30 de abril de 2012

1º DE MAIO É DIA DE LUTA E RESISTÊNCIA DOS TRABALHADORES


(Nota Política do Comitê Central do PCB)

São vários os desafios para a classe trabalhadora neste 2012. A agudização da atual crise do capitalismo desperta a sanha imperialista por novas guerras, como no caso da Síria e do Irã; desmascara o poder dos grandes bancos e das corporações industriais multinacionais sobre a autodeterminação dos povos, como na Grécia e na Itália; e traz mais arrocho econômico e retirada de direitos para trabalhadores de todo o mundo – inclusive de nós, brasileiros.

A crise encontra no Brasil um governo que se alia cada vez mais ao capital e contra os trabalhadores, como comprovam os cortes no Orçamento, de cerca de R$ 50 bilhões em 2011 e outros R$ 50 bilhões agora em 2012, e a retirada de direitos trabalhistas através de legislação que altera a relação entre patrões e empregados nas médias e pequenas empresas.

Nem mesmo a “medida de contenção” dos anos anteriores o governo está disposto a oferecer: a liberação de crédito (uma política de endividamento crescente da população que dá às camadas populares a ilusória sensação de melhoria de vida) é cada vez mais dificultada pelo sistema financeiro.

O Governo Dilma atende prioritariamente aos interesses e necessidades dos grandes banqueiros, dos especuladores e das grandes empresas que exploram o trabalhador brasileiro: ao mesmo tempo em que retira recursos do Orçamento para as pastas de Saúde e Educação, entre outras, concede benefícios fiscais direcionados a estes setores da Economia, como no último “pacotaço” do Executivo, apoiado pelo sindicalismo patronal e por representações da classe trabalhadora, como a CUT, a CTB, a Força Sindical, que agem em favor do capital e aderiram ao governo e sua política, fazendo o jogo da conciliação de classes.

Dilma mantém intacta a sangria do pagamento dos juros e amortizações da dívida pública brasileira: mesmo antes do corte de R$ 50 bilhões, 47,19% dos recursos do orçamento da união previstos iriam para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, enquanto a Saúde ficava com 3,98% e a Educação com 3,18%.

Esses fatores explicam o fato de sermos a sexta maior economia do mundo e ocuparmos a 84º posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com o sucateamento da saúde pública, as escolas mal equipadas e baixos salários para os profissionais da saúde e educação, transporte público precário nos grandes centros urbanos, falta de moradia digna e péssimas condições sanitárias para um número ainda enorme de lares brasileiros.

Continuam os leilões dos campos de petróleo e de áreas de exploração no pré-sal, com a participação de empresas que não têm as condições técnicas de operar nesses campos sem colocar em risco o ecossistema, como no recente caso da Chevron. São priorizados os lucros das grandes empreiteiras, as maiores beneficiárias, juntamente com os bancos, dos governos FHC e Lula, com obras como a de Belo Monte e Jirau e as instalações esportivas para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Por outro lado, cresce a insatisfação de diversos grupos sociais contra este estado de coisas, como atestam as manifestações quase diárias contra a calamidade dos transportes públicos. Os trabalhadores das obras do PAC também reagiram às condições de superexploração e semiescravidão impostas pelas empreiteiras como a Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e outras – muitas delas financiadoras das campanhas eleitorais do PT e de seus aliados.

Como demonstrou a manifestação em favor do “Pacotaço” ocorrida em São Paulo , as centrais sindicais ligadas ao governo repetirão este ano as grandes festas no 1º de Maio, com artistas famosos, distribuição de brindes, bebidas e sorteios, além de muito discurso a favor do Governo e do “pacto entre trabalhadores e patrões”. A velha máxima do “pão e circo” será a tônica em muitos centros urbanos do país, buscando desarmar ideologicamente a classe trabalhadora brasileira no enfrentamento ao patronato e ao sistema capitalista.

Para o PCB, a hora é de reforçar a unidade dos movimentos populares, das forças de esquerda e entidades representativas dos trabalhadores, no caminho da formação de um bloco proletário capaz de contrapor à hegemonia burguesa uma real alternativa de poder popular, com a organização da Frente Anticapitalista e Anti-imperialista, que possa ordenar ações unitárias contra o poder do capital e do imperialismo, rumo à construção da sociedade socialista. Propomos a luta por:

Redução da jornada de trabalho sem redução de salários

Salário mínimo do Dieese; Fim do imposto de renda sobre os salários

Contra a transformação da Previdência em Fundo de Pensão, contra o Funpresp

Solidariedade internacionalista à luta dos trabalhadores

Unidade da classe trabalhadora numa Frente Anticapitalista e Anti-imperialista

Pela Reforma Agrária

Contra a criminalização dos movimentos sindicais e sociais em Luta

Contra o modelo de desenvolvimento econômico a favor do capital

Por uma sociedade Socialista

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO – PCB

COMITÊ CENTRAL

Maio 2012

A gestão do capitalismo no governo da srª Dilma

Estado máximo, só para os bancos

Maria Lucia Fattorelli*

Em meio a insistentes ataques da grande mídia à "corrupção" de autoridades dos três poderes institucionais, uma verdadeira corrupção institucional está ocorrendo no campo financeiro e patrimonial do país, destacando-se: privatização da previdência dos servidores públicos, privatização de jazidas de petróleo — inclusive do pré-sal –, privatização dos aeroportos mais movimentados do país, privatização de rodovias, privatização de hospitais universitários, privatização de florestas, privatização da saúde, educação, segurança…

E muitos outros serviços essenciais, que recebem cada vez menor quantidade de recursos haja vista a luta de 20 anos pela implantação do piso salarial dos trabalhadores da Educação, a recente greve dos policiais na Bahia, ausência de reajuste salarial para os servidores em geral, entre vários outras necessidades não atendidas, evidenciada recentemente na tragédia dos moradores do Pinheirinho em São Paulo, enquanto o volume destinado ao pagamento de Juros e Amortizações da Dívida Pública continua crescendo cada vez mais.

Qual a justificativa para a entrega de áreas estratégicas ao setor privado? Por que criar um mega fundo de pensão para os servidores públicos do país quando os fundos de pensão estão quebrando no mundo todo, levando milhões de pessoas ao desespero? Por que leiloar jazidas de petróleo se a Petrobrás possui tecnologia de ponta? Por que abrir mão da segurança nacional ao entregar os aeroportos mais movimentados para empresas privadas e até estrangeiras? Por que privatizar os hospitais universitários se esses são a garantia de formação acadêmica de qualidade? Por que privatizar florestas em um mundo que clama por respeito ambiental? Por que deixar que serviços básicos, sejam automaticamente privatizados, a partir do momento em que se corta recursos destas áreas? O que há de comum em todas essas privatizações e em todas essas questões?

O ponto central está no fato de que o beneficiário de todas essas medidas é um ente estranho aos interesses do povo brasileiro e da Nação. Os únicos beneficiários têm sido o setor financeiro privado e as grandes transnacionais.

Então, por que o governo tem se empenhado tanto em aprovar todas essas medidas contrárias aos interesses nacionais? E o que diz a grande mídia a respeito dessas medidas indesejáveis? Não divulga a posição dos afetados e prejudicados por todas essas medidas, mas promove uma completa "desinformação" ao apresentar argumentos falaciosos e convincentes propagandas de que o Brasil vai muito bem e que a economia está sob controle.

Ora, se estamos tão bem assim, qual a razão para rifar o patrimônio público? Por que esse violento round de privatizações partindo justamente de quem venceu as eleições acusando a privataria? Na realidade, o país está sucateado. Vejam as estradas rodoviárias assassinas e a ausência de ferrovias; a desindustrialização; o esgotamento de nossas riquezas; as pessoas sem atendimento hospitalar, com cirurgias adiadas até a morte; os profissionais de ensino desrespeitados e obrigados a assumir vários postos de trabalho para sustentar suas famílias; o crescimento da violência e do uso de drogas.

