18 de agosto de 2009

Honduras e a SIP - Por: Atilio A. Boron


O prolongamento da crise em Honduras não tem um efeito neutro, pois joga a favor dos golpistas. O repúdio e o isolamento universais não impressionam os usurpadores. Muito pelo contrário: confirmam sua visão paranóica de um mundo dominado por comunistas, subversivos e revolucionários que conspiram sem cessar para frustrar sua patriótica iniciativa. Tanto os militares como os civis hondurenhos golpistas compartilham esse delírio que continua sendo alimentado, dia após dia, pelo Pentágono, pela CIA e boa parte do establishment político do império, para os quais a guerra não terminou nem vai terminar jamais.

Guerra sobretudo contra esse imenso e inesperado movimento social que se tem posto em marcha a partir do golpe e que ultrapassa ampla - e talvez irreversivelmente - os estreitos marcos da mal chamada "democracia representativa" em Honduras. Bastou que Zelaya pretendesse honrar essa fórmula para que a santa aliança abandonasse em tropel as cavernas e saísse à batalha: ali se juntaram, para unir forças, os representantes militares e políticos do império com a corrupta oligarquia local, a perversa hierarquia da Igreja Católica, as diversas frações do patronato e o poder midiático que este conglomerado de riqueza e privilégio controla em seu entorno, fazendo da liberdade de imprensa uma farsa sangrenta.

Não é casualidade que o sítio da internet da benemérita Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), sempre tão atenta diante de tudo o que acontece com os meios de comunicação em Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador, ocultou descaradamente o que está acontecendo em Honduras. A resolução mais importante sobre o tema dos meios de comunicação, adotada em 24 de julho, é uma condenação... ao presidente Rafael Correa, por apoiar "incessante clima de confrontação e injúrias contra jornalistas, proprietários de meios de comunicação e suas empresas" Nenhuma palavra sobre Gabriel Fino Noriega, jornalista hondurenho da Rádio Estelar, assassinado por forças paramilitares, como informa a Missão da ONU enviada para investigar a situação dos direitos humanos em Honduras.

A mesma delegação comprovou que Tegucigalpa, Canal 36, Rádio TV Maya e Rádio Globo foram militarizadas, constatando-se também o assalto a diversas sedes de meios de comunicação e ameaças de morte contra jornalistas, o bloqueio de suas transmissões ou a interceptação telefônica e o bloqueio de seu acesso à internet. A missão também confirmou o metralhamento da cabine de transmissão da Rádio Juticalpa, em Olancho, e as ameaças de morte feitas contra jornalistas como o diretor do diário El Libertador, Johnny J. Lagos Enríquez e o jornalista Luis Galdanes.

Na cidade de Progresso, os militares silenciaram as transmissões de Rádio Progresso, sendo hostilizado seu diretor o sacerdote jesuíta Ismael Mareno, e detido temporariamente um de seus jornalistas enquanto outros recebiam ameaças de morte. Outro caso é o do Canal 26, TV Atlântida, cujo diretor declarou ante a missão da ONU que os militares ordenaram aos meios de comunicação do Estado que estes deveriam abster-se de transmitir outras versões ou informações que não emanassem do governo de fato.

Ante a agressão sofrida pelos jornalistas da Telesur e Venezuelana de Television - sem cujo valente trabalho o mundo jamais haveria acompanhado o que ocorreu em Honduras - a SIP se limitou a emitir um tímido comunicado lamentando os fatos; em troca, emitiu uma resolução dura contra Correa.

Seria muito longo enumerar todas as violações à liberdade de imprensa e dos direitos humanos, à parte do assassinato de Noriega, que passaram desapercebidas frente os atentos censores da SIP e seus doutrinários, Mario Vargas Llosa e a pandilha dos "mais-que-perfeitos idiotas latino-americanos". Seu silêncio cúmplice revela a descompostura moral do império, suas permanentes mentiras e a impunidade com a qual se movem esses falsos defensores da "liberdade de imprensa". E diante deste cenário, a Secretária de Estado Hillary Clinton se atreve a qualificar como imprudente o gesto de Zelaya de viajar à fronteira de seu país! Ao passo que seu porta-voz, Philip Crowley, advertia contra "qualquer ação que possa conduzir à violência" em Honduras.

Já falta muito pouco para que Washington comece a declarar que o verdadeiro golpista é Zelaya e que foi ele e não outro quem arrastou seu país a um caos de violência e morte. A promessa de novas negociações a cargo da Casa Branca só servirá para desfigurar ainda mais a verdade e inclinar o fiel da balança a favor dos golpistas e seus mandantes.

Traduzido por Dario da Silva.

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