavam canções ameaçadoras, registra o escritor Cyril Lionel Robert James. ‘Ê! Ê! Bomba! Heu! Heu! Canga, bafio té! Canga, mauné de lé! Canga, do ki la! Canga, li!’ A tradução seria algo como: ‘Juramos destruir os brancos e tudo o que possuem; que morramos se falharmos nesta promessa’. Tal qual o Brasil pré-abolicionista, também havia quilombos organizados nas montanhas haitianas para montar uma resistência contra a escravidão. O mais temido foi o líder Mackland. Negro da Guiné, ele era um visionário, grande orador e se dizia imortal com os poderes do vodu. Tinha seguidores aos montes. Em 1758 planejou envenenar a água das casas dos brancos para libertar os escravos. Foi traído, capturado e queimado vivo.” (idem).

Mas não foram apenas os maus-tratos dos franceses contra os escravos que incentivaram as revoltas. As notícias da independência dos EUA em 1776 – inspirada pelas idéias iluministas – e a própria Revolução Francesa em 1789 agitavam o ambiente na ilha caribenha.

Revolução Francesa e luta contra a escravidão

Em 1789, a burguesia francesa que vinha enriquecendo – aí incluída a burguesia marítima que enriquecia com o tráfico de escravos e o comércio do açúcar de São Domingos – enfrenta o poder da monarquia e a grande revolução eclode na França varrendo o feudalismo do mapa. Mas os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que inspiraram a revolução francesa não podiam ser empregados na colônia de São Domingos, pois contrariariam os interesses econômicos dos senhores de escravos. Os colonos de São Domingos são questionados pelos franceses em plena revolução. A partir disto a luta dos escravos de São Domingos se torna intrínseca à luta pela revolução na França.

Após a queda da Bastilha, com o desenvolvimento da revolução na França, em 1790 é permitida a instituição de uma assembléia colonial em São Domingos, dividida entre “latifundiários, brancos pobres, mulatos livres e escravos”. Mas nos debates prevalecia o poder dos latifundiários. Só em 1791, na assembléia constituinte da França, é que foi aprovada a igualdade de direitos entre todas as pessoas em São Domingos.

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A notícia da decisão chegava aos poucos aos ouvidos dos escravos na ilha. Os latifundiários não a aceitaram e contra-argumentavam que negros e mulatos não eram pessoas e, logo, não podiam ter direitos. Um clima revolucionário percorria todas as fazendas. E foi Boukman – um capataz e sacerdote de vodu – que liderou uma revolta que ateou fogo em todas as fazendas da planície do norte de São Domingos, matando os latifundiários.

Os escravos do sul e do leste espanhol da ilha somam-se aos rebeldes. A repressão aumenta e Boukman é morto em combate, mas a revolta não para! A cada dia aumentava o número de insurgentes. Passaram de 100 mil homens e essa quantidade propiciou um salto de qualidade levando a luta a amadurecer e levantar a bandeira pela independência da colônia.

Luta pela independência

Depois de Boukman houve outros líderes, mas o que mais se destacou foi Toussaint L’Ouverture, um ex-escravo que teve acesso à literatura política e se revelou um grande estrategista militar. Ele unificou os grupos de rebeldes e organizou um exército capaz de derrotar tropas européias. Entretanto inclinava-se a conciliar com os latifundiários, que por sua vez, recusavam qualquer acordo de paz. A França envia então 3 comissários com 6 mil soldados para conter as rebeliões dos escravos e resolver a situação.

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Mas, enquanto os comissários tentavam negociar um acordo, a nova república francesa declara guerra à Inglaterra. A guerra envolve as colônias européias e o exército de Toussaint defende a ilha, combatendo tropas francesas, inglesas e espanholas.

Em 1794, a república francesa declara a abolição da escravidão em todos os seus territórios e o exército de Toussaint, aliado aos franceses, expulsa os ingleses e espanhóis da ilha (inclusive da parte espanhola). Com isso, Toussaint foi nomeado pela metrópole o Chefe do Exército de São Domingos. Em 1801, São Domingos proclamou uma Constituição, tornando-se província autônoma.

Porém, em 1802, Napoleão Bonaparte dá início à sua jornada pela dominação de tudo e de todos. Já com o domínio da Louisiana, ao sul dos EUA, viu na ilha de São Domingos um ponto-chave para a expansão do império francês no Novo Mundo e enviou uma armada para retomar o domínio da colônia: 47 mil homens sob o comando do General LeClerc.

Toussaint combateu as tropas napoleônicas, mas seu instinto conciliador o traiu de novo: o líder negro fez um acordo de paz e se deixou levar, preso, até a França, na tentativa de negociar. Acabou morto numa prisão em Forte Joux, nos Alpes.

Mas a luta pela independência continuou. Os ex-escravos se organizam sob a liderança de Jean Jacques Dessalines e derrotam as tropas napoleônicas de LeClerc em 28 de Novembro de 1803. No dia 1º de Janeiro de 1804, Dessalines proclama a independência da colônia (da ilha inteira) que passa a se chamar Haiti, em homenagem ao antigo nome indígena da ilha que significava “ilha de montanhas altas”.