É inegável o fato de que o PIB brasileiro cresceu e já somos a 6ª potencia mundial, mas o último relatório da ONU mostra que ocupamos a vergonhosa 84ª posição em relação ao atendimento aos direitos humanos, de acordo com o IDH[1] , o que é inadmissível considerando as nossas imensas riquezas.

Algo está muito errado. Não há congruência entre nossas riquezas e nossa realidade social. Não há coerência entre o discurso ostentoso e a liquidação do patrimônio nacional. Dizem que temos reservas internacionais bilionárias, mas não divulgam o custo dessas reservas para o país, o dano às contas públicas e ao crescimento acelerado da dívida pública brasileira que paga os juros mais elevados do mundo.

Dizem que temos batido recordes com exportações, mas não divulgam que lá de fora, valorizam os preços das chamadas "commodities" e o que fazemos: aceleramos a exploração dos nossos recursos naturais e os exportamos às toneladas. Mas quem ganha já não é o país, pois as minas, as siderúrgicas e o agrobusiness já foram privatizados há muito tempo.

Outra grande falácia é de que o Brasil está tão bem que a crise financeira que abalou as economias dos países mais ricos do Norte – Estados Unidos e Europa – pouco afetou o país. A grande mídia não divulga, mas a raiz da atual crise "da Dívida" que abala as economias do Norte está na crise do setor financeiro.

A crise estourou em 2008 quando as principais instituições financeiras do planeta entraram em risco de quebra. Tal crise dos bancos decorreu do excesso de emissão de diversos produtos financeiros sem lastro – principalmente os derivativos – possibilitada pela desregulamentação e autonomia do setor financeiro bancário. Embora tivessem agido com tremenda irresponsabilidade na emissão e especulação de incalculáveis volumes de papéis sem lastro, tais bancos foram "salvos" pelos países do Norte à custa do aumento da dívida pública, que agora está sendo paga por severos planos de ajuste fiscal contra os trabalhadores e crescente sacrifício de direitos sociais.

Apesar da monumental ajuda das Nações aos bancos, o sistema financeiro internacional ainda se encontra abarrotado de derivativos e outros papéis sem lastro – tratados pela grande mídia como "ativos tóxicos". Grande parte desses papéis foi transferida para "Bad Banks" [2] em várias partes do mundo, à espera de serem trocados por "ativos reais", principalmente em processos de privatizações.

Assim funcionam as privatizações: são uma forma de reciclar o acúmulo de papéis e transferir as riquezas públicas para o setor financeiro privado. Relativamente à privatização da Previdência dos Servidores Públicos, o Projeto de Lei PL-1992 cria o FUNPRESP que, se aprovado, deverá ser um dos maiores fundos de pensão do mundo.

Na prática, esse projeto se insere em tendência mundial ditada pelo Banco Mundial, de reduzir a participação estatal a um benefício mínimo, como alerta Osvaldo Coggiola, em seu artigo "A Falência Mundial dos Fundos de Pensão": "Com este esquema, o que se quer é reduzir a aposentadoria estatal de modo a diminuir o gasto em aposentadorias e aumentar os pagamentos da dívida do Estado."

A dívida brasileira já supera os R$ 3 milhões de milhões. A grande mídia não divulga esse número, mas o mesmo está respaldado em dados oficiais [3] . Os fundos de pensão absorvem grandes quantidades de papéis, pois funcionam trocando o dinheiro dos trabalhadores por papéis que circulam no mercado financeiro. Os tais "ativos tóxicos" estão provocando sérios danos aos fundos de pensão, como adverte Osvaldo Coggiola: "… duas Argentinas e meia faliram nos Estados Unidos como produto da crise do capital, levando consigo os fundos de pensões lastreados em suas ações. Na Europa, a situação não é melhor. A OCDE advertiu sobre o grave risco da queda nas Bolsas sobre os fundos privados de pensão, cuja viabilidade está ligada à evolução dos mercados de renda variável: "Existe o risco de que as pessoas que investiram nesses fundos recebam pouco ou nada depois de se aposentar".

O art. 11 do PL-1992 não permite ilusões quanto ao risco para os servidores federais brasileiros, pois assinala que a responsabilidade do Estado será restrita ao pagamento e à transferência de contribuições ao FUNPRESP. Em outras palavras, se algo funcionar errado com o FUNPRESP; se este adquirir papéis podres ou enfrentar qualquer revés, não haverá responsabilidade para a União, suas autarquias ou fundações. Previdência é sinônimo de segurança. Como colocar a previdência em aplicações de risco? Qual o sentido dessa medida anti-social?

O gráfico ao lado revela porque a Previdência Social tem sido alvo de ferrenhos ataques por parte do setor financeiro nacional e internacional: o objetivo evidente, como também alertou Osvaldo Coggiola, é apropriar-se dos recursos que ainda são destinados à Seguridade Social para destiná-los aos encargos da dívida pública.

As diversas auditorias cidadãs em andamento no Brasil e no exterior, bem como a auditoria oficial equatoriana (2007/2008) e a CPI da Dívida no Brasil (2009-2010) têm demonstrado que o único beneficiário do processo de endividamento público tem sido o setor financeiro.

No Brasil, o gráfico a seguir denuncia o privilégio da dívida, pois a dívida absorve quase a metade dos recursos do orçamento federal, o que explica o fabuloso lucro auferido pelos bancos aqui instalados, enquanto faltam recursos para as necessidades sociais básicas, tornando nosso país um dos mais injustos do mundo.

É urgente unir as lutas contra a privatização do que ainda resta de patrimônio público no Brasil, pois é para pagar a dívida pública e preservar este modelo de "Estado Mínimo" para o Social – e "Estado Máximo" para o Capital – que as riquezas nacionais continuam sendo privatizadas.

[1] IDH = Indice de Desenvolvimento Humano

[2] Bad banks = instituições paralelas, criadas para absorver grandes quantidades de "ativos tóxicos" que alcançaram volumes tão elevados que passaram a comprometer o funcionamento do sistema financeiro mundial. Até mesmo o G-20 (grupo dos 20 países mais ricos do mundo) chegou a pautar, na última reunião ocorrida em Cannes, a preocupante questão do Sistema Bancário Paralelo.

[3] Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida.

[*] Coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida
 
O original encontra-se em adrianonascimento.webnode.com.br/...
 
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

SAUDAÇÃO AO PCB

Anita Leocadia Prestes

Por ocasião dos 90 anos da fundação do PCB, minhas saudações aos companheiros que nele hoje militam, assim como os votos de que o PCB se transforme num partido revolucionário em condições de contribuir significativamente para a realização da revolução socialista no Brasil.

Filha de Manoel Fiel cobra punição de torturadores



Direitos humanos - 18/04/2012

A morte sob tortura do operário Manoel Fiel Filho em janeiro de 1976 forçou a abertura política do regime militar e abriu as portas para os movimentos pró-democracia. Essa trajetória é mostrada no filme Desculpe, Mr. Fiel, o operário que derrubou a ditadura no Brasil, de Jorge Oliveira, apresentado e discutido na Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, subcomissão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

A filha de Fiel Filho, Maria Aparecida, cobrou a punição daqueles que mataram seu pai, militante do Partido Comunista Brasileiro. Ela afirmou que são conhecidas informações sobre os agentes da tortura, mas ninguém nunca foi punido.

Para o diretor do filme, Jorge Oliveira, a tortura não é crime político, mas comum, e deve ser punido, inclusive porque continua a ser praticada nos presídios. Ele cobrou pressão do Congresso para que a presidente da República defina os nomes das pessoas que vão compor a Comissão da Verdade (criada pela Lei 12.528/11), que vai apurar os crimes cometidos durante os anos da Ditadura Militar.

