Waters, um dos autores da canção "The Wall", pixa muro que separa territórios judeus e palestinos na Cisjordânia
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Entidade entra com ação para impedir
que um dos fundadores do Pink Floyd faça críticas a ocupação da
Palestina durante turnê no Brasil.
Por Baby Siqueira Abrão
A passagem pelo Brasil de Roger Waters,
um dos fundadores do extinto grupo de rock progressivo Pink Floyd,
enfureceu os sionistas.
Ativista da causa palestina desde 2006,
quando decidiu conhecer a Cisjordânia depois de um show em Tel Aviv,
Waters, em entrevista coletiva realizada no Rio de Janeiro, defendeu os
palestinos, criticou o governo israelense e declarou apoio à campanha
BDS, que boicota produtos fabricados em Israel. Também divulgou o Fórum
Social Palestina Livre, encontro internacional a ser realizado em Porto
Alegre de 28 de novembro a 1º. de dezembro de 2012.
As declarações desagradaram a Federação
Israelita do Rio de Janeiro (FIERJ). Segundo nota publicada na coluna de
Alcelmo Gois, em O Globo, o advogado da FIERJ, Ricardo
Brajterman, tentou impedir na Justiça que Roger Walters voltasse a fazer
“declarações antissionistas” no show realizado no Engenhão em 29 de
março.
Acostumados à submissão europeia e
estadunidense, os sionistas não esperavam a reação dos brasileiros, de
afirmação da liberdade de expressão e de rejeição a todas as tentativas
de calar as pessoas, em especial as que fazem críticas a Israel pela
violação dos direitos humanos dos palestinos. Várias organizações, como o
Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino do Rio de Janeiro, a
Frente em Defesa do Povo Palestino e a Federação Árabe Palestina do
Brasil (Fepal) divulgaram notas públicas de apoio às declarações de
Roger e de repúdio à atitude da FIERJ.
“Israel ocupa territórios palestinos em
desacordo com todas as leis internacionais, ergueu o muro do apartheid e
da colonização, que foi declarado ilegal pelo Tribunal Internacional
[de Justiça]. Constrói assentamentos na Cisjordânia, território
palestino ocupado por Israel, em desacordo com todas as resoluções
internacionais. Cerca e bombardeia a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de
palestinos estão sujeitos a sobreviver abaixo das mínimas condições de
alimentação, educação e saúde. Israel não respeita e não cumpre as
resoluções da ONU e do direito internacional, em total isolamento com a
[sic] comunidade internacional. O governo de Israel faz tudo isso em
nome do sionismo e quer impedir as pessoas de criticar essas
ilegalidades e ações desumanas e opressoras?”, escreveram os ativistas
da Fepal.
“Os que querem calar Roger precisam ser
informados de que o Brasil é um país democrático, o Brasil não ocupa e
não oprime nenhum povo, o Brasil é um país onde convivem, pacificamente e
com respeito, judeus, árabes, cristãos e muçulmanos, todos com os
mesmos direitos e deveres estabelecidos na constituição da Republica
Federativa do Brasil.”
“Repudiamos toda tentativa de
intimidação e censura à liberdade de expressão por parte dessa [FIERJ]
ou de qualquer outra organização. Tal atitude – inconstitucional, nos
moldes da ditadura militar que vigorou no Brasil dos anos 1960 aos anos
1980 –, não tem mais espaço no Brasil”, afirmaram o Comitê de
Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino e a Frente em Defesa do Povo
Palestino, citando, em seguida, artigos da Constituição brasileira e da
Declaração de Direitos Humanos.
“[...] são ilegítimas e só podem ser
encaradas como censura e perseguição as ameaças da Fierj ao cantor e
ativista. Uma postura tão conhecida quanto inaceitável, de tentar
criminalizar os movimentos sociais e as pessoas de consciência que se
levantam contra a opressão ao povo palestino e contra a ocupação de suas
terras. Repudiamos veementemente a atitude e as ameaças da FIERJ e
reafirmamos nosso apoio a Roger Waters, à liberdade de expressão e aos
valores democráticos. Aproveitamos para agradecer Roger Walters por não
silenciar diante da injustiça e por emprestar sua imagem e sua voz para
essa nobre causa da humanidade.”
Reclamações também foram feitas ao Ministério Público, que pode abrir processo contra a FIERJ.
Se o exemplo brasileiro fosse seguido em
outras partes do mundo, os ativistas de direitos humanos e os críticos
dos sionistas não sofreriam tanta perseguição nem tantos processos por
exercer o sagrado direito de manifestar livremente o que pensam. Hoje,
militantes da causa palestina estão sendo processados na Grã-Bretanha e
nos Estados Unidos.
Leia a carta que Roger Waters divulgou no Brasil:
Desde minha visita a Israel e aos
territórios ocupados, em 2006, eu faço parte de um movimento
internacional para apoiar o povo palestino em sua luta por liberdade,
justiça e igualdade.
Sinto-me honrado por ter sido
convidado pelo Comitê Nacional Palestino BDS para anunciar a iniciativa
da realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre,
Brasil, em novembro deste ano, em cooperação com o movimento social
brasileiro e redes internacionais da sociedade civil.
O objetivo será a criação de um
encontro internacional que irá incentivar o instinto humano básico em
todos os homens e mulheres de boa fé para se unirem em apoio ao povo
palestino em sua luta por autodeterminação.
Em todo o mundo, nosso movimento está crescendo.
Incentivado por eventos como o que acontecerá aqui no Brasil, a nossa voz vai crescer.
Continuaremos o nosso apelo pelo fim
da ocupação israelense de terras palestinas, pela derrubada dos muros
de colonização e de apartheid, pela criação de um Estado palestino com
sua capital em Jerusalém, pela concessão de direitos plenos e iguais aos
cidadãos árabe-palestinos de Israel e pelo direito dos refugiados
palestinos de voltar para suas casas, conforme exigido pela Convenção de
Genebra, como estipulado na resolução 194 da ONU de 1949 e também
reafirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça em 9 de julho de 2004.
Estou muito encorajado pelo
crescimento desse movimento em Israel, especialmente entre os jovens
judeus israelenses, e também pelo não menos importante “Boicote de
Dentro”, com quem estou em contato.
Nós estamos com vocês.
Eventos em Israel e nos territórios
ocupados não são amplamente relatados nem com precisão no Ocidente. Em
novembro próximo, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto
Alegre, vai ajudar a quebrar os muros de desinformação e cumplicidade.
Conclamo as pessoas de consciência
para que apoiem este fórum e ajudem a torná-lo um divisor de águas na
solidariedade internacional ao povo palestino.
A verdade nos libertará.
Em solidariedade,
Roger Waters
Direita israelita tenta calar Roger Waters
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Oleh
Rubens Ragone