A derrota das tropas francesas fez com que Napoleão vendesse Louisiana a preços baixos e evitou sua possível expansão nas Américas. Gerou grande impacto no mercado do tráfico de escravos e no preço do açúcar. É... a história dá voltas: a burguesia que tomou o poder na França inspirou as revoltas no Haiti; e a revolução no Haiti acabou com uma das principais fontes de renda da burguesia francesa.

Exemplo de luta para os povos

A luta do povo haitiano que se desenvolveu de 1791 a 1803 foi e é considerada a única revolta de escravos bem-sucedida desde a Antiguidade Clássica. Ganhou grande repercussão no mundo todo e representou um gigantesco ponto de apoio para todos que lutavam contra a escravidão. Os senhores de escravos em toda a América ficavam preocupados com a repercussão da vitoriosa revolução negra. Nos EUA, os proprietários de terra se interessavam mais pelos desenvolvimentos na ilha do caribe do que na guerra entre as potências européias.

Entre os escravos e abolicionistas o interesse não podia ser menor. No Brasil, há registros de milicianos mulatos no Rio de Janeiro que usavam retratos de Dessalines. Os que lutavam contra a escravidão e o racismo passaram a ser rotulados de “haitianistas” por algum tempo no Brasil:

“No período da Regência (1831-40), o termo ‘haitianismo’ foi usado como um epíteto contra jornais que supostamente representavam os interesses da população de cor livre e abordavam persistentemente a questão racial.” (Stuart Schwartz, Segredos Internos – Engenhos e escravos na sociedade colonial).

Dois séculos de mais exploração e repressão

Os imperialistas não podiam deixar barato o que os haitianos fizeram. Desde que os ex-escravos derrotaram as tropas napoleônicas, fazem o povo pagar. O presidente dos EUA Thomas Jefferson (1801 a 1809) – defensor da liberdade e proprietário de escravos – disse que do Haiti vinha o mau exemplo e que a peste devia ser confinada naquela ilha!

"Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram “a dívida francesa”: a França cobrou a humilhação infringida a Napoleão Bonaparte. Logo depois de nascer, o Haiti teve que se comprometer a pagar uma indenização gigantesca pelo dano que havia feito libertando-se. Esta expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos em ouro. O novo país nasceu estrangulado por essa corda amarrada no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a 21,7 bilhões de dólares ou a 44 orçamentos totais do Haiti de nossos dias. Muito mais de um século levou o pagamento da dívida, que os juros de usura iam multiplicando. Em 1938 cumpriu-se, finalmente, a redenção final. Nesse momento o Haiti já pertencia aos bancos dos Estados Unidos." (Eduardo Galeano, A Maldição Branca, 2004).

imagemCrédito: Esquerda Marxista


Depois da independência de 1804, os habitantes da ilha vivem muitos conflitos. A pressão externa é muito grande. A república fica instável. Dessalines se proclama imperador e é assassinado em 1806. O país se divide em dois e os espanhóis retomam o leste da ilha. Conflitos se seguem e em 1822, o presidente da república do Haiti, Jean-Pierre Boyer, ocupa militarmente o lado espanhol da ilha. Isso só dura até 1844 quando este é derrubado e é declarada a independência da República Dominicana (que ocupa dois terços da parte leste da ilha). Em 1861 os espanhóis retomam o controle do lado leste da ilha e em 1865 é proclamada a independência da República Dominicana de novo.

O povo haitiano passa por décadas de terríveis dificuldades econômicas. Apesar da dívida que seguia pagando à França, o país investe no aumento da produção agrícola, mas esse processo lhe custa um grande endividamento externo, especialmente com capitais norte-americanos. Essa dependência cresceu até o momento em que os EUA, sob a justificativa do não-cumprimento dos contratos, invadem o Haiti em 1915.

"A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que se resignou a assinar a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York. O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas. E mataram muito. Não foi fácil apagar o fogo da resistência. O líder guerrilheiro, Charlemagne Péralte, foi pregado em cruz em uma porta e exibido em praça pública como advertência." (idem).

O saldo do regime militar sob comando estadunidense que durou até 1934 é de mais de 10 mil haitianos mortos. A partir da década de 30 o imperialismo estadunidense trata as ilhas da América Central como quintal de exploração de mão-de-obra barata, contrabando e prostituição. Mesmo depois de 1934, a influência norte-americana continuava forte no Haiti. Apesar da saída militar do país, mantiveram uma polícia nacional fiel às suas ordens.

Até que, após sucessivos golpes militares, em 1957, François Duvalier – um médico mais conhecido como Papa Doc – assumiu a presidência sob o apadrinhamento dos EUA e implantou novo regime de terror massacrando todos que se contrapunham à sua vontade. A oposição que sobrou era nitidamente controlada por Papa Doc.

Na mesma época em que a ilha vizinha, Cuba, passava por uma revolução liderada por Fidel Castro e Che Guevara, Papa Doc reprimia qualquer manifestação do povo haitiano. Treinou milícias armadas chamadas de Tontons Macoutes (Bichos-Papões), que promoviam chacinas, abusos sexuais e controlavam o contrabando de armas e tráfico de drogas na região. Um regime cruel com o povo pobre e submisso aos interesses do imperialismo estadunidense.