O caso Fiel Filho
Fiel Filho foi preso em 16 de janeiro de 1976 na fábrica onde trabalhava, ao meio-dia, por dois agentes do DOI-Codi/SP que se diziam funcionários da Prefeitura, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. No dia seguinte, os órgãos de segurança emitiram nota oficial afirmando que Manuel havia se enforcado em sua cela com as próprias meias, naquele mesmo dia 17, por volta das 13 horas. O corpo apresentava sinais evidentes de torturas, em especial hematomas generalizados, principalmente na região da testa, pulsos e pescoço.

Punição dos responsáveis
A presidente da subcomissão, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), acredita que, assim como ocorreu em mais de 40 países que tiveram comissões da verdade, o conhecimento dos crimes praticados em regimes autoritários vai criar uma pressão social pela punição dos responsáveis por esses abusos.
Luiza Erundina disse que o Congresso não pode esperar pela comissão oficial e tem a obrigação de levantar os fatos e encaminhar para a Justiça para que os responsáveis sejam punidos e a sociedade conheça sua história oculta.

A deputada é a autora de projeto de lei que exclui do rol de crimes anistiados após a ditadura militar aqueles cometidos por agentes públicos, militares ou civis, contra pessoas que, efetiva ou supostamente, praticaram crimes políticos. A proposta, já rejeitada pela Comissão de Relações Exteriores, aguarda votação pela Comissão de Constituição e Justiça.

O projeto traduz entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, segundo a qual morte, tortura ou desaparecimentos forçados ainda não esclarecidos têm caráter de crimes continuados, que não podem ser perdoados.

Maria Prestes e Luiz Carlos Prestes Filho visitam a sede nacional do PCB

O Secretariado Nacional do Partido Comunista Brasileiro recebeu, na sede nacional do Partido no Rio de Janeiro, visita de cortesia de Maria Prestes e Luiz Carlos Prestes Filho, respectivamente viúva e filho do ex-Secretário Geral do PCB, Luiz Carlos Prestes.

Ambos saudaram os 90 anos do PCB e deixaram claro que não militam em qualquer partido político. Trocaram-se informes sobre as atividades tanto do Partido como de familiares de Prestes.

Durante a visita, o Secretário Geral do PCB, Ivan Pinheiro, reafirmou o indelével legado de Prestes para a história do Partido e do Brasil, citando o prestígio de que desfruta a memória de Prestes no movimento revolucionário internacional onde, mais ainda do que em nosso país, é conhecido como o “Cavaleiro da Esperança”.

Na ocasião, disse o camarada Ivan:

“Agora mesmo, por ocasião do aniversário de 90 anos do PCB, recebemos inúmeras mensagens de congratulações de organizações comunistas de todos os continentes; em muitas delas, citam-nos como o ‘partido de Luiz Carlos Prestes’. Isto se deve ao fato de que o PCB foi o único Partido Comunista a que Prestes pertenceu. Mas como não somos oportunistas e não falsificamos a história, não nos valemos desta honrosa identidade, em respeito a Prestes, quequando faleceu não militava mais no PCB, do qual saiu com a publicação da ‘Carta aos Comunistas’, em 1980. Apesar do orgulho de nossa história ser ligada a este grande revolucionário, consideramos que a herança política dele não pertence a ninguém nem a qualquer organização, mas ao povo brasileiro, sobretudo aos trabalhadores".

Secretariado Nacional do PCB

(21 de abril de 2012)

Assassinado o camarada responsável pela segurança de Carlos Lozano, diretor do Semanário Voz

Nota do Secretariado Nacional do PCB:

O Partido Comunista Brasileiro repudia energicamente a ofensiva do estado terrorista colombiano em face do avanço do movimento de massas no país.
Ao mesmo tempo, solidarizamo-nos com o camarada Carlos Lozano, com o Partido Comunista Colombiano e com todas as forças que compõem a Marcha Patriótica, cuja fundação o PCB apoiou com a presença de uma expressiva delegação.

28 de abril de 2012 7:55 am

Nas últimas horas foi assassinado, no bairro de Bochica de Bogotá, Mao Enrique Rodríguez, chefe da escolta de Carlos Lozano, diretor do Semanário Voz.

Segundo informou o próprio Carlos Lozano, na rádio 1070 AM, o fato ocorreu no sul de Bogotá, quando motoqueiros surpreenderam Rodríguez na porta de uma casa, onde esperava para abrir.
O assassino disparou à queima roupa, causando a morte de Rodríguez, conforme Lozano, que acrescentou o fato de que, nos últimos dias, a vítima estava oferecendo proteção a Alfonso Castillo, Presidente da Associação Nacional dos Sem-Terra (Asociación Nacional de Desplazados).

“Estamos averiguando bem os fatos, com serenidade, com calma”, disse o diretor do Semanário Voz, denunciando que o assassinato está relacionado com as acusações feitas contra o Movimento Marcha Patriótica.

“Não tenho a menor dúvida de que tem relação com toda essa onda de acusações, com todo esse ambiente de terror psicológico que está sendo gerado no país por conta do surgimento da Marcha Patriótica e pelo próprio fato de que eu seja um dos principais porta-vozes”, acrescentou Lozano.

Por esta razão, fez uma exigência ao Governo Nacional, reivindicando garantias para que o movimento continue seu trabalho no espaço social, político e democrático da vida do país.

“Os fatos que ocorreram se referem ao surgimento desse novo partido político e foram exclusivamente baseados nas acusações arbitrárias, dificultando ainda mais os processos de paz”, explica. Lozano também aponta o temor de que aconteça com o movimento o mesmo que se passou com os membros da extinta União Patriótica.

Para ele, a guerrilha colombiana não possui as suficientes garantias para iniciar um processo de paz exitoso, a partir do momento que fatos como estes continuam acontecendo.
“Nós não vamos nos desesperar, não vamos nos deixar intimidar. Vamos permanecer trabalhando. Acreditamos que é possível avançar neste tipo de organização e vamos continuar trabalhando com o Polo Democrático Alternativo. Numa situação como esta, a esquerda colombiana deve se fortalecer ainda mais”, pontuou Lozano.

Para o ativista, a Marcha Patriótica continuará “trabalhando no protesto pacífico, organizado, contra todas as medidas antipopulares, contra a reforma das pensões, a nova reforma tributária, as novas ameaças de privatização por parte do Governo Nacional. Elas realmente não são gestos de paz, mas parte da injustiça social desta administração e do neoliberalismo”.

Mao Enrique Rodríguez, de 42 anos, foi o responsável pela segurança de Carlos Lozano por vários anos, depois de ter trabalhado na imprensa do partido comunista, onde se imprimia o SemanárioVoz. Era casado e tinha três filhos.

Informação de David Mauricio Vanegas Duarte.


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

27 de abril de 2012

Armando Boito Jr.: "Foi o PCB que colocou o povo brasileiro na era moderna..."

Armando Boito Jr.*

"Foi o PCB que colocou o povo brasileiro na era moderna, que, para os países da América Latina, é a era das lutas antiimperialista, pela reforma agrária, pela democracia e pelo socialismo. Hoje, o PCB, já nonagenário, é um dos destacamentos avançados das lutas que nos ensinou a travar."

*Editor da revista Crítica Marxista e Professor de Ciência Política da Unicamp

Sobre os 90 anos do Partido Comunista Brasileiro - por Miguel Urbano Rodrigues

Raras vezes um partido comunista se recuperou após uma crise profunda que, no desenvolvimento de uma estratégia e uma táctica incompatíveis com princípios e valores do marxismo-leninismo, implique na prática a renuncia ao objectivo principal: a tomada do poder rumo à construção do socialismo.

A desagregação da URSS e a restauração do capitalismo na Rússia contribuíram decisivamente para a social democratização de muitos partidos comunistas e em alguns casos para o seu desaparecimento ou transformação em partidos da burguesia neoliberal.

Nesse panorama sombrio, o Partido Comunista Brasileiro emerge como excepção que reconforta.

À beira do abismo, após mais de uma década de vida letárgica, renasceu em 1992, reconstruiu-se como organização marxista-leninista e retomou a sua vocação de partido revolucionário e internacionalista.

Essa realidade ficou transparente nas jornadas que assinalaram as comemorações no Rio de Janeiro do 90º aniversário da sua fundação.

Num breve artigo como este não é possível proceder a uma balanço mesmo superficial dessas comemorações e do seu significado.

A dificuldade é maior porque o Seminário "PCB 90 Anos de Lutas", pelo objectivo, estilo, originalidade e nível ideológico de muitas intervenções foi diferente de tudo o que se podia esperar de uma iniciativa com tais características.

Durante três dias, no salão do Sindicato dos Professores do Rio, alguns dos oradores não se limitaram nas suas comunicações a evocar fases da história do Partido. Foram mais longe, inovaram ao romper tabus na reflexão sobre acontecimentos polémicos, na abordagem pública de temas ocultos por um manto de silêncio.

Representantes de três gerações, identificados com essa aspiração, iluminaram páginas de uma história épica e dolorosa, mal conhecida, contribuindo assim para a sua desejada concretização. Alguns derrubaram barreiras com coragem e desassombro.

Ivan Pinheiro, o secretário-geral, apontou o caminho ao afirmar que se "acertamos muito (…) também já erramos muito."

Na mesa em que Anita Prestes e ele falaram sobre "O reformismo e a tentativa de liquidação do PCB", a filha de Luiz Carlos Prestes, hoje historiadora prestigiada, orientou o discurso sobretudo para o prolongado choque do seu pai com a maioria do Comité Central que defendia um desenvolvimento capitalista autónomo e democrático do Brasil, estratégia que acorrentou o partido a uma aliança tácita com sectores da burguesia nacional supostamente anti-imperialistas.

Mauro Iasi, Edmilson Costa e José Paulo Neto foram brilhantes na descida às raízes da política que distanciou o PCB da sua vocação revolucionária. Com estilos diferentes, valorizaram a resistência das bases e de muitos dirigentes à estratégia reformista da conciliação, resistência que, finalmente, tornou possível o renascimento do Partido que, na fidelidade aos princípios, reafirma hoje com firmeza, olhos num futuro sem data, que a meta da Revolução Brasileira – a que lhe imprime o carácter – é a construção do socialismo.


A HISTÓRIA ESQUECIDA 

Foi com emoção que acompanhei esses debates e intervim no Seminário internacional que se seguiu ao dedicado aos temas nacionais.

Vivi em São Paulo, exilado, de 1957 até à Revolução portuguesa e, como militante do PCB, tive a oportunidade de participar modestamente das lutas do povo brasileiro.

Por decisão do ministro da Justiça um livro meu foi apreendido. Detiveram-me algumas vezes e fui submetido a prolongado interrogatório por um inspector da famigerada Operação Bandeirantes, a criminosa organização militar-terrorista da ditadura.

Vivi como internacionalista as crises que então atingiram o PCB. Elas são evocadas num lúcido artigo dos camaradas Ricardo Costa, Milton Pinheiro e Muniz Ferreira, publicado na edição especial de "Imprensa Popular", órgão do Partido e no seu sítio na internet (www.pcb.org.br).

Esse trabalho, abarcando sobretudo as décadas de 50 e 60, é uma página de história. Os autores, membros do actual Comité Central, despojam de secretismos as sucessivas e complexas disputas internas surgidas no PCB a partir do relatório secreto de Krutchov ao XX Congresso do PCUS. Todas envolveram a definição da estratégia e da táctica correctas a adoptar para a construção da alternativa socialista.

Da primeira crise surgiu o PC do B, uma dissidência que, empolgada pelas teses maoistas da "guerra prolongada", iniciou uma guerrilha heróica mas romântica nas selvas do Pará, destruída pelo exército em autêntica chacina. Posteriormente aderiu ao "marxismo albanês" de Enver Hoxha e, finda a ditadura, optou pela via institucional, integrou a coligação que elegeu Lula e actualmente apoia a política de Dilma Roussef em cujo governo participa.

Após o Acto Institucional nº5, em 1968, a ditadura assumiu facetas de fascismo castrense e a repressão abateu-se sobre as forças progressistas numa onda de barbárie.

O PCB foi golpeado por novas cisões inseparáveis da sua política de conciliação. A mais importante foi liderada por Carlos Marighela, o fundador da Ação Libertadora Nacional-ALN, um revolucionário comunista que contou com o apoio de Cuba e teve morte trágica. A linha hesitante do Partidão – assim era conhecido – na definição de uma estratégia de confronto claro com a burguesia contribuiu para a proliferação de mini-partidos e organizações que preconizavam sob múltiplas formas a luta armada. A maioria optou pela guerrilha urbana. Na luta contra o terrorismo de estado alastrou a confusão numa juventude generosa, disponível para a luta, mas despreparada ideologicamente.

Foi a época dos sequestros de embaixadores estrangeiros, de aventuras como a do capitão Lamarca, um revolucionário ingénuo, voluntarista. Cada organização, cada grupo, cada partido pretendia ser detentor da estratégia adequada para derrotar a ditadura e levar adiante a Revolução Brasileira. Todos invocavam o marxismo, mas com frequência os textos em que condensavam a sua opção revolucionária eram uma caldeirada de teses de Mao, de Trotsky, do Che, com tempero de disparates extraídos do livrinho irresponsável de Regis Debray, editado clandestinamente no Brasil.

Nesses anos trágicos, o PCB resistiu aos apelos do aventureirismo guerrilheiro. As divergências na direcção não impediram o consenso no tocante a uma questão fundamental: a prioridade da luta de massas no combate à ditadura, com recusa de qualquer modalidade de guerrilha. Mas essa opção não se traduziu numa estratégia e numa táctica revolucionárias.

A crise que se instalou no campo socialista no final dos anos 80 e culminou com a reimplantação do capitalismo na Rússia aprofundou a tendência capituladora e liquidacionista de influentes membros do Comité Central.

A maioria desse Comité Central, impondo uma linha reformista, levou o PCB à beira da extinção.

A exigência da reconstrução revolucionária principiou quando a maioria do CC aboliu o centralismo democrático, e mudou o nome do Partido, criando uma organização social-democrata, o Partido Popular Socialista, que hoje tem um perfil de centro-direita. Mas não conseguiu acabar com o PCB que não deixou de existir um dia sequer, ao contrário do que na Europa foi afirmado inclusive por intelectuais marxistas.


A LENTA RECONSTRUÇÃO 

Há dias, ao escutar as intervenções de camaradas da nova geração sobre problemas do mundo contemporâneo, foi para os pioneiros da reconstrução do Partido, iniciada em 1992 que voou o meu pensamento.

Recordei lutas, recordei camaradas que contribuíram para me tornar comunista. Todos hoje mortos: Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Luis Maranhao, Mario Schemberg, Dias Gomes, Jorge Amado, Fernando Santana, João Saldanha, Giocondo Dias, Caio Prado, Mario Lago e muitos outros.

O renascimento do PCB foi lento, difícil. É ainda um pequeno partido num país de 200 milhões de habitantes. Não tem deputados no Congresso e nas Assembleias dos Estados, poucos representantes municipais. São transparentes as suas insuficiências. Mas a actual linha revolucionária, traçada por uma direcção marxista-leninista e sustentada por quadros de grande qualidade, proporcionou-lhe em poucos anos um grande prestígio.

Enquanto pelo mundo outros partidos comunistas se social-democratizaram, ele volta a desempenhar um papel de crescente importância nas lutas do povo brasileiro e no cenário internacional em todas as frentes onde o combate ao imperialismo estadounidense se tornou exigência revolucionária.