Assim como no Brasil, na década de 60, muitos haitianos de esquerda se organizam na igreja católica. Nessa época Papa Doc extermina sistematicamente todos com “influência cubana” e persegue a igreja católica.

O regime de Papa Doc era a expressão da degeneração de uma sociedade submetida a todos os males do capitalismo. Sob patrocínio de Washington, Papa Doc montou um enorme sistema comercial ilegal que transformou o Haiti em rota obrigatória do narcotráfico entre Colômbia e EUA. No fim de seu governo o Haiti já era o país mais pobre das Américas, com a maior taxa de analfabetismo e mortalidade infantil. Morto em 1971, Papa Doc foi substituído por seu filho, o Baby Doc.

Baby Doc impôs um brutal sistema de super exploração do trabalho, que beneficiou largamente as multinacionais norte-americanas e também a “raquítica” burguesia haitiana. O povo trabalhador reage. Baby Doc decreta Estado de Sítio, até que, em 1985, protestos populares se intensificam e Baby Doc foge para a França num avião da Força Aérea Norte-Americana, deixando em seu lugar uma junta chefiada pelo General Henri Namphy.

Tem início uma disputa entre os militares pelo comando do Estado e do narcotráfico. Uma série de golpes se sucede até que sob forte pressão popular é aprovada uma nova Constituição e são convocadas eleições diretas para presidente, num tipo de sistema parlamentarista, para Dezembro de 1990.

imagemCrédito: Esquerda Marxista


As origens da crise atual

Com uma campanha de denúncia da dominação imperialista no Haiti, Jean Bertrand Aristide, ex-padre católico, defensor haitiano da Teologia da Libertação, foi eleito presidente com enorme apoio popular, 67% dos votos, tomando posse em Fevereiro de 1991. Líder de um movimento popular chamado Lavalas, nomeou um primeiro-ministro de sua confiança. Aristide estabeleceu como eixos de seu governo o combate à corrupção e ao narcotráfico e a luta contra a pobreza. Sete meses depois sofreu um golpe militar, liderado pelo General Raoul Cedras e patrocinado pela CIA.

Exilado nos EUA, Aristide busca ajuda internacional. É a oportunidade de ouro para o imperialismo voltar ao comando do Haiti desde que Baby Doc fugiu e estabelecer um controle militar direto no transporte das drogas, contendo a insatisfação popular com Aristide. O governo dos EUA propõe apoiar a volta de Aristide ao poder desde que este aceite e apóie a presença de tropas estadunidenses para “estabilizar o país”.

O ex-presidente americano Jimmy Carter se apresenta como “mediador” e faz de conta que obtém um acordo com Cedras: em troca de anistia os militares deixam o poder, o exército haitiano é dissolvido e tropas norte-americanas entram no país em Setembro de 1994 para “assegurar o retorno à legalidade”. Aristide reassume a presidência em Outubro escolhendo Smarck Michel como seu primeiro-ministro. Em Abril de 1995, as tropas dos EUA são substituídas por soldados da ONU.

Aristide é recebido pelo povo haitiano com grandes manifestações de boas vindas. Em Junho de 1995, nas eleições, René Préval, o candidato do movimento Lavalas, apoiado por Aristide – e também pela Casa Branca – é eleito presidente com 87,9% dos votos. O povo queria Aristide, porém a constituição do Haiti não permite a reeleição para um mandato consecutivo e Préval carrega os votos do antecessor. Mas não corresponde às expectativas do povo. Ele mantém a presença das tropas da ONU e nomeia para o posto de primeiro-ministro um economista alinhado com Washington, chamado Rony Smarth.

Em Março de 1996, Préval anuncia plano de privatizar todas as estatais e serviços públicos, desencadeando greves e grandes manifestações de protesto. Em Agosto do mesmo ano, o Lavalas é responsabilizado pelo assassinato de dois líderes burgueses. A situação fica instável e a população é reprimida pelas tropas da ONU. Aristide racha com Préval e cria o movimento Família Navalas, anunciando que será candidato à presidência em 2000.

Em Janeiro de 1997, a República Dominicana decide expulsar os imigrantes ilegais haitianos, mas interrompe o envio diante dos protestos do povo haitiano à chegada dos primeiros 16 mil deportados. Os protestos de rua ganham força e possibilitam a formação de um movimento nacional contra a imposição de um programa de cortes de gastos públicos acordado entre o primeiro-ministro Smarth e o FMI. Centenas de milhares vão às ruas. A crise institucional se acentua e menos de 10% dos eleitores votam nas eleições legislativas e municipais de Abril de 1997.

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Nessa época a população do Haiti já chega a quase 8 milhões de habitantes. O desemprego atinge 70% da população ativa. A fome se alastra nas zonas rurais. Uma greve geral dos professores fecha as escolas de todo o país! O povo trabalhador haitiano tinha as condições de efetuar uma insurreição vitoriosa e a tomada do poder em 1997. Mas, além da presença das tropas militares da ONU, lhe faltava um partido revolucionário. A fragmentação política é impressionante. Há mais de uma centena de partidos e organizações políticas no Haiti. Com o recente racha entre Préval e Aristide e as traições do Governo Préval, o Movimento Lavalas que teria maior apoio popular não consegue nem esboçar uma tentativa de ocupar este papel.

O primeiro-ministro Smarth renuncia em Junho, porém continua no cargo até Outubro. Em Novembro, o presidente Préval indica Hervé Denis para o cargo de primeiro-ministro. A ONU retira as tropas militares e coloca uma Polícia Civil das Nações Unidas (MIPONUH) para conter a onda revolucionária e profissionalizar a Polícia Nacional do Haiti – única força repressora do Estado, já que o exército foi dissolvido em 94. Essa missão da ONU permanece no Haiti até Março de 2000.

Um golpe preparado 4 anos antes

Aristide foi eleito presidente novamente nas eleições de Dezembro de 2000 num processo conturbado. Mesmo ele tendo demonstrado no passado que diante de pressões segue fielmente às ordens do imperialismo, ele representa a vontade de mudanças de milhões de haitianos e por isso a burguesia e os senhores de Washington não confiam nele.

Uma forte oposição de latifundiários, empresários, paramilitares, grupos narcotraficantes e ONGs acusam Aristide de ter manipulado as eleições parlamentares do início do ano e por isso boicotam as eleições presidenciais. Na verdade sabiam que não teriam forças para vencer Aristide que contava com grande apoio popular e não prometia dar continuidade ao governo entreguista de Préval. Sem adversários, Aristide foi eleito com baixa votação. Toma posse em Março de 2001. Entretanto dessa vez parece que Washington está do lado da oposição e o Banco Mundial corta a ajuda anual de US$500 milhões que enviava ao governo anterior.

A política econômica aplicada por Aristide foi ambígua, pois ao mesmo tempo em que fazia críticas abertas ao FMI, seguia sua cartilha à risca. O desemprego aumentou. A miséria e a fome também. A epidemia de AIDS atingiu números alarmantes. Sua popularidade caiu. Sem dinheiro para programas sociais, Aristide passa a exigir da França a devolução de 22 milhões de euros como compensação por riquezas repassadas pelo Haiti no decorrer do século XIX.

Em Janeiro de 2004, as comemorações dos 200 anos de independência do Haiti se transformam em grandes manifestações de rua por comida. Os empresários haitianos organizam greves e grupos armados começam a atacar os apoiadores de Aristide nas ruas. A imprensa noticia conflitos com dezenas de mortos. O Governo dos EUA se pronuncia dizendo que Aristide tinha que estabilizar seu país e garantir a democracia. A oposição armada exige a renúncia de Aristide ameaçando um golpe. Grupos de apoiadores de Aristide resistem, mas a oposição tinha muito mais recursos. Aristide diz que não renuncia e que não abandonará o Palácio do Governo mesmo que tenha que pagar com sua vida. O povo sai às ruas.

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Como o Haiti não tem mais exército (dissolvido em 1994) isso dificulta aos opositores tomar o poder militarmente como estavam habituados no passado. Foi então que, em 29 de Fevereiro de 2004, fuzileiros navais estadunidenses raptam o presidente eleito do Haiti e declaram que ele havia renunciado. Um governo interino é nomeado pelos americanos e tropas francesas e americanas reprimem as manifestações pró-Aristide, até que em 1º de Junho de 2004 chegam as tropas da ONU, comandadas pelo exército brasileiro.

A Missão da ONU e o Governo Lula

O golpe de 2004 no Haiti chega a ser mais escandaloso do que foi o golpe de 2002 na Venezuela em que Chávez ficou seqüestrado por 3 dias. Não foi um golpe de militares haitianos patrocinados pelos EUA. Foi um golpe executado diretamente por militares estadunidenses! E no contexto de então, em que Bush se via confrontado com a maior mobilização global da história, de milhões de pessoas nas ruas, em todos os cantos do mundo, contra a guerra do Iraque, Washington não podia deixar parecer que estava começando outra guerra na América Central, numa ilha a duas braçadas de Cuba e da Venezuela!

Era importantíssimo para os EUA que a ocupação militar no Haiti tivesse a aparência de uma “missão de ajuda”, uma “missão de paz”. Para isso precisavam que um país não-imperialista, de “ficha limpa”, chefiasse as tropas da ONU. E o Brasil caiu como uma luva, pois tinha como presidente recém-eleito uma figura respeitada pelos movimentos de esquerda em todos os países: Lula.

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Lula, que já vinha seguindo à risca a orientação de Washington no Brasil (alianças com a burguesia, contra-reforma da previdência, subsídios ao latifúndio, aumento do superávit primário para o pagamento da dívida externa, etc.) não pensa duas vezes. E argumenta que isso ajudará o Brasil a conquistar um acento permanente no genocida Conselho de Segurança da ONU!