Esse apreço transpareceu nas saudações fraternas que pelo seu aniversário recebeu de personalidades como Óscar Niemeyer, Isztvan Meszaros e James Petras, e nas intervenções dos representantes dos Partidos Comunistas que participaram no Seminário Internacional que se seguiu ao nacional, nomeadamente os da Grécia, da Venezuela e do México. Cito esses três precisamente porque se destacam pela firmeza ideológica no combate ao reformismo e ao oportunismo.


"SOMOS E SEREMOS COMUNISTAS" 

Os actos comemorativos do aniversário do PCB ocuparam quase uma semana.

No Seminário Nacional, além das já citadas, houve intervenções de nível elevado pelo rigor da abordagem histórica e riqueza conceptual. Entre elas as de Virginia Fontes, Marcos del Royo e Eduardo Serra.

No Seminário Internacional participaram delegados dos partidos comunistas da Argentina, do México, da Grécia, da Venezuela, de Cuba, dos Povos de Espanha, do Uruguai e do Colombiano e do Peruano, o secretário-geral do Partido Comunista Sírio e um representante da Frente Popular da Palestina. Como convidados intervieram também o argentino Atílio Borón, a libanesa Leila Gahnen, os embaixadores de Cuba e da Síria no Brasil e o autor deste artigo.

Mesas especiais foram dedicadas à Revolução Cubana, ao povo colombiano, vítima de um regime neo-fascista, e à condenação das guerras imperialistas no Médio Oriente.

Foi emocionante a visita de brasileiros e estrangeiros, numa jornada de camaradagem, ao lugar onde, a 25 de Março de 1922, foi fundado na cidade de Niterói o Partido Comunista Brasileiro. Nenhum dos presentes havia ainda nascido, mas a corrente da fraternidade formou-se instantaneamente na evocação do punhado de revolucionários – eram apenas nove - que numa casa hoje desaparecida se reuniu para desafiar o futuro.

O encerramento da semana de comemorações teve por cenário a sala do plenário da Câmara Municipal de Niterói. Ali se reuniu o actual Comité Central com a presença dos convidados estrangeiros e de velhos militantes e elementos da juventude do Partido. Ali abracei a camarada Zuleide Faria de Melo, ex-presidente do Partido.

As estrofes da Internacional soaram no anfiteatro de uma instituição da burguesia enquanto se bradava em coro uníssono:

"Fomos, somos e Seremos Comunistas!"

Vila Nova de Gaia, Abril/2012 O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2452
 
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PCB entrega Medalha Dinarco Reis a Elizeu Alves

O PCB homenageou o centenário militante comunista Elizeu Alves, vereador do Partido no Rio de Janeiro na primeira metade da década de 1950, com a Medalha Dinarco Reis. A entrega ocorreu durante as comemorações de 90 anos do PCB, em Ato Público ocorrido na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Mesmo aos 100 anos de idade, Elizeu fez questão de subir os altos degraus que dão início ao palco da ABI para fazer uso da palavra. Lembrou algumas passagens, camaradas e afirmou categoricamente que "valores não se compram nem se vendem".


ELIZEU ALVES

Nascido em Sambueiro, no Ceará, Elizeu Alves de Oliveira desde cedo aprendeu a necessidade do trabalho duro e, aos 12 anos, foi aterrorizado pelo vigário local sobre a novidade que então chegava na região: a vinda da Coluna Prestes, os "homens de Satanás".

isso não impediu, entretanto, que a rebeldia e a vontade de descortinar o mundo marcassem encontro com Elizeu, que recentemente completou 100 anos - sim, ele tem mais anos de vida que o próprio PCB, nasceu em 10 de março de 1912.

O curto período de convivência com o então tenente rebelde Luiz Carlos Prestes fez com que este jovem, aos 14 anos, fugisse de casa três vezes para acompanhar a Coluna. Já estava tomado por ideias de distribuição equitativa das riquezas produzidas e contra as injustiças vivenciadas no período.

Ao lado do primo, foi para Fortaleza quando o governo criou a comissão Nacional de Obras contra a Seca (CNOCS). Foi o diretor-geral local do órgão que lhe apresentou, pela primeira vez, o jornal "A Classe Operária". Após lá trabalhar por certo período, partiu para o Rio de Janeiro, onde serviu guarda no regimento da Escola de Infantaria.

O quartel foi o ambiente no qual Elizeu foi recrutado para as fileiras do Partido Comunista, através de indicação do tenente Humberto. De férias, soube dos acontecimentos do Levante de 1935 pelos matutinos e logo se deslocou para a Base Aérea de Campos dos Affonsos, para participar do evento junto aos revoltosos. O local, como outros, recebeu cerco e artilharia pesada das forças pró-governo.

Ali sofreu a primeira das inúmeras prisões e foi expulso das Forças Armadas. Com a esposa, Stella Gregory, a quem conheceu em uma reunião do Partido, grávida do primeiro filho, teve de se mudar para Petrópolis ao sair da cadeia, em busca de sustento.

Mais tarde retorna ao Rio de Janeiro começa a trabalhar nos bondes da cidade e se destaca no movimento sindical. Aos lado de outros comunistas, é eleito presidente do Sindicato dos Carris, coroando seu trabalho de organizador ativo que foi das associações de funcionários da Light. Mas o governo impediu que ele e seus companheiros tomassem posse da entidade.

Seu protagonismo no movimento, entretanto, já  estava consolidado, e foi isso que o levou a ser convocado para uma reunião, a pedido de Prestes, no ano seguinte (1950). Mesmo a contragosto, saiu de lá candidato a vereador no Rio de Janeiro. Ao lado de Aristides Saldanha e Milton Lobato, compôs a bancada comunista na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Cumpriu seu mandato nas manifestações e ruas: colheu assinaturas pela campanha da paz e contra o envio de tropas para o conflito na Coréia, foi participante ativo da campanha O Petróleo é Nosso e defendeu movimentos revolucionários na tribuna parlamentar.

Terminado seu mandato, tentou voltar ao trabalho, mas a Light, após 22 anos de casa, subornou juízes para impedi-lo de voltar aos quadros da empresa através de uma demissão por "INjusta causa".

Em 31 de março de 1964 estava nas ruas, com vários camaradas, esperando pelas armas prometidas - que nunca chegaram. Durante a ditadura, teve sua casa invadida inúmeras vezes pela repressão. Teve tomados pela Polícia arquivos, documentos, fotografias.

A abertura política do regime encontra Elizeu ativo participante da Intersindical do Rio de Janeiro, ele que foi um dos fundadores - por anos presidente - da Federação dos Aposentados.

Nota de denúncia da comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe contra as policias Federal, Militar, Civil e fazendeiros

A comunidade Indígena Pataxó Hã-Hã-Hãe reunida na sede do Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu decidiu denunciar, mediante esta nota, as ações que nos pareceram orquestradas entre os fazendeiros da região do Rio Pardo e seus pistoleiros e as policias Federal, Civil e Militar.

No ultimo dia 20 de abril fomos atacados e escorraçados de algumas das áreas de nossas terras retomadas na região do Rio Pardo por homens fortemente armados, portando inclusive fuzis. Os fazendeiros desta região tem anunciado publicamente que nos iriam atacar com todas as suas forças, e vem reunindo pistoleiros em todo o Sul da Bahia.

Nossa comunidade tem denunciado estes fazendeiros e suas ameaças e seus ataques desde que iniciamos nossas retomadas. As polícias e demais autoridades estão cientes de nossa situação de risco. Nossos membros estão sendo atacados tanto individualmente quanto em grupos de ocupação por todos estes dias.

Com esta série de ataques que fizeram contra nossa comunidade no dia 20, e a crescente insegurança que estávamos vivendo, solicitamos mais uma vez a todos os aliados de nossa causa que nos ajudassem a garantir a integridade física de nossa comunidade apoiando nossa reivindicação de policiamento imediato na região.