Os trabalhadores brasileiros não elegeram Lula para conseguir uma vaga pro Brasil num conselho que decide qual país deve ser invadido militarmente, muito menos para participar de uma dessas invasões militares! Mas Lula é inteligente e faz forte propaganda sobre a “missão de paz” da ONU. Organiza inclusive um jogo amistoso da seleção brasileira contra a seleção haitiana no Haiti em Agosto de 2004. É chamado de “o jogo da paz”. O Brasil vence por 6 a 0.

Nós organizamos abaixo-assinados antes e depois do envio das tropas. Milhares de assinaturas dirigidas a Lula dizendo: “Não envie as tropas!”; “Retire as tropas!”. Mas o governo não deu bola. E não dará bola até que haja uma exigência das massas. Voltaremos a isso mais adiante.

A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti) conta com a participação de tropas dos seguintes países:

Efetivos militares: Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Jordânia, Marrocos, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai.

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Forças policiais: Argentina, Benin, Burkina Faso, Camarões, Canadá, Chade, Chile, China, Colômbia, Egito, El Salvador, França, Granada, Guiné, Jordânia, Madagascar, Mali, Maurícia, Nepal, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Romênia, Federação Russa, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Espanha, Togo, Turquia, Estados Unidos, Uruguai, Vanuatu e Yêmen.

Notem que além do Brasil, há tropas de outros países da América do Sul cujos presidentes foram levados à vitória eleitoral como expressão da luta por mudanças das massas trabalhadoras em seus países: Bolívia de Evo Morales, Chile de Bachelet, Paraguai de Lugo, Uruguai de Vasquez e Equador de Rafael Correa!

Todos cumprindo um papel asqueroso a mando do imperialismo, enviando tropas, usando recursos materiais e humanos para reprimir e assassinar o povo pobre e sofrido do Haiti. Além do cubano Fidel, apenas Chávez se posicionou contra a ocupação do Haiti. Mas não é pra menos, há uma revolução em curso na Venezuela!

No início a ONU anunciou uma missão de 6 meses. Depois foi prorrogada até que houvesse eleições. Depois de muitos adiamentos, houve eleições em 2006, mas Aristide – o presidente de fato eleito pelo povo, exilado na África do Sul – estava e permanece impedido de regressar ao Haiti! Préval acabou eleito novamente.

Agora já há presidente “eleito” – imposto. E as tropas continuam lá! A ONU argumenta que sem as tropas lá as gangues de narcotraficantes e seqüestradores afundariam o país no caos novamente. Mas isso é falso!

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Fora tropas do Haiti e também dos morros do Rio

São incontáveis os mortos, assassinados pelas tropas da ONU no Haiti nesses mais de 4 anos de ocupação. Se a ONU quisesse mesmo combater os traficantes deveria começar prendendo seus patrocinadores nos EUA e na Colômbia, e não enviando soldados para atirar a esmo nas favelas do Haiti.

De novo vem à cabeça a canção de Gil e Caetano. O Haiti é aqui? Nos morros e favelas do Brasil a polícia também não mata o negro pobre sob o pretexto de combater o tráfico? Não é à toa que o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da PM do Rio fez um convênio com o exército brasileiro para “trocar experiências de combate” com as tropas brasileiras em missão no Haiti e que alguns contingentes, antes de serem enviados ao Caribe, passaram por semanas de treinamento na “favela do BOPE”, no Rio.

E mesmo que fosse real a intenção da ONU em combater o narcotráfico, não é com tropas que a questão será resolvida. Combater o efeito em vez da causa, não resolve nada! A situação no Haiti é similar à situação do Rio e de qualquer outro canteiro de pobreza desenvolvido pelo capitalismo:

“Mesmo que o BOPE acabasse com o tráfico nas 700 favelas do Rio de Janeiro, o desemprego continuaria, a falta de políticas públicas de habitação, educação, saneamento, saúde, lazer, recreação e cultura, continuariam. E portanto, os burgueses que investem no ramo das drogas ilícitas continuariam encontrando terreno fértil para o subemprego do tráfico. E em 6 meses as 700 favelas do Rio estariam tomadas pelos traficantes novamente, que são apenas vítimas deste ramo dos negócios burgueses.” (Caio Dezorzi, Tropa da Elite e para a Elite, Jornal Luta de Classes nº 7, Nov/2007).

Soldados brasileiros que voltaram do Haiti deram entrevista para o Jornal Folha de SP onde afirmaram que o nome “missão de paz” dava uma impressão errada do que estava acontecendo no Haiti. Um dos soldados identificado como “S”, explica: “Até parece que este nome é para tranqüilizar as pessoas no Brasil. Na verdade, não há dia em que as tropas da ONU não matem um haitiano em troca de tiros. Eu mesmo, com certeza, matei dois. Outros, eu não voltei para ver.” (Folha de SP, 29/01/2006).

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E o mais revoltante: desde 2005 as tropas da ONU têm chacinado haitianos em represália explícita por se manifestarem pela retirada das tropas e pelo retorno de Aristide – Titid, como o povo pobre o chama. Manifestações com dezenas de milhares de haitianos são reprimidas a bala pelas forças policiais e tropas da ONU. Quando as manifestações são muito grandes, no dia seguinte as tropas da ONU costumam fazer incursões em Cité Soleil – com 300 mil moradores é a maior favela na periferia da capital do país, Porto Príncipe – e atiram por horas sem parar contra as casas dos moradores, matando homens, mulheres e crianças. Só não matam idosos porque estes são raros no Haiti. A expectativa de vida é de 49 anos!

Nessas incursões – chamadas de “punições coletivas” por alguns jornalistas presentes no Haiti – os soldados atiram de dentro de seus carros blindados, semelhantes aos “caveirões” usados pelo BOPE nas favelas do Rio, e também de helicópteros. Muitas pessoas, principalmente crianças, são atingidas na cama, enquanto dormem, por balas de calibre pesado que atravessam os telhados de suas habitações.

Depois de contar e chorar seus mortos, o povo pobre de Cité Soleil volta às ruas protestando e é reprimido de novo! A situação de um povo desarmado enfrentando forças externas tão poderosas como essas, pode aniquilar física e psicologicamente toda uma geração.

Os que buscam se organizar ou participar de movimentos de resistência são mortos ou presos sem motivo, ilegalmente. Depois de presos sofrem torturas e geralmente são “desaparecidos” pela Polícia Nacional. Já são incontáveis os presos políticos e ativistas desaparecidos.

A situação no Haiti ocupado

Como se não bastassem as mortes causadas pelas tropas estrangeiras e pela Polícia Nacional, os haitianos ainda correm muitos outros riscos de vida. Há também as milícias armadas haitianas que controlam o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Apesar de várias terem sido desmontadas ou exterminadas, as que restaram são submissas à Polícia Nacional e o ambiente de miséria é extremamente fértil para a proliferação do tráfico de drogas e ações criminosas diversas.

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Há a fome: Quem não ficou chocado ao ver imagens na TV dos biscoitos de barro que os haitianos comem? Quando não há comida os haitianos buscam fazer como as plantas, retirando os nutrientes direto do solo! Não é difícil conhecer alguém no Haiti que tenha na família uma criança que tenha morrido de fome. Mais de 80% da população vive abaixo da chamada “linha da pobreza”. E tudo ainda pode piorar! Com a crise mundial de aumento dos preços dos alimentos, no último mês de abril, o saco de 23 quilos de arroz passou de 35 para 70 dólares no Haiti, enquanto o milho, o feijão e o óleo de cozinha registraram aumentos de 40%. Isso provocou protestos de massa, com saques a depósitos de alimentos e barricadas com pneus queimados nas ruas. As tropas da ONU reprimiram os manifestantes famintos com balas. Hoje 80% do arroz consumido no Haiti é comprado dos EUA com altas taxas de importação.

Há doenças: Já chegam a 300 mil os haitianos portadores de HIV (4% da população). Outras epidemias como malária e tuberculose também aterrorizam os mais pobres. A mortalidade infantil é de 57 a cada mil crianças. A mortalidade materna é de 630 a cada cem mil partos. Faltam remédios elementares nas farmácias – e faltam farmácias. Faltam médicos, recursos e estrutura nos hospitais – e faltam hospitais. Na maioria das comunidades não há esgoto encanado nem coleta de lixo. O índice de contaminação da água que a população bebe é muito elevado. A falta de higiene e saneamento agrava os problemas de saúde e aumenta o risco de contração de muitas doenças que poderiam ser facilmente prevenidas.

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Há a super-exploração do trabalho: segundo o conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Aderson Bussinger Carvalho, a ocupação militar internacional sob comando do Brasil “tem interesses de explorar a mão-de-obra haitiana através de zonas francas". As jornadas de trabalho muitas vezes ultrapassam as 12 horas diárias e o salário mínimo foi dobrado este ano, passando a um valor correspondente a 120 dólares mensais. Empresas de capital americano, canadense e dominicano fazem a festa. Sindicatos haitianos denunciam o aumento de maquiladoras no país. Até o ministro Celso Amorim andou conversando com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, sobre indústrias brasileiras que se interessaram em criar unidades no Haiti para exportar produtos aos Estados Unidos. Isso explica a comitiva de empresários que o presidente Lula levou ao Haiti em sua última visita. Entretanto os operários fabris somam apenas 3% dos trabalhadores ativos no Haiti. A grande maioria está nos setores informais e trabalhando no campo, onde a precarização do trabalho é ainda pior. Não raro há mortes no campo por excesso de trabalho.

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Há os furacões: Imagine todos esses problemas batidos num liquidificador. Freqüentemente furacões e tempestades tropicais se formam no Atlântico e avançam em direção ao sudeste dos EUA. No caminho passam pelas Antilhas. Mesmo quando não acertam o Haiti em cheio, só de passarem próximos à costa já causam um forte estrago, provocando elevação do nível do mar e enchentes dos rios. Em 2004, Gonaives, principal cidade da região norte, atingida pelo furacão Jeanne, foi soterrada por uma enxurrada de lama de 3 metros de altura: quase 3 mil mortos! Isso ocorreu logo após a ocupação militar da ONU. O governo interino da época bateu todos os recordes de corrupção: os sobreviventes – que tinham perdido todos os seus bens – tinham que pagar (!) pela carteira de identidade que dava direito à ajuda aos desabrigados. Muitas ONGs receberam grandes quantias de dinheiro de ajuda humanitária internacional, mas ninguém sabe onde esse dinheiro foi parar. Neste ano o país foi atingido por mais 4 tempestades (Hanna, Gustav, Ike e Fay) provocando grande devastação e centenas de mortes. O governo haitiano pede que as doações sejam feitas diretamente ao governo e não através das ONGs. Na imprensa circulam denúncias de desvio de alimentos que seriam entregues para os desabrigados que já passam de 20 mil haitianos.