A polícia compareceu no dia 21 com agentes e delegados de três polícias: a Federal, a Militar e estranhamente a policia civil de Itaju do Colonia e Pau Brasil. Acreditando que os policiais estariam ali para nos apoiar em nosso pleito de desarmamento, segurança, garantia de paz e integridade física de nossa comunidade, reunimos mais uma vez as mulheres e crianças, mais alguns homens que haviam sido expulsos de nossas terras na região do Rio Pardo e retornamos estas pessoas para a área. Estranhamente, assim que as pessoas desciam dos veículos eram todas revistadas pelos policiais que, tão logo nos revistaram e vasculharam nossos pertences, evadiram da área nos deixando à própria sorte. Ato continuo, os pistoleiros apareceram em muitos veículos, dentre motocicletas, caminhonetes e carros de passeio, além dos que apareceram a pé dos pastos e nos atacaram fortemente.

Os funcionários da FUNAI que estavam nos acompanhando nos ajudaram com os veículos da FUNAI e juntamente com os veículos da própria comunidade demos fuga para nossas mulheres e crianças e todos os homens que ainda tiveram espaço para subir nos veículos. Todos os demais tiveram que fugir pelos pastos, correndo para salvar suas vidas, sob uma verdadeira chuva de balas. Os pistoleiros nos perseguiram pelas estradas em seus veículos, chegando ao absurdo de dar a impressão que até mesmo os policiais estariam nos escoltando à frente dos pistoleiros para fora de nossa terra. As pessoas que ficaram para trás nos pastos foram sendo localizadas por celular quando subiam nas serras para nos contatar e foram sendo instruídas a seguir para locais onde fomos podendo resgatá-las. Ainda temos pessoas desaparecidas e sem nos contatar, não sabemos se ainda estão vivos.

Denunciamos as policias Federal, Militar e Civil, primeiramente por nos terem garantido que das áreas de onde saíram os veículos dos pistoleiros não haveria nenhum homem armado, denunciamos haverem conferido se estaríamos em condições de reagir a estes homens nos revistanto, e depois haverem evadido do local sem nos socorrer enquanto estávamos sob forte ataque.

Dado ao absurdo desta situação, solicitamos a todas as entidades que nos apoiam, aos nossos amigos e às pessoas simpatizantes de nossa causa que nos ajudem a divulgar esta denúncia.

Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, 22 de abril de 2012

A comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe.

Apoiam esta denuncia todos os caciques de nossa comunidade.

Sobre o Código do Desmatamento

O Olhar Comunista desta quarta destaca a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados, que ainda não havia ocorrido até às 17h.


Apesar de o texto exato o código ainda não ter sido conhecido, é possível fazer uma análise perante os últimos acontecimentos. Na “Tropa de Choque” da aprovação do texto, verdadeiro cheque em branco para a continuação do desmatamento no país, vigorou a bancada ruralista. Defensora dos interesses mais imediatos do agrobusiness, esta reforçou sua visão de que rios e matas são meros "recursos produtivos".
O projeto em votação é péssimo: anistia desmatadores, deixa margem para o uso de encostas para agricultura - pondo em risco a estabilidade da encosta e abrindo espaço para a erosão de rios - e não exige a presença das "matas ciliares" na vizinhança dos cursos d'água.
Em todo o processo de encaminhamento da questão, faltou transparência, espaço para a participação da sociedade civil e planejamento para o desenvolvimento sustentável e voltado para a justiça social. O que não faltou, cabe registrar, foi a posição de causar vergonha de parlamentares como Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Tortura durante a ditadura, relato de LÚCIA COELHO

Cheguei na Oban e a violência começou no interrogatório, com choque elétrico. Quando eu vi o pau de arara, não reconheci o que era porque estava em choque. Vi um copo cheio de uma substância branca e achei que era açúcar, para tomar com água na hora do nervoso. Mas era sal, para pôr nas feridas. Eles faziam piadas sobre o corpo das mulheres, se era feio, jovem, velho, gozavam dos defeitos. Era uma mesquinharia muito grande. Eles abusam, violentam, de uma maneira ou outra, humilham, tornam objeto. Eles faziam a gente se sentir uma porcaria. Também faziam uma certa gozação, como se eu tivesse me metido nisso sem saber o que era. Eles tinham muito prazer na tortura. Não me pareceu que eles faziam por obrigação. Havia o Ustra [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra], que era o mais terrível, porque vinha com uma conversinha, com uma diplomacia: ‘Minha fi lha, como você vai se meter numa coisa dessas, você é de uma família boa, vai prejudicar os seus fi lhos por essa coisa de comunismo’. E, de repente, inesperadamente, ele lançava uma bofetada. Lá da minha cela, eu conseguia ver que eles tinham uma cachorrada no pátio. Eles masturbavam as cadelas, as excitavam, e elas uivavam, acho que de prazer e medo. Era brutal. Eu tinha vontade de vomitar. Uma vez, o torturador “Jesus Cristo” [codinome do delegado de polícia Dirceu Gravina] saiu de um interrogatório e foi para o meu. Ele estava muito nervoso e falou: ‘Você é psicóloga, né, acho que vou precisar do seu auxílio. Eu estou descontrolado, chego em casa e arrebento tudo, bato na minha mulher’. Depois da Oban, fui para o Dops e para o Tiradentes, onde a coisa foi ficando mais de tortura psicológica e não física. Mas sempre com aquele horror de saber que a qualquer momento a gente poderia voltar para a Oban.

LÚCIA COELHO, ex-militante do Partido Operário Comunista (POC), era professora da Faculdade de Medicina da USP quando foi presa em 15 de julho de 1971, em São Paulo (SP), juntamente com seu marido Ruy Coelho, vice-diretor da Faculdade de Filosofia da USP. Hoje, vive na mesma cidade, é psicóloga e presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo.

BC prevê décifit recorde

Relatório do Banco Central (BC) divulgado nesta terça prevê: 2012 será ano de déficit recorde nas contas externas do Brasil. Confira no Olhar Comunista.


No relatório, o BC informa que o déficit em transações correntes (balança comercial, serviços e rendas) recuou 18% de janeiro a março, para US$ 12,11 bilhões. Para todo 2012, entretanto, a previsão é de US$ 68 bilhões de déficit, o que seria o maior resultado negativo de toda a série histórica inaugurada em 1947. Ainda pior: o maior déficit já registrado foi o de 2011 (-US$ 52,5 bilhões); teríamos então dois anos de recordes negativos.
As contas externas são compostas pela balança comercial, pela conta de serviços (viagens internacionais, seguros, pagamento de 'royalties' e licenças e aluguel de equipamentos, entre outros) e pelas rendas (juros, lucros e dividendos). Já a previsão para os investimentos estrangeiros diretos é de US$ 50 bilhões.
Se as contas do país não encontram "céu de brigadeiro", o mesmo não ocorre com a gastança de brasileiros para além das fronteiras - ao que parece. Afinal de contas, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 5,38 bilhões nos três primeiros meses do ano, também recorde desde 1947. Tais gastos costumam crescer quando a cotação do dólar está baixa. Como lembrança, vale registrar que a moeda norte-americana registrou elevação acima de 6%, fechando março em R$ 1,82. No fim de fevereiro, a moeda norte-americana estava cotada em R$ 1,72. Haja parcelamentos e cartão de crédito...

20 de abril de 2012

A CACHOEIRA DA DELTA PODE INUNDAR JUIZ DE FORA

A Prefeitura de Juiz de Fora deve explicações sobre a presença da CONSTRUTORA DELTA, objeto de escândalo nacional e CPI a ser instalada no Congresso, em obras previstas para este ano, o ano das eleições, onde o prefeito Custódio Matos tenta sair das sombras para reeleger-se.

É necessário que os vereadores tomem posições claras sobre o assunto, pois os gastos previstos são da ordem de R$ 15.632.154,80, recursos oriundos do PAC, ou seja, do governo federal.

A presença da DELTA em Juiz de Fora sugere a necessidade de uma CPI na Câmara Municipal sobre o assunto, até porque, o prefeito Custódio Matos tem transformado todas as obras feitas com recursos do governo federal em obras próprias, na demagogia tucana de sempre. Caso do programa Minha Casa Minha Vida.

É necessário que a população esteja atenta ao comportamento dos vereadores sobre o assunto, pois qualquer que seja a origem do dinheiro, dos recursos, é sempre dinheiro público.

O Partido Comunista Brasileiro entende que mais que os interesses eleitorais estão em jogo os interesses dos juizforanos.

Nos três primeiros anos de governo o atual prefeito se escondeu, não realizou obra alguma das prometidas durante a campanha eleitoral, mas paga, agora, neste ano de eleições, um valor muitas vezes superior pelas placas de cimento postas no que chama de Nova Avenida Rio Branco.

E agora a DELTA, ligada ao banqueiro de jogo de bicho Carlos Cachoeira, já comprovadamente ligado a vários líderes tucanos, inclusive o governador de Goiás.

A cidade rejeita esses processos demagógicos/eleitorais, o PCB os denuncia como jogo de interesses de empresas e governos submissos, como é o governo Custódio Matos e alerta a população para toda essa pantomima cujo único objetivo é alcançar mais um mandato.

Ao longo de suas lutas o PCB tem advertido que a cidade é a realidade imediata de cada um de nós. Nossa cidade tem sido maltratada pelos últimos governos.

A Câmara não tem cumprido seu papel e está perdida em discussões estéreis pela maioria dos seus vereadores, tornando necessário a criação de mecanismos de participação popular que se sobreponham a todo essse processo político viciado e corrupto.

O caso DELTA e os valores das obras, por si só, mesmo que aprovadas por um organismo federal, justificam uma apuração dos setores encarregados da fiscalização dos atos do governo do município.

O PCB rejeita esse modelo político e econômico, pois o que se vê no País inteiro e agora aqui em Juiz de Fora é a corrupção ampla, geral e irrestrita, consequência direta do sistema capitalista, pois sem corrutpores não existem corruptos e o capitalismo é intrinsecamente ligado à corrupção.

Notícias sobre a Delta Construções:







 

16 de abril de 2012

Tire daí que está na minha frente!

Aqui em Juiz de Fora, como na maioria das cidades, acontecem coisas sem que a grande maioria da população saiba. Ainda mais se envolve a contradição público X privado.





Um hotel de luxo recém inaugurado, que teve suas obras iniciadas na primeira gestão do atual prefeito, com diárias em torno de R$ 160,00,  achou que aquelas cinco árvores que enchiam de vida e sobra a frente do Parque da Lajinha, não deveriam mais estar lá.

Não sabemos se por atrapalhar a vista do hotel para o novo Parque da Lajinha ou o contrário.

Cortaram cinco árvores que efeitavam a entrada de Juiz de Fora! Quantos anos tinham aquelas árvores?



Contam os moradores que parou o transito durante muito tempo e que o Hotel pagou cerca de R$ 21.000,00 pelo serviço.

Não sabemos o grau de envolvimento ou responsabilidade dos órgão públicos e da prefeitura, mas nos devem uma explicação.


Meio ambiente é coisa pública e não podem cortar  árvores em espaço público por um motivo tão privado. Aliás questões públicas requerem decisões públicas. Participação Polpular!




Logo após a inauguração do hotel a administração do PSDB anuncia a reforma do Parque da Lajinha, vai ficar lindo! Vai custar R$1.188.403,13. Com várias atrações: internet grátis, edoteca, bornoletário, arvorismo, etc. Juiz de Fora merece!

Mas fica a pergunta: essa é realmente uma obra prioritária para Juiz de Fora? Ou será como a Rio Branco, ou as novas calçadas da Rua Santo Antônio, uma maquiagem que em nada ameniza os reais problemas de nossa cidade.

Como ficam as várias solicitações das comunidades que tramitam há muito tempo dentro dessa administração engessada?

Queremos mais participação popular! Queremos controle sobre a coisa pública.


"O poder real é econômico, então não tem sentido falar de democracia." José Saramago


15 de abril de 2012

REPUDIAMOS O PROJETO DOS LATIFUNDIÁRIOS SOBRE A DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS


(Nota Política do PCB)

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) repudia veementemente a decisão do Parlamento brasileiro, em votar e aprovar, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, a PEC 215, que trata da demarcação de terras indígenas. Segundo a PEC 215, o poder de demarcação de Terras Indígenas é transferido do Executivo ao poder Legislativo e se estende a terras quilombolas e a criação de unidades de conservação ambiental. Essa aprovação significou uma vitória da bancada ruralista, pois, na prática, impedirá que haja mais áreas indígenas e quilombolas identificadas.

É importante frisar que, diferentemente dos latifundiários e do agronegócio (representados pela bancada ruralista), a terra para os indígenas não possui interesses econômicos. A terra tem um significado de sustentabilidade, de memória, de cultura e identidade para os Povos Indígenas, condição vital para a reprodução física e cultural desses povos.

Inúmeras comunidades indígenas continuam sem possuir o direito à terra, portanto, sem o direito de locais para morar, realizar suas atividades produtivas e praticar suas manifestações culturais. Até mesmo o direito à educação diferenciada não é respeitado, uma vez que só pode se realizar se a comunidade indígena tiver a posse da terra. Para além desses fatores, as comunidades indígenas sem terra são vítimas, muitas vezes, de violência cometida impunemente por fazendeiros e latifundiários. Vale ressaltar que mesmo nas terras que já estão demarcadas pelo Estado, é comum a presença de posseiros e de invasões destas terras por garimpeiros e/ou madeireiros.

Atualmente, o processo de demarcação de Terras Indígenas já enfrenta várias dificuldades, como, por exemplo, as debilidades da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), com falta de quadro pessoal, de condições de trabalho e de recursos orçamentários. Com esse quadro e dentro dos limites burgueses, poucas são as Terras Indígenas demarcadas nos últimos anos. Com a aprovação da PEC 215, esse processo praticamente deixará de existir, pois o poder de demarcar terra passará do Executivo para o Legislativo, sendo a decisão por conta dos parlamentares por meio de projeto de lei, aprovado por maioria simples.

O PCB repudia esse retrocesso do Estado brasileiro com as populações indígenas, pois fere pontos consagrados na Constituição: o reconhecimento das terras ocupadas pelos índios como direito original e a prerrogativa do Executivo em demarcar as terras. Torna-se necessário que as comunidades indígenas e os movimentos sociais e populares se mobilizem para a derrubada da PEC 215, ao mesmo tempo em que pressionem a FUNAI para agilizar os procedimentos de identificação e demarcação das Terras Indígenas.

No entanto, a problemática das Terras Indígenas em nosso país ultrapassa os limites da FUNAI, sendo, necessariamente, uma questão agrária. Portanto, é fundamental a luta pela reforma agrária em nosso país, garantindo terras para as comunidades indígenas, quilombolas e famílias sem terra.

PCB – Partido Comunista Brasileiro - Comissão Política Nacional (abril de 2012)

Direita israelita tenta calar Roger Waters

Waters, um dos autores da canção "The Wall", pixa muro que separa territórios judeus e palestinos na Cisjordânia

Entidade entra com ação para impedir que um dos fundadores do Pink Floyd faça críticas a ocupação da Palestina durante turnê no Brasil. 

Por Baby Siqueira Abrão

A passagem pelo Brasil de Roger Waters, um dos fundadores do extinto grupo de rock progressivo Pink Floyd, enfureceu os sionistas.

Ativista da causa palestina desde 2006, quando decidiu conhecer a Cisjordânia depois de um show em Tel Aviv, Waters, em entrevista coletiva realizada no Rio de Janeiro, defendeu os palestinos, criticou o governo israelense e declarou apoio à campanha BDS, que boicota produtos fabricados em Israel. Também divulgou o Fórum Social Palestina Livre, encontro internacional a ser realizado em Porto Alegre de 28 de novembro a 1º. de dezembro de 2012.

As declarações desagradaram a Federação Israelita do Rio de Janeiro (FIERJ). Segundo nota publicada na coluna de Alcelmo Gois, em O Globo, o advogado da FIERJ, Ricardo Brajterman, tentou impedir na Justiça que Roger Walters voltasse a fazer “declarações antissionistas” no show realizado no Engenhão em 29 de março.

Acostumados à submissão europeia e estadunidense, os sionistas não esperavam a reação dos brasileiros, de afirmação da liberdade de expressão e de rejeição a todas as tentativas de calar as pessoas, em especial as que fazem críticas a Israel pela violação dos direitos humanos dos palestinos. Várias organizações, como o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino do Rio de Janeiro, a Frente em Defesa do Povo Palestino e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) divulgaram notas públicas de apoio às declarações de Roger e de repúdio à atitude da FIERJ.

“Israel ocupa territórios palestinos em desacordo com todas as leis internacionais, ergueu o muro do apartheid e da colonização, que foi declarado ilegal pelo Tribunal Internacional [de Justiça]. Constrói assentamentos na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, em desacordo com todas as resoluções internacionais. Cerca e bombardeia a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos estão sujeitos a sobreviver abaixo das mínimas condições de alimentação, educação e saúde. Israel não respeita e não cumpre as resoluções da ONU e do direito internacional, em total isolamento com a [sic] comunidade internacional.  O governo de Israel faz tudo isso em nome do sionismo e quer impedir as pessoas de criticar essas ilegalidades e ações desumanas e opressoras?”, escreveram os ativistas da Fepal.

“Os que querem calar Roger precisam ser informados de que o Brasil é um país democrático, o Brasil não ocupa e não oprime nenhum povo, o Brasil é um país onde convivem, pacificamente e com respeito, judeus, árabes, cristãos e muçulmanos, todos com os mesmos direitos e deveres estabelecidos na constituição da Republica Federativa do Brasil.”

“Repudiamos toda tentativa de intimidação e censura à liberdade de expressão por parte dessa [FIERJ] ou de qualquer outra organização. Tal atitude – inconstitucional, nos moldes da ditadura militar que vigorou no Brasil dos anos 1960 aos anos 1980 –, não tem mais espaço no Brasil”, afirmaram o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino e a Frente em Defesa do Povo Palestino, citando, em seguida, artigos da Constituição brasileira e da Declaração de Direitos Humanos.

“[...] são ilegítimas e só podem ser encaradas como censura e perseguição as ameaças da Fierj ao cantor e ativista. Uma postura tão conhecida quanto inaceitável, de tentar criminalizar os movimentos sociais e as pessoas de consciência que se levantam contra a opressão ao povo palestino e contra a ocupação de suas terras. Repudiamos veementemente a atitude e as ameaças da FIERJ e reafirmamos nosso apoio a Roger Waters, à liberdade de expressão e aos valores democráticos. Aproveitamos para agradecer Roger Walters por não silenciar diante da injustiça e por emprestar sua imagem e sua voz para essa nobre causa da humanidade.”

Reclamações também foram feitas ao Ministério Público, que pode abrir processo contra a FIERJ.

Se o exemplo brasileiro fosse seguido em outras partes do mundo, os ativistas de direitos humanos e os críticos dos sionistas não sofreriam tanta perseguição nem tantos processos por exercer o sagrado direito de manifestar livremente o que pensam. Hoje, militantes da causa palestina estão sendo processados na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Leia a carta que Roger Waters divulgou no Brasil:

Desde minha visita a Israel e aos territórios ocupados, em 2006, eu faço parte de um movimento internacional para apoiar o povo palestino em sua luta por liberdade, justiça e igualdade.

Sinto-me honrado por ter sido convidado pelo Comitê Nacional Palestino BDS para anunciar a iniciativa da realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre, Brasil, em novembro deste ano, em cooperação com o movimento social brasileiro e redes internacionais da sociedade civil.

O objetivo será a criação de um encontro internacional que irá incentivar o instinto humano básico em todos os homens e mulheres de boa fé para se unirem em apoio ao povo palestino em sua luta por autodeterminação.

Em todo o mundo, nosso movimento está crescendo.

Incentivado por eventos como o que acontecerá aqui no Brasil, a nossa voz vai crescer.

Continuaremos o nosso apelo pelo fim da ocupação israelense de terras palestinas, pela derrubada dos muros de colonização e de apartheid, pela criação de um Estado palestino com sua capital em Jerusalém, pela concessão de direitos plenos e iguais aos cidadãos árabe-palestinos de Israel e pelo direito dos refugiados palestinos de voltar para suas casas, conforme exigido pela Convenção de Genebra, como estipulado na resolução 194 da ONU de 1949 e também reafirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça em 9 de julho de 2004.

Estou muito encorajado pelo crescimento desse movimento em Israel, especialmente entre os jovens judeus israelenses, e também pelo não menos importante “Boicote de Dentro”, com quem estou em contato.

Nós estamos com vocês.

Eventos em Israel e nos territórios ocupados não são amplamente relatados nem com precisão no Ocidente. Em novembro próximo, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre, vai ajudar a quebrar os muros de desinformação e cumplicidade.

Conclamo as pessoas de consciência para que apoiem este fórum e ajudem a torná-lo um divisor de águas na solidariedade internacional ao povo palestino.

A verdade nos libertará.

Em solidariedade,

Roger Waters

http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=1657:direita-israelita-tenta-calar-roger-waters

Tortura durante a ditadura, relato de DILEA FRATE

Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos, sendo inquirida sobre colegas de universidade e suas supostas ligações com o PCB. Durante o tempo em que isso aconteceu, eu usava um capuz preto que sufocava. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura. Imediatamente retirei o capuz, apaguei o fogo com ele e encarei meu algoz, um senhor com rosto de pai de família e uns 60 anos de idade. Os torturadores auxiliares perguntaram: ‘E agora, acabamos de vez com ela?’. Tornei a olhar para o mais velho nos olhos e falei: ‘Isso que vocês estão fazendo comigo é um absurdo, sou católica e vou batizar minha filha no domingo’. E perguntei: ‘Você acredita em Deus? Você tem filhos?’. Os mais jovens avançaram sobre mim, e o mais velho disse: ‘Deixa’. Logo depois, fui jogada numa cela com outras mulheres. Lembro-me de uma camponesa que estava com o rosto desfi gurado pela pancadaria. Ela não conhecia ninguém ali, nem sequer sabia o que era comunismo. Foi parar lá porque tinha se relacionado amorosamente com um militante. Ao ver aquilo e ouvir o relato das outras presas, muitas estupradas por vários homens e objetos, como garrafas e pedaços de pau, fi quei ainda mais apavorada. Ninguém se lembrou de mim por um dia inteiro e, na manhã do domingo, o carcereiro me disse: ‘Tire o macacão e vista sua roupa’. E saí de lá ao lado do Paulo. Pensei que seria punida pela minha ousadia de encarar o torturador. Mas não foi o que aconteceu. Os homens do Exército nos levaram direto para a igreja onde aconteceria o batizado. No final, meu pai convidou todos para ir à nossa casa ‘comemorar’. Lá, os homens deixaram as metralhadoras no chão da sala, almoçaram, beberam (muito) whisky e vinho. Paulo contou ao pai dele o que estava acontecendo e listou todos os nomes que estavam marcados. No fi nal da tarde, retornamos ao DOI-Codi, levando cobertores, sabonetes, chocolates e objetos de uso pessoal. Naquele dia teve festa na cadeia.

DILEA FRATE, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), era estudante de Jornalismo quando foi presa no dia 17 de outubro de 1975, em São Paulo (SP). Hoje, vive no Rio de Janeiro (RJ), onde é jornalista e escritora.