"O furacão Jeanne devastou o Haiti em 2004, oito meses após o golpe que derrubou Jean-Bertrand Aristide. Gerard Latortue [o primeiro-ministro do governo provisório], o cabeça da ditadura da ONU e natural de Gonaives, recebeu dinheiro de todo o mundo para ajudar a reconstruir a cidade. Infelizmente, as vítimas receberam poucos benefícios deste dinheiro. Gonaives situa-se abaixo do nível do mar, mas diques nunca foram construídos; muitas estradas ainda sequer foram reparadas. Os poucos resultados obtidos com dinheiro da ajuda internacional só trazem a convicção de que, em Gonaives, os amigos de Latortue e ONGs corruptas simplesmente embolsaram o dinheiro. (…) O presidente René Préval, um nativo do estado de Artibonite [onde Gonaives é a capital], apelou à comunidade internacional para ajudar. O tumulto sobre sua última indicação para primeiro-ministro terminou. O Senado aprovou Michele Duvivier Pierre-Louis como primeira-ministra. Auxílio financeiro vai chegar. A questão é quem irá se beneficiar com ele. O povo de Gonaives está compreensivelmente pessimista após a experiência com o furacão Jeanne." (Wadner Pierre, HaitiAnalysis.com, 9/9/2008).

O povo haitiano pede ajuda! Precisa de comida, remédios, infra-estrutura, empregos, hospitais, escolas! Mas a ajuda chega em forma de balas que atingem os peitos e cabeças das crianças. Parece que está sendo seguida à risca a orientação de Thomas Jefferson: “confinar a peste na ilha”.

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A nova primeira-ministra

Desde Abril a república parlamentarista do Haiti – ocupada por tropas da ONU – estava sem primeiro-ministro. O último mandatário, Jacques Edouar Alexis, caiu com a crise do aumento dos preços dos alimentos e a onda de protestos que se seguiu por todo o país. Desde então, o presidente Préval indicou outros nomes que foram rejeitados pelo parlamento.

Finalmente o nome da economista Michele Duvivier Pierre-Louis foi ratificado no dia 5 de Setembro, logo após os furacões Hanna e Gustav terem passado. Atualmente professora na Universidade Quisqueya, em Porto Príncipe, Michele iniciou sua militância nas missões de alfabetização da igreja católica dos anos 80. Fez parte do Lavalas e do primeiro governo de Aristide em 1991. Depois passou a ser diretora-executiva da ONG Fondation Konesans ak Libète (Fokal), financiada por entidades da União Européia e também pelo mega-especulador George Soros.

Apesar de sua origem militante, sua passagem pela Fokal mostra bem que interesses defende. Ela costumava ser bem crítica às intervenções militares da ONU, mas hoje não defende a retirada das tropas.

A crise mundial e a ajuda aos pobres

O Haiti tem uma dívida externa de quase 2 bilhões de dólares. Para pagar os juros dessa dívida o governo haitiano precisa economizar na saúde, educação, saneamento, etc. E se não pagar, vocês lembram o que aconteceu em 1915!

Por conta da devastação causada pelos furacões o governo tem pedido o perdão da dívida, mas o pedido foi negado.

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É aí que caem todas as máscaras dos capitalistas e dos defensores deste sistema podre. Todos estamos acompanhando o desenvolvimento da crise mundial: em poucos dias os governos capitalistas e seus bancos centrais doaram a um punhado de banqueiros trilhões de dólares de dinheiro público! Com esse dinheiro seria possível alimentar para sempre milhares de Haitis inteiros. E pra que precisamos de ONGs? Há dinheiro e recursos para toda a população da Terra!

Para salvar meia dúzia de banqueiros: trilhões de dólares! Para livrar da fome quase 1 bilhão de seres humanos no planeta: milhares de ONGs! Este é o presente do sistema que não reserva nenhum futuro pra humanidade.

Distribuir a riqueza do mundo permitiria transformar a fome em assunto dos livros de história. Mas pra isso é necessário tirar do poder a classe capitalista, planificar a economia sob controle da classe trabalhadora. Sim! Uma revolução socialista. Esta é a saída. A única!

Há saída! Lutar pelo socialismo!

Apesar de todas as dificuldades, de alguma forma os haitianos encontram forças para levantar a cabeça e gritar! Para levantar os braços e com os punhos cerrados, marchar! Lutam esses homens e mulheres massacrados! E como lutam! E continuarão lutando, pois a história é deles! A história é nossa! Dos que lutam! A luta de classes é o motor da história e a história não vai acabar antes que vençamos!

Assim como os haitianos fizeram no fim do século XVIII, por todas as partes do mundo os povos dão o exemplo. E é na América Latina onde a luta está mais avançada. Algumas braçadas pelo mar do Caribe ao sul do Haiti, chegamos às praias da Venezuela, onde uma verdadeira revolução está em curso.

A defesa da revolução cubana e o aprofundamento da revolução na Venezuela e em toda a América Latina são fundamentais para a luta do povo haitiano. Pode-se dizer que, da mesma forma que no fim do século XVIII a luta pela independência haitiana estava intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da revolução francesa, hoje, a luta pela autodeterminação do povo haitiano está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da revolução na Venezuela.

É a teoria da revolução permanente: as conquistas democráticas mais elementares nos países atrasados estão invariavelmente associadas à luta pela tomada do poder de Estado pela classe trabalhadora. Não é possível a luta pela soberania do Haiti desconectada da luta pelo socialismo.

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Para fazer frente a todos os problemas do Haiti, que em certo aspecto são comuns a todos os países atrasados do mundo, é preciso planificar a economia, socializar a propriedade dos meios de produção e estabelecer a democracia dos conselhos de operários e camponeses. Com o socialismo mundial poderemos planejar a produção e a distribuição de tudo, de tal forma que todos poderão viver sem qualquer necessidade deixar de ser atendida. Até acabar de vez com o Estado e estabelecer uma sociedade sem classes: o comunismo! A fome não existirá mais, nem as guerras. Não haverá mais exploração.

Mas para chegar lá é preciso começar lutando. E para lutar é preciso nos organizar. No Haiti, para os trabalhadores lutarem e se organizarem é preciso restabelecer minimamente os direitos democráticos. Urge a retirada da ditadura militar instalada pela ONU!

Uma tarefa imediata

Nessa última Terça, 14/10, o Conselho de Segurança da ONU decidiu por unanimidade prorrogar a permanência das tropas no Haiti até Outubro de 2009 (todo ano em Outubro eles prorrogam por mais 1 ano), incluindo planos de ação pelo menos até a posse do novo presidente em 2011.

O principal argumento utilizado foi que o país continua instável “conforme foi demonstrado nos tumultos de Abril”. Ou seja, a ONU admite que a ocupação serve para reprimir as manifestações populares por mudanças e melhorias.

No Brasil estamos desde antes do início da ocupação exigindo que Lula não envie soldados; que traga os soldados de volta. Mas o máximo que conseguimos foram algumas milhares de assinaturas. Sabemos que devemos seguir exigindo do Lula a retirada das tropas, mas não temos ilusões de que Lula se sensibilizará com nossos apelos. Ele não está desavisado sobre o que se passa no Haiti. Ele sabe muito bem e aprova o massacre. Essa foi a opção que Lula fez ao se aliar com a burguesia brasileira e submeter-se completamente ao imperialismo americano. A única chance de Lula ceder e retirar as tropas seria uma campanha de massas que tivesse força para obrigá-lo a fazer isso.

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Tomamos conhecimento de um chamado por uma jornada continental pela retirada das tropas da ONU do Haiti. Esse chamado que era encabeçado pela Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH) e assinado por dezenas de entidades operárias, populares e juvenis haitianas, se dirigia aos povos do continente americano convocando uma jornada de lutas no dia 10 de Outubro, exigindo que seus governos não permitissem a renovação da Missão da ONU. No Brasil atendemos ao chamado e participamos do ato em frente ao escritório regional do governo federal em SP, na Av. Paulista, convocado pelo MST, CMP, entidades sindicais e alguns poucos parlamentares do PT. Os presentes no ato não passavam de 50 pessoas. Os milhares de transeuntes na Av. Paulista que passavam pelo ato não faziam a menor idéia do que estava em questão. Nos outros países os atos foram ainda menores.

Por isso se faz urgente e necessária uma campanha ampla de propaganda e agitação. Textos, fotos, vídeos que expliquem que não podemos aceitar que dinheiro público brasileiro seja destinado para esse fim e nem que jovens militares brasileiros sejam enviados para o Haiti para massacrar os nossos irmãos haitianos e nem que essa missão de ocupação sirva de escola para tropas aprenderem como massacrar os jovens negros e pobres nas favelas e periferias do Brasil.

Uma campanha de intervenções urbanas nas grandes cidades brasileiras que levem o problema ao conhecimento do maior número possível de jovens e trabalhadores, com palavras de ordem que exijam:

• Fim da ocupação Militar Já! Retirada imediata das tropas da ONU!

• Pelo direito a autodeterminação do povo haitiano!

• Fim dos assassinatos, abusos sexuais e massacres dos pobres pelas tropas da ONU e Polícia Nacional!

• Liberdade aos presos políticos – parem com as detenções ilegais e torturas no Haiti!

• O Presidente Aristide deve ter a liberdade de retornar ao Haiti!

• Os executores do golpe e massacres dos pobres devem ser punidos! Indenizações para as vítimas!

• Lula, traga os soldados brasileiros pra casa!

São Paulo, 15 de Outubro de 2008.

Fonte: http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